Mais uma vez o esquema pós-condenação
do ex-presidente Lula não pôde seguir à risca a programação prevista e,
notadamente, a sua prisão, já acertada entre as Partes.
Na tarde de hoje, sua ida para Curitiba, acordada com o Juiz Sérgio Moro e a Polícia
Federal, sofreria um atraso devido, sobretudo, à resistência da militância em
que o chefe do Partido dos Trabalhadores deixasse no horário previsto - por
volta das três da tarde - São Bernardo do Campo no seu caminho para a prisão em
Curitiba.
Surpreendentemente, os militantes
petistas prepararam de forma autônoma, e à revelia de Lula, uma ação ampla e
com a força - que decerto não se encontrará em outros movimentos políticos -
que refletia, melhor do que qualquer elogio partido dos seus antigos camaradas,
o quanto lhe valorizam a liderança a ponto de descumprir-lhe a ordem e a respectiva
disposição de seguir a determinação da sentença prolatada pelo Juiz Sérgio Moro.
Dando prova da paixão - é o termo
adequado - que lhe devotam, a qual será diferente da postura de muitos oportunistas
que acorrem nas ocasiões principais que marcam a sua liderança no PT, a
militância tudo fez - e como de pronto se comprovaria, sem qualquer
participação de Lula - para inviabilizar a partida do chefe político e
partidário para a prisão em Curitiba. Com a ajuda das vielas que cercam a sede
da mater do Partido - o sindicato em
São Bernardo do Campo - seus
companheiros escreveriam proezas que são inimagináveis nos demais partidos
brasileiros. Sem rebuços, os militantes mostraram o quanto sentem a importância
da liderança do companheiro e chefe.
Tudo fizeram para tentar impedir a partida
do ex-presidente no horário marcado da Sede do Sindicato dos Metalúrgicos. Lula
já havia embarcado no carro que o levaria ao aeroporto de Congonhas, onde o
esperava o avião da Polícia Federal para conduzi-lo ao Paraná, mas foi
literalmente impossibilitado de seguir adiante, porque a militância petista
cercou a sua viatura nas vielas em torno da sede sindical, de maneira a
impossibilitar-lhe a saída de São Bernardo do Campo. Escreveram eles,
companheiros anônimos, uma página que não se encontrará em jornal ou
crônica. Não só no Brasil, Lula não
poderia receber uma demonstração mais intensa e genuína de o que significa a
sua liderança para aqueles companheiros que se prodigaram em retê-lo, não por
ordens de qualquer graúdo, mas por um impulso que vinha da admiração, do apreço
e de uma reação que evidenciava o quanto o admiram e estimam a ponto de
contrariá-lo na própria determinação de entregar-se à magistratura.
Ao partirem para aquela desobediência
à autoridade judiciária, sem decerto querer imiscuir-me no que significa tal
atitude, só pensei em que os companheiros metalúrgicos e petistas de Lula
estavam expressando, na sua forma própria, o maior elogio que o ex-presidente
e, sobretudo, o chefe partidário poderia pensar pudesse receber naquele momento
especialmente difícil para ele.
Dada a liderança de Lula, os seus companheiros
de motu proprio, muito provavelmente
de forma de todo espontânea, escreveram em linhas tortas, até que ponto pensam
possível traduzir no próprio comportamento a sua admiração pelo primeiro
presidente operário do Brasil.
Essa atitude dos partidários petistas
reflete o grande respeito que a militância do Partido dos Trabalhadores tem por
Luis Inácio Lula da Silva. Em verdade, devoção seria a palavra mais adequada, o
que mostra a força da liderança de Lula, na medida em que chegaram a
contrariá-lo na sua própria disposição, um fenômeno que mais poderia ser
descrito por devoção, cuja pujança leva o militante a dizer não
ao chefe, pensando que assim o protege mesmo contra a sua expressa vontade.
(
Fonte: cobertura pela Rede Globo )
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