O que fora apresentado
como "procedimento simples" na verdade demandou sete horas de
cirurgia, para a equipe do Albert Einstein.
A principal causa da demora foi o
grande número de aderências (partes do intestino que ficam coladas).Esse maior
número de aderências se devem sobretudo a lesões em razão da facada sofrida pelo candidato durante comício em
Juiz de Fora.
A opção mais simples era de religar
as duas pontas do intestino grosso, que estavam separadas, para que o trânsito
intestinal voltasse ao normal. A segunda opção - que foi a preferida - exigiu a
união de uma alça do grosso com o delgado. Para que tal acontecesse, parte do
intestino grosso que estava conectada à bolsa de colostomia foi removida.
Tal intervenção se tornou
necessária porque os médicos constataram a existência de muitas aderências e
lesões em razão das facadas sofridas pelo Presidente durante o ato de campanha
eleitoral, a par das duas cirurgias (em Juiz de Fora e no próprio Einstein) a
que Bolsonaro foi anteriormente submetido.
"Foi realizada anastomose
do íleo com o cólon transverso, que é a união do intestino delgado com o intestino
grosso", informou o boletim médico-cirúrgico do Einstein. "O procedimento ocorreu, sem
intercorrências e sem necessidade de transfusão de sangue", reza boletim do Hospital. Em seguida, o Presidente foi encaminhado para
a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), depois da cirurgia,em situação
"clinicamente estável, consciente, sem dor, recebendo medidas de suporte
clínico, prevenção de infecção e de trombose venosa profunda", afirma a
nota médico-cirúrgica.
O porta-voz da Presidência da República,
general Rego Barros, disse que as aderências no intestino exigiram uma
"obra de arte" por parte dos médicos.
Rego Barros também corrigiu
nesta tarde a hora do início da cirurgia, de 6h30, como divulgado inicialmente
pela Presidência, para 8h30. Ele justificou a demora pela quantidade de
aderências no intestino :" (Havia) quantidade muito grande de aderências,
em decorrência das duas cirurgias anteriores, e essas aderências exigiram do
corpo médico uma verdadeira obra de arte", afirmou o porta-voz.
Esta é a terceira
cirurgia a que ele é submetido desde que
sofreu a facada (no comício de Juiz de Fora), em setembro de 2018, durante a
campanha eleitoral em praça de Juiz
de Fora (MG) . Havendo sido internado na manhã de domingo 27 (para a realização
dos exames pré-operatórios), o Presidente deverá permanecer no hospital Albert
Einstein por um período de dez dias.
Assumiu a presidência na
manhã desta segunda-feira, dia 28 de janeiro de 2019. o Vice-Presidente, General Hamilton Mourão, que deverá
ficar no cargo pelas próximas 48 horas seguintes à operação.
Não obstante, a cirurgia
haja sido mais longa e delicada de o que se imaginava, foram por ora mantidos
os prazos de retorno às atividades e de recuperação. Bolsonaro deve voltar a
despachar na manhã de 30 de janeiro, quarta-feira, e contará com um gabinete
provisório em uma sala no Hospital Einstein, no mesmo andar de seu quarto. O
presidente deve permanecer na UTI durante todo o período de internação. A
decisão é vista como medida de precaução.
"Foi uma cirurgia longa. Por mais que
não sangre,o paciente perde líquidos, desidrata, inflama muito.Isso pode fazer
a pressão cair e o coração disparar nas próximas 24 horas", afirma Diego
Adão Fanti Silva, cirurgião do aparelho digestivo da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo)_.
A previsão de alta
está mantida para daqui a dez dias, mas a evolução do quadro será analisada
pelos médicos.
Bolsonaro não
poderá receber visitas nesta terça, dia 29 de janeiro, à exceção dos
familiares. O Gabinete de Segurança
Institucional (GSI) sob o comando do general
Augusto Heleno,montou estrutura para que o presidente possa manter a
rotina dos despachos. Nesse sentido, o
Palácio do Planalto levou à capital
paulista auxiliares técnicos, que dão suporte jurídico para a tomada de decisões
do chefe do Executivo. O escritório improvisado contará com um computador com
internet, uma impressora e um telefone fixo. O espaço permitirá ainda que Bolsonaro
se comunique com ministros e outros auxiliares que estejam fora de S.Paulo por
meio de videoconferência.
O Governo
trouxe também assessores de comunicação, como o porta-voz da Presidência,
general Otávio Rego Barros, para a realização de informações diárias sobre a
saúde do Presidente e atos do Executivo.
Ao final da cirurgia, Augusto
Heleno disse à Folha que a demora se deu pela retirada de aderências do
intestino. "Não é uma cirurgia simples, não é só retirar a bolsa. Tem que
abrir de novo e os médicos fizeram isso com o maior cuidado e delicadeza."
Questionado sobre os custos e o pagamento da cirurgia de Bolsonaro, o
porta-voz da Presidência informou apenas que não tinha os dados disponíveis,
mas que iria verificá-los.
Mudança
busca evitar rompimento dos pontos. A mudança da técnica cirúrgica que resultou
numa ligação direta entre o intestino grosso e
o delgado de Bolsonaro foi estratégica também para reduzir o risco de fístula (abertura do local
suturado) no período pós-operatório.
"A fístula do ileo (intestino
delgado) com o cólon transverso (parte do intestino grosso) é menos comum. E o cólon direito (que foi retirado na
cirurgia) não é vital", afirma o cirurgião Fanti Silva, da Unifesp.
A função do cólon direito é
basicamente absorver água. "No começo, a pessoa evacua mais vezes ao dia
e mais pastoso. Depois, normaliza", explica o médico. Com a mudança, as
chances de fístula caem para menos de 5%.
Em quatro a cinco dia, espera-se
que o trânsito intestinal esteja restabelecido e que o presidente comece a
evacuar.
Embora o risco de fístula agora
seja menor, ele continua existindo na primeira semana da cirurgia. Se houver
rompimento da sutura e vazamento de fezes na cavidade abdominal, será preciso
abrir novamente o paciente. "Aí a gente per-de tudo o que foi feito. É
preciso refazer a colostomia", explica Carlos Walter Sobrado, professor
de coloproctologia da Faculdade de Medicina da USP.
Também nos primeiros seis meses
após a cirurgia, há risco de surgimento de hérnia incisional na parede
abdominal.
Conforme o cirurgião Wagner
Marcondes, que participou da cirurgia de Bolsonaro, o risco de hérnia é
consequência do tecido fragilizado em razão de três operações seguidas no mesmo
lugar. Por isso, é altamente recomendável que o paciente não faça esforço
físico no primeiro mês após o procedimento.
A primeira-dama, Michelle, e
3 dos 5 filhos do presidente - Jair Renan, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ)
e o deputado federal Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP)-, estiveram no Hospital Albert Einstein para acompanhar o procedimento.
Carlos, o mais próximo do pai,
permaneceu o tempo todo no centro cirúrgico. O senador eleito Flavio Bolsonaro
(PSL-RJ) e a caçula Laura não vieram.
Uma das investigações sobre o ataque sofrido por Bolsonaro na campanha eleitoral ainda não foi concluída. O autor do atentado, Adélio Bispo de Oliveira,está detido em uma penitenciária federal em Campo Grande (MS). Em dezembro, a Polícia Federal fez buscas em Minas Gerais no escritório do advogado do detido, segundo os investigadores, para esgotar dúvidas sobre a participação de terceiros no atentado. O autor do ataque já responde
a ação penal na Justiça Federal pelo caso.
(Fonte:
Folha de S. Paulo, com transcrição na íntegra, pelo óbvio interesse da matéria)
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