sábado, 9 de dezembro de 2017

A 'prisioneira' Theresa May

                              

      A boa notícia: o Reino Unido e a União Europeia (UE) chegaram a acordo ontem que permitirá o avanço das negociações sobre a saída britânica, de modo a passar as questões que atazanam a Primeira Ministra para uma segunda fase.
      No entanto, esse passe de mágica, como todos os de seu gênero, terá efeitos limitados. Explico-me: a folhas tantas, a pretexto de ganhar prestígio - notadamente quanto a expoentes do Partido Conservador que lhe ambicionavam o lugar, a May pensou valer-se de uma jogada, que lhe terão passado como infalível.
      Na busca de um mandato do povo inglês que lhe reforçe a própria liderança,  Theresa May dissolve o Parlamento e convoca novas eleições. Dessarte, no seu entender, ela sairia fortalecida pela nova eleição,  com mandato que seria seu próprio, e não o do antecessor, David Cameron.
        No entanto, a genial manobra dá chabu. De repente, ao invés da maioria folgada que lhe passara Cameron - constrangido a demitir-se pelo crasso erro do desastroso referendo do Brexit - chega a vez da May. Ao invés de poder falar grosso após o antojado apoio das urnas, ei-la com grosso problema pela frente, cuja existência só podia inculpar a si mesma. O eleitor sequer lhe dera maioria que fosse não similar à anterior dos Tories, mas pelo menos que lhe mantivesse a necessária capacidade de governar. 
         Como um governo minoritário não teria condições de subsistir politicamente, a May foi obrigada a fazer aliança com o Partido Unionista Democrático (DUP),  uma pequena formação que trazia para o interior do gabinete May os grandes problemas da pequena Irlanda do Norte, que é território britânico, com postura politica bem mais fechada do que a inglesa. Entre outras palavras, por sua convocação de novas eleições,  a May se viu sobrecarregada pelos mofinos problemas de região com regras bem menos tolerantes do que as atuais  do Reino Unido.
          E é agora que o DUP vem apresentar a conta para a Primeira Ministra.
           Dentre os problemas, está a permanência de uma fronteira aberta com a Irlanda, que continua membro da UE,  que é uma exigência de Dublin, que vai custar muito caro ao Reino Unido, por causa das concessões ao Dup.
            Nesse contexto, a primeira ministra escocesa, Nicola Sturgeon, disse nesta sexta-feira que "qualquer arranjo especial para a Irlanda do Norte precisa estar disponível às outras nações britânicas"
            . O brexit  vai custar mais caro também para o Reino Unido. A compensação que os ingleses pagarão pelo 'divórcio' ficará entre 40 e 45 bilhões de euros para a União Europeia. Também a May concordou em que os europeus poderão continuar a residir no Reino Unido
             Mas as dificuldades para a  Primeira Ministra May não param aí.  Se com as condições definidas ontem, a pressão imediata sobre May se alivia, pois se eleva a expectativa de que o Brexit ocorrerá de maneira ordenada.  Internamente, porém,  Theresa May continua enfrentando resistência do Partido Unionista Democrático, o Dup, da Irlanda do Norte, pois esse partido não concorda que haja regime aduaneiro para Belfast diferente ao de Londres. (A suma ironia do poder real de Belfast é de que, em condições normais, o Dup com o seu punhado de deputados sequer poderia pensar em impor condições. Agora, com a sua meia dúzia de representantes tem capacidade de vetar qualquer acordo...) E para tal situação Theresa May só terá uma pessoa a quem possa inculpar:  ela própria...


( Fontes:  O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo )

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