domingo, 31 de dezembro de 2017

Supremo russo faz "agrado" a Putin

                    
        Gospodin Vladimir Putin é considerado presidente de uma democracia.  Quando muito, o regime russo é havido como "severo", "rígido", ou até autoritário, mas ao ler a pequena notícia, enfurnada pelo Estadão, em minúscula nota, despojada de qualquer contexto, crescem as minhas dúvidas sobre o que é a democracia na Federação Russa...

         Putin tudo prepara para a sua próxima reeleição.  Para tanto, o Tribunal Supremo da Rússia rejeitou ontem, dia trinta de dezembro, o recurso do carismático e popular líder da oposição Alexei Navalny, contra a decisão do "Comitê Eleitoral Central" (CEC) que lhe vedara a participação como candidato nas eleições presidenciais de março de 2018, por ter antecedentes penais...
         Para aplicar o golpe da mordaça ao principal candidato, o extremamente popular e carismático líder da corajosa oposição russa, Alexei Navalny, a cripto-ditadura de gospodin Vladimir Putin o afasta do processo eleitoral.  Por trás da argumentação supostamente jurídico-legal, está o punho ditatorial do regime de Putin.

        Apesar de que seja muito dúbia a legalidade e a igualdade aos eventuais candidatos à máxima autoridade na Federação Russa,  Putin não quer saber de ter pela frente um candidato com grande penetração popular e fama de competência, coragem e honestidade, como o é o antigo líder das passeatas em Moscou  pela democracia.
         Utiliza-se para o afastamento de Navalny do chamado método legalista-autoritário.  Nesse ponto, é grande a previsão em criar obstáculos jurídicos para evitar a confrontação com uma liderança real e tendo  largo respaldo no eleitorado (por mais torpes e manipuladas que sejam as apurações na Rússia).

          Por trás da linguagem jurídica, está a hipocrisia do poder absoluto. Para não ter problemas nesta próxima eleição, gospodin Putin trata de instrumentalizar por falso processo no interior sobre alegada norma jurídica - Navalny seria culpado de estelionato (em transação sobre alegada compra de madeira)... 


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Afinal Plenário do STF votará liminares de Fux

                   

        O Ministro Fux levou tempo para liberar à votação do plenário do STF  as generosas liminares que concedera desde 2014, ao estender o auxílio-moradia a todos os juízes  das Justiças Federal, estaduais e trabalhista.
         Tão logo souberam que todos os membros do STF vão afinal julgar da liberalidade do Ministro Luiz Fux, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) anunciaram que não medirão esforços para manter  esse benefício que hoje é de R$ 4,3 mil e não incide no cálculo do teto salarial do funcionalismo. Quando o Supremo retomar os trabalhos em 2018 caberá aos Ministros da Corte referendar ou não as decisões de Fux. 
          Em carta distribuída a seus filiados, a AMB afirmou que não aceitará "perdas salariais sob qualquer pretexto", e invocou a tese  da "valorização da magistratura" para justificar o recebimento desse penduricalho e reivindicou, no caso de ser considerado inconstitucional pelo STF, a criação de outro benefício no mesmo valor do auxílio-moradia, a título de "valorização por tempo de serviço". Também alegou que "não se curvará aos detratores da magistratura, especialmente à difamatória campanha lançada pela imprensa." E nesse mesma linha, defendeu ainda o anteprojeto da nova Lei Orgânica da Magistratura Nacional, que foi elaborado pelo Supremo na época em que era presidido pelo ministro Ricardo Lewandowski. Entre outras concessões, o anteprojeto prevê o pagamento de até 17 salários (!), férias de 60 dias, multiplicação de verbas indenizatórias e até direito a passaporte diplomático.
           Como assinala o Estadão, "evidentemente um erro - como a concessão de um penduricalho para os membros da AGU - não justifica outro erro, como a continuidade do pagamento do auxílio moradia. E como frisa o Estadão "se tivessem a certeza de que suas pretensões têm sólida base jurídica, as duas entidades (a AMB e a AJUFE) não precisariam agir de modo tão patético.
            Nesse contexto, parece oportuno ter presente o que assinala o editorial do Estadão: "Acima de tudo, essas associações não consideram o fato  de que a discussão sobre os penduricalhos não envolve uma questão jurídica, mas uma questão ética. (Assinale-se que) a corporação está entre as carreiras mais bem pagas do funcionalismo  e goza de privilégios que não são concedidos aos trabalhadores da iniciativa privada."


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )         

Papa Francisco

                                        

