quarta-feira, 4 de abril de 2018

Tempestade em céu azul ?


                                     

        Hoje o Supremo se reúne uma vez mais e, de repente,  a pauta da sessão coloca em risco o resultado de antigas batalhas, com difíceis conquistas, que não caíram decerto do céu.
        A sua importância pode ser sentida na atmosfera nervosa e nos apelos à serenidade, feitos por sua Presidente, Cármen Lúcia.
        Serenidade? Como se pode ter tal atitude,  se a crispação dos gestos traduzem todo o contrário?  A longa jornada ameaça infletir por outros caminhos, que não se viam antes.
.        No tribunal, o horizonte não deixa entrever resultado que corresponda à postura recomendada pela voz de sua Presidente.
        São demasiado conhecidos os ditos sobre a imprevisibilidade dos magistrados. Longas e aturadas campanhas podem terminar abruptamente, seja em estentórico berro da multidão, seja em gemido, a princípio quase inaudível, mas que tenderá a crescer, quer em ruas e logradouros de repente vazios, quer na surda irrupção de nervoso risco em céu cerúleo.
         As grandes decisões sóem ser como tempestades no mar, que o frágil barco atravessa com velas inconstantes, por vezes pandas, quase opulentas, outras, naquela frouxidão do pano, que a boas novas não parecem acenar.
          O silêncio da turba ausente, mas que se faz sentir no que surge em cada voz na aturada progressão dos onze votos, ditos seja de forma límpida, seja doutro modo, em turvas expressões que levam tempo para se tornarem reconhecíveis, tudo isso envolvido no nervoso amplexo de um ser que ainda não tem cara, mas que o fluxo do tempo vai constrangendo a que, de repente, seja com voz fina ou grossa, o sofrido, torturado sufrágio irrompa, com a carantonha do mal ou o sorriso do bem.
           Não será mais hora de mostrar cartões de voos para a Velhacap, ou de outros absurdos compromissos, como se se desejasse mostrar à Nação empenhos de um clube, que nada tem a ver com a gravidade da hora.      
            Por mais tortuosa que seja a via,  por revolto que esteja o mar-oceano, a geral ansiedade repousa em subjetivas veredas, que espera apenas a faísca de um aceno imprevisto, ou a confirmação de um temor ou, quem sabe,  o júbilo de encontrar no espelho - que o carregador leva a custo - a imagem fugidia de um sonho que ora confronta a sociedade.   

( Fontes:  O Estado de S. Paulo;  Rede Globo  ) 

Nenhum comentário: