segunda-feira, 30 de abril de 2018

Abbas articula frente anti-EUA


               

         Talvez Mahmoud Abbas, o Presidente palestino, haja  convocado reunião na data de hoje, 30 de abril, do Conselho Nacional Palestino (CNP), assembleia de setecentos  membros, sob o guarda-chuva da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que é o órgão máximo do Estado palestino, pensando nas mudanças no tabuleiro diante do desequilíbrio trazido pelo presidente Donald Trump.

        Diante do viés anti-palestino do atual presidente estadunidense, e das inúmeras medidas que Donald Trump vem tomando contra esse povo, e em apoio a Israel - como na escandalosa mudança de sede da Embaixada estadunidense em Israel - o velho líder palestino Mahmoud Abbas pretenda considerar a formação de frente unida do Povo Árabe Palestino contra Israel e Estados Unidos.

        É decerto lamentável que, no governo de Donald Trump, Washington  tenha adotado uma política pró-Israel a tal ponto que muitos estudiosos da área  considerem que, ao tornar-se cada vez mais pró-Israel, os Estados Unidos venham perdendo a sua posição e estatura que o habilitara no passado a manter posições de alguma imparcialidade para tentar dirimir as possíveis dificuldades que hoje lhe cairiam em cima, se tentasse voltar a agir como honest broker, no diferendo entre árabes e judeus.

( Fonte:  O  Estado de S. Paulo )

Continua a matança de Palestinos


                                            

        Desde  começos de abril, que hoje finda, se sucedem as  manifestações da revolta palestina diante das condições existenciais prevalentes na Faixa de Gaza.
      
            Ontem, 29 de abril, mais três palestinos morrem em confrontos com soldados israelenses.
       Como o blog tem noticiado, desde o início deste mês de abril, continuam os protestos de palestinos ao longo da fronteira para exigir o direito de retorno de refugiados.
    
        No domingo, dia 29 de abril, conforme fontes israelenses, dois manifestantes palestinos  tentaram adentrar  o lado israelense.   Incontinenti, os soldados dispararam (tal exército não faz tiros de advertência - sejam militares, sejam snipers, eles atiram para matar). Em consequência, mais um palestino morre e o outro, é preso para ser interrogado.
           Mais tarde, no mesmo dia, mais dois palestinos tentam cruzar a fronteira e lançam explosivos.  Dentro da "política" israelense, os dois incontinenti são abatidos e mortos.
           Não surpreende, por conseguinte, que tal 'política' israelense de receber invasores (em geral desarmados) da fronteira a bala, não surpreende decerto, embora a revolta palestina seja mais do que compreensível. Em consequência, desde o início dessa série de protestos, quarenta e dois palestinos foram mortos e cerca de dois mil, feridos pelos disparos (feitos por snipers ou soldados de infantaria).

            Tampouco surpreende que as autoridades palestinas acusem Israel de usar força despropor-cional para lidar com as manifestações e ataques à cerca de arame farpado colocada por Israel na fronteira com a Faixa de Gaza. Como vem sendo descrito pela coluna, a regra é o tiro de fuzil, as mais das vezes visando a região letal.  Nesse aspecto, os ataques dos snipers - verdadeiros bandidos - visam repórteres com vestes e outros petrechos dessa atividade pacífica, que para o assassino sniper é motivo bastante em atirar para matar. Surpreende, nesse ponto, que essa postura bélica criminosa do governo Netanyahu não haja fundamentado as mais do que cabíveis reclamações e ações penais junto ao Tribunal da Haia.

( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

A Volta do Patriarca


                              

         A  História por vezes se repete.  Nem sempre, porém, o propósito de reescrever com as mesmas letras e o mesmo vinco acompanha o intuito.

           Veja-se, v.g., o que está acontecendo no Maranhão, antigo feudo dos Sarney.

            Há vinte e oito anos atrás,  o ex-presidente José Sarney transfere o título eleitoral para o estado do Amapá. Sarney quis valer-se do seu trânsito nesse antigo território para estender a presença dos familiares e partidários tanto no Amapá, quanto no Maranhão, que desde muito, após a queda de Vitorino Freire, torna-se terra em que o clã Sarney predomina.
            Agora, é a vez de refazer o caminho primevo.  O ex-presidente transfere o título de eleitor de volta para o Maranhão,  sua terra natal e berço político, como frisa o Estado de S. Paulo.
             Se Sarney é político da velha escola, e desde que afastara o chefe anterior Vitorino Freire, do Maranhão, o seu domínio foi quase inconteste - houve apenas o  intervalo, com a entrada do partido de Lionel Brizola, com o PDT de Jackson Figueiredo. Foi talvez nesse lance duvidoso, em que, com o auxílio dos tribunais,  José Sarney restabelece a dominação.