        Os grandes inovadores da Igreja de Cristo não costumam ter a vida fácil e monótona reservada às mediocridades  e  àqueles que confundem a aparente vontade da Cúria romana ao sentir da maioria.
         Para ficarmos nos tempos modernos, bastaria, talvez, referir-nos a Angelo Giuseppe Roncalli, João XXIII, o  Papa Buono,  que trouxe o Concílio para uma Igreja demasiado afastada da modernidade e de seus desafios,  e à mais recente dádiva para a Religião católica e apostólica romana,  Jorge Mario Bergoglio, quem traria de novo a originalidade criadora na fé para a Igreja de Pedro, ao assumir o nome de um grande santo das gentes, Francisco, até então ignorado pelos seus antecessores, desde a Idade Média.
         Para que melhor entendamos o Papa do Concílio e o seu exemplo de bondade, abertura à modernidade, semelha importante traçar breve retrato desse grande inovador da Igreja de Cristo. Não são poucos os respectivos traços similares aos do atual Pontífice. Escolhido pela sua idade, como Papa de transição - depois do longo e formalista parêntese do papado de Papa  Eugenio Pacelli, Pio XII - Papa Giovanni traria realmente a transição para a Igreja. Mas não terá sido aquela em que muitos de seus eleitores pensaram - vendo a transição como a acomodação ou preparação para o advento de seu eventual sucessor, por conta da própria idade avançada (77 anos ao ser escolhido). Sem embargo, desde a sua resposta ao diácono quanto ao nome que escolheria como Papa - João - mostrou ao dizer Johanem que tinha outras ideias quanto à transição que pretendia promover. Ao tomar como nome o do apóstolo das gentes, João XXIII adumbrava que tinha em vista outra transição bem diversa daquela que proporcionaria um pontífice setuagenário, dobrado pelos achaques de velhice. Tampouco Papa Giovanni recuou diante desse nome que servira no passado longínquo a um anti-Papa, i.e. um pontífice cuja legitimidade fora invalidada pela Igreja.
         Não é, decerto, meu propósito estender-me sobre o pontificado desse grande Papa.  Outrossim, não terá sido por acaso que a sua bem-aventurança e santidade tanto tardaria a ser ratificada por seus sucessores, muitos deles da linha conservadora, que não mostraram pressa alguma na confirmação da própria beatitude e posterior canonização. Se o passar dos anos não apagara a memória do Papa do Concílio, o grande culto que lhe é votado se manifesta bem cedo muito forte, e é a tal pujança que o seu antigo Secretário particular, D. Loris Capovilla dedicou  série de opúsculos, para mostrar o legado do 'Papa bom' que desmontaria as barreiras das facções conservadoras do alto-clero. Tanto a beatificação, quanto a canonização são conquistas da áurea de santidade de um grande Papa, cuja imensa popularidade junto ao Povo de Deus, venceria todas as barreiras colocadas pela ala triunfalista do alto clero conservador.
         Hoje, os desafios que enfrenta o ânimo e a coragem desse novo Papa, que a Argentina doou ao mundo,  têm muito a ver com a batalha que terá levado, no passado, ao chamado Papa do sorriso, João Paulo I, que julgou possível juntar no próprio nome a João XXIII e ao respectivo sucessor, Paulo VI, que culminaria a obra do Concilio Vaticano II, embora em certos pontos recuasse como na sua Encíclica Humanae Vitae fizesse pesadas concessões ao pensamento conservador.
          A luta desenvolvida pelo novo Papa Francisco deve continuar. Os grandes pontífices, seja no passado, seja no presente próximo, podem ter tido surdos embates com prelados dessa Cúria, em que por  vezes se aninham as feições menos confessáveis dessa legião de anônimos que amiúde constituem a chamada vanguarda do atraso. Os seus eventuais êxitos são marcados pela transitoriedade. Quem se há de lembrar acaso daqueles supostos prelados que terão acaso brindado, no infausto três de junho de 1963 a morte desse grande Papa do século XX, cercado este último pelo elogio de seu sucessor imediato, que se chamaria Paulo VI, pela silenciosa multidão na Praça São Pedro, pelos seus colaboradores diretos,  dobrados pela aura de santidade,  daquele que o porvir mostraria como o maior Pontífice do século passado.
           O preconceito, a inveja, são reações mesquinhas, que costumam abrigar-se na sombra e nos encontros furtivos.
            A bondade, o ânimo reto e justo, a clarividência sóem dispensar os rebuços da gente pequena, que nas sombras se encontra, e para elas semelham confluir, porque o suposto segredo que as envolve, e de que tanto carecem,  lhes pouparia  do incômodo de deparar no espelho refletidas as marcas inconfessáveis da própria maldade.
               Continue Papa Francisco a sua luta, porque nela encontrarás mais do que a própria realização, senão a certeza de que enfrentas o bom combate, e que assim agindo segues o exemplo de outros grandes Pontífices, que tanto agregaram ao rebanho do Senhor.


FontesPope John XXIII, de Peter Hebblethwaite; Annuario Pontificio  1988;  Veja - artigo de Adriana Dias Lopes sobre Papa Francisco - De Costas para a Cúria.




sábado, 30 de dezembro de 2017

A corruptonite e suas marcas

                 

        Que os leitores me relevem esse retorno a questões que revejo nos jornais que me aguardavam na volta das brevíssimas férias de Natal.
    Como os menos moços leitores da coluna terão bem presente, o terror do Superhomem dos quadrinhos estava sobretudo nos malfeitores que sabiam de sua fraqueza diante da terrível criptonita, a qual o despojava, ainda que temporalmente, de seus super-poderes.
        Se me permitem a liberdade do comentarista, esse fenômeno dos quadrinhos de certa forma se transporta à triste realidade da América Latina, em que a corrupção é uma praga capaz de rivalizar com os bandidos adversários do campeão da justiça, no mundo binário e juvenil das antigas revistinhas.
        Já se escreveu - e muito bem - sobre essas veias que constituem autêntica praga de Latino América. Nesse contexto nauseabundo, diga-se de passagem, que o meu emprego do termo castelhano não se insere no contexto de eventual tentativa de buscarmos reivindicar um magnífico isolamento ético na matéria.
        Primo, porque a realidade o contradiz.  Secondo, porque seria vizinho do ridículo fazê-lo, tantos são os exemplos na realidade hodierna na América Latina que mostram quão presente está esse gérmen insidioso em todo o Continente americano. Se os Estados Unidos, sacudidos pelo incôngruo triunfo de candidato que é inferior a sua rival em tantos aspectos, cuidam de pôr ordem na casa através da designação do Conselheiro especial Robert Mueller III no que tange às eventuais irregularidades na eleição de Donald John Trump, vemos por sua vez em nosso continente quão largas são as teias de mãe-corrupção.
         Há por um lado a firma brasileira que reponta em muitas obras e construções do subcontinente. Não é só nos hirtos esqueletos de abandonado concreto-armado que existem na hoje miserável Venezuela e que apontam para a extensão de suas teias, na sucessão de obras inacabadas da visão fantasmagórica, como se a brusca mudança de condições desvendasse o que Eduardo Galeano já indica no seu livro pressago, sobre as veias de América Latina.
             Tampouco,  não é só o corrupto Nicolás Maduro que está envolvido nos turvos negócios com a empresa tão favorecida pelo regime petista de Lula e  Dilma Rousseff, aquele já objeto do intenso e oportuno trabalho desse grande juiz que é Sérgio Moro.
            Na verdade, vê-se quão largo é o campo lavrado pela Odebrecht. E se ela longe está de ser um cordeiro entre lobos, o que a realidade demonstra na sua exposição pelos tribunais, é que ninguém é santo nesse turvo jogo, em que se fez aposta temerária de impunidade que uma série de fatores, entre os quais a imprensa, a mídia e a sociedade enfim contribuiriam para arrancar-lhe o pluri-decenal véu de suposta mítica virtude.
            Se vemos a corrupção por tantas partes - inclusive até no futebol nacional e, nesse contexto, me pergunto por que o Brasil deva fingir que não é com ele, em termos de corrupção nas entidades de classe, subdelegando ao FBI a prisão dos ladravazes, como no caso do paredro Marin, e deixando que outros continuem à frente de seus postos, como se nada fora - pode-se verificar quão largo é o amplexo da corrupção em Latino América.
          Por ora, o gélido abraço da corrupção envolve boa parte do continente americano - norte, meso e sul - e tão triste narrativa há de repontar na Argentina e alhures.
       Essa estória continuará - e esperemos que de forma a ensinar às gerações presentes e futuras do proveito de trilhar o bom caminho - eis que, além das virtudes e benefícios inerentes às retas vias, os atalhos presentes tendem a acabar mal para os seus eventuais protagonistas.


(Fontes: O  Globo, Veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano)       

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Cármen Lúcia intervém

                                   

       A presidente do Supremo, Ministra Cármen Lúcia, concedeu ontem liminar para suspender os trechos do decreto do Presidente Michel Temer com regras mais brandas para a concessão do indulto de Natal a presos condenados.
       Foi a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, quem apresentou o recurso contra o decreto.
       Na decisão, em tom severo, Cármen Lúcia afirmou que as regras do decreto "dão concretude à situação de impunidade, em especial aos denominados 'crimes de colarinho branco', desguarnecendo o erário e a sociedade de providências legais voltadas a coibir a atuação deletéria de sujeitos descompromissados com valores éticos e com o interesse público garantidores  pela integridade do sistema jurídico."  Para Cármen Lúcia, "as circunstâncias que conduziram à edição do decreto, numa primeira análise, demonstram desvio de finalidade."
       Conforme a Ministra, o indulto é uma medida humanitária, e não pode "ser instrumento de impunidade". Ainda segundo Cármen Lúcia, pelo indulto, o criminoso ganha uma nova chance de superar o seu erro. "Indulto não é prêmio ao criminoso, nem tolerância ao crime", afirmou a presidente do STF, acrescentando que indulto fora da finalidade estabelecida na lei "é arbítrio".
        A ação foi sorteada para a relatoria do ministro Luís Roberto Barroso, que poderá liberar o caso para julgamento em plenário a partir de fevereiro, quando terminar o recesso do STF.
         Responsável pela Lava Jato em Curitiba, o juiz Sérgio Moro elogiou a decisão da presidente do Supremo.
         Na cobertura de O Globo, há palavras de especialistas. 

         Visão de Marco Antonio Teixeira, cientista político e professor da  FGV-SP.
      
       "Houve uma sucessão de erros com esse decreto que amplia as possibilidades de um preso condenado conseguir indulto. Politicamente, um governo que tem ministros pendurados no foro privilegiado e teve outros integrantes que caíram por causa de denúncias não deveria tratar de um tema como esse.(...) Para a imagem do governo, foi um absurdo esse episódio, apesar de a Constituição dar amparo para o Presidente fazer isso. Por outro lado, houve erro porque a decisão do Supremo Tribunal Federal significa interferência no Executivo. São dois erros que mostram a crise institucional que a gente vive.  O decreto por si só é um absurdo. Foi uma derrota porque o governo se desgastou à toa ao se expor negativamente num momento ruim com o resultado do desemprego divulgado nesta sema- na, que foi uma ducha de água fria. O governo poderia ter passado sem essa."       

           Visão de Gustavo Badaró, professor da faculdade de Direito da USP:

            "Do ponto de vista técnico, a decisão está correta. Se a ministra não suspendesse o decreto e, no futuro, o Supremo Tribunal Federal declarasse o texto inconstitucional, haveria o risco de que nesse meio tempo presos fossem beneficiados com base no decreto de Temer. E esse benefício não poderia ser revertido.  Por outro lado, o presidente tem a prerrogativa constitucional de conceder o indulto aos réus condenados. Em regra, toda a vez que a Constituição confere  um poder ao presidente, ele pode usar. Pode usar bem ou usar mal, e não haverá ilegalidade. Existem críticas contra o decreto por parte do Ministério Público e da Operação Lava Jato. Mas o fato de esse indulto ser mais amplo, significa que é um abuso? Eu acho complicado o Poder Judiciário se intrometer num ato discricionário do presidente da República. Isso é fruto de uma judicialização de tudo o que acontece no país. Esse debate saíu do palco político para ter como atores e protagonistas  quem não tem esse poder. É bom lembrar, porém, que em matéria de constitucionalidade, muitas vezes o STF  tem que assumir um papel contra-majoritário.  O termômetro para a decisão final do Supremo não pode ser agradar a voz das ruas".


( Fonte:  O  Globo )

Quem chora por ti, Venezuela ?

                    

        Faz tempo já, mas o presidente Nicolás Maduro perdeu grande oportunidade ao recusar-se, na prática, a ser afastado pelo procedimento constitucional do recall - que recordarei, por enésima vez, se submetera o seu protetor Hugo Chávez, e que, para sua honra, vencera.
        Tudo indica que Maduro torna ainda mais longo e penoso esse processo, decerto exacerbado pela própria incompetência, e a gatunice do regime.
         Para quem acompanhe a involução na economia e na política da Venezuela, será acaso difícil determinar quais são as causas determinantes dessa magna crise naquela infeliz nação?
         A inflação não era tão alta nos tempos de Chávez, nem a crise na população atingira os atuais níveis, mas desde o tempo do fundador do regime, ela já se agravava.  Colaboraram para tal o desperdício e as ambições hegemônicas do regime.  Chávez fazia política internacional com o sobrepreço então do petróleo, que constitui o principal esteio da economia venezuelana.
           Os lucros da monocultura venezuelana - derivados do petróleo - ao invés de financiarem inversões na própria indústria - se destinavam à subvenção da economia cubana (o petróleo lhe era repassado a cotações menores daquelas vigentes na época), assim como do processo revolucionário das esquerdas na América Latina (Nicarágua e até Argentina), custeio de uma organização chavista, uma espécie de OEA das esquerdas), e sem dúvida outras inversões com a mesma tônica ideológica. Compreende-se, por conseguinte, que, na prática, o coronel Chávez bancava o futuro das próprias aspirações de liderança da esquerda continental, sem atentar, no entanto, que o montante dos seus recursos não eram determinados por ele, mas pelas flutuações do mercado petrolífero, dominado por gigantes que cuidam naturalmente dos respectivos interesses e não dos da 'revolução chavista'. Mutatis mutandis, se o comandante Chávez tivesse lido [i]Esopo e [ii]La Fontaine, talvez houvesse chegado a soluções mais próximas da realidade latino-americana, assim como das possibilidades da própria economia.
           Nicolás Maduro, como tantos outros herdeiros de líderes carismáticos na história universal, é o fautor principal da triste situação de que padece o próprio povo, no caso o venezuelano. É uma curva que, pela própria natureza,tende a cair sempre mais, para a infelicidade de um povo que acreditou em Chávez mas já deixou há muito de ter alguma confiança no seu sucessor.
           No velho sistema de Latino América   - de que o Brasil tampouco se diferenciou no passado - Maduro tratou de cooptar Las Fuerzas Armadas para sustentar-lhe o regime, visto que já não bastavam os instrumentos policiais para garantir-lhe a permanência em Miraflores.
          Com o píres estendido, logrou o apoio econômico, de gospodin Vladimir Putin, o atual czar de todas as Rússias, hipotecando o solicitante Maduro na prática as rendas que lhe advêm da monocultura de sua economia.
           Mas a situação da economia venezuelana é pavorosa, e nem mais pernil de porco, como noticiam os jornais,  ela tem condição de importar do nosso Portugal...
            Não se carece de grandes poderes divinatórios para prever que a situação econômica venezuelana ora funciona como o motor para a aceleração da queda desse regime nefasto, em que a corrupção, o compadrio e a crueldade se dão as garras.
             Para que se tenha idéia do caos prevalente no 'mandato' de Nicolás Maduro - hoje despojado de qualquer base de legitimidade - que vem sendo infligido ao infeliz Povo venezuelano - eis os dados fornecidos pelo Observatório  Venezuelano da Violência, no passado ano:  26.616  pessoas assassinadas (89 vítimas a cada cem mil habitantes). Dessas mortes, 16.046 são homicídios, 5.535 assassínios por resistência à autoridade (!) e 5.035 mortes ainda sob investigação.

