O artigo de hoje no New
York Times, de Jill Filipovic, 'Os homens que fizeram Clinton perder a
eleição' traz um novo e importante elemento para que se entenda a química da
última eleição presidencial americana.
Para mim, no entanto, embora respeite
essa visão, a participação de James B. Comey, enquanto chefe do FBI, sobreleva - mas não substitui - ao
argumento de Filipovic.
A estranha insistência do diretor do FBI, desde a observação desairosa quanto
à suposta desordem dos e-mails da
Secretária de Estado - um comentário tão desnecessário, quão ofensivo, eis que se
não acrescentava absolutamente nada à
avaliação substantiva que era requisitada do FBI - já pressagiava o que viria
depois, com a criminosa comunicação ao Congresso de que algo de novo poderia
surgir da inspeção no computador do ex-esposo de Huma Abedin. Esse senhor Jim Comey mandou em 28 de outubro
comunicação a oito comitês do Congresso de que o exame do referido computador
poderia ser pertinente para o caso dos e-mails
de Hillary. Acontecia então a votação antecipada, e ela corria favorável a
Hillary. O resultado desta comunicação
seria imediato em mudar a tendência dos votos, naquele momento pró-vitória da
democrata. Mais tarde, já em novembro, o
Diretor do FBI mandaria dizer ao
Congresso que nada fora encontrado, mas essa comunicação já caía no vazio, pois a vitória de Trump estava
assegurada.
Qual foi a principal causa que motivou o
diretor James Comey. Antifeminismo - dentro da tese de Jill Filipovic - ou a preferência pelo
próprio partido? Dada a agressividade de
Comey, demonstrada mais de uma vez, talvez as duas. De qualquer forma, recebera de bandeja a
dádiva de ser escolhido pelo democrata Barack
Obama para diretor do FBI. Será que
Obama, que se quedara tão olimpicamente sem reagir, apesar das atrevidas
tentativas russas de influenciar a eleição
em favor de Donald Trump, não
terá tido nenhuma dúvida quanto aos efeitos da própria apatia?
Creio relevante e oportuno o contributo de Jill Filipovic. Como sublinha em seu artigo hodierno muitos dos jornalistas que são acusados de acosso sexual, estavam na
primeira linha da cobertura da campanha entre Hillary e Trump. Matt
Lauer, afastado hoje do emprego pelo acosso de mulheres, entrevistara os
dois candidatos. A Hillary ele
interromperia com perguntas frias, agressivas e condescendentes, sempre focadas
nos famigerados e-mails, enquanto
dispensou a Trump tratamento cordial e fáceis perguntas. Charlie
Rose, também afastado por acosso sexual,
após a eleição imitou Mr Lauer no
seu tratamento à Sra. Clinton, falando
com ela de cima para baixo, e a descrevendo como pouco confiável.
Aí se entra na frase ofensiva e
difamante, cunhada por Donald Trump: a crooked Hillary[1].
No entendimento de Mrs Filipovic, essa parcial e desonesta caracterização de
Hillary Clinton, terá afetado a eleição, sendo de resto preconceituosa: Hillary
como cacarejante feiticeira, como mulher em busca do poder, em suma como alguém
que não merece confiança.
( Fonte: The New York Times )
[1]
Crooked Hillary é de difícil
tradução. Creio já haver sugerido Hillary 171, ou de forma mais chã, desonesta Hillary. Embora, como é óbvio, não concorde com nenhuma
das duas no que concerne à atribuição a Hillary Clinton, se quisermos tentar
verter o mau-caratismo de Trump, Hillary
171 reflete melhor a peçonha da expressão verbal.
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