            Com esse movimento,  o ex-presidente quer resolver duas questões. Evitar o esfacelamento do respectivo clã e, não por último, despejar, a qualquer custo, do Palácio dos Leões, o governador Flávio Dino (PCdoB). Dino, eleito em 2014, depois de quarenta anos de domínio quase ininterrupto da família Sarney, quer repetir a dose no próximo pleito.
              Por sua vez, o ex-Presidente Sarney, se alega motivos pessoais para o retorno, consoante o próprio círculo, o motivo é outro.  Na verdade, o ex-presidente, segundo a sua roda de amigos e colaboradores,  só fala em restabelecer o domínio interrompido apenas uma vez do sarneyzismo no Estado.
             Dessarte, o seu escopo seria duplo: evitar o esfacelamento do clã Sarney e, last but not least, retirar a qualquer custo do Palácio dos Leões o governador Flávio Dino.

            Segundo um dos amigos mais próximos do ex-presidente, Benedito Buzar, presidente da Academia Maranhense de Letras: "O que Sarney  pensa é em voltar ao poder no Maranhão. Nem é tanto pelo poder em si, mas por uma maneira de dar  a volta por cima, de no final não ser um homem derrotado, marginalizado. Dino tem agido com uma agressividade terrível contra os Sarney."

              Sarney acaba de completar 88 anos.  Nesse sentido, se tem empenhado em montar base política para apoiar a pré-candidatura de Roseana Sarney (MDB) ao governo. Por enquanto, porém, Sarney tem colhido malogros na sua tentativa de minar a larga aliança que dá apoio a Dino.

                Mas Sarney não desiste. Na festa do aniversário, Sarney disse a amigos que pretende sair do luxuoso apartamento no bairro Ponta da Praia, e voltar para a antiga casa da família, na praia do Calhau.  Para ele, a disposição da residência, ao contrário do apartamento, facilitaria os contatos políticos...


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Quem matou Marielle ? (2)

                                 

        O  blog fez esta pergunta a catorze de abril de 2018.
         'Seu'  Antonio, pai de Marielle, disse então:
         "A gente precisa saber quem foi. Faz um mês, dá muita angústia e preocupação.  A família quer essa resposta e a  sociedade também."
          A resposta, por enquanto, é igual a outras. É o silêncio.
           Falou-se muito do inquérito policial.  Freixo - ex-candidato a Prefeito - também vocalizou essa inquietação da sociedade.  Referiu-se mesmo aos papiloscopistas que já foram cedidos em outras oportunidades às investigações da Polícia.
            Ora, essa palavra não existe no dicionário Houaiss. Esperemos, no entanto, que a circunstância de que tantas investigações fiquem sem resposta, caindo na vala comum dos crimes sem solução, não venha a acontecer neste megacídio.
            Seria algo que a cidade não merece.  Marielle, como vereadora, foi uma luz que brilhou intensamente. Com grande força e  poder de renovação, trazendo para a tão vilipendiada Gaiola de Ouro tamanho entusiasmo e empenho.
            Temos presente as multidões que o megacídio levantou.
             Tanta gente indignada.
              Se o esquecimento não será nunca memória, que não se permita que sobre esse crime recaia o manto disforme da inação e dos espaços vazios que o vento atravessa em vão, com sua mixórdia infame de gemidos e  queixas, que pela negligência se misture à memória dos crimes que sóem rolar  nas lufadas solitárias que a noite vá aos poucos engolindo.

( Fonte: Drummond de Andrade  )

O PT apela para a censura...


      

           Noticia a imprensa que o Partido dos Trabalhadores, esquecendo a própria mensagem, deseja  proibir o Supremo Tribunal Federal de televisionar sessões.
            Mais uma vez, e por motivos inconfessáveis,  o  PT deseja emplacar na pauta da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, projeto que proíba a TV Justiça de transmitir as sessões do Supremo Tribunal Federal (STF), e demais tribunais superiores.
            Consoante assinalado pela imprensa, essa proposta pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP) é de 2013, mas foi requentada e  virou prioridade para esse partido depois que a Corte negou o habeas corpus  contra a prisão do ex-presidente Lula.
           Quanto à profissão libertária do Partido dos Trabalhadores, ela decerto depende dos tempos e das conveniências políticas.  Uma vez mais, tenta o PT calar a imprensa e o seu conduto hoje mais perigoso no seu entender - a transmissão pela TV Justiça das votações em nossa mais alta Corte.
          O julgamento do Mensalão - que tanto já preocupara o tribuno Lula - abriu novos caminhos para a democracia no Brasil. Até hoje, há gente desse partido que acoime ao então Ministro Joaquim Barbosa a relatar, com as tintas acerbas da verdade, o escândalo do Mensalão, que outro Ministro se empenhara em procrastinar.         
            Bem fez o Ministro Barbosa em relatar com honestidade e precisão o escândalo petista.   Agora reponta outra tentativa inconfessável de representante petista,  que ousa propor - e através da CCJ - o desígnio de calar a verdade, e de ocultar ao Povo soberano as discussões e os debates do Supremo.
           Ter medo da verdade e do conhecimento, e nesse sentido apelar para os procedimentos mais vis de acobertamento da realidade, é sinal inequívoco de menosprezo pela Constituição Cidadã.  Pregar a censura como o faz esse representante de partido que, ao que tudo indica, perdeu o pejo de valer-se desse vil instrumento das ditaduras e dos regimes corruptos, que é a negação da verdade. A Constituição de Ulysses Guimarães estigmatiza esse sórdido recurso das ditaduras a que, pelo visto,  o  PT hodierno não se peja de recorrer.
           Nada foi de maior proveito para a conscientização do Povo soberano do que a transmissão dos debates no Supremo Tribunal Federal. Levá-los a público reforça a nossa democracia - porque o medo da verdade é  a perene desculpa das ditaduras e dos propósitos inconfessáveis que animam esse suposto temor de que a gente brasileira ainda não estaria preparada para lidar com ela.
            Até hoje, o Ministro Joaquim Barbosa provoca temores inconfessáveis.  A verdade é o sangue da democracia. Os que dela têm medo mostram quais são os seus reais propósitos.  Por isso, armados de todos os pretextos da chicana, eles a perseguem, e de forma ardilosa.  Jamais ousam enfrentá-la. 
             E porque dela têm o medo daqueles que conhecem da verdade a força e a pujança, tudo fazem para afastá-la ou desviá-la, para tanto sequer se pejando de que tudo isso perpetram para melhor defendê-la.
             O conhecimento da verdade é a droga mágica das democracias. Não temê-la, nem querer encafuá-la nas alcovas dos regimes ditatoriais, constitue o remédio milagroso que serve a pobres e ricos, porque não há outra salvação para qualquer regime que o culto sem peias nem limites da Verdade.
             Fora com os atalhos da ditadura!  Fora com os arautos da mentira e do privilégio.
             Fora com a censura, em todos os seus atavios e trajes!

