sábado, 29 de fevereiro de 2020

A Caminhada (III)


                            
          Meu conhecimento com esse grande brasileiro, que não poucos consideram como nosso maior presidente dentro de todo o ciclo republicano, se estenderia por cenários que hão de surpreender a muitos, pelas circunstâncias e a evolução do relato.

            Terminado o curso do Rio Branco, as minhas atividades de Terceiro Secretário me tornaram um espectador necessariamente longínquo das questões políticas. Adentrávamos a campanha presidencial relativa à sucessão do exitoso governo JK, e mal sabíamos das dificuldades e das amargas surpresas que o caprichoso porvir   reservaria aos brasileiros. 

              No meu primeiro estágio na Secretaria de Estado, trabalhei em divisão geográfica, que cuidava de quase a metade do mundo em termos políticos e econômicos. Dali, os caprichos da sorte me conduziram à posição de auxiliar do Chefe de Departamento de Administração, o que me levou a conhecer boa parte dos membros da carreira, dada a circunstância que a maioria passava pelo prestigioso gabinete do chefe do DA. De lá, depois de rápido trânsito pela divisão de Turismo, no Ministério da Indústria e do Comércio, então chefiado por Ulysses Guimarães, fui designado, de volta ao Itamaraty, para a DPC (Divisão de Política Comercial). Como era período em que as chefias mudavam bastante, assumi interinamente a direção da DPC, e fui promovido a Segundo Secretário.        
           Pensei então que, sendo primeiro de turma e já havendo completado o necessário tempo de estágio na Secretaria de Estado, em duas divisões, e num departamento importante, poderia colocar minha candidatura para a embaixada em Paris.A princípio, não entendi a dificuldade - que logo senti ao contactar os canais competentes, pois sobravam vagas na chancelaria da avenue Montaigne

               Decerto, a falta de experiência é um dos principais defeitos do jovem secretário, por mais que procure valer-se da oportunidade, não só respaldado por exitosa folha de estudos - a propósito, podia mostrar as colocações tanto no vestibular, quanto no Instituto Rio Branco, e por isso  não conseguia entender o porquê da dificuldade que encontrava o poderoso D.A.(*) de encaminhar a minha transferência, ainda mais por sobrarem vagas.Se tivesse, então, mais tempo de carreira, teria entendido com mais presteza o obstáculo, e ajudado a chefia competente a criar soluções viáveis para abrir-me lugar na missão em Lutetia. Foi o que, sem embargo acabei fazendo,  quando me dei conta de que para certos postos as exigências são maiores, para que a autoridade tome as cabíveis providên-cias quando acionada por alguém com categoria bastante para assim proceder. Dessarte, uma vez criadas condições apropriadas, os canais competentes não mais terão objeções ao modus  faciendi.
             
               Naquele tempo, os diplomatas muita vez, quando possível, costumavam rumar de navio para o seu primeiro posto. A viagem para a Europa eu a fiz de navio - o Giulio Cesare - e à minha despedida compareceram muitos colegas. Com minha mãe - que preferiu viajar mais tarde e de avião - também veio ao cais minha querida avó Cidalizia, a quem vi então por última vez.  Das grades do convés, não a perdi de vista, à medida que o transatlântico com  portentosa lentidão, se afasta do cais, e a sua inconfundível figura se foi apequenando, lenta mas inexoravelmente,  na distância. Assim, como evitar a imagem pressaga de que não mais a veria, à medida que o vulto encurvado e vestido de negro se vai, pouco a pouco, transformando em uma quase lembrança?      

(*) Departamento de Administração.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

O testemunho de E. Cantanhêde


                        
          Não é a primeira vez que recorro à pena de Eliane Cantanhêde, para ilustrar passagens do cotidiano político, de que é observadora  experiente e, por isso, traz à sua esfera de atuação uma visão que nunca deixa de ser oportuna e convincente.
           Da sua coluna de hoje, 25 de fevereiro, sob o título "Ceará, caso exemplar" parecem-me interessantes e esclarecedoras algumas de suas observações, que tomo a liberdade de abaixo transcrever:  "se foi rápido no gatilho para falar do capitão Adriano, um dos maiores líderes de milícias no Rio de Janeiro, morto num cerco policial na Bahia, o presidente Jair Bolsonaro até ontem não havia dito uma só palavra sobre os policiais militares que fazem motim no Ceará, aquartelados, armados, encapuzados e atacando carros da própria polícia."
          E logo em seguida, acrescenta: "Pode-se pensar que Bolsonaro fala de um caso e ignora o outro em defesa das polícias, mas não se trata disso. Se ele chamasse de "heróis" e defendesse os policiais honestos que têm uma missão difícil, trabalham em condições adversas e  arriscam suas vidas em prol da segurança, seria louvável. Mas o foco dele, na fala e no silêncio, é a banda podre, que faz milícia, faz motim, comete crime militar.
             "Isso é absurdo  para um Presidente da República, mas condiz com a história de Jair Bolsonaro, acusado e processado por ter planos e croquis para bombardear  quartéis militares. Depois, conquistou mandato de deputado com votos de policiais e evangélicos e desperdiçou 28 anos na Câmara com questões corporativistas." (...)
                " O que se espera agora é que Jair Bolsonaro entenda que, como presidente, não pode apoiar motins militares nem movimentos que comprometam a Constituição, a ordem pública e as já tão combalidas contas públicas. Não pode aplaudir ou fechar os olhos para os desmandos de uma categoria específica, sabendo que o prejuízo é da sociedade brasileira."
                  "No caso do Ceará, o governo federal fez o que tinha de fazer: destacou a Força Nacional, decretou Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e enviou os ministros da Defesa. general Fernando Azevedo, e da Justiça, Sérgio Moro, para verificar a situação in loco. Isso, porém, visa à segurança da população, não os PMs amotinados, que são problema do governo do PT e mandaram o comércio fechar portas, atacaram carros da própria polícia e atiraram no peito de um senador, em ações mais de bandido do que de policial.
                    "A questão tem de ser tratada como ela é: motim militar, com os amotinados sujeitos à lei, à justiça e às devidas penas. O presidente não pode se calar e os governos não podem ceder à quebra da lei e negociar a anistia. Senão, o recado está dado para todas as polícias do País, ou melhor, para a parte ruim das polícias: "façam motim, vale a pena". A questão, portanto, é exemplar. Chantagem por chantagem, nada é pior do que a chantagem armada, que lida com a vida e a morte."

