O
respeitado colunista Clóvis Rossi dá a conhecer verdade tão relevante, quanto oportuna, em seu artigo
hodierno "Quando o Populismo machuca".
Como assinala Rossi, 'o triunfo do "bréxit" no plebiscito de 2016 foi atiçado por uma coleção de
falsidades sobre as vantagens de deixar a comunidade de países europeus.'
Mexeram não só com o jingoismo e os instintos nacionalistas, mas também, e
sobremodo, com a ilusão do Império, e de
um país em que as ondas do oceano lhe obedeciam, e em cujas terras o sol nunca
se punha.
Além disso, Rossi relembra um
aspecto relevante do dito Bréxit:
"O ex-primeiro ministro John Major (...) acha que não (é traição à
democracia), pois em artigo para o Sunday
Times, Major lembra (...) que apenas 37% dos britânicos votaram pela
saída." Os restantes ou queriam ficar (remain)
ou nem apareceram para votar.
Dada a rasa maioria do bréxit, surpreende a resistência de
expoentes ingleses, maiores ou menores,
como se um desrespeito a esses 37% do eleitorado, em um referendo
mal-preparado, e com muito absenteísmo deva justificar as túrgidas declarações
de que o bréxit é uma realidade na
aparência imutável, e por isso jamais a ser tocada como pomposos MPs (v.g. gêmeos Johnson) sempre
encheram a boca para dizê-lo.
O ingresso do Reino Unido no
então Mercado Comum Europeu fora obtido, contra vento e maré, pela verdadeira
elite inglesa, incluindo conservadores, trabalhistas e liberais, que lograram
vencer o rochedo Charles de Gaulle, que, enquanto vivo e no poder, barrara tais
intentos. Mais tarde, outra verdadeira
aristocracia política inglesa conseguira unir o Reino Unido ao continente,feito
que demandara a longa caminhada anterior, com a Associação de livre comércio,
que não respondia ao genuíno interesse inglês. Mais de um Primeiro Ministro
inglês consentiria mais tarde em realizar plebiscitos sobre a membership na
U.E. O próprio Tony Blair o faria, mas conseguira superar o desafio.
A mediocridade coroada de David
Cameron daria um irresponsável aceno favorável à realização de plebiscito
estival, marcado por baixas presenças, mas que deixaria esse estigma que até
hoje permanece. Por convocá-lo, Cameron perderia
tanto chefia do gabinete,quanto a morada de 10 Downing Street. Agora escolheram
essa limitada e inefável ex-Ministra do Interior Theresa May, que segundo nos
ensina José Ingenieros não se deve subestimar o valor (ainda que residual) dos
medíocres.
E a despeito da baixa maioria do decantado bréxit, em plebiscito de pouca
afluência, ei-lo defendido com unhas e
dentes e por quê? Pois ele mexe com o
passado soberano da Grã-Bretanha, relembra os grandes nomes das naves e dos dreadnoughts que governavam as
ondas, e levam o nome do Império of Her
Gracious Majesty Queen Victoria para
muito além da Taprobana (nesse camoniano dito do vate português, que só
queria endeusar os corajosos navegantes lusos do século XVI)
O fascínio do passado e da
dominação perdida é o que alimentou essa fuga impossível do lar europeu, que
proporciona, pelo intercâmbio com tantos países ignotos - e é por isso que o aristocrático tem que
andar rápido quando atravessa os grandes salões da sede da Organização da
Unidade Europeia. A Cameron urge cruzar com passo lesto a chefia da União
Europeia, e isso menos pelos grandes países que a integram, como Alemanha,
França, Espanha, Itália, mas porque talvez abomine os particularismos dos
muitos pequenos países desse próspero mercado comum, como Áustria, Hungria,
Polônia, Tcheco-Eslováquia, Malta...
( Fontes: Folha de S.
Paulo, Luiz de Camões )
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