( Fonte:  O  Estado de S. Paulo )



[i] Esopo, fabulista grego, sec.VII/VI A/C.
[ii] La Fontaine, fabulista francês (1621-1695)

De Volta

                             

         No fim de ano, existe movimento familiar, que em geral assemelha  um retorno às origens. Ele não se dita pelas estações, como a transumância, mas não é de crer-se que se deva forçar a diferença.
         Tais migrações periódicas se associam a entranhados costumes, e  têm por estrela guia o regresso - ainda que apenas simbólico - ao meio familiar que, como o caranguejo ao rochedo, não se afastou do núcleo inicial.  Aqui, o prefixo germânico Ur que designa a origem deve ser levado, na medida em que as induções da mídia o permitam, a sério?
         Ao deparar as multidões nos aeroportos, atravessando esses brasis, me vejo forçado, ainda que o peso dos reencontros familiares não seja de desdenhar, a perguntar-me  se a mística do Natal seria a única força a lotar as burras das companhias aéreas? Esse mercadejar natalino - tão óbvio quando obriga os viajores, decerto contra as disposições das autoridades aéreas, a roteiros que ao invés de encurtar, espicham as viagens - parece um inútil obstáculo, ditado quem sabe pela ambição empresarial que deseja empanzinar-se com os familiares deveres que as situações criam?
           Já fraca ressoa a gafe célebre do 'relaxa e goza',  dita por uma ministra em outra situação, ainda mais contrária, que terá, quem sabe?,  lhe afastado do então círculo do poder petista.

           Mas talvez as duas avaliações andem de mãos dadas, pois o que se vê nesse momento de azáfama nos aeroportos, é algum desconforto e angústia dos muitos alguéns que, como o menino partilhado  por um casal separado, enfrenta o terror passageiro  das turbinas nas pistas, elevando-se empós insana corrida sabe-se lá para onde.   


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Gilmar Mendes manda soltar Garotinho

                          
              O Ministro Gilmar Mendes manda soltar Garotinho, que estava preso em cárcere do Rio de Janeiro.

       

 ( Fonte:   site da Folha de  S. Paulo )


A Lava - Jato na berlinda ?

                         

           Em 48 horas, ministros do STF tomaram pelo menos 11 decisões que envolvem políticos ou se reportam  à  Operação Lava Jato.
          No plenário da Corte, procedeu-se ontem ao julgamento  que decidiu pelo desmembramento das investigações do "quadrilhão do PMDB da Câmara", e na véspera a Segunda Turma havia rejeitado denúncias contra quatro parlamentares no âmbito da Lava Jato.
          Participaram da sessão da turma os Ministros Gilmar Mendes e Dias Tóffoli, além do relator da Lava Jato, na Corte, Edson Fachin, que saíu, por ora, vencido, eis que faltaram membros da turma.
          Na mesma sessão, eles concederam liberdade a um empresário acusado por crimes  que envolvem a Sérgio Cabral.
          Já por decisão monocrática, o Ministro Gilmar Mendes mandou para a prisão domiciliar a ex-primeira dama do Rio, Adriana Ancelmo, e concedeu liminar ao governador do Paraná, Beto Richa  (PSDB),  suspendendo inquérito contra ele.   
          Não é a primeira vez que Adriana Ancelmo, esposa de Sérgio Cabral  sai da cadeia para cumprir prisão domiciliar.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Lava Jato em perigo ?

                              

           Os principais jornais de Rio e São Paulo reservam as suas manchetes às decisões contrárias a Lava Jato por ministros do Supremo.
           Talvez ainda seja cedo para considerar em perigo a Lava Jato, eis que as decisões ou são monocráticas (tomadas por um magistrado), ou em turmas do STF, em questões por enquanto pendentes.
           No caso, temos a condução coercitiva de Lula, em abril de 2016, que fora pedida então pelo PT. Esse tipo de ação implica em interrogatório coercitivo, o que o Ministro Gilmar Mendes ora concede a respectiva nulidade, por liminar.
           Na sua decisão,  afirma ele notadamente: "As conduções coercitivas para interrogatório têm se disseminado, especialmente no curso da investigação criminal. Representam  uma restrição importante a direito individual, alegadamente fundada no interesse da investigação criminal."


( Fonte: O Estado de S. Paulo  )  

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Colcha de Retalhos E 53

Marcelo Odebrecht  sai da cadeia

            Após dois anos e meio de cadeia em Curitiba, ainda réu da Lava Jato, Marcelo Odebrecht  deixa no dia de hoje, dezenove de dezembro de 2017, a prisão. Esse período, ele passou em regime fechado. 
            
             Ele se julga injustiçado no caso,  acha que faltam delatores  no  acordo  que a empreiteira assinou, e avalia que seu pai, o patriarca da empresa, e aliados foram beneficiados nas negociações.

             A partir de agora, Marcelo  passará os próximos dois anos e meio em regime domiciliar fechado, com o uso de tornozeleira eletrônica.

               Depois, ele passa para o regime semiaberto diferenciado, com o recolhimento domiciliar noturno e nos finais de semana e feriado.

Em dezembro de 2022, o  executivo ficará  outros dois anos e meio em regime aberto, mas com recolhimento domiciliar noturno nos finais de semana e feriados.

Situação atual e estado de espírito.

                Marcelo deve vir de jato para São Paulo, onde ficará em condomínio de luxo no Morumbi. Lá ficará dois anos e meio em prisão domiciliar, usando tornozeleira.
                 Segundo transpirou, Marcelo não se conforma que o ex-presidente do grupo Newton de Souza e que o vice-presidente jurídico Maurício Ferro, não tenham sido incluídos no rol de 78 delatores da  empresa.
   
