Algumas ilações podem ser tiradas da
polêmica decisão do Presidente Trump de transferir a embaixada estadunidense de
Tel-Aviv para Jerusalém.
Transformando a histórica posição dos
Estados Unidos no que concerne a Jerusalém em postura favorável a Israel, teve
o apoio do estamento judaico em Israel. Ao tornar-se unilateral, os Estados Unidos, pela mão de Trump, deixou
de ser isento nesta questão, ao perder a neutralidade que lhe garantia presença e sobretudo
autoridade na matéria.
Ao mudar tal histórica posição que
representava um Norte em área que constituía a única em que a Palestina
preservara a respectiva igualidade em termos de direitos, a atitude de Trump teve duas consequências
maiores: (a) jogou ipso facto por
terra a alegada neutralidade estadunidense,
que perdeu assim as condições de ser árbitro na questão, com o seu
descarado favorecimento de Israel (como de resto o alvorotamento de Bibi
Netaniahu não deixa qualquer dúvida) e
(b) paradoxalmente tornou muito mais difícil e, por conseguinte, nebulosa, solução equânime na matéria.
Que o leitor me perdoe este parêntese.
Não merecia decerto o povo estadunidense
que o último processo eleitoral nos EUA tenha tido tal consequência,
cujos efeitos, mundo a fora, não deixam de frisar o desastre que foi a eleição
desse senhor contra Hillary Clinton. Posso dizer sem temor de errar que a
catástrofe chamada Donald John Trump não estaria hoje na Casa Branca, e sim
Hillary Clinton, se o diretor do FBI James B.Comey não tivesse chefiado uma verdadeira
"posse" contra a candidata democrata, através de decisões contrárias
às recomendações da Secretaria de Justiça, à qual estava subordinado. Lamento
inserir nessa pequena lista, a timidez do Presidente Barack Obama, que não
interveio com a energia que caberia na questão da incrível interferência russa
nessa mesma eleição. Àquele que Obama definira como gestor de um poder continental, Vladimir Putin teve
nessa questão presença não só lamentável, mas de nefasta influência.
Por baratear a questão de Jerusalém,
como se fosse matéria conducente a atender aspirações de nacionais americanos
de religião judaica, o presidente Trump jogou fora a autoridade moral e
política dos Estados Unidos nesta magna questão, enquanto a transforma em
presente para os ambiciosos líderes de
Israel, e sobretudo pela sua total ausência de equilíbrio e de reconhecimento
de o que representava para dois povos
que, através de seus líderes, lhe haviam significado a própria confiança em que
Jerusalém, pela sua relevância cultural, histórica e religiosa como símbolo de
culturas milenares, não poderia jamais ser reificada em algo que pudesse ser objeto de um escambo político.
A leviandade desse Senhor, malgrado a
própria curta presença à testa do governo dos Estados Unidos, já tem criado grandes e desnecessários
obstáculos à causa da Paz. Nesse sentido, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud
Abbas pronunciou severo discurso na reunião da Organização para a Cooperação
Islâmica (OCI), realizada em Istambul,
na Turquia. "Nós não aceitamos mais qualquer papel dos Estados Unidos no
processo de paz a partir de agora, porque eles são completamente tendenciosos
e favoráveis a Israel," disse o Presidente Abbas. "Jerusalém é e será
para sempre a capital do Estado Palestino".
E para demonstrar o seu apoio às
palavras e à posição de Abbas, os líderes muçulmanos repetiram as frases do presidente da Autoridade
Palestina: "Rejeitamos e condenamos firmemente a decisão irresponsável,
ilegal e unilateral do presidente dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém
como a suposta capital de Israel. Consideramos essa decisão nula e sem valor."
( Fonte: O Estado de S.
Paulo )
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