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Gaza: nova trincheira da liberdade


                        

          No  fenômeno Gaza, se o visualizarmos com espírito crítico, está à flor da pele o escândalo que um tal sanhudo, agressivo desrespeito ao direito humano mais entranhado que existir possa tende a provocar no observador das relações entre pessoas, por mais que este indivíduo se esforce em considerar os agentes do poder militar israelense também como seres humanos.
         O escândalo que ora se vivencia na Faixa de Gaza constitui um duplo desafio para o observador que se esforce e se empenhe em tentar compreender o que está sucedendo na faixa de Gaza.
          Há diferenças que investem contra qualquer observador, que tente ver o que está acontecendo em torno da cerca de arame farpado da Faixa de Gaza, símbolo a um tempo de prisão a céu aberto, e de um local em que tudo é permitido aos guardas israelenses dessa fronteira, que mais parece uma chaga aberta, em que quotidianamente se afronta a liberdade, como se os seres humanos enjaulados, em verdade não o sejam, tratando-se de espécie de homens a que a prolongada sujeição a condições inumanas colocasse em suposta situação de inferioridade. 
            O que acontece nessa estreita faixa de terra é, desde logo, um acinte aos direitos humanos: na verdade, pelo seu próprio comportamento, os guardas israelenses e os snipers ajem como se fossem verdadeiras bestas-feras humanas. Ahmed Abu Hussein, de 25 anos de idade, é o segundo jornalista a morrer nos protestos - iniciados no mês passado, no limite da faixa de Gaza com o território israelense.
             Tenha-se presente que Ahmed desempenhava o próprio mister de foto-jornalista com o cuidado de ter veste que o caracterizava como representante da imprensa, além de portar capacete especial.  Apesar de desarmado, Ahmed não estava ali como mero assistente, mas exercia  seu trabalho de repórter. Tal não impediu que um sniper israelense o alvejasse de forma vil e criminosa no estômago, a treze de abril corrente. 
               Transferido para Ramallah, dois dias depois de ferido gravemente, só seria transpor-tado para Ramat Can (Israel) onde sucumbiria  pouco depois.
                Mas não é o único jornalista criminosamente abatido pelos assassinos de aluguel de Israel. Yaser Murtaje é mais um jornalista morto, no correr deste mês. Também para ele de nada serviu para protegê-lo o colete de imprensa, que assinala a sua própria missão de jornalista.
                Outro cotejo revoltante no que concerne a esses protestos da população de Gaza pelas condições em que vive, cercada pelo arame farpado desse campo de concentração em que a repressão israelense transformou a faixa de Gaza. 
                42 palestinos já foram abatidos em Gaza durante os protestos, seja por snipers, seja por soldados uniformizados. Querer melhores condições de vida e não ser cercados pelo arame farpado dos stalags,  foi o crime que cometeram para a soldadesca israelense.  E assinale-se que, em todo esse período, nenhum soldado israelense foi morto ou sequer ferido.
                    Enquanto isso, os snipers assassinos atiram para matar em palestinos desarmados.  
                    Que tanto a soldadesca, quanto os snipers atirem para matar, sem detê-los sequer a sinalização de que os palestinos trabalham em cobertura de imprensa, com os coletes e os capacetes regulamentares.
                    Mas o escândalo continua, através dos assassinos adrede contratados para matar palestinos indefesos que só não querem viver como animais na terra de que levam o nome.