                  Marcelo está convencido  de que seu Pai, Emílio Odebrecht (o patriarca da família)  e os aliados Souza e Ferro foram beneficiados nas negociações e está convencido de que saíu injustiçado.

                  Marcelo brigou com os três, além de ter-se indisposto  com a irmã, a advogada Mônica Bahia  Odebrecht, que é casada com o vice-presidente Maurício Ferro. 

Que  futuro os espera ?

                   Interlocutores de \Marcelo dizem que ele não tem sentimento de vingança,  mas que considera o acordo injusto para ele e outros executivos.

                    É difícil determinar o que Marcelo fará com as informações sigilosas que detém sobre delatores.   Especula a Folha de que há terreno fértil dentro da Odebrecht para qualquer pregação que contenha o binômio injustiça  e a ideia de que faltam outros delatores no Acordo.

                    Muitos delatores sentem-se pressionados para confirmar crimes que eles julgam não terem cometido. Eles também se sentem abandonados pela Companhia.

                     Segundo três delatores ouvidos pela Folha,  há risco de que eventuais revelações de Marcelo funcionem como jogar gasolina em fogueira.

                      Apesar do nome alemão da Companhia e de seus proprietários,  se tem a impressão ao ler esta história in fieri que se trataria de um drama italiano, possivelmente florentino,  da época da Renascença.

(Fonte: Folha de S. Paulo _

Agência de Proteção ao Meio Ambiente ?

                     

        Seria kafkiano se não fosse  orientação tão cínica quanto ilegal.  Trump entregou a EPA a Mr Scott Pruitt, que é um negacionista quanto a possíveis efeitos da ação humana sobre o Meio Ambiente.
        Uma tal posição negacionista tem mais a ver com a má-fé ou a burrice de alguém, que com a realidade ambiental.
        Que haja pessoas que se aferrem a tais atitudes é  decorrência em geral de interesses corporativos que acham mais vantajoso, sob o aspecto individual, de esposar esse tipo de posição, que já se acha desmoralizada pela investigação científica ou pela própria observação de boa fé.
         O aspecto kafkiano - mencionado acima - está na circunstância de que os funcionários da Agência de Proteção ao Meio Ambiente vem sendo objeto de espionagem de associações ou de grupos de pesquisa de direita.
         O que tais grupos desejam é - incôngrua e absurdamente - desvendar aqueles funcionários da EPA que ali estejam para proteger o meio ambiente e os fins da atuação da EPA.  Parece piada, mas é verdade. 
          A intenção do pessoal colocado pela Administração Trump na EPA (Agência de Proteção ao Meio Ambiente) é a de desencavar aqueles supostos agentes convictos no seu trabalho, i.e., quer afastar aqueles suspeitos de uma postura dinâmica na defesa do meio ambiente.  Para si, a nova direção da EPA está contratando grupos conservadores (na linguagem estadunidense, que seria melhor traduzida se os apontasse como reacionários).
          Tem-se dificuldade, é forçoso reconhecer, que exista gente dessa grei... No entanto, embora  pareça mentira,  é verdade ! O óbvio objetivo da administração Trump é o de acabar com a EPA... A princípio, semelha dificil acreditar, mas é a pura e triste verdade.  Ora,  os que defendem a tese negacionista (em termos de meio-ambiente) ou são imbecis, ou mau-caráter.
           O que é melancólico é que o esforço de proteção ao meio ambiente venha a cair justamente nas mãos dessa gente...
            Mas como Mr Trump é um embuste,  só resta fazer fezinhas no peji para que Mr Mueller III livre os Estados Unidos dessa piada de mau-gosto...


( Fonte:  The New York Times ) 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Entrevista de Joaquim Falcão

                              

         Não vou dizer que no Supremo Tribunal Federal predominem as mediocridades, coroadas ou não.
         Grandes nomes inovadores, como Joaquim Barbosa, que infelizmente já saíu do Supremo por razões não muito claras, mas que diriam respeito a ameaças a membros da própria família.
          É lamentável que um grande valor, da firmeza e da integridade de Barbosa não mais esteja no Supremo.
          Não será apenas pela mera leitura desta entrevista do professor Joaquim Falcão, que me pergunto por que ele não está em nossa Suprema Corte. O Presidente Lula surpreendera com a indicação do advogado Márcio Thomaz Bastos, como Ministro da Justiça, ao escolher esse grande valor, que o ajudaria em diversas boas indicações para o Supremo. Thomaz Bastos, hoje infelizmente além de nosso convívio, também convencera a Lula a não expulsar o jornalista americano Larry Rohter que aludira em artigo aos hábitos dipsômanos do então presidente. 
            Pois, a entrevista do Professor Falcão ao Estadão constitui, na verdade, ulterior contribuição, a que se agregam tantas outras, dadas ao jornal O Globo em que possamos tentar lidar, através dos anos, com a oportunidade perdida pela sua não-nomeação para o Supremo. Em meio aos meandros, de uma parte, e aos baixios de outra, a própria inclusão no STF poderia dar à jurisprudência brasileira a oportunidade da grandeza. Talvez grande demais para as mentes daqueles que estariam em condições de fazê-lo, enquanto mestre Falcão ainda se enquadrasse entre as barreiras biológicas a sua designação. Ao invés, temos sólidas mediocridades que lá estão por conta da filosofia de outras quotas.


( Fontes:    O  Estado de S. Paulo, O Globo )             

Piñera vence no Chile

                              

      O ex-Presidente Sebastián Piñera derrotou ontem, no segundo turno, o seu adversário o senador Alejandro Guillier. Não foi surpresa que o candidato conservador vencesse a eleição, mas a margem  excedeu as expectativas, com 54% dos votos, contra 45% do senador, que reunira o apoio das principais forças da esquerda chilena,  inclusive da Presidente Bachelet.
       Guillier reconheceu haver sofrido uma "derrota dura" e parabenizou o adversário Piñera pela vitória.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Putin agradece a Trump

                              

