O Globo considera o ano 2018 como sombrio para a Segurança.
Uma administração incapaz, a corrupção
e a herança maldita dos governos de Sérgio Cabral e Garotinho colocam o Estado
do Rio de Janeiro em situação difícil.
Na verdade, não é de hoje que a
Segurança no Rio de Janeiro é precária. Basta olhar a maior parte dos prédios
da Zona Sul e, em especial, os de Copacabana, Ipanema e Leblon.
As grades estão em toda parte. Ou
servem de defesa contra os moradores de rua, em geral craqueiros, que dormem
junto aos prédios, e por isso a propagação das grades, que também têm outra
óbvia serventia contra outra gente bem mais perigosa, que são os assaltantes.
O Rio de hoje não tem qualquer semelhança em termos de segurança, bem-estar e aquela tranquilidade que só proporciona
um registro sem crimes de assalto e
roubo a mão armada do Rio de Janeiro dos
anos cinquenta e princípios dos sessenta,
em que por exemplo qualquer pessoa podia caminhar à noite de Ipanema para o Posto
Seis, em Copacabana, como aqui já referi, sem incorrer em qualquer perigo em
termos de segurança.
Estava há pouco no Rio de Janeiro, depois de longa carreira
diplomática, que me surpreendeu uma
observação de morador quando em reunião de condomínio.
Falando os condôminos sobre as precauções que a volta à casa à
noite determinavam, espantou-me o seguinte diálogo:
"Mas, o senhor fala como se
aqui não houvesse polícia", disse um morador para outro morador do prédio.
"Sim, senhor. Falo com
conhecimento de causa. Aqui quem cuida
da segurança é Deus."
Nesse diálogo, o que mais me impressionou não foi a expressão do
morador. Foi o fato de que ninguém lhe contestou a resposta...
Se antes a dupla Cosme e Damião era uma
presença não só bem-vinda, mas bastante
comum, não é o que hoje ocorre nos
bairros da Zona Sul. Já se falou muito dos bandidos em Botafogo - que já
provocaram diversas mortes, em geral por causa de latrocínio. Recordo-me a
propósito de um jovem que se não me engano iria formar-se nos dias seguintes, e
foi estúpida e cruelmente morto por um malfeitor. No bairro de Botafogo - cuja orla tão bem
conheci, em outros tempos em que a qualidade de vida do carioca era bem
superior, apesar da modéstia dos transportes
empregados. Ia-se de bonde para a escola em Botafogo, pagávamos duas 'seções'
da passagem - a primeira, ao embarcar no Posto Seis e a segunda, na rua da Passagem,
até desembarcar na praia de Botafogo, em um dos colégios que ali
demoravam - e nunca experimentamos qualquer problema de
"segurança", palavra, aliás,
então em desuso...
Hoje, a Polícia Militar (a
PM) luta com contínuas faltas de verba. Não é incomum, por exemplo, que se
passe na Praça General Osório por cabine
da PM em que aí não esteja vivalma.
A ironia que não escapa ao
carioca - seja aos nativos, seja quanto aos adotivos - é que ao crescimento do
crime e de mala-vita na antes chamada
Cidade Maravilhosa não correspondeu uma
adequação correspondente das chamadas forças da ordem.
Como já escrevi várias
vezes o plano das UPPs - que viria a
proporcionar a ansiada segurança aos moradores do Rio de Janeiro, sob a direção
do Secretário Beltrame, uma pessoa que foi logo acolhida pela gente carioca
pelo seu caráter e honestidade - correspondeu a uma cruel decepção
experimentada por toda essa população - que acreditou na perspectiva de uma
existência normal em terras
cariocas, livres do flagelo da mala-vita, do tráfico nos morros e da bandidagem consequente.
Por isso, não é sem
preocupação e com muita inquietude que se vê a perspectiva do Rio de Janeiro
sem verba, de pires na mão, diante da generalização da crise, com seguidas
interrupções no pagamento do funcionalismo e dos próprios infelizes aposentados
que dependem do erário carioca.
Que tudo isso se reflita na
segurança não há de surpreender à gente da terra. Mas isto é outra estória, a
que me dedicarei em data futura.
( Fonte: O Globo )
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