( Fonte: CNN )

domingo, 29 de abril de 2018

A louca guerra tarifária de Trump


                           
        Então a viagem a Washington de Frau Angela Merkel era tentativa não de consertar os efeitos da esquisita recepção por Mr Donald Trump à decana dos governos do Ocidente, mas sim de procurar demover essa estranhíssima figura de seus propósitos nada amistosos no que tange à guerra tarifária...
         Emmanuel Macron, por sua vez, recebera declarações de amizade e até de admiração desse estranho personagem.  O francês também viera com ramo de oliveira, na tentativa de demover o ogro da Casa Branca de seus inatuais e até mesmo estultos  propósitos de lançar o mundo desenvolvido numa guerra tarifária.
         A decana do Ocidente, Frau Merkel, tão logo chegada à própria terra, neste domingo, declarou: "A Europa está resolvida a defender os próprios interesses dentro da estrutura do comércio multilateral".  A tal propósito, a Chanceler alemã acrescentou "que falara por telefone com (Theresa) May e Emmanuel Macron e os três  manifestaram-se de acordo em que os Estados Unidos não tomassem medidas contrárias ao comércio com a União Européia."
           De acordo com o respectivo estilo, a declaração da Chanceler não esboçou os passos especiais que deverão ser tomados, caso tal se torne necessário.
           Ainda no contexto da guerra tarifária desfechada pelo governo D. Trump, a resposta da RPC contra esta política agressiva é de notar-se, ao colocar pesadas novas tarifas em montante correspondente a cerca de cem bilhões de US$, contra 120 mercadorias comerciais (inclusive vinho, barras de aço, carne de porco de origem estadunidense).
            Como já foi dito no passado, guerras tarifárias sóem começar com banzés, bandas e bandeirolas. Mas terminam no silêncio comum dos vencidos, e na cinza das fogueiras apagadas o que resta das perdidas ilusões.


( Fonte: The Independent )

Venezuela, Chávez e petróleo


                       