         Vladimir Putin telefonou para Donald Trump a fim de agradecer-lhe pelas informações prestadas pela CIA de que o Exército Islâmico preparava uma operação suicida contra a Catedral de Nossa Senhora de Kazan, em São Petersburgo.  Havia previsão de que mais  ataques contra outros locais na segunda maior cidade da Rússia também estavam previstos.
           Foi com base nessa informação que o Serviço Federal de Segurança (FSB) prendeu os militantes do E.I. que planejavam ataque suicida contra a catedral.  Outros locais seriam igualmente visados em São Petersburgo.
            De acordo com o FSB, os militantes presos usavam o aplicativo Telegram para se comunicar com os líderes do E.I. no exterior. O Telegram fora multado na Rússia, no mês passado, por se recusar a dar acesso às conversas de dois suspeitos de participação no atentado de São Petersburgo, realizado em abril, e que deixou 16 mortos e cerca de cem feridos.
              A conversa de ontem foi a segunda entre os dois presidentes desde a 5ª feira, quando eles se comunicaram após Putin haver mencionado, em entrevista coletiva de quatro horas, que a recente alta no mercado americano é um exemplo do sucesso de Trump.
               A esse propósito, a Casa Branca fez saber que o Presidente estadunidense agradecera ao colega russo pelas declarações por ele feitas "reconhecendo a forte performance econômica dos EUA".
                Putin tem afirmado que a restauração dos laços entre Washington e Moscou é vital.  No entanto, as relações entre os dois países têm as seguintes questões a fragilizá-las:  desentendimentos sobre a Ucrânia, Síria e a não-proliferação nuclear.  Outro ponto sensível é a acusação de que o Kremlin teria interferido nas últimas eleições presidenciais americanas, o que Moscou nega.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Maduro: Corrupção e Incompetência

                   

         Quando supostos salvadores da pátria, morrem, legam a quem deixam como sucessor dupla maldição: incompetência e corrupção.
          Se podem subsistir dúvidas sobre o que venha primeiro,  se a incompetência ou a corrupção, talvez na pobre Venezuela se possa atalhar a dúvida pela raiz, ao dizer que, no caso da infeliz pátria de Bolivar, semelha dizer quem chegou primeiro, como no célebre problema infantil, se ovo ou galinha.
          Hoje - será forçoso dizer - é um falso problema.
          Feito o leito, o indicado governante nessa quase monárquica sucessão nos mostra pela própria inépcia que se trata de um reles, porque claro enigma.
          Se o coronel Chávez, que desencadeara o processo da crise democrática na Venezuela,  cometera erros garrafais no seu governo: (a) pensou que a riqueza do petróleo era eterna; (b) poderia transformá-la em instrumento de poder - e vou repetir: quase doando o ouro negro a Cuba e outros países carentes com cotações subsidiadas; e (c) pensando que o passageiro era perene, desviando os rendimentos da grande riqueza venezuelana para a afirmação política (que é, por essência, transitória) para igualmente subvencionar  uniões internacionais como a OEA chavista, que era apenas criatura do próprio (fugaz) orgulho.
          Em meio à obra que reputava prioritária, lhe ceifou a doença.  Poder-se-á atribuir à enfermidade haver bafejado a Nicolás Maduro como o próprio sucessor.     
           O desastre conjuminado pelo herdeiro é tal que poupa ao comentarista  maiores observações. Pois na verdade,  Maduro tem a parca habilidade dos governantes ineptos. Chávez empunhara o mando por dezenove anos. A sua morte foi revelada a cinco de março de 2013, mas teria ocorrido a trinta de janeiro...  Esse truque de carteado - tão irrelevante quanto à significação - teria sido jogo de cena do já sucessor (o vice Nicolás Maduro) para assegurar-se que a herança do caudillo lhe caísse às mãos sem intervenções de outrem.
              Se a crise já existia quando o coronel Hugo Chávez se achava nas vascas da agonia, só mesmo alguém com as características de herdeiro designado que lograria conjuminar  uma tal portentosa crise.
              As causas dessa crise de fome são, na verdade, simples. Premido pela escassez de fundos em dólares ou outra moeda de reserva, o governo desvia recursos para pagamentos prioritários como os dos militares (que garantem o governo) assim como os da corrupta casta dos chavistas classe "a". Dada a insuficiência dos fundos que cobrem os gastos do regime, compreende-se  que venham por último aqueles destinados a remédios e alimentos infantis. Daí o falso enigma das prateleiras vazias nos super-mercados e nos armazéns.  O que devia ser gasto em alimentos (e remédios) é desviado para despesas prioritárias (militares e gente do regime).
                A falta de alimentos leva a gente famélica a revirar latas de lixo e quejandos, na busca de o que sobra da mesa dos ricos. E é triste reconhecê-los que quase todas as crises se parecem.   As crises passam - como as do Brasil e da Argentina.  Mas na Venezuela, é diferente. A incompetência do poder determina que elas se estendam, com a sua colheita maldita de miséria e fome.
                A má-fé  da casta chavista dominante não consegue ocultar o seu grande segredo.  Por cinco meses, o New York Times acompanha o cotidiano dos hospitais públicos venezuelanos.  Segundo os médicos, despojados de medicamentos que cruel preferência nas magras importações reserva a necessária prioridade ao exército, condestável do regime, e à classe chavista, o número de mortes por desnutrição é recorde.  Apesar dos esforços do governo Maduro,  o jornal americano  revela em reportagem de ontem que onze mil, quatrocentos e quarenta e seis crianças com menos de um ano, morreram na Venezuela, em aumento de 30% em relação ao ano anterior.  Por outro lado, 2,8 mil casos de desnutrição infantil foram verificados por médicos venezuelanos no último ano - e dessas crianças quase quatrocentas morreram.
                 "Às vezes, eles (bebês) morrem de desidratação  nos meus braços", afirma a médica Milagros Hernández,  na sala de emergência de hospital pediátrico na cidade de Barquisimeto. Ela diz que o aumento de pacientes desnutridos começa a ser notado no fim de 2016. "Em 2017, o aumento foi terrível. As crianças chegam com o mesmo peso e tamanho de um recém-nascido." Se antes de a economia entrar em colapso, quase todos os casos de desnutrição registrados nos hospitais públicos eram devidos à negligência ou abusos por parte dos pais, as coisas mudam  quando se agrava a crise, entre 2015 e 2016,e o número de casos no principal centro de saúde infantil de Caracas triplica.
                  Nos últimos dois anos a situação piorou ainda mais. Se na maioria dos países, a desnutrição grave é causada por guerras, secas ou outras catástrofes, como terremotos, - segundo a médica Ingrid Soto de Sanabria, chefe do departamento de nutrição, crescimento e desenvolvimento do hospital  - "mas na Venezuela, ela está diretamente relacionada à escassez de comida e à inflação."
                    Se por quase dois anos, o governo Maduro não publicou nenhum boletim epidemiológico ou estatísticas relacionadas com a mortalidade infantil. Em abril, porém, eis que um link apareceu subitamente no site do Ministério da Saúde, contuzindo os internautas a boletins secretos. Os documentos indicavam que 11.446 crianças com menos de um ano morreram em 2016 - um aumento de 30% em um ano.     
                      Solução dada ao problema pelo Governo Maduro: depois que os dados ganharam manchetes nacionais e internacionais, o governo declara que o site havia sido hackeado. Em seguida, os relatórios foram retirados do ar. Antonieta Caporale, ministra da Saúde, como a culpada da vez, é demitida e a responsabilidade de monitorar os boletins é passada... aos militares!  Nenhuma informação é divulgada desde então.
                       Sem embargo, médicos entrevistados, em nove dos vinte e um hospitais investigados, mantiveram ao menos algum tipo de registro. Esses médicos verificaram aproximadamente 2,8 mil casos de desnutrição somente neste ano de 2016 - e crianças famintas sendo levadas regularmente para a emergência. Dessas, cerca de quatrocentas morreram, de acordo com os pediatras. 
                        " Nunca na minha vida vi tantas crianças famintas ",  declara a médica Livia Machado, pediatra que oferece consultas grátis em uma clínica particular. 


