Como referi ontem à noite, pela Colcha de Retalhos E 52, no seu
segundo ítem "Jerusalém Capital de Israel",é não só com preocupação,
mas também com um misto de indignação e perplexidade que nos cabe deparar mais
este propósito de extremamente dúbios motivos, e que não parece trazer nada de
promissor para o futuro da causa da Paz e do respeito ao Povo palestino.
Aquela clássica advertência de evitar
confrontar questões demasiado entranhadas e que jazem dormentes por longos
períodos de tempo, não deveria ser ignorada por aqueles que delas não têm o
conhecimento que vem prevenindo por décadas que sejam levantadas.
Não se confunda, porém, essa respeitosa
inação com a ignorância dos trêfegos. Será decerto por demasiado saber que um
grande número de líderes árabes preferem deixá-la como está.
A velha prudência e, sobretudo, o
constrangimento do demasiado saber terá motivado todos os governantes americanos até a assunção
deste senhor Trump a evitarem envolver a cidade de Jerusalém ainda mais fundo
na questão médio-oriental.
Somente os néscios e os indivíduos
dobrados pelas más intenções se animam a suscitar questões como a presente, que
ao invés de aproximarem, rasgam ainda
mais fundo as chagas do Povo Palestino, e o brutal desequilíbrio que prevalece
neste torrão de terra considerado sacro por tantas nações, mas que vem sendo
vilipendiado pela liderança de uma dessas etnias.
Há um outro alarme que é sinalizado por estranhas, na aparência
contraditórias manifestações. Sabemos do
nível dos assessores que, na matéria, informam e orientam o Presidente Donald
Trump. Basta dizer que a chefia desse grupo de supostos expertos cai sobre os
frágeis ombros do jovem Jared Kushner, cujo principal título para assumir esse
delicado mister é o de ser genro do Presidente.
A outra justificativa é o de uma
alegada promessa de campanha do candidato Trump. À chamada Superpotência coube
a triste sorte de ser presidida por alguém que tem a liderança
contestada por muitos, e por motivos que dão vagar aos observadores, eis que
não pressagiam nada de bom sobre as perspectivas do atual Presidente. No entanto, o
passado continua a dar as cartas.
Através do noticiário, no entanto,
nota-se estranho silêncio. Bibi Netanyahu não se manifesta, como se o ganho
fosse demasiado e ao exceder as próprias expectativas, ele prefere não externar
a própria alegria.
Não é que aquele velho dito - não
desejes muito uma coisa, porque ela pode acontecer - o preocupe, mas há de inquietá-lo que a própria fortuna
se acresça tanto, e o outro lado fique de mãos abanando.
As reações no mundo árabe são as
previsíveis. Externam, pelo menos, preocupação e mesmo inquietude, pois não é
sem razão que, apesar da aspiração da liderança israelense e de sua crescente
afirmação - como se verifica desde Richard Nixon e o Secretário de Estado Henry
Kissinger, quando cresceu notadamente a afirmação israelense no que toca à
Superpotência, jamais os presidentes
americanos consideraram tal hipótese, pelo grande desequilíbrio que
acarretaria.
O simbólico é importante, e o
ganho para um dos lados é tão demasiado que tende a criar um elemento
desestabilizante na questão oriental.
Mesmo a injustiça, ela carece de
ser medida e de evitar-se que, de repente, um estranho no ninho venha
acrescentar ao velho problema uma modificação que é de tal forma
desestabilizante, que retira do Povo palestino qualquer resquício de Justiça e
de direitos iguais.
Há uma herança comum, forjada
pelos séculos, que é, por assim dizer, a garante no relativo equilíbrio entre
Israel e os povos árabes-palestinos.
A isonomia entre judeus e
palestinos tem sofrido duros golpes, com a continuada situação ancilar da
Autoridade Palestina, e dos repetidos avanços da presença judaica no que antes era
a Palestina. Se, pela flagrante injustiça da posição do Povo palestino, e sua condição crescente de um enorme Bantustam, que
por definição não dispõe de soberania autêntica, os líderes palestinos se tem
empenhado por um maior reconhecimento internacional, enquanto o Estado de
Israel, dominado por partidos de direita e com líderes da natureza de Bibi
Netanyahu, permanece na prática um pária internacional, mas que tem a serventia
de um grande trunfo, que é o do poder estadunidense.
O pleito americano de 2016
condensou na sua campanha, na inacreditável imisção da Rússia de Putin nas
fases finais da campanha e até, se tal crível seja, na inglória conclusão com a vitória de um dos
candidatos menos habilitados historicamente falando para arrebatar, de maneira incôngrua é
verdade, mas tristemente veraz a pobre eleição de 2016.
Seria demasiado fácil dizer se
houvesse do Presidente Barack Obama um pouco mais de firmeza na defesa da
candidata democrata Hillary Clinton, essa "vitória" de Donald John
Trump não teria jamais ocorrido. Foi aliás um funcionário, partidário do GOP,
que como diretor do FBI teve desastrosa participação não só na preparação da eleição,
com as suas observações fora de lugar no que tange ao uso do computador público
pela Secretária Hillary Clinton - o que se efetivamente teria dado em nada,
tendo em vista a correção da candidata e a sua paciência diante das grosserias
deste senhor James Comey, que culminaria a sua missão com uma carta circular a
oito comitês do Congresso, exatamente no período da votação antecipada, para
levantar o que se provaria uma falsa lebre, eis que nada foi encontrado em mais
um computador, este último do marido
separado da secretária Huma Abedin. Mas diante da inação de Mr Barack Obama,
este funcionário terminou sua participação histórica com o "feito" de
modificar a votação antecipada, que então ocorre, e com isso tornou possível
que este senhor Donald Trump - que já
mostrara o bastante da própria inadaptação
a ser presidenciável - virasse presidente, afastando Hillary do quadro, um resultado deplorável
para os Estados Unidos, e que poderemos ter presente o quanto a possibilidade
de eleger alguém que, dentre os seus inúmeros erros até o presente, já congrega
um invejável fardo, a começar por aqueles de que se ocupa o respeitado
Conselheiro Especial Robert Mueller III.
Não surpreende, portanto, que o antes nunca levado sequer em consideração
pelos predecessores do atual Presidente,
venha de súbito a ser retirado do cesto de Mr Trump, em estranha, bizarra
manobra que nunca foi sequer cogitado por seus
muitos predecessores desde que Israel modificou pelas armas o que a novel
Assembleia Geral das Nações Unidas tentara, através da chamada Partilha, criar para a inserção de Israel, um espaço
destinado a um novo país independente.
Cabe lamentar, portanto, a
solução proposta por Mr Trump, que na verdade desestabiliza esse difícil
cenário, contrariando, regido pela própria sólida ignorância, o que seus
maiores cuidaram até hoje de evitar, o que infelizmente não é possível para Mr
Trump e aqueles que pensam informá-lo.
( Fontes: The
New York Times; A Tangled Web, de William Bundy; A Peace to end all Peace, de
David Fromkin )
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