quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A Posição Islâmica se enrijece

                        

        Algumas ilações podem ser tiradas da polêmica decisão do Presidente Trump de transferir a embaixada estadunidense de Tel-Aviv para Jerusalém.
        Transformando a histórica posição dos Estados Unidos no que concerne a Jerusalém em postura favorável a Israel,  teve o apoio do estamento judaico em Israel. Ao tornar-se unilateral,  os Estados Unidos, pela mão de Trump, deixou de ser isento nesta questão, ao perder a neutralidade  que lhe garantia presença e sobretudo autoridade  na matéria.
       Ao mudar tal histórica posição que representava um Norte em área que constituía a única em que a Palestina preservara a respectiva igualidade em termos de direitos,  a atitude de Trump teve duas consequências maiores: (a) jogou ipso facto por terra a alegada neutralidade estadunidense,  que perdeu assim as condições de ser árbitro na questão, com o seu descarado favorecimento de Israel (como de resto o alvorotamento de Bibi Netaniahu não deixa qualquer dúvida)  e (b) paradoxalmente tornou muito mais difícil e, por conseguinte, nebulosa,  solução equânime na matéria.
        Que o leitor me perdoe este parêntese. Não merecia decerto o povo estadunidense  que o último processo eleitoral nos EUA tenha tido tal consequência, cujos efeitos, mundo a fora, não deixam de frisar o desastre que foi a eleição desse senhor contra Hillary Clinton. Posso dizer sem temor de errar que a catástrofe chamada Donald John Trump não estaria hoje na Casa Branca, e sim Hillary Clinton, se o diretor do FBI James  B.Comey não tivesse chefiado uma verdadeira "posse" contra a candidata democrata, através de decisões contrárias às recomendações da Secretaria de Justiça, à qual estava subordinado. Lamento inserir nessa pequena lista, a timidez do Presidente Barack Obama, que não interveio com a energia que caberia na questão da incrível interferência russa nessa mesma eleição. Àquele que Obama definira como gestor de um poder continental, Vladimir Putin teve nessa questão presença não só lamentável, mas de nefasta influência.
         Por baratear a questão de Jerusalém, como se fosse matéria conducente a atender aspirações de nacionais americanos de religião judaica,  o presidente  Trump jogou fora a autoridade moral e política dos Estados Unidos nesta magna questão, enquanto a transforma em presente  para os ambiciosos líderes de Israel, e sobretudo pela sua total ausência de equilíbrio e de reconhecimento de o que representava  para dois povos que, através de seus líderes, lhe haviam significado a própria confiança em que Jerusalém, pela sua relevância cultural, histórica e religiosa como símbolo de culturas milenares, não poderia jamais ser reificada em algo que pudesse  ser objeto de um escambo político.     
          A leviandade desse Senhor, malgrado a própria curta presença à testa do governo dos Estados Unidos,  já tem criado grandes e desnecessários obstáculos à  causa da Paz.  Nesse sentido,  o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas pronunciou severo discurso na reunião da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI),  realizada em Istambul, na Turquia. "Nós não aceitamos mais qualquer papel dos Estados Unidos no processo de paz a partir de agora, porque eles são completamente tendenciosos e favoráveis a Israel," disse o Presidente Abbas. "Jerusalém é e será para sempre a capital do Estado Palestino".
             E para demonstrar o seu apoio às palavras e à posição de Abbas, os líderes muçulmanos repetiram  as frases do presidente da Autoridade Palestina: "Rejeitamos e condenamos firmemente a decisão irresponsável, ilegal e unilateral do presidente dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como a suposta capital de Israel. Consideramos essa decisão nula e sem valor."


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

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