A boa notícia: o Reino Unido e a União Europeia (UE) chegaram a acordo
ontem que permitirá o avanço das negociações sobre a saída britânica, de modo a
passar as questões que atazanam a Primeira Ministra para uma segunda fase.
No entanto, esse passe de mágica, como todos os de seu gênero,
terá efeitos limitados. Explico-me: a folhas tantas, a pretexto de ganhar
prestígio - notadamente quanto a expoentes do Partido Conservador que lhe
ambicionavam o lugar, a May pensou valer-se de uma jogada, que lhe terão
passado como infalível.
Na busca de um mandato do povo inglês que
lhe reforçe a própria liderança, Theresa May dissolve o Parlamento e
convoca novas eleições. Dessarte, no seu entender, ela sairia fortalecida pela
nova eleição, com mandato que seria seu
próprio, e não o do antecessor, David Cameron.
No entanto, a genial manobra dá chabu.
De repente, ao invés da maioria folgada que lhe passara Cameron - constrangido
a demitir-se pelo crasso erro do desastroso referendo do Brexit - chega a vez da May. Ao invés de poder falar grosso após o
antojado apoio das urnas, ei-la com grosso problema pela frente, cuja
existência só podia inculpar a si mesma. O eleitor sequer lhe dera maioria que
fosse não similar à anterior dos Tories,
mas pelo menos que lhe mantivesse a necessária capacidade de governar.
Como um governo minoritário não teria
condições de subsistir politicamente, a May foi obrigada a fazer aliança com o
Partido Unionista Democrático (DUP), uma pequena formação que trazia para o interior do gabinete May os grandes problemas
da pequena Irlanda do Norte, que é território britânico, com postura politica
bem mais fechada do que a inglesa. Entre outras palavras, por sua convocação de
novas eleições, a May se viu
sobrecarregada pelos mofinos problemas de região com regras bem menos
tolerantes do que as atuais do Reino
Unido.
E é agora que o DUP vem
apresentar a conta para a Primeira Ministra.
Dentre os problemas, está a permanência de uma fronteira aberta
com a Irlanda, que continua membro da UE,
que é uma exigência de Dublin, que vai custar muito caro ao Reino Unido,
por causa das concessões ao Dup.
Nesse contexto, a primeira ministra escocesa, Nicola Sturgeon,
disse nesta sexta-feira que "qualquer arranjo especial para a Irlanda do
Norte precisa estar disponível às outras nações britânicas"
. O brexit vai custar mais caro também para o Reino
Unido. A compensação que os ingleses pagarão pelo 'divórcio' ficará entre 40 e
45 bilhões de euros para a União Europeia. Também a May concordou em que os
europeus poderão continuar a residir no Reino Unido
Mas
as dificuldades para a Primeira Ministra
May não param aí. Se com as condições
definidas ontem, a pressão imediata sobre May se alivia, pois se eleva a
expectativa de que o Brexit ocorrerá de maneira ordenada. Internamente, porém, Theresa May continua enfrentando resistência
do Partido Unionista Democrático, o Dup,
da Irlanda do Norte, pois esse partido não concorda que haja regime aduaneiro
para Belfast diferente ao de Londres. (A suma ironia do poder real de Belfast é
de que, em condições normais, o Dup com
o seu punhado de deputados sequer poderia pensar em impor condições. Agora, com
a sua meia dúzia de representantes tem capacidade de vetar qualquer acordo...)
E para tal situação Theresa May só terá uma pessoa a quem possa inculpar: ela própria...
( Fontes: O Estado de S.
Paulo, Folha de S.Paulo )
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