É uma velha canção, se não me engano cantada
por Doris Day, que fazia de mote de um
filme. Escrevo isso de memória, após ler no New
York Times do nervosismo dos medalhões republicanos, diante de o que o futuro
semelha reservar para o presidente Donald John Trump.
Pois não se desenha a perspectiva de
que Sua Excelência se descubra de repente na penosa situação de tantos outros
presidentes no passado?
E que situação seria essa? Nada mais,
e nada menos, de ver-se, ao cabo das eleições intermediárias, de repente
despojado da maioria que ora ostenta nas duas Câmaras?
A dizer verdade, as eleições ditas intermediárias costumam fustigar, seja
presidentes inexperientes, como Barack Obama, dois anos após a sua vitória
contra o republicano John McCain, seja aqueles que atravessem um borrascoso
primeiro mandato, com diversos escândalos, como é o caso do azarão Donald
Trump, que por circunstâncias várias logrou inesperada vitória sobre a democrata
Hillary Clinton.
Apesar de haver conseguido no seu primeiro biênio de
mandato como 44º presidente, aprovar grandes conquistas como a da reforma da
saúde pública nos Estados Unidos (ACA) e aquela bancária, além de série de
inversões pontuais para atender aos problemas levantados pela crise financeira de
setembro de 2008, ao ensejo da falência do Banco Lehmann Brothers, Barack Obama
sofreu nas eleições intermediárias de 2010, o contra-choque de gestão na Casa
Branca que não passara a mensagem de grande impacto para o eleitorado. Daí o resultado desastroso ao cabo de seu
primeiro biênio, em que Obama, apesar das reformas na saúde e na financeira,
passara a impressão de certo afastamento da realidade, por causa dos
'seminários', que então realizou na Casa Branca.
Por iniciativa dos bilionários irmãos Koch, surge o Tea Party, facção de ultra-direita que
se valhe da inexperiência de Obama e do 'revival[1]' do Partido Republicano, o GOP logra vitória
acachapante, em que retomam a maioria na Câmara - para até hoje não perdê-la,
com a "ajuda" maciça do gerrymander.
O Partido Democrata, sem embargo, naquela eleição intermediária perde cadeiras
no Senado, mas retém a maioria relativa na Câmara alta.
As causas desta feita de uma
eventual reviravolta têm a ver e muito com a bisonhice, a inexperiência, a falta
de liderança crível e confiável, e não
por último, mas ligado a toda a síndrome do 45º presidente, não só a falta de
nível, mas sobretudo a circunstância de o mandato de Trump estar sob muitos
aspectos condicionado ao escândalo da intervenção russa na eleição de 2016.
Todas essas últimas acusações estão sendo levantadas por um
Conselheiro-especial, Robert Mueller III, que pelo seu trabalho e discrição
implica no maior desafio que um primeiro mandatário americano venha a enfrentar
desde os tempos de Richard M. Nixon, na década de setenta, com a crise de
Watergate.
Se o trabalho do Conselheiro
Especial Mueller semelha ainda longe de concluir-se, a sua atuação, as
consequências advenientes de uma Administração marcada por escândalos e pela
insegurança do Primeiro Mandatário, tudo isso contribui de forma clara para
causar uma reação forte, violenta mesmo, nas próximas eleições de meio-mandato,
que vem trazendo negras nuvens de pessimismo para mais uma crise na presidência
Trump, esta decorrente das consultas próximas, com a possível perda de uma das
Câmaras (a baixa) para os democratas ( o que seria, desde já, um resultado
muito produtivo, na medida em que criar condições de acabar com o gerrymander
até hoje prevalente). Por outro lado,
dada a precariedade da atual maioria do GOP na Câmara Alta - um voto! - ainda
que não seja certa, cresce bastante a probabilidade de um triunfo democrata
também no Senado.
Não se pode, de resto, deixar de
acrescentar que a vitória do Partido Democrata nas duas Câmaras - além da
realização da esperada reação do partido do burrinho, depois dos resultados
estranhos e tão influenciados por essa figura de sombras e de iniciativas para
lá de dúbias como foram as do então chefe do FBI, James Comey (V. o incrível
episódio das suas comunicações ao Congresso logo no período da determinante
votação antecipada na eleição de 2016)
seria uma reviravolta importante na política estadunidense, tornando na
prática inelutável o consequente e progressivo descalabro da presidência de Donald
Trump.
( Fontes: The
New York Times, O Estado de S. Paulo; What Happened, de Hillary Clinton).
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