quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O Reino Unido à deriva


                                            

         Theresa May, com seu sorriso entre  maroto e  imbecilóide, não se conforma com a lógica e é a tal ponto que parece levar ao descontrole seus adversários, entre os quais Jeremy Corbyn, cujo frase "qualquer premier que sofresse derrota da escala que May sofreu teria renunciado", bem expressa a própria perplexidade ante a negativa da Primeira Ministro em conformar-se a regras.
            Será nesse misto de estupidez e astúcia que a May conta sobreviver em uma particular selva que ajudou - e não pouco - a criar. Salta aos olhos que à maleta de astúcias da Premiê restam poucos truques.

             Como são levados adrede a afrontar uma saída do Reino Unido da U.E. sem acordo com Bruxelas - o que se torna cada vez mais provável, pelo andar da carruagem -  as frenéticas preparações para enfrentar uma situação complexa crescem em membros da U.E. mais afetados pela crise, v.g. Irlanda, França, Holanda e Bélgica.
              Dessarte, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, afirma que "a Holanda está tentando garantir que os  prejuízos sejam minimizados". Já o seu homólogo belga, Charles Michel, reuniu-se com ministros para discutir suas prioridades, para um pacote de leis de emergência que deseja apresentar ao Parlamento até fevereiro. Rutte anunciou a contratação de novecentos funcionários aduaneiros, além de 150 veterinários e cientistas (!) para analisarem produtos vegetais e animais. Nesse sentido, o governo belga disse a empresas e cidadãos que um Brexit sem acordo poderia levar à imposição de Euros 2,2 bilhões, em novos impostos e taxas sobre bens e causar a perda de quarenta mil empregos!
                 Por sua vez, o governo irlandês anunciou seus planos em dezembro, admitindo que eles eram "um exercício de redução de danos", e também apresentou projeto para acelerar "leis de contingência".
                   Nessas condições, como a maioria dos países da UE que negociam com o Reino Unido,  a Irlanda está contratando mil funcionários para o controle alfandegário, sanitário e fitossanitário. A Irlanda também comprou terrenos perto dos portos de Dublin e de Rosslare, para instalar áreas de inspeção!

                    Em dezembro último, o governo do presidente Emmanuel  Macron aprovou lei para manter pessoas e cargas circulando entre a França e o Reino Unido. O texto inclui ainda a possibilidade de Paris aprovar leis de emergência por decreto. As autoridades francesas já contrataram setecentos funcionários alfandegários, expandindo a infraestrutura de controle de fronteiras.
                     A R.F.A. também se prepara para o pior cenário. O governo da Chanceler Angela Merkel já contratou novecentas autoridades alfandegárias para ajudar a assegurar o fluxo de mercadorias entre o Reino Unido e o Continente.  O governo alemão teme que o Brexit afete as exportações de carros - as montadoras alemãs  venderam 800 mil carros no Reino Unido em 2018, cerca de 20% de suas vendas globais.

                    Há muitas providências pendentes que tais governos tentam evitar, como a imposição de bilhões de euros em novas tarifas, além de se verem obrigados a engajar novos funcionários aduaneiros, em muitas dessas providências tornadas inelutáveis pelo atraso de medidas de parte inglesa em termos de exportações, com os consequentes dispêndios extraordinários provocados pelos atrasos do Reino Unido em termos de implementação do Brexit, ou até mesmo de medidas tornadas inelutáveis no causo da suspensão ou anulação do dito Bréxit.  Dessarte, um contencioso gigantesco entre Euro-pa continental e os demais membros europeus que nenhum responsabilidade têm quanto aos atrasos e mudanças imprevistas causadas por um Bréxit que ocorre à revelia da Europa continental, ou até por modificações de última hora de uma parte revel nos acordos, e tal Parte - em qualquer hipótese - cresce nos custos induzidos a terceiros, com um acúmulo de uma responsabilidade causada exclusivamente pelas vagaries (decisões imprevisíveis) do Parlamento de Westminster...
                        Aconteça o que acontecer, até mesmo uma crescentemente pouco provável ab-rogação do Bréxit, de parte dos volúveis britânicos, aumentarão as despesas extraordinárias causadas pelas atitudes imprevisíveis do Parlamento de Sua Majestade, e o respectivo contencioso, acionado por raivosos países continentais que não inventaram esse louco referendo de que o próprio David Cameron sequer hoje se arrepende ter inventado, por um misto de fraqueza intelectual e de menosprezo de uma Organização em Bruxelas, pela qual ele passava narinas levantadas e passos estugados...

( Fonte: The Independent,  O Estado de S. Paulo )

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