          O Chavismo, movimento esquerdista sindical, lançado por Hugo Chávez com a tentativa de golpe de fevereiro de 1992, contra o presidente Carlos Andrès Pérez (CAP) e sua assunção ao poder em 1999, teria, entre outras muitas, também desastrosas consequências para a produção petrolífera da Venezuela.
        As chamadas 'escolhas' de Chávez seriam ruinosas para a pátria do Libertador Bolívar, e se refletem em série negativa de opções, a partir da respectiva tomada do poder, macro-ilusões de incremento de peso político e de influência continental, até desembocarem na  pior de todas as 'dádivas' à Venezuela, i.e., transferir o poder do leito de morte para o 'herdeiro' Nicolás Maduro, o que lhe garante a 'vitória' na eleição subsequente contra o candidato democrata, Enrique Capriles, isto já em 2013.
        Que importará para o futuro que o 'triunfo' de Maduro contra Capriles haja sido ultraduvidoso? De qualquer forma, tendo presente a força popular de Enrique Capriles, a estrutura do poder político chavista cuidou de decretar, a seguir, e por motivos de escassa credibilidade, a suspensão dos direitos eleitorais do democrata Capriles, demasiado bom de voto para ser enfrentado em eleições futuras...
        Decerto, dentre as muitas 'iniciativas' do demagogo Hugo Chávez Frias, a mais estúpida e com ultra-nefastas consequências, será aquela de 2003, em que o caudillo substitue a administração profissional da Petróleos de Venezuela Sociedade Anônima (PDVSA) por indicações políticas de companheiros chavistas!
         É difícil encontrar na história, em termos de opções econômicas, um erro grosseiro deste porte, e que terá os previsíveis e ultradesastrosos resultados para a economia da Venezuela. A "política" de Chávez, hoje revista, representa a aplicação grosseira da fábula da cigarra, e que pela série de investimentos estúpidos e pelo esbanjamento das reservas de seu país, na perseguição de quimérica influência político-diplomática na América Latina, na verdade lança as bases de o que realmente representará para a antes opulenta Venezuela, na sua antipolítica de perseguição de prestígio continental, através do desperdício das rendas do petróleo (única renda de peso para as finanças da Venezuela).
          O que me permita o leitor, não é um excurso, mas uma visão da política de Chávez, que se traduz na inacreditável hübris de ignorar todo o conhecimento agregado pela PDVSA. A Venezuela é um dos países com maiores reservas de petróleo no mundo, e por isso, as administrações, democratas ou não, da pátria de Bolívar, jamais ousaram entregar a direção da Estatal, assim como os quadros respectivos competentes nas decisões técnicas no aproveitamento dos campos do ouro negro, a pessoal que não dispusesse de títulos profissionais e experiência de gestão à altura da experiência no campo petrolífero dessa grande empresa.
          Dada a imprudência, leviandade ou crassa burrice  de quem iria derrubar o regime democrático na Venezuela - pensando aproveitar-se de uma das muitas viagens do presidente Carlos Andrés Pérez (CAP) em fevereiro de 1992 - a tentativa do então tenente-coronel Hugo Chávez Frias gorou, mas deixou funda marca no regime democrático desse país, que durante muitos anos, junto com a Colômbia, tinham sido os únicos bastiões da liberdade em terras da América do Sul, então sob a noite longa do domínio castrense.
          Há nessa questão uma ironia demasiado grande que carece de ser vincada e de forma profunda.  Mexer na administração da PDVSA, como se se tratasse de alguma questão que reclamasse mudança urgente, reflete, e com caracteres pesados, da torpeza e da inimaginável leviandade que  o novel presidente Chávez então evidencia.
          Sendo abundante e um dos melhores do mundo em qualidade, agride a inteligência que qualquer governante, para ganhar alguns postos suplementares em termos de colocações políticas, vá pensar em instrumentalizar as diretorias técnicas  e o pessoal especializado em geral da  PDVSA.  O petróleo, se não era a monocultura em termos de exportação da Venezuela, constituía sem dúvida o óbvio fundamento econômico das exportações deste país, por onde entravam as divisas em termos de criar as condições mínimas de sustentação da economia.
            Por força do abandono técnico que resultou deste magno equívoco de Chávez, a decadência da PDVSA passou a acentuar-se com o avanço dos anos de incúria e de falta das atenções mínimas que a extração de um petróleo de alta qualidade (e por conseguinte, de maior valor intrínseco) exige,  a produção nessa virtual monocultura a que a leviandade de uma parte, e as ulteriores consequências por ela geradas determinam de forma inelutável,  em meio à megacrise gerada pela incompetência de Maduro et al., a par  dos efeitos determinados pelo erro Ur, vale dizer a entrega do petróleo da Venezuela a pessoal não habilitado, tudo isso constitui uma parte - e de grande relevância - no quadro dantesco da atual economia da  infeliz Pátria de Bolívar.
            O limitado Nicolás Maduro não passa de uma cópia-xerox e mal tirada de seu protetor. Além de faltar-lhe carisma, não tem condições de prevalecer politicamente na Venezuela, a não ser pelas vias da intimidação e da miséria. Nesse contexto, vale a pena lembrar o flagelo da híperinflação, que inviabiliza qualquer economia.
            Além dos elogios petistas, que viram até qualidade na sua fajuta Constituinte dos Bairros (proletários), com representantes eleitos pela fraude, conforme documentada pelo própria empresa suiça que providenciou a instrumentação da "convocação" dos eleitores fantasmas, com que Maduro, através de Delcy Rodriguez, realizou a manobra canhestra de substituir a Assembleia Legislativa com maioria da oposição, por essa Constituinte fantasma.  Pouco importa que, por trás desses "constituintes", não haja qualquer legitimidade.  O único partido a saudar esse triunfo de Maduro foi aquele presidido pela nossa conhecida Coelhinha[1] do PT...
               Para esse vinte de maio p.f. está marcado o encontro com mais um pleito amainado[2], e que o ex-prefeito de Caracas veio ao Brasil pleitear-nos o apoio (contra esse regime deletério e narco-sindicalista) que infelizmente não recebeu do atual sucessor de Rio Branco, Ministro Aloisio Nunes. Decerto, de pouco adiantam tais apelos de parte do líder oposicionista Antonio Ledezma, à falta de ação internacional com vistas a criar condições para que Maduro renuncie (já teve oportunidade de sair pela porta da frente, mas fugiu do recall que o eleitorado venezuelano tentara en vão  aplicar-lhe). Chávez, malgrado os respectivos defeitos, mostrou que era de outra têmpera, ao submeter-se - e vencer - o pleito democrático do recall.
                 Com o somatório de todos os erros cometidos tanto por Hugo Chávez e, máxime, pela ditadura de Nicolás Maduro, se nos depara em cabal prova de um inominável composto de erros, calinadas, torpes projetos e a roubalheira da atual choldra dominante, surge como prova cabal de tantos desatinos a presente miserável realidade venezuelana, que constrange a todos os segmentos populacionais a tentarem escafeder-se da presente pandemia da miséria. Tal se verifica nos êxodos para Roraima (Brasil) e Colômbia, pois com as condições de carência extrema, tanto de víveres, quanto de remédios, e de qualquer outro tipo imaginável de assistência, pois nada ali funciona, de forma a que militares na ativa recorram a vôos de desespero para os hospitais de Roraima (se desejam sobreviver de eventuais acidentes de ofício), assim como para as praças desse território brasileiro, enfermarias e nosocômios, pois a hiper-inflação a tudo tritura, e nenhum tratamento médico-hospitalar é sustentável no atual ex-paraíso chavista, gerido pelo rubicundo Domingos Maduro.