(Fonte: excertos do artigo de Eliane Cantanhêde em "O Estado de S. Paulo"  )

Bolsas cáem com avanço do coronavírus


                              
       As bolsas de Valores de todo o mundo tiveram ontem, 24 de fevereiro, dia de pânico diante do avanço do coronavírus na Itália, Coréia do Sul (ambos com sete mortes) e no Irã (com doze mortes).
          No pior dia para as Bolsas europeias desde 2016, Milão registrou a maior queda, de 5,43%, seguida por Madri, Frankfurt e Paris. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones recuou 3,56%.

         Com o Carnaval, o mercado financeiro, assim como o restante do país, estão fechados no Brasil, mas, mesmo assim, papéis de empresas brasileiras negociados em New York tiveram forte queda: recibos de ações da Vale fecharam em baixa de 7,53% e os da Petrobrás, em 6,77%.
            Na Itália, com 229 casos confirmados até ontem, a estimativa dos economistas é de que o PIB caía entre  0,5% e 1% neste ano por causa da doença.
            O Secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin disse que é cedo para estimar o impacto do coronavirus na economia global, mas considerou "preocupante"a disseminação da doença.
             Na China, o Banco do Povo anunciou medidas para fortalecer a economia do  país.

( Fonte: O Estado de S.Paulo )

Trump estreita laços com Modi


                                            

       A recepção que Narendra Modi lhe preparou - se lhe terá dado algum frisson, adentrar estádio de críquete, sport nacional indiano repleto com cerca 110 mil espectadores, não é programa decerto corriqueiro, nem promete total segurança - não terá decerto desagradado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. E hoje, 25 de fevereiro, se sela um acordo de venda de mais de US$ 3 bilhões à União Indiana.

          Na semana passada, a Índia fez um pedido  de US$ 2,6 bilhões para a Lockheed Martin Corp., encomenda que inclui 24 helicópteros  marítimos multifuncionais MH-60R Seahawk. O State Department aprovou também  venda para a Índia de mais de US 1 bilhão, em armas, incluindo radares e mísseis de defesa aérea, rifles e outros equipamentos.
           Desconheço a reação do adversário nuclear da Índia, o Paquistão, diante dessa munificência em termos armamentistas da Superpotência, que assim semelha interferir no delicado equilíbrio bélico-nuclear dessas duas potências nucleares rivais de longa data nesse cenário.

             A magna recepção de ontem, batizada de "Namastê Trump", foi a retribuição de Modi a um evento similar, organizado em setembro último  em Houston, intitulado "Como vai, Modi?"  Em seu discurso,  o presidente americano reiterou promessa de que os EUA fariam acordo comercial significativo com a Índia, sem dar, no entanto, detalhes.
               Autoridades dos dois países tentam estabelecer pelo menos um pacto modesto, abrindo a India a produtos  agrícolas e equipamentos médicos americanos, em troca da restauração do status  preferencial de exportação, que Trump retirara do país em 2019. O regime garantia aos indianos uma série de isenções. Os EUA estão descontentes com o tradicional protecionismo indiano e consideram que as empresas americanas não têm acesso suficiente ao mercado indiano.
  
                As arquibancadas do estádio Sardar Patel, em Ahmadabad, oeste do país, estavam repletas quando os dois líderes chegaram, precedidos pela canção "Macho Man", do grupo americano Village People. Castigado duramente pela canícula, metade do público deixara o estádio antes do fim do discurso de Trump, que exaltara Modi por haver levado eletricidade a todo o país e saneamento básico a 6 milhões de pessoas (ambas as informações são imprecisas).
                     A multidão aplaudiu quando Trump fez referência desabonadora ao Paquistão, que, como se sabe, é vizinho e inimigo da Índia.  Nesse contexto, a multidão também aplaudiu quando Trump fez referência desabonadora ao Paquistão, vizinho e arqui-inimigo da União Indiana. Nesse sentido, o presidente disse que seu país trabalhava junto aos paquistaneses para conter organizações terroristas e militantes que operam próximos à fronteira.  Trump quebrando tradição vigente entre os mais graduados representantes do povo americano de tentar não mostrar predileção por um dos países, não visitará o Paquistão.
                  Dentro do momento peculiar que vive a Índia, hoje sob a direção de Narendra Modi, um político que é um quase antipoda de Mohandas Mahatma Gandhi. Enquanto aquele se empenha em tornar a India um país hindu, o grande político que trouxe a independência para o seu país,   buscava proteger os direitos das minorias e garantir que a Índia se tornasse um país secular.