( Fontes:  O Estado de S. Paulo,  The New York Times )

domingo, 17 de dezembro de 2017

O desastre Rex Tillerson

                               

        Um executivo do mundo das grandes empresas do petróleo,  pelo que indicam as suas atitudes com relação à diplomacia e em especial aos diplomatas, Rex Tillerson traz para o Departamento de Estado tanto a delicadeza, quanto a sensibilidade de seu patrão, Donald Trump...
         A ironia chega a ser pesada nos traços, mas veraz na sua aplicação prática e, em especial, no resultado desastroso que a sua direção está trazendo para o mundo da diplomacia, e em particular para esse instrumento de grande relevância para a Superpotência, que é o State Department (Departamento de Estado).
         Esta escolha de Trump frisa outrossim a radical diferença da presença de sua adversária nas Relações Exteriores por longo tempo e grande êxito, com atuação marcante e comprovada liderança no mundo da política externa.
          Tillerson, ao invés do êxito de Hillary Clinton, tem sido um desastre em Foggy Bottom, que é uma das designações do State Department.
            Façamos um pequeno resumo de o que este senhor tem feito para as relações exteriores da Superpotência. Ele já foi desautorizado em público pelo Presidente,  é criticado por parlamentares republicanos e democratas,  sendo encarado pelo corpo diplomático americano como um outsider (estranho) ao mundo da diplomacia, a que se increpa haver provocado, por falta de sensibilidade e de ignorância diplomática  danos irresparáveis  à capacidade dos Estados Unidos de exercerem a própria liderança no mundo.
             Em novembro, diplomata com uma promissora carreira renunciou, sob o argumento de que a Administração abandonara a promoção da democracia e direitos humanos, cedendo lugar ao Pentágono (Departamento da Defesa) na elaboração da política externa. Trata-se de Elizabeth Shackelford, que ingressara no Departamento em 2010, e servia em Nairobi. Dali, a sua atuação se estendia à Somália, hoje um país sem governo e onde atuam diversos movimentos revolucionários, como a al-Qaida, que atacam países vizinhos como o Quênia, além de fomentarem a pirataria (que em geral existe onde não há governo forte estabelecido).
                  A renunciante Shackelford em carta publicada pela revista Foreign Policy, criticou o corte de pessoal promovido por Rex Tillerson e o vê como desrespeito do governo Trump à diplomacia. Para ela, "o Departamento de Estado vai resistir e superar esse período de marginalização, mas as consequências afetarão nossa liderança global e nosso status no exterior por muitos anos".
                   Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano, disse que há "certo vazio" no Departamento de Estado e falta de consistência na política externa. "O governo invoca direitos humanos e democracia nos casos de Cuba e da Venezuela, mas não para o restante da região." (*)  Na sua avaliação, Tillerson perdeu a credibilidade e se transformou em alvo de parlamentares de ambos os partidos, insatisfeitos com a "reestruturação" do Departamento de Estado promovida pelo novo Secretário.
                      Por sua vez, em carta enviada ao Secretário de Estado no mês passado, os Senadores John McCain (republicano) e Jeanne Shaheen (democrata) ressaltaram que o Congresso ainda não foi consultado sobre o plano de Tillerson, um ex-CEO da Exxon Mobil. McCain é um desafeto de Trump.  Este último lhe dirigira uma ofensa grosseira, pelo fato de ter sido prisioneiro do viet-cong (resta notar que Trump escapou de todo tipo de serviço militar). Os dois senadores na sua correspondência dizem: "O poder diplomático dos EUA está sendo enfraquecido internamente, enquanto crises globais complexas crescem externamente".
                       Há polêmica quanto aos efeitos da redução generalizada de funcionários.  Para o Departamento de Estado o objetivo de seu chefe é tornar o órgão "mais eficiente" e "mais efetivo". Embora a redução nos números totais - hoje em 74.880 e em 2016 75.231 - não apresente grandes diferenças, sem embargo as estatísticas confirmam a redução em posições de comando já apontada pela Associação do Serviço Exterior Americano.

(*)Hakim talvez seja emérito já por muitos anos. Comparar Cuba e Venezuela ao restante da América Latina, dá  idéia das defasadas coordenadas que utiliza.


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

O aeroporto de Nacala

                          