( Fonte:  Folha de S. Paulo )


[1] Senadora Gleisi Hoffmann (PT-Paraná) , presidenta do Partido dos Trabalhadores.
[2] falseado, adulterado.

sábado, 28 de abril de 2018

Temer e Piñera recebem Ledezma


                                     
          Um dos principais líderes da oposição venezuelana, o ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma foi recebido em Brasília, a 27 do corrente pelos presidentes Michel Temer e Sebastián Piñera (Chile).
           Ao encontrar-se com os dois presidentes,  Ledezma pediu notadamente que os dois líderes sul-americanos não reconheçam  as eleições marcadas para  o próximo dia 20 de maio, na Venezuela.
            Ledezma, que é um dos mais respeitados líderes da oposição democrática na Venezuela, classificou como fraude o processo eleitoral montado por Maduro. Na verdade, a crise venezuelana ganhou a dimensão de "catástrofe humanitária".
            Com a única finalidade de prolongar-se no poder, o lider chavista, consoante Antonio Ledezma, monta uma "fraude eleitoral", a qual não tem outra finalidade que a sua prorrogação no poder.
            Nesse sentido, o ex-prefeito de Caracas e líder da Oposição assinala que a prorrogação de Maduro é a prorrogação do extermínio. E acrescentou: "Porque na Venezuela se instalou um processo de extermínio do povo.  Temos o maior campo de concentração da História da Humanidade. Mais de 26 milhões  de seres humanos estão sequestrados por uma narcoditadura.  E digo - sublinhou Ledezma - narcoditadura porque já se tem provas de que Maduro e seu grupo representam um bando organizado que assaltou  o poder na Venezuela e está relacionado com terroristas, com contrabandistas de gasolina e traficantes."
               Tais foram as palavras de Antonio Ledezma, ditas no Palácio do Itamaraty,  aonde foi condecorada com uma medalha de honra, pelo ministro das relações exteriores, Aloysio Nunes.
                Em suas declarações, Ledezma expôs números segundo os quais trezentas mil crianças vivem afetadas por crônica desnutrição. Na prática, segundo o ex-prefeito, estão elas " sentenciadas à morte".
                 E, nesse contexto, assinala: "Por isso, eu peço que olhem para a Venezuela. Mais de oito milhões de pessoas não podem fazer sequer uma refeição por dia. Falamos de homens e mulheres que morrem diariamente por não terem acesso a serviços de quimioterapia, estão enfermos de diabetes, sem acesso à hemodiálise. Morrem doentes porque não há medicamento nem comida."
                  Ledezma, enquanto líder da Oposição venezuelana, se empenha em que os presidentes de países vizinhos se posicionem no sentido de que Maduro se afaste do poder e que seja instalado na Venezuela um governo de transição. Esse governo provisório, por sua vez, ficaria encarregado de organizar um processo eleitoral legítimo.
                 Como lógica consequência de o que está acontecendo na Venezuela, Ledezma defende que Maduro seja impossibilitado  de participar de qualquer eleição, eis que, segundo  ele, está envolvido  em atos de corrupção e por desrespeitar em vários pontos a Constituição venezuelana.
                  "É a hora de Maduro ser destituído e que seja feita a captura dele em qualquer lugar do mundo.  Não queremos do Brasil apoio à oposição, queremos apoio ao não-reconhecimento das eleições fraudulentas que vão acontecer na Venezuela, no dia vinte de maio.
                    No entendimento de Ledezma, o perigo que Maduro representa não se circunscreve apenas ao seu povo, mas também aos países vizinhos.  Nesse sentido, citou a crise migratória de venezuelanos para Roraima, que na avaliação de Antonio Ledezma tenderá a agravar-se  à medida que se acentue a crise no país vizinho.
                     Nesse contexto, Ledezma pediu a atenção especial para o fato de  que  "o salário  integral não passa de US$ 2.00 por mês. que é uma catástrofe humanitária.  Não estamos pedindo compaixão, estamos pedindo justiça.  A Vene- zuela ameaça a instabilidade regional."

( Fonte:  O  Globo )

Colcha de Retalhos F 20


                              
  Pezão também no esquema

            Em delação recebida de Carlos Miranda, já homologada pelo STF, o então vice de Sérgio Cabral,Luiz Fernando Pezão recebeu pagamentos mensais de propina de R$ 150 mil de 2007 a 2015, além de "13º salário" e dois "bônus" de R$ 1 milhão cada.
           A delação foi homologada pelo ministro Dias Toffoli, do STF.  Completa a propina de Pezão, uma reforma na sua casa em Piraí, completa o pagamento extra de R$ 300 mil. Isso eleva o total da propina  a R$ 18,8 milhões.
           Por decisão do ministro Dias Toffoli, a delação seguiu para o STJ, aonde já existe inquérito em andamento relativo a pagamentos de propina pela Odebrecht a Pezão. Sob o relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, o governador do Rio é acusado de receber R$ 20,3 milhões via caixa dois na campanha de 2014. O caso tramita em sigilo.
   

Cabral também recebeu propina pós-saída da Governança

               Ao deixar o Palácio Guanabara, o ex-governador Sérgio Cabral passa a receber R$ 400 mil  por mês do sucessor Pezão.
               Tanto Pezão quanto Cabral negam as acusações das delações, que consideram "mentiras".