                   Mas há uma contradição básica entre a demagogia de Modi, que explora o legado de Gandhi - que buscara proteger os direitos das minorias e garantir que a Índia se tornasse efetivamente um país secular - e ao mesmo tempo  que promove o Partido  Bharatiya Janata (PBJ), de que Modi é membro e que governa o país, chegando ao extremo de tolerar membros que trabalham para reabilitar a imagem do assassino de  Mohandas Gandhi, Nathuram Godse, fanático hindu de direita que  pertencia a RSS, organização dedicada a tornar a Índia um país hindu.  Foi da própria RSS que nasceu o Partido Bharatya, do qual Narendra Modi faz parte e que atualmente governa a União Indiana.
                   Muito se tem escrito sobre o novo líder indiano - inclusive a própria revista Economist -  mas há um limite para a habilidade política, que é, em geral, ditado pela própria História. As tentativas de conviver com movimentos e pulsões irreconciliáveis, que tendem a levar aqueles que pensam ilaquear pela palavra o que as ações desvelam, são em geral empurrados pela realidade seja (a) a mostrarem o que realmente professam,  seja (b) serem carregados pelas próprias nefárias ideias, com o que em geral determinam o próprio destino político.

( Fontes: O Estado de S. Paulo, The Economist )

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

A Crise da CDU


                                    

       O  partido de Angela Merkel passa por uma crise que é decorrência da atual incapacidade de encontrar alguém em condições de suceder à... Merkel. Por muito tempo a CDU é o partido de Ângela Merkel. Diante de sua estatura e relevância política, não é difícil entender que essa mesma CDU tem de oferecer alguém que esteja em condições de apresentar-se de modo a transmitir aos seus eleitores que a CDU terá alguém que esteja em efetivas em condições de sucedê-la.

          Com a capacidade e a força ideológica da Merkel não é tampouco demasiado difícil entender a crise que o partido atravessa, com o vácuo de liderança que se cria,  se uma pessoa com a estatura tanto ideológica, quanto de autoridade partidária que a Merkel projeta desde que assumiu a liderança da União Social Cristã  anuncia que vai sair definitivamente de cena.

            Diante da confessa incapacidade da sucessora designada de assumir o lugar da Merkel, parece positivo que ela tenha tido a coragem de vir a público renunciar a tal tarefa, que obviamente não estava à sua altura.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

A Itália enfrenta o coronavírus


                                            
        Segundo notícias procedentes de Milão, o Norte da Itália  enfrenta uma hora difícil, com o registro de três mortes pelo coronavírus, assim como mais 150 casos positivos. Dessarte, são dias  que surgem cada vez mais atípicos: depois de um domingo sem futebol ( calcio ), a semana será sem escolas, museus e todo tipo de reunião coletiva, incluindo missas e bares.
            Após a confirmação de que o vírus ora circula pela península (ocorrida  na noite de quinta,dia vinte) a Itália já é o terceiro país do mundo com o maior número de casos, ultrapassando o Japão e atrás da Coréia do Sul e da China, onde o novo coronavirus surgiu, em dezembro último.
             As medidas restritivas mais rigorosas foram anunciadas na tarde deste domingo 23 de fevereiro, pelo governo da Lombardia, onde vivem cerca de dez milhões de habitantes (o total da população italiana é de sessenta milhões), e é nesta região que está concentrada a maior parte dos casos, com mais de cem pessoas contaminadas.

             Estão suspensas as atividades em todo o sistema de educação, do infantil ao pós-universitário, além de "toda forma de reunião em lugar público ou privado, inclusive de caráter cultural, lúdico, esportivo e religioso". O prazo é de sete dias, que pode ser prorrogado por mais sete.
             Capital da Lombardia e centro financeiro da Itália, Milão já começou a sentir as mudanças. Escolas se apressaram para avisar as famílias do fechamento a partir desta segunda, dia 24 de fevereiro, assim como centros culturais como a Pinacoteca de Brera, e o Teatro alla Scala anunciaram a interrupção das próprias atividades. O Duomo, a grande catedral e um dos principais pontos turísticos da cidade, será igualmente fechada.
               Bares, discotecas, teatros e cinemas estão proibidos de funcionar após as dezoito horas. Os restaurantes, no entanto, não foram por enquanto incluídos nas restrições. Quatro partidas de futebol da série A foram adiadas.além  de várias outras, nas divisões abaixo.  Por sua vez, os serviços e transportes públicos não foram, por ora, incluídos nas restrições.
                 Apesar de relatos de filas em alguns supermercados nesse domingo e da falta de máscaras faciais e de álcool gel nas farmácias, o clima entre os moradores se alterna entre surpresa e expectativa pelos próximos acontecimentos.  O coronavirus domina as conversas dentro e fora das redes sociais.
                  Segundo declaração do governador Attilio Fontana, "as iniciativas que estamos tomando são totalmente compatíveis com a situação. Estamos procurando  reduzir as possíveis  ocasiões que poderiam contribuir para a difusão do vírus", disse o governador Attilio Fontana.
                    Diferentemente do Brasil, o feriado do Carnaval no calendário italiano varia regionalmente e de acordo como cada escola. Em Milão, v.g., só a sexta-feira 28 era considerada feriado nos institutos infantis da Prefeitura.
                     A determinação, especialmente a suspensão das aulas, foi seguida pelas regiões do Piemonte, Vêneto, Ligúria e Emilia Romagna. Em Veneza, a tradicional festa do Carnaval foi cancelada a partir desta segunda-feira, assim como as missas.
                      Por sua vez, a Áustria decidiu bloquear o acesso aos trens que vão e que vêm da Itália.  Ao mesmo tempo, as onze cidades consideradas como focos de contaminação, chamadas de "zonas vermelhas", principiaram a serem fisicamente isoladas, com  barreiras vigiadas pela polícia, após decreto-lei aprovado pelo governo italiano.
                        São 35 pontos de controle na Lombardia, na área de Lodigiano, e oito no entorno de Vo' Euganeo, no Vêneto. Cerca de 500 policiais vão fazer o controle da entrada e saída dos moradores, que estão proibidos de circular. A medida afeta 54 mil pessoas.
                       Esses locais registraram as primeiras mortes pelo corona vírus na Itália, na sexta (21) e no sábado (22), quando respectivamente morreram  um homem de 78 anos e uma mulher de 77. Neste domingo, foi confirmado o terceiro óbito relacionado ao covid-19. Uma idosa que fazia tratamento oncológico morreu em Crema, também na Lombardia.
                          A Itália é o primeiro país da Europa a registrar mortes por contaminação interna. Antes, um turista chinês havia morrido na França.
                            As autoridades sanitárias italianas não sabem explicar como o vírus começou a circular no país. O fato foi confirmado na noite de quinta-feira, 20, quando um italiano de 38 anos, com quadro agravante de gripe, testou positivo  em Codogno (a 60 km de Milão).
                             A primeira suspeita era de que o contágio havia acontecido após esse paciente ter encontrado um amigo recém-chegado de Xangai, na China. No entanto, o amigo não teve resultado positivo nos testes.
                            "Identificar o paciente zero faz cada vez menos sentido agora, mas continuamos investigando", afirmou neste domingo o secretário do Bem-estar da Lombardia, Giulio Gallera, que voltou a negar  que o país esteja em pandemia.
                               "O esforço que estamos colocando em prática nos próximos dias, convidando as pessoas a ficarem em casa, é para que esse fenômeno seja contido. Um fenômeno que não conhecemos direito, que não é particularmente agressivo, porém é transmitido rapidamente", disse Gallera.
                                 Segundo o Secretário, há evidências médicas de que  50% das pessoas contaminadas se recuperam facilmente. 40% precisam de medicamentos e 10% vão para terapia intensiva.
                                  A OMS manifestou preocupação com a situação italiana.  O diretor europeu da organização, Hans Kluge, anunciou que enviaria equipe ao país para ajudar a esclarecer como os contágios aconteceram.  Antes das contaminações internas, a Itália havia registrado três casos de coronavirus: um casal de turistas chineses e um pesquisador italiano, todos provenientes de Wuhan, o epicentro dos casos na China. O italiano está curado, enquanto o casal continua em tratamento em Roma, no centro do país.
                                   Também na capital cumprem quarentena 56 italianos que estavam em Wuhan e foram repatriados, e outras 19 pessoas que viajavam no navio Diamond Princess, ancorado por dias no Japão com mais de seiscentos casos confirmados de coronavírus. Eles também vão cumprir quarentena.

