Colocado na Presidência por estranho
capricho do destino, talvez caiba a pergunta por que este blog insista tanto em levantar a sorte madrasta ou a má-fé
enquistada, como explicação para o desastroso governo de Donald Trump.
Mais escreva sobre esse acidente da
História, mais me convenço da inutilidade da prática.
O caráter errático e, não obstante,
voluntarista desta presidência enche o futuro de interrogações que só serão resolvidas
ou pelo decurso de prazo, ou por eventos que estejam fora da perspectiva de uma
opinião pública cada vez mais atônita e desesperançada.
A sequência de exonerações e de
mudanças radicais de política, só tende a encher o público daquilo que o
italiano denomina de sgomento[1].
O que se pode fazer diante de uma situação anormal na política, causada por
defeitos radicais em personalidade dirigente, que parece privilegiar a
imprevisibilidade e a ausência da constância lógica?
O presidencialismo americano, criado
por constituintes do século XVIII, já confrontou muitas crises, e a resposta do
sistema tem sido até o presente satisfatória.
Mas poder-se-ía dizer o mesmo com
relação ao atual morador da Casa Branca ?
De um governo morno, a que o
eleitorado vira com uma certa disposição favorável, que se manteve nos médios
diapasões, eis que se passa de súbito - embora não lhe tenha faltado o
sobreaviso - para outro que substitui a falta de planos por imanente sensação
de inelutável mediocridade, os Estados Unidos se arrastam contrafeitos para
mais uma consulta popular, ainda que nela exista uma sensação de passagem, de provisório, tudo isso
trazendo no seu bojo quem sabe uma insinuação de mudança, posto que desajeitada
e incompleta?
O Povo americano não encontra nas
eleições intermediárias quem sabe so-luções dramáticas e definitivas, mas não
se pode excluir que o desacerto presente venha a causar reações inesperadas,
ainda que previstas por tanta gente a ponto de escolher momentos intermediários
para a postagem de recados raivosos e muita vez ríspidos.
Recordo-me do desastroso biênio
inicial da presidência Obama, que, com-parado com o presente, semelha
brincadeira de criança. Na realidade, o novato inexperiente - e me perdoem, por
necessário, o pleonasmo - Barack Obama se refugiou nos seminários acadêmicos da
Casa Branca discutindo disso e daquilo, enquanto a realidade estadunidense
fervia com os irmãos Charles
e David Koch e associados na
gestação do Tea Party - movimento de
raivosa quase extrema-direita, que iria conjuminar o monstro que daria à luz o gerrymander
oportunista do censo de então, e as consequências de longa e lástimável duração
do controle pelo GOP da Casa de Representantes.
A confusão e a travessia pelos
caminhos da desrazão do governo Donald Trump - e basta atentar para as insanas
mudanças da "equipe" da Casa Branca - constituem sem dúvida uma razão
para o impeachment. Considerar o DACA como morto mostra uma postura
lamentável, pois os imigrantes abrangidos pelo tópico fazem por merecer melhor
sorte. Talvez Obama se haja comportado
de maneira pouco realista, como se o problema pudesse ser resolvido pelas
próprias características do ingresso do grupo nos Estados Unidos. Não me parece,
de resto, que a liderança democrática no Senado se haja caracterizado por
grande ativismo na matéria, agindo talvez como se os dreamers tivessem assegurada
a própria condição legal pela sua óbvia inocência na questão.
É o velho deixa estar para ver como é que fica,
que não se acha apenas nos Estados Unidos da América. Pareceu-me, por isso, que
a liderança democrata no Senado pecou na matéria por falta de empenho. Mas o
adágio na política nos ensina que não há nada impossível nessa questão, por ser
manifestamente justo o seu ingresso nos EUA e não pela porta dos fundos.
O que me impressiona em
Trump é o caráter errático do próprio governo. Se segundo o sábio do Alvorada,
nada é previsível no Subdesenvolvimento, será que, por apossar-se de métodos não
consuetos no mundo desenvolvido, o atual 45º presidente traz para a Casa Branca
uma perspectiva que cria o imprevisto pelo imprevisto, sem preocupar-se com a
existência ou não de condições de um mínimo de coerência no seu programa de
ação, se acaso dispõe de um, em condições de implementação.
(Fontes: Elizabeth Drew; The
New York Times)
[1]
palavra italiana que o Zingarelli define:
estado de turbação, depressão, causado por eventos externos.
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