( Fonte:  O  Globo )

O que será, será


                                                      

         É uma velha canção, se não me engano cantada por  Doris Day, que fazia de mote de um filme. Escrevo isso de memória, após ler  no New York Times do nervosismo dos medalhões republicanos, diante de o que o futuro semelha reservar para o presidente Donald John Trump.
          Pois não se desenha a perspectiva de que Sua Excelência se descubra de repente na penosa situação de tantos outros presidentes no passado?
          E que situação seria essa? Nada mais, e nada menos, de ver-se, ao cabo das eleições intermediárias, de repente despojado da maioria que ora ostenta nas duas Câmaras?
          A dizer verdade, as eleições ditas intermediárias costumam fustigar, seja presidentes inexperientes, como Barack Obama, dois anos após a sua vitória contra o republicano  John McCain,  seja aqueles que atravessem um borrascoso primeiro mandato, com diversos escândalos, como é o caso do azarão Donald Trump, que por circunstâncias várias logrou inesperada vitória sobre a democrata Hillary Clinton.      
          Apesar de haver conseguido no seu primeiro biênio de mandato como 44º presidente, aprovar grandes conquistas como a da reforma da saúde pública nos Estados Unidos (ACA) e aquela bancária, além de série de inversões pontuais para atender aos problemas levantados pela crise financeira de setembro de 2008, ao ensejo da falência do Banco Lehmann Brothers, Barack Obama sofreu nas eleições intermediárias de 2010, o contra-choque de gestão na Casa Branca que não passara a mensagem de grande impacto para o eleitorado.   Daí o resultado desastroso ao cabo de seu primeiro biênio, em que Obama, apesar das reformas na saúde e na financeira, passara a impressão de certo afastamento da realidade, por causa dos 'seminários', que então realizou na Casa Branca.
            Por iniciativa dos bilionários irmãos Koch, surge o Tea Party, facção de ultra-direita que se valhe da inexperiência de Obama e do 'revival[1]'  do Partido Republicano, o GOP logra vitória acachapante, em que retomam a maioria na Câmara - para até hoje não perdê-la, com a "ajuda" maciça do gerrymander. O Partido Democrata, sem embargo, naquela eleição intermediária perde cadeiras no Senado, mas retém a maioria relativa na Câmara alta.  
           As causas desta feita de uma eventual reviravolta têm a ver e muito com a bisonhice, a inexperiência, a falta de liderança crível e confiável,  e não por último, mas ligado a toda a síndrome do 45º presidente, não só a falta de nível, mas sobretudo a circunstância de o mandato de Trump estar sob muitos aspectos condicionado ao escândalo da intervenção russa na eleição de 2016. Todas essas últimas acusações estão sendo levantadas por um Conselheiro-especial, Robert Mueller III, que pelo seu trabalho e discrição implica no maior desafio que um primeiro mandatário americano venha a enfrentar desde os tempos de Richard M. Nixon, na década de setenta, com a crise de Watergate.
             Se o trabalho do Conselheiro Especial Mueller semelha ainda longe de concluir-se, a sua atuação, as consequências advenientes de uma Administração marcada por escândalos e pela insegurança do Primeiro Mandatário, tudo isso contribui de forma clara para causar uma reação forte, violenta mesmo, nas próximas eleições de meio-mandato, que vem trazendo negras nuvens de pessimismo para mais uma crise na presidência Trump, esta decorrente das consultas próximas, com a possível perda de uma das Câmaras (a baixa) para os democratas ( o que seria, desde já, um resultado muito produtivo, na medida em que criar condições de acabar com o gerrymander até hoje prevalente).  Por outro lado, dada a precariedade da atual maioria do GOP na Câmara Alta - um voto! - ainda que não seja certa, cresce bastante a probabilidade de um triunfo democrata também no Senado.
               Não se pode, de resto, deixar de acrescentar que a vitória do Partido Democrata nas duas Câmaras - além da realização da esperada reação do partido do burrinho, depois dos resultados estranhos e tão influenciados por essa figura de sombras e de iniciativas para lá de dúbias como foram as do então chefe do FBI, James Comey (V. o incrível episódio das suas comunicações ao Congresso logo no período da determinante votação antecipada na eleição de 2016)  seria uma reviravolta importante na política estadunidense, tornando na prática inelutável o consequente e progressivo descalabro da presidência de Donald Trump.

( Fontes:  The New York Times, O Estado de S. Paulo; What Happened, de Hillary Clinton).  


[1] renascimento.