          Inaugurado em 2014, o aeroporto de Nacala se destaca em Moçambique.  Situado no norte daquele país, esse aeroporto é uma jóia arquitetônica. Saído de escritório de arquitetura em São  Paulo, é formado por um jogo de curvas e retas que levou para esse país africano o modernismo.
         No entanto,  Nacala tem um defeitoFoi realizado sem que se atendesse ao pormenor de um estudo de mercado.
         A receita é brasileira.  Foi construído pela Odebrecht e financiado pelo BNDES, a obra foi realizada sem atentar-se para um outro pequeno detalhe: o público.
           Por faltar gente, e por isso passageiros,  a obra não foi paga.  E o calote de US$ 22,5 milhões  veio parar na conta do Brasil.
            Como em outros calotes, faltou seriedade.  A pista de 3.100 m foi construída para um Boeing 747, mas é usada apenas por um Embraer 190, de cem lugares.
              Ao todo, são dois vôos por semana, das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM).  Segundo dados oficiais, o aeroporto opera com 4% da própria capacidade, que seria de quinhentos mil passageiros/ano.  No entanto, como nenhum voo decola ou aterrissa com mais de cinquenta pessoas, o movimento real, com toda probabilidade, é a metade de o que diz o governo.
               Custo da obra: US$ 125 milhões, financiados pelo BNDES. Desde novembro último,  Moçambique deixou de pagar três presta-ções.  No total, o calote foi de US$ 22,5 milhões.
               A Odebrecht, que construíu o aeroporto, recebeu a dívida por meio do Seguro do Crédito à Exportação (SCE) - cobertura dada pela União contra riscos comerciais e políticos.
                Assim, para variar, a conta caíu no colo do Tesouro Nacional e virou negociação entre Maputo e Brasília.
                 Tanto o Governo de Moçambique, quanto o brasileiro defendem a obra como um "projeto de longo prazo", que aposta no crescimento do Norte de Moçambique, impulsionado pela exploração do gás natural . Um projeto da Vale também usaria a cidade como base para exportação de carvão.
                   Entretanto, os estudos de mercado existem para avaliar a demanda presente, e não um feixe de expectativas.
                    Como assinala o artigo,  enquanto o futuro não chega, Nacala continua com seus 200 mil habitantes, poucos dos quais tem recursos para pagar  um bilhete de avião da LAM -  a passagem mais barata até Maputo custa R$ 1,400.00, ida e volta.
                     Por outro lado, a capacidade de assumir compromissos de Moçambique  foi prejudicada por um escândalo creditício  - cerca de US$ 2 bilhões em empréstimos  com os bancos VTB, da Rússia, e Crédit Suisse,  tudo em segredo, feito pelo gabinete de Monsieur le Président Armando Guebuza, mas sem o aval do Parlamento, o que é inconstitucional...  Tudo isso foi feito entre 2013 e 2014, e  em janeiro, a consultoria Kroll, especializada em investigações corporativas, descobriu que o dinheiro (alegadamente para comprar barcos) fora parar em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e depois ... sumira.
                      Sem  crédito  - com o fechamento das torneiras pelo FMI e países credores -  e o preço das commodities em queda, Moçambique entrou em crise e deixou de pagar suas dívidas ... inclusive a do aeroporto de Nacala.
                        Obras superfaturadas ou desnecessárias  não são, por certo, exclusividade de Moçambique. Tampouco a relação entre corrupção e financiamento de contratos públicos. Em acordo de leniência com o Depar- tamento de Justiça dos EUA, em dezembro de 2016, a Odebrecht reconheceu que pagou US$ 900 mil para funcionários do governo moçam-bicano  dos quais US$ 250 mil especificamente para "convencê-los a realizar um projeto de construção". Os pagamentos foram feitos entre 2011 e 2014, período da construção  do aeroporto - embora a obra não seja mencionada no acordo feito com o governo estadunidense.
                          Entre os delatores da Lava-Jato, Antonio de Castro Almeida, ex-executivo da Odebrecht, garante que uma funcionária da Camex (Câmara de Comércio Exterior) recebeu 0,1%  do valor do contrato para agilizar a aprovação do financiamente do aeroporto de Nacala. Ofi-cialmente, a empreiteira garante que está colaborando com a Justiça dos países em que atua. 
                            Nesse sentido, veja-se só o primor da nota da empresa Odebrecht enviada à reportagem do Estado de S. Paulo: "A empresa está comprometida a combater e não tolerar mais a corrupção."


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

O quê fazer de Maduro ?

                              

       O quê pretende o Presidente Nicolás Maduro?  Depois de ter-se negado, como o canalha que é, a submeter-se ao recall, para tanto inventando uma série de desculpas, o que pretende agora este ditador corrupto e incompetente?
       Mas, vejam todos, Maduro tenciona agora, como se tal não bastasse para o Povo venezuelano, reeleger-se...
        Enquanto Hugo Chávez, seu antecessor e patrono, governara nos tempos áureos das cotações do petróleo, pensando não no seu Povo, mas em programa de poder continental, eis que, como na fábula, quando as cotações do petróleo desmoronam, a Venezuela se vê, na prática, sem recursos.
        Pois Chávez deixara passar o verão da alta valorização do ouro negro, cujos rendimentos preferiu não investir na própria Venezuela,  pensando alicerçar projeto de poder em Iberoamérica,  e para tanto criou a OEA da esquerda, sob o signo do Chavismo,  e distribui petróleo a preços de pai para filho para Cuba, Nicarágua, e quem mais o píres estendesse, imaginando, quem sabe? que a afluência do petróleo Brent nas cotações de então seria permanente... Além disso, como pensava o Caudilho fosse eterna a bonança, até malas de dinheiro distribui para partidos da esquerda, como para a Kirchner e quejandos...
        Sem saber, o já enfermo Hugo Chávez prepara a cama, na verdade o catre da Venezuela.  Desperdiça a riqueza dos depósitos de petróleo, que passa por ser o melhor do planeta, e além disso descuida da estatal petrolífera. Sequer cuida de investimentos indispensáveis para manter-lhe com a explotação adequada do melhor petróleo do planeta...
          Veio o sucessor Nicolás Maduro, e em menos de três anos coloca a Venezuela no estado em que hoje se encontra, com o povo miserável imigrando (na verdade, fugindo) para os países limítrofes, em meio à calamidade pública em que se transformou a ditadura de Maduro.
           São necessárias qualidades negativas beirando o exponencial que aquelas próprias do ditador Maduro. Sua plataforma para a reeleição é: a miséria do Povo venezuelano, com as crianças morrendo de fome; a hiper-inflação com o bolívar virando  papel sem valor, deglutido pela roubalheira misturada com gerência criminosa dos fundos, o que produz estantes vazias nas farmácias e nos hospitais públicos, o que , por sua vez, é igual à morte por inanição ou por doenças rasteiras, que de há muito não mais inquietam outros países com gestões responsáveis. Mas as estantes dos armazéns também se acham às moscas, enquanto o bandido Maduro e sua quadrilha enchem os bolsos e os bancos do crime com os próprios depósitos.
               Pensando assegurar-se no poder - e seguir o maldito exemplo de tantos ditadores da Venezuela no passado - Maduro se atualiza e se enche de narcodólares, enquanto prende a oposição, inventa, sob a lamentável Delcy Rodriguez - essa criada do madurismo, sempre pronta a qualquer tarefa que lhe passe o ditador - a execrável Constituinte, que é espécie de Caverna de Ali Babá às avessas, eis que ali se encafuam todos os canalhas unidos do Partido de Maduro, partido esse que prescinde do sufrágio do Povo, mas que serve para todas as trampas e negociatas do Ditador.

                Enquanto isso a Oposição faz apelos ao bandido Nicolás e pede ao estrangeiro que mande para a Venezuela observadores para as eleições... O Ditador Maduro, que, quando precisa de dólares, bate na porta de Vladimir Putin... ri da mediocridade ou, quem sabe? da covardia da Oposição... Enquanto ele se locupleta com terra que antes foi rica e hoje é quase um necrotério de crianças e de famélicos, e vai levando... Entrementes, a OEA deita inúteis proclamações e toda a América Latina se confrange e chora, mas no final das contas, NADA SE FAZ, porque os direitos humanos e políticos (?!) do ditador Nicolás Maduro têm de ser respeitados...

( Fonte:  O Estado de S. Paulo )