( Fonte: Folha de S. Paulo  )

A Caminhada (II)


                                                  

        Porquê tanto me orgulho em haver convivido com Juscelino Kubitschek nas horas difíceis da chamada arrogância revolucionária? Porque com ele partilhar seja a terra vermelha de Brasília, seja no estrangeiro ignorar ordens mesquinhas, era afirmar a própria brasilidade e o respectivo orgulho na democracia, sistema que é de todos o mais terrível, eis que convive com personalidades como JK, e que infunde àqueles que com tal criatura recebem a magna graça do exemplo, junto com a firmeza no olhar e a suprema alegria de ter com ele privado, e a despeito da sufocante e envolvente baixeza, e dos sibilantes chamados de render-se às medíocres regrinhas s do presente, sem esquecer de resto o quanto se servem para transformar os que porventura se negam a aplastar-se e humilhar-se naquela túnica de Nesso, de toda e qualquer forma que imaginar-se possa, se acaso o infeliz deixe entrever pelo rastejante espaço de uma dúvida, que a própria humana resistência sofre o embate de o quê de mais baixo possa a natureza, inda que por mísero instante, vir a sentir o quanto o medo e a humana covardia cresçam tanto no próprio estômago que se contorce em vis temores, quanto no nervoso abrir e fechar das pupilas, que antes do ar que enobrece, já traem consigo a vontade de compor-se com os poderes que aos indivíduos prostram mais do que incitam a posturas que venham a dignificá-lo. 

         Quando na manhã da formatura no Rio Branco, fui convocado à banca a que presidia Juscelino Kubitschek, soaram doces e fragorosas aos meus ouvidos, as palmas do público, composto pelos pais convidados àquela especial colação de grau.  Todos os que ali estavam conheciam o que aquela cerimônia representava. Sabiam não só das dificuldades dos exames e o quanto exigiam dos candidatos, para que adentrassem as salas do Instituto Rio Branco, e lá prosseguissem a respectiva caminhada, dividida em dois anos de estudo, com provas ministradas por exigentes professores, até que se completasse o biênio  para a graduação. Já a porta da entrada prenunciava percurso difícil, eis que o chamado vestibular constituía formidável barreira, em que se exigiam redações sobre tópicos árduos e, por vezes, com tais dificuldades que chegariam a repontar no dia seguinte nos jornais da então capital da república, como exemplos  de o que o Itamaraty exigia dos seus eventuais candidatos e não para se formarem, mas apenas para terem a oportunidade de aceder às portas do Instituto Rio Branco àqueles  exigia, repito, não para colarem grau, mas para nele adentrarem, e ali arrostar mais dois anos sob um currículo pesado que os preparasse para bem representar o próprio país.