A Vergonha de Del Nero


                                            
         Desde muito pesa sobre a CBF a sombra da corrupção.  Depois da prisão de José Maria Marin, em Zurich,  na Suiça, em 2015, e a precipitada fuga de Marco Polo del Nero, voando na noite para o Brasil, não mais subsistiam dúvidas razoáveis sobre a culpabilidade de Del Nero.
         Sucediam-se,  no entanto as óbvias admissões de culpa em cartório, eis que del Nero se recusa, e de forma repetida, a deixar o Brasil, por ocasião dos jogos da seleção brasileira, na rota da classificação, a princípio acidentada, e mais tarde resolvida com o pulso firme na Comissão Técnica do responsável Tite.
        Não houve da parte brasileira e muito menos da CBF qualquer movimentação que tirasse as consequências lógicas da fuga precipitada de Marco Polo del Nero. Ao invés, por algum tempo, um dirigente suspeito de corrupção de forma tão forte logrou manter-se na CBF, dando-lhe a Confederação o tempo necessário para costurar a indicação do próprio sucessor, na pessoa de Rogério Caboclo.
         Que uma pessoa tão atingida pelas denúncias e que se ache já na rota da defenestração tenha tido a força política de fazer o próprio sucessor, na pessoa de Rogério Caboclo, será acaso um bom indício para o desporto brasileiro? O que esperar dessa nova 'chefia', ungida sob as benesses de Del Nero?  O novo 'presidente' Caboclo, eleito há dez dias, irá assumir o cargo somente em abril de 2019. E por que o poder público se omite ?
          Com a situação na CBF definida, ainda que com estranhas mesuras, cabe à Fifa continuar o processo de defenestração de Del Nero. Nesse sentido, fez-se nova audiência nesta quarta-feira. Del Nero - que não pode sair do Brasil pelas causas (americanas) demasiado conhecidas - não pôde aparecer, e a sua sorte foi selada pela admissão de não poder viajar para o exterior.  Não obstante, Del Nero vai recorrer a todas as instâncias da FIFA,  para ganhar tempo, pois não há dúvida sobre o veredito.  Chegará mesmo Del Nero  a recorrer à Corte Arbitral dos Esportes, como o fizeram os precessores seus nesse ínvio caminho - Joseph Blatter, Michel Platini e Jerôme Valcke (o desenvolto, lembram-se?, que ao parecer, mordido pela mosca azul, acariciava estrondosas ambições) eis que este apparatchik da Fifa chegou a tronitruante a ameaçar aqui no Brasil dar pontapés nos traseiros. Tudo isso, lembram-se? ao ensejo da Copa no Brasil em que ruiu  mais um sonho de campeonato, sob o impacto dos 7x1 diante da arrasadora Alemanha, e a estupefação do banco brasileiro, presidido por um fulgurado Felipão.  


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )






quinta-feira, 26 de abril de 2018

O desastre Cameron


               

          O Brexit surge e continua como o slogan vazio, que acena  para a inexistente saída fácil.  De que e para quê o Reino Unido - no caso, sob gabinete raso e falto de imaginação, que David Cameron presidiu -  não trepida em convocar às pressas, como se estivesse lidando com problema menor,  o insano projeto que tenta lançar no ferro velho a concepção da União Europeia.
          O pequeno líder, através da pífia jogada, pôs a perder o sonho de mais de uma geração, que pensara não ser ainda demasiado tarde - uma vez afastado o obstáculo do veto  de De Gaulle - lograr por fim o colimado objetivo de integrar a velha Inglaterra ao Continente, concretizando  a realidade da União Européia. 
          O projeto que consumira décadas para ser realizado -  predecessores seus que sentiram fundo o quão a pequena ilha de Britannia carecia  de assumir e integrar-se à velha Europa -  de súbito, e com comovente falta de imaginação quanto ao significado de grandioso projeto  - o soberbo Cameron põe a perder o ideal  dessa integração. Com a penada do inútil plebiscito - de que vale pôr um projeto que avança em risco ?  -  o arrogante e imprudente David Cameron se lança na  corrida de lemingues, em que o abismo de imprevisibilidade se substitui ao forjar, decerto gradual  mas seguro, de uma nova geração anglo-europeia.
           O anti-ideal está personificado na imagem do pequeno líder, que por não ter grandeza, convive com muito afano e dificuldade com o desafio de projetos de alcance continental. Difícil entender tal anti-ideia que é a encarnação da recusa e da volta aos velhos tempos que se nega ao desafio diante da civilização europeia, como se esta fosse um corpo estranho. Essa volta ao passado feita às pressas  e com a irresponsabilidade de ignorar  o trabalho de muitos lustros não se resolve com os truques baratos de slogans como esse do brexit.  O que fazer da saída da Comunidade Europeia diante desse erro? 
            Theresa May  ouve calada  de Barnier, o principal negociador da U.E., que, em termos de comércio, o Reino Unido depende mais do comércio do que o restante da U.E...
            Tampouco é fácil de entender que Londres se empenhe tanto em manter para a City o pleno acesso ao Mercado Único,  se na jogada irresponsável do brexit - enleados por uma ideia vazia -     tenham votado abraçar o falso enigma, que ao fim de contas lhes promete o que a velha Londres já tinha...  
               Lançar-se a loucas aventuras promete aos lemingues o desastre, ou a humilhação inútil que persegue aos tolos por terem enjeitado o que já possuíam.
             Ou o futuro dos medíocres e de seus companheiros imprudentes é conviver com o próprio erro, e sentir no abraço do cotidiano a sua gélida extensão.
                 Reinventar a roda nunca foi um bom projeto.

( Fonte:  The Independent )