A manifesta insensatez de Trump que
arrisca, por motivo fútil, pôr em perigo a segurança dos Estados Unidos, ao
insistir, muito além do bom senso, em prolongar a incerteza gerada pela falta
de verbas estatutariamente decretada pela paralisação parcial do Governo
americano, tende a ameaçar a segurança do FBI - que continua trabalhando mesmo
sem salário, o que lhe afeta a capacidade de investigar e manter as respectivas
operações.
Dando perigosa demonstração de
desatenção para as consequências da respectiva ação, o presidente Donald Trump
tornou a viajar ontem até a fronteira com o México, para continuar nesse
trabalho de Sísifo, na tentativa de defender o indefensável, i.e., a construção do muro, cujo financiamento está
travando a aprovação da Lei Orçamentária, mantendo ipso jure parte do governo paralisado.
Segundo a associação de funcionários do
Federal Bureau of Investigations, os
agentes especiais continuam trabalhando sem cobrar e a direção do órgão está
fazendo tudo o que pode para financiar as operações com recursos cada vez mais
limitados. "O importante trabalho que o Bureau está fazendo carece de
financiamento imediato", afirmou a Associação, em nota à imprensa.
O
grupo em questão representa cerca de treze mil agentes especiais ativos do Federal
Bureau, que investigam desde crimes violentos e crimes financeiros até espionagem e terrorismo. Em petição enviada à
Casa Branca e aos líderes do Congresso, a Associação explica que a situação
financeira dos agentes pode afetar-lhes o desempenho se eles não receberem
salários hoje.
" A falta de pagamento pode atrasar a obtenção e a renovação das
autorizações de segurança e, em alguns casos, pode até impedir que os agentes
continuem fazendo seu trabalho."
Para que se tenha idéia dos riscos que o Presidente, por um motivo
pessoal e portanto fútil, está fazendo correr aos Estados Unidos, mais de
quatrocentos mil funcionários públicos federais, entre eles dezenas de milhares
de agentes de patrulhas de fronteira e do Sindicato de Funcionários do Tesouro
Nacional moveram um processo coletivo contra a Administração Trump pelo não
pagamento de salários durante a paralisação. Segundo noticia o Washington Post, várias agências
federais interromperam o trabalho temporariamente em razão da falta de
pagamento.
Diante do impasse, Trump ameaçou declarar emergência nacional, abrindo
caminho para conduzir o projeto sem a aprovação do Congresso. Dada a leviandade
em apelar para tal instrumento, para implementar uma decisão pessoal, de
fundamentação pelo menos questionável, essa tática do presidente Trump tem
óbvios riscos em termos da Lei de responsabilidade. Nesse mesmo contexto, Trump cancelou a viagem
que faria ao Foro de Davos, entre 21
e 25 de janeiro. Buscando transferir para o Partido Democrata responsabilidade
sobre a própria irresponsabilidade
presidencial, ele recorreu ao Twitter
para expressar: "Em razão da intransigência (sic) dos democratas sobre a segurança na fronteira e da importância
da segurança em nosso país, cancelo minha importante (?) viagem a Davos, Suiça,
para o Forum Econômico Mundial".
Recorrendo a expediente político, cercado por oficiais da patrulha de
frontei-ras e pilhas de drogas, dinheiro e armas apreendidas, Trump culpou os democratas pela crise. Ele
então reiterou a já batida alegação de que o México pagará indiretamente pelo
muro com as revisões dos acordos comerciais com os Estados Unidos e ouviu relatos
de pessoas que tiveram parentes mortos por imigrantes. De forma irresponsável, o presidente, para
dar implementação a um projeto pessoal que vem prejudicando a milhares de
americanos, ele foi em frente : "se
tivéssemos uma barreira de algum tipo, de concreto ou de arame, eles (os
imigrantes) não íam nem se dar ao trabalho de tentar (cruzar a fronteira)."
Sem sequer carecer de entrar
no mérito desta argumentação tão desconexa, quanto sem qualquer base histórica
razoável, a própria circunstância de o
presidente Trump continuar a bater nessa tecla diz muito do seu equilíbrio
pessoal e de seu bom senso, ao querer, contra vento e maré, buscar implementar um projeto demencial, que
a História não fundamenta, a par de evidenciar um preocupante desejo de levar avante
algo de necessidade para lá de duvidosa, máxime diante dos inúteis sacrifícios
que continua a exigir dos funcionários do Estado diretamente afetados pela
inquietante falta de um mínimo de bom-senso do 45º presidente dos Estados Unidos
da América...
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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