            Tal era a dificuldade do exame vestibular e por isso, ao concluir-se a travessia infernal, a cada passo pontuada pelo rigor  e pela exigida dedicação exclusiva, estudando línguas - inglês, francês e português  - as várias matérias de direito,  nunca esquecendo a economia política, a geografia - o que incluía o desenho de mapas, e outras matérias  como a história, inclusive a diplomática e a própria geografia, a que muitas vezes carecíamos de memorizar através da atenta leitura das apostilas, que na verdade constituíam verdadeiras bulas, como a celebrada "malgrado a toponímia", redigida pelo temido professor Hilgard O'Reilly Sternberg, que nos exigia em provas muita vez realizadas sem aviso prévio, e que pela dificuldade ganhavam o status de bulas papais, eis que eram conhecidas pelas primeiras palavras do intróito, como aquelas acima citadas. Depois do vestibular - com a aprovação entre vinte e trinta candidatos,  entre uma pletora de vestibulandos - que tinham, por vezes, de indicar para que lado estava o bico do papagaio virado na edição daquele magno autor e poeta da nacionalidade, como no caso, da edição princeps dos Lusíadas. Eu que tivera a fortuna de dispor no Mello e Souza de um grande professor, teria na prova, para evitar o erro, que revisitar na memória velhos cadernos, em que grafara as aulas memoráveis desse mestre inesquecível, a cujo estro, que o aluno grafara nas páginas de o que muita vez mais pareciam arcaismos ou velhas figuras que só através do purismo de um mestre de nomeada chegaria às ávidas folhas de nossos cadernos escolares, que somente a reflexão e as ágeis memórias dos jovens estudantes do clássico poderiam ambicionar grafar tais jóias, nas páginas de seus cadernos, em que a nossa ânsia de saber se espalhava por suas folhas, na insana busca da memória a que somente adolescentes podiam prestar-se.  

            Pois para mim, egresso do Instituto do Rio Branco, aquele dia nasceria radioso. Se se iniciava a caminhada diplomática - na verdade, naquele tempo, ainda éramos carimbados à entrada como diplomatas classe K - o que em futuro breve se transformaria em Terceiro Secretário da carreira, o grande prêmio a que acedi era adentrar no famoso livro da carrière, que no meu caso é o Anuário 1960 e 1961. Recebi, para minha honra, das mãos do grande presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, o diploma, em 30 de dezembro de 1959. Recebi o canudo sob as atroadoras palmas do público - e como soou doce aos meus ouvidos aquela singela confirmação pelo aplauso de o que significava - e não só para mim, como para todos os genitores presentes no auditório do velho Itamaraty - receber das augustas mãos de Juscelino Kubitschek de Oliveira, quem sabem o nosso maior presidente de todos os tempos - aquele canudo que tanto trabalho de mim exigira, que arrancava por esforço, dedicação e sobretudo estudo - de o que entendiam muito bem todos os pais e parentes que então me aplaudiram, pois eles bem sabiam das características enobrecedoras daquele prêmio, e das dificuldades do biênio do curso, uma vez dobrado o cabo das matérias e das exigências do curso!. O próprio JK, que me receberia pouco depois, para me cumprimentar, desta feita com a sua simpatia - você é muito moço, meu rapaz! - É verdade, meu presidente, mas devo isto a muito estudo e dedicação!

             Com efeito, se havia então curso de admissão respeitado e, mesmo temido, era o exame vestibular do Instituto Rio Branco. O conhecido pistolão ali não era objeto de serventia. Só o estudo e a dedicação a ele garantia seja a colação de grau, seja a colocação no curso. As atroadoras palmas que me saudaram enquanto me encaminhava para colher das augustas mãos de nosso maior presidente o diploma de Primeiro Aluno não eram nem cerimoniais, nem pro-forma. Cada genitor que me saudava através daquela manifestação sabia muito bem o que aquilo significava. Esse estrondo me acompanhará por toda a vida. Ali colhi o testemunho cru e inesquecível de o quê alcançara, e tendo o benefício suplementar de receber das mãos de JK, um dos nossos maiores presidentes - e quem sabe o maior - que foi para nossa honra e memória inesquecível, Juscelino Kubitschek de Oliveira.

A Caminhada


                                           
       Como a maioria dos propósitos, ela começa incerta e insegura. Mas a confiança de quem toma a iniciativa se vai, ainda que de forma gradual, dele estender-se para os demais partícipes. E com o passar dos minutos, à maneira de ondas sucessivas, as suas palavras e a segurança que elas infundem, principiam a transmitir-se para os companheiros, homens e mulheres, que lá estão ou de algum modo aparecem, para associar-se. Surgem de muitas, quase mesmo de todas as partes, tal o afluxo dessa gente, a um tempo disposta e ansiosa, se vai afigurando. Será como se a firmeza e disposição do primeiro caminhante se transmita incessante aos demais, em ondas cumulativas. E, entrementes, me esforço em manter passo que, se não é apressado, parece incrementar-se a cada palmo percorrido. E a todos - tanto os do primeiro momento, como ele, que sequer semelha empenhar-se no esforço de acompanhar o ritmo do guia, ao sentir-se levado por estranha força, em que a alegria da descoberta se mescla ao grupo que não cessa de crescer, à maneira da torrente, que, por muito obstaculizada, de chofre, e de forma decerto admirável, eis que de repente cresce o poder e o peso daquela marcha, como se a cada adesão lhe sinta mais forte o ímpeto, o que lhe faz pensar que ali se imanta uma força, como a das caudais que surgem em algum canto esquecido para desencadear processos que não tardarão em surpreender, tanto às gentes do lugar, quanto aquelas que ouvem - e, pasmem!, sem temor - ao inusitado avanço se agregam. E o fazem por generoso impulso, como se os movesse um poder que à grande maioria há de parecer, como aquelas forças da natureza, que se não ameaçam nem constrangem, abrem de par em par os imaginários braços, acenando com as alegrias do futuro, que lhe parecem estar ao alcance, e sem as flautas mágicas dos duendes que irrompiam nos contos de antanho.

       Guiado pelos títulos de que o prévio conhecimento constitui o guia e que pela mútua confiança se afirma, o acompanhei na caminhada, movido menos pela afetação de conhecimento, do que no intuito de servi-lo. Se decerto me empurrava a circunstância de ser-lhe de alguma utilidade, naquela hora aziaga,   tampouco poderia negar que me afastasse o ensejo de colher em suas palavras, tanto o exemplo, quanto a experiência, que para mim continuavam a valer o mesmo, e quem sabe? ainda um pouco mais, presente que estava o aguilhão da intolerância e torpeza. Decerto, estavam aí com ele não só o antigo carisma, mas também o dom de gentes que sempre o acompanhara, mesmo na torpeza do infortúnio que o capricho da sorte ora infundia àquele brasileiro das Alterosas.  

         Mas não estava sozinho. Para minha satisfação, naquele hora difícil, outros muitos não hesitaram em estar presente em  oportunidade  que, nas relações humanas, escasseiam as presenças.

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Velhos Carnavais


                                      
         Seriam mais autênticos os ingênuos carnavais de antigamente?  Ou tudo não passaria de imagens que lhe ficaram na mente, lixiviadas pelo tempo?

           Naqueles anos que ora só vivem em memórias talvez desbotadas, o carnaval repontava como época de brincadeiras singelas, em ambientes que lhe pareciam serenos, sem as agressivas deformações hodiernas.
             Havia as marchinhas feitas para o ano, e que, sabe-se lá como, explodiam com fogos de artifício, coloridos e inofensivos, nas esquinas da Cinelândia.
             Chegáramos de mala e cuia faz pouco do Rio Grande, e adentrávamos anos que a criança intuía, nos seus pressagos temores, como difíceis.

             Mas a alegria sob medida de o que chamavam o tríduo momesco imperava, a ingenuidade sobrevivia, com o fundo musical que invadia aquelas áreas ainda abertas à média burguesia, em centro citadino no qual monumentos eram respeitados e preservados, pelos Poderes da República, e a gente circulava por aquelas bandas em cenário de marchinhas como Chiquita bacana, lá da Martinica, nos amistosos, quem sabe míticos, calores de tempos que não voltam mais.




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Aliado de Trump é condenado à prisão


              
          Roger Stone, amigo do presidente Donald Trump, foi condenado a 3 anos e 4 meses de prisão. Ele é conhecido consultor político, lobista e, principalmente, amigo de longa data de Trump. Ontem, ele foi condenado por obstruir a investigação do Congresso sobre a interferência da Rússia  na campanha eleitoral de 2016, e por dar falso testemunho.    A sentença em apreço, ditada por tribunal federal, e cabe ainda recurso. Está prevista, igualmente, multa de US$ 20 mil.
              Antes mesmo de a sentença ser prolatada, Trump falou em indultar o amigo.  O presidente disse que não tenciona fazer nada agora, mas que deseja "perdoar" Stone. "Pessoalmente, adoraria fazer isso, porque ele foi tratado de maneira muito injusta", disse. No entanto, antes de pensar em comutar a sentença, segundo Trump, o "processo deve ser concluído".

              Segundo o indiciamento de Stone, apresentado pelo promotor especial Robert Mueller, que chefiou a investigação sobre a interferência russa na eleição de 2016, Stone coordenou as ações estrangeiras, obstruíu o trabalho da Justiça, fez cinco declarações falsas em depoimento ao Congresso e intimidou testemunha, o radialista Randy Credico, que foi ameaçado de morte.

               O amigo de Trump foi preso na sua casa na Flórida, em janeiro de 2019, mas foi libertado, após pagar fiança de US$ 250 mil. Declarou-se inocente, mas foi considerado culpado em julgamento realizado em novembro.
                  O caso ganhou mais notoriedade porque o presidente decidiu pressionar a Justiça americana.  Primo, atacou os promotores que supervisionaram o julgamento. Secondo,  tentou intimidar a juíza Amy Berman Jackson, que presidiu o caso.  Terzo, pressionou o Secretário de Justiça, William Barr, a reduzir a pena de Stone - a promotoria pedira de 7 a 9 anos.O resultado foi a renúncia simultânea dos quatro promotores que trabalharam no processo.

                      Criticado por mais de 2 mil promotores federais por aceitar a pressão ilegal de Trump, Barr acabou reclamando do Presidente em entrevista à rede ABC: "É hora de parar de tuitar sobre os casos criminais do Departamento de Justiça." Em 2015, Stone deixou oficialmente a campanha de Trump, mas continuou nos bastidores. Ainda de acordo com o Promotor Especial Mueller, Stone manteve contato com os responsáveis pelo vazamento dos e-mails do Comitê Nacional Democrata (que prejudicaram a campanha de Hillary). Ele nega contatos com os russos, mas admite manter canal indireto com Julian Assange, do Wikileaks, onde as mensagens foram publicadas...

( Fonte:  O Estado de S. Paulo  )

Bloomberg, perdedor no debate ?


                                    
           A imprensa noticia que o ex-prefeito de New York foi duramente criticado pelos adversários democratas em debate nessa última quarta-feira, em Las Vegas, Nevada, que é o estado designado para realizar a próxima primária democrata.
            O efeito "manada" terá funcionado e resta verificar dois tópicos importantes: (a) comportamento de Bloomberg e (b) os eventuais efeitos da investida conjunta nas impressões do público televisivo.
             Ser feito vítima é um procedimento que pode e em geral cai mal no público, pois essas falsas unanimidades - máxime aquelas movidas pelo interesse e as circunstâncias - podem transmitir impressões desairosas para aqueles que instrumentalizam situações que podem repercutir negativamente, eis que os "estranhos no ninho" muita vez são atacados menos pelas próprias qualidades do que pela eventual ameaça que o "forasteiro" possa apresentar.

              Como assinala o Economist, o desempenho de Bloomberg não se assinala nos debates. Como frisa a revista, não é carismático e deve ser o 12º homem mais rico do mundo. "Por isso, raramente encontra quem discorde dele." Apesar de suas respostas defensivas - em um entorno essencialmente hostil - ofereceu réplicas padrão, quando seu currículo ambiental é muito mais substancial que o de seus adversários.

              Apesar de sua atitude defensiva, ele foi o único candidato que trocou golpes com Sanders.  Bernie Sanders - que venceu em Iowa e New Hampshire - parece às vezes dificil de ser classificado como um democrata, dadas as suas posições isoladas e, muita vez, desligadas dos princípios do partido. Sanders oferece uma visão diferente da presidência, a de "intimidador-chefe". Como de costume, apresentou visões ousadas, sem dar indicação de como  as implementaria, "a não ser gritando mais alto" segundo o Economist.

                O Economist sublinha que a campanha é demasiado longa, e isto custa caro. Falando em dinheiro, a vantagem parece ser nesse sentido de Bloomberg, que paga as próprias despesas. Se a disputa tende a ser comprida, o aut-aut reverteria em um resultado tanto inesperado, quanto hoje improvável, vale dizer  entre  um socialista (o eterno candidato Bernie Sanders) e um plutocrata, encarnado pelo ex-prefeito de New York,  Mike Bloomberg. Entrementes, o ex-favorito, Joe Biden foi uma vez mais,  quase-espectador.  Talvez seja demasiado moderado para o figurino. De qualquer forma, põe as suas últimas esperanças na Super Terça.

( Fontes: The Economist, Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo )

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Câncer de Bruno Covas regride


                             
      Após oito sessões de quimioterapia, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), apresentou regressão das lesões cancerígenas, segundo informou a equipe do Hospital Sírio-Libanês.
         Sem embargo, Covas foi submetido a uma biópsia  em um gânglio linfático que, mesmo após tratamento, ainda segue com alterações.

          O resultado do novo tratamento deve ficar pronto na metade da próxima semana, quando os médicos devem decidir qual será a etapa seguinte do tratamento, que pode incluir cirurgia ou imunoterapia.
            O prefeito descobriu tumores na cárdia (transição do estômago para o esófago), no fígado e nos linfonodos em outubro de 2019. Desde então, foi submetido às sessões de químio, para tentar reduzir o tamanho das lesões. Ontem, terminada a medicação, ele foi submetido a uma série de exames para avaliar o tratamento. Fez uma ressonância, um pet scan.- e uma ecoendoscopia.

              Segundo a equipe médica, os exames não mostraram mais sinais dos tumores. "Alcançou-se o resultado máximo" previsto pelo tratamento, disse o oncologista Túlio Pfiffer. Covas reagiu bem às seis primeiras sessões de químico, mas teve reações às duas últimas, o que era esperado, segundo os médicos, que evitam a palavra "cura".
                  "O resultado, sobretudo do ponto de vista do local onde a lesão se originou (a cárdia) e no fígado foi brilhante. As imagens ainda mostram alterações na região do linfonodo e por isso colhemos material de lá", disse o oncologista Artur Katz.

                     As análises apontaram que um linfonodo ainda estava em tamanho anormal, por isso foi feita a biópsia. Os resultados só devem sair no meio da semana que vem pois dependem do tempo de reação dos tecidos aos produtos usados na análise. O prefeito ficou internado ontem para os exames e foi liberado no fim do dia. Deve trabalhar normalmente hoje.

Campanha. Os médicos evitaram comentar a respeito do futuro político do prefeito, que pretende disputar a reeleição. Covas continua com recomendação de evitar aglomerações, mas sem restrição a trabalhar."A gente não para o tratamento para discutir política com ele", disse Katz. Uip disse que a decisão de concorrer ou não é do prefeito. "O que cabe a nós é que ele possa fazer a melhor escolha possível."                  
        Covas já definiu marqueteiro de campanha (Felipe Soutello) e fechou acordo para ter apoio de cinco partidos além do PSDB - PSC, Podemos, Cidadania, DEM e PL. Ainda negocia apoio do Podemos e do MDB. Dessa forma, espera ter o maior tempo de TV na campanha.    

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Ângela Merkel não indicará novo líder


                        

       A chanceler alemã, Ângela Merkel, declarou ontem que não vai interferir na busca pelo próximo nome que irá assumir a liderança da União Democrática Cristã (CDU), após a atual líder, Annegret Kramp-Karrenbauer, anunciar a sua renúncia.

         Na semana passada, Kramp-Karrenbauer anunciou que entregaria  a presidência do  partido e desistiria de seus propósitos  de concorrer ao cargo  de Chanceler.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Atiradores matam oito na Alemanha


                       
       Pelo menos oito pessoas  morreram e outras cinco ficaram gravemente feridas ontem, 19 de fevereiro, em dois ataques ocorridos em bares no centro da cidade de Hanau, perto de Frankfurt, na Alemanha.
           De acordo com a imprensa local, os agressores teriam atirado de um carro em movimento, por volta das 22 horas.
            Segundo a Polícia, o carro fugiu. Nesse sentido, foi montada uma operação especial para capturar os atiradores. Segundo testemunhas, houve oito ou nove tiros.  Até o início da noite de ontem, ainda não se dispunha de informações sobre a identidade dos atiradores, assim como a motivação do ataque.
              Atentados  a tiros são raros na Alemanha. Em julho de 2016, um atirador realizou ataques consecutivos em Munique, espalhando pânico pelas ruas da cidade.  Os disparos principiaram em uma lanchonete McDonald's, próxima do shopping Olympia-Einkaufszentrum.
                As autoridades declararam que o responsável  era um único atirador, Ali David Sonboly, de dezoito anos, de origem iraniana, que se suicidou em seguida. Com uma pistola Glock, ele matou dez pessoas e deixou outras dez feridas;
                  Na ocasião, o ataque foi considerado um dos piores da história da Alemanha, mais grave até que o atentado de 1986, quando agentes líbios plantaram uma bomba em uma discoteca de Berlin, matando três pessoas e ferindo 231.
                  A ação terrorista de maior repercussão na Alemanha foi o massacre durante as Olimpíadas de Munique, em 1972.  Na ocasião, a então quase desconhecida organização terrorista Setembro Negro conseguiu driblar a segurança da Vila Olímpica e entrar nos alojamentos da equipe israelense, matando dois atletas e tomando outros nove como refém, na tentativa de libertar 200 prisioneiros palestinos presos em Israel.
                     Todos os reféns, cinco dos oito terroristas e um policial da Alemanha Ocidental morreram na tentativa de resgatar os atletas.  A tragédia, conhecida como "O massacre de Munique" quase provocou o cancelamento dos Jogos. Depois de um dia de suspensão, para as homenagens aos mortos, acompanhadas no Estádio Olímpico por 80 mil espectadores, o presidente do COI, Avery Brundage, decidiu pela continuidade da Olimpíada.

( Fonte:  Estado de S. Paulo )

A Tragédia Síria


                                    
      A revolução síria pela qual a juventude daquele país pensara pudesse lograr a ansiada deposição do repressivo regime dos Assad já se acerca do seu amargo fim. A tragédia terminal ainda não se consumou, mas o cenário na região não semelha encontrar do lado das forças que lutam pela hora terrível em que a sorte será decidida, senão a preponderância do ditador Bashar al-Assad - que conta com o apoio determinante,  regiamente pago à Russia de Vladimir Putin, enquanto a aliança por uma Síria democrática foi abandonada, pelo Não, decerto solerte, mas de pouca visão, do presidente Barack Obama, que na hora grave da decisão  não trepidou em fazer ouvidos moucos às ponderações da Secretária de Estado  Hillary Clinton, que liderava proposição unânime das principais chefias de agencias americanas com presença e responsabilidades no exterior, que julgavam possível a defesa de um governo na Síria, livre do regime odiento dos al-Assad.

         Esse egoismo de Obama, como todas as decisões em que o oportunismo se veste com os trajes rotos da mediocridade,  trouxe consigo futuro de miséria e sofrimento para a antiga Terra da Passagem.

        Se Putin tem as suas novas bases, com os portos que lhe asseguram a liberdade de navegação do Mediterrâneo, livres enfim dos caprichos do Mar Negro, assim como bases aéreas em terras cedidas pelo vassalo Bashar, que decerto tampouco lamenta que dele se afaste a visão do Tribunal Penal Internacional, que surgia para  a opinião internacional como merecida, diante das atrocidades cometidas pelo regime dos Assad.

         Se é verdade que o futuro pertence aos deuses, teremos acaso de reviver a memória de divindades infernais com o desastre humanitário que se prefigura em Idlib, aonde milhares de infelizes refugiados se descobrem isolados, sob a ameaça de dois déspotas - Bashar al Assad, que conta com o apoio da Federação Russa, e a ânsia do  tirano  Recep Tayyip Erdogan, que pensa alargar, como os sultões de antanho, os limites dos seus já largos domínios?  

             Nessa hora tremenda, em que tais forças se defrontam, quem pagará o preço amargo das injustiças e das barbaridades da guerra é a gente sofrida e miúda que pensara haver encontrado abrigo que a afastasse das cruéis tropelias de tais conflitos, em que se confundem e chocam ambições traídas por outros líderes poderosos, na imprevisibilidade de decisões que, em verdade, custa pensar que os grandes desse mundo acaso cogitem, com o vagar e a prudência indispensáveis,  sobre as desgraças e misérias que porventura deixem pelo caminho.


( Fontes: meus  blogs sobre a guerra da Síria e outros conflitos no Oriente Médio;  também a cobertura da crise presente pelo Estado de S. Paulo )         

Cid Gomes é baleado por PMs


                                   
        Em  episódio lamentável, ao servir-se de um trator para tentar furar bloqueio de ato de PMs amotinados por aumento de salário em Sobral, no interior do Ceará, o senador licenciado Cid Gomes (PDT) foi baleado no peito, além de ferido no rosto por estilhaços de vidro do veículo.
          Cid Gomes está internado em hospital, e segundo o corpo médico, lúcido e com boa evolução clínica. Não obstante, o senador teve a clavícula e o pulmão esquerdo atingidos.

           Diante da situação, e a rebeldia da Polícia Militar, o Ministério da Justiça enviará agentes  da Força Nacional para o Estado.

( Fonte:  O  Globo )

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Bolsonaro: perícia independente no caso Adriano ?


                        
        Declarações feitas ontem, 18 de fevereiro, pelo presidente Jair Bolsonaro e seu filho, senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) colocaram em dúvida as investigações sobre a morte de Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como chefe da milícia Escritório do Crime e conhecido como capitão Adriano, e, em consequência cresceu a polêmica em torno do caso.

        De sua parte, o Presidente declarou haver tomado "providências legais" para que a apuração não fique restrita à polícia da Bahia e sugeriu que provas poderiam ser alteradas para incriminá-lo. Por isso, segundo Bolsonaro, seria preciso uma "pericia independente".

          Como não é parte da investigação sobre a morte, Bolsonaro não tem direito de pedir uma perícia. Flávio Bolsonaro publicou um video que, supostamente, seria do corpo de capitão Adriano sendo examinado para afirmar que o miliciano foi "torturado". Em nota, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia afirmou que não reconhece as mensagens como autênticas e rechaçou as alegações de que o miliciano foi torturado.
         O presidente disