sábado, 28 de abril de 2018

O que será, será


                                                      

         É uma velha canção, se não me engano cantada por  Doris Day, que fazia de mote de um filme. Escrevo isso de memória, após ler  no New York Times do nervosismo dos medalhões republicanos, diante de o que o futuro semelha reservar para o presidente Donald John Trump.
          Pois não se desenha a perspectiva de que Sua Excelência se descubra de repente na penosa situação de tantos outros presidentes no passado?
          E que situação seria essa? Nada mais, e nada menos, de ver-se, ao cabo das eleições intermediárias, de repente despojado da maioria que ora ostenta nas duas Câmaras?
          A dizer verdade, as eleições ditas intermediárias costumam fustigar, seja presidentes inexperientes, como Barack Obama, dois anos após a sua vitória contra o republicano  John McCain,  seja aqueles que atravessem um borrascoso primeiro mandato, com diversos escândalos, como é o caso do azarão Donald Trump, que por circunstâncias várias logrou inesperada vitória sobre a democrata Hillary Clinton.      
          Apesar de haver conseguido no seu primeiro biênio de mandato como 44º presidente, aprovar grandes conquistas como a da reforma da saúde pública nos Estados Unidos (ACA) e aquela bancária, além de série de inversões pontuais para atender aos problemas levantados pela crise financeira de setembro de 2008, ao ensejo da falência do Banco Lehmann Brothers, Barack Obama sofreu nas eleições intermediárias de 2010, o contra-choque de gestão na Casa Branca que não passara a mensagem de grande impacto para o eleitorado.   Daí o resultado desastroso ao cabo de seu primeiro biênio, em que Obama, apesar das reformas na saúde e na financeira, passara a impressão de certo afastamento da realidade, por causa dos 'seminários', que então realizou na Casa Branca.
            Por iniciativa dos bilionários irmãos Koch, surge o Tea Party, facção de ultra-direita que se valhe da inexperiência de Obama e do 'revival[1]'  do Partido Republicano, o GOP logra vitória acachapante, em que retomam a maioria na Câmara - para até hoje não perdê-la, com a "ajuda" maciça do gerrymander. O Partido Democrata, sem embargo, naquela eleição intermediária perde cadeiras no Senado, mas retém a maioria relativa na Câmara alta.  
           As causas desta feita de uma eventual reviravolta têm a ver e muito com a bisonhice, a inexperiência, a falta de liderança crível e confiável,  e não por último, mas ligado a toda a síndrome do 45º presidente, não só a falta de nível, mas sobretudo a circunstância de o mandato de Trump estar sob muitos aspectos condicionado ao escândalo da intervenção russa na eleição de 2016. Todas essas últimas acusações estão sendo levantadas por um Conselheiro-especial, Robert Mueller III, que pelo seu trabalho e discrição implica no maior desafio que um primeiro mandatário americano venha a enfrentar desde os tempos de Richard M. Nixon, na década de setenta, com a crise de Watergate.
             Se o trabalho do Conselheiro Especial Mueller semelha ainda longe de concluir-se, a sua atuação, as consequências advenientes de uma Administração marcada por escândalos e pela insegurança do Primeiro Mandatário, tudo isso contribui de forma clara para causar uma reação forte, violenta mesmo, nas próximas eleições de meio-mandato, que vem trazendo negras nuvens de pessimismo para mais uma crise na presidência Trump, esta decorrente das consultas próximas, com a possível perda de uma das Câmaras (a baixa) para os democratas ( o que seria, desde já, um resultado muito produtivo, na medida em que criar condições de acabar com o gerrymander até hoje prevalente).  Por outro lado, dada a precariedade da atual maioria do GOP na Câmara Alta - um voto! - ainda que não seja certa, cresce bastante a probabilidade de um triunfo democrata também no Senado.
               Não se pode, de resto, deixar de acrescentar que a vitória do Partido Democrata nas duas Câmaras - além da realização da esperada reação do partido do burrinho, depois dos resultados estranhos e tão influenciados por essa figura de sombras e de iniciativas para lá de dúbias como foram as do então chefe do FBI, James Comey (V. o incrível episódio das suas comunicações ao Congresso logo no período da determinante votação antecipada na eleição de 2016)  seria uma reviravolta importante na política estadunidense, tornando na prática inelutável o consequente e progressivo descalabro da presidência de Donald Trump.

( Fontes:  The New York Times, O Estado de S. Paulo; What Happened, de Hillary Clinton).  


[1] renascimento.

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