O
leitor que me honra ao acompanhar o meu blog terá presente a minha visão da
Primeiro Ministro Theresa May. Não
creio haver errado na minha interpretação do personagem. Sempre restou um
elemento de perplexidade. Ela realmente parece acreditar naquilo a que se
propõe. E não me parece possa excluir da
análise a sua recusa de um segundo referendo, que sempre surgiu para mim como a
maneira apropriada de cortar a cabeça dessa falsa disjuntiva, e alcançar afinal
uma indicação definitiva do real desígnio do Povo inglês. Que mal existe
enfim em dar at last a última palavra aos súditos de Sua Majestade, para por
fim colocar um termo irrecusável a essa questão que, convenhamos, é
competência do Povo inglês ?
Se
é um ponto de vista dela, ou se a ele chegou graças a ponderações de outrem,
parece-me, nessa altura do deslindamento desse falso enigma, irrelevante, na
medida em que a estratégia e, sobretudo, o resultado a atingir já estão
firmemente decididos.
O
que ela não deseja é deslindar essa questão do bréxit. Não há de ruborizar se pretende valorizar o primeiro Brexit , e não só pela circunstância de
já resolver a questão. Todos ora
sabemos que a consulta inicial foi reflexo da irremediável mediocridade do Primeiro
Ministro que resolvera pôr a cabeça no cutelo e deixar que o falso com-promisso
de campanha (aceitar mais um referendo) fosse aceito como se fora obrigação inarredável.
Não nos cansemos mais com os cacoetes
insulares daquele Primeiro Ministro. Cameron nunca evidenciara grandes amores
pela conexão europeia que a participação na União Europeia tornava obrigatória
a presença nas reuniões das comissões de Bruxelas.
Já a May é uma mulher que não impressiona pela intelectualidade, mas tampouco,
por ser demasiado inglesa, atribui excessiva importância às questões europeias
e - o que vai um pouco além desse raciocínio que escandalizaria a liderança
inglesa dos tempos da superação da recusa do general de Gaulle, porque se tratava de um punhado de líderes de
escol, que se propunham a superar os
preconceitos da classe média britânica, e de, em ingressando na União Europeia,
fazer o trabalho maior, em prol do
continuado crescimento industrial da velha Álbion.
E é por isso que tornar
viável um segundo referendo deve parecer anátema para a limitada, mas empenhada
Theresa May. Toda essa baboseira de
respeitar o primeiro referendo, não é derivada de arcano respeito a uma resolução
popular. Estamos, na verdade, diante de um exercício de cinismo. O primeiro brexit, além de se caracterizar por um percentual de participação medíocre,
que nada tem a ver com sérias exigências de quorum que atenda aos requisitos
históricos para atestar participação
relevante, que se afigura no mínimo cabível para decisão de tal porte do Povo inglês. E todos
ora sabemos que tal não foi o caso, e que portanto essa suposta decisão
soberana dos súditos de Sua Majestade, na verdade não traz consigo um selo que
seja condigno com os requisitos de um percentual que porventura faça justiça a resolução
de tal porte. E a Senhora May sabe muito bem que tal não é o caso, naquele
referendo realizado em meio às férias
estivais, como se se tratasse de coisa de somenos.
Por isso, a May não é uma intelectual,
mas ela deve estar respondendo a antigas aspirações suas - como se pudesse candidatar-se a uma renascida
Inglaterra - em libertando Downing Street 10 do sufocante
abraço de Mittel-Europa, e, dessarte,
escorregando por esse Tobogan na velha Inglaterra insular, e quem sabe, criando
impensáveis condições de um Reino
Unido, que se parecesse um pouco mais àquele da sua juventude...
(
Fontes: The Independent, Carlos Drummond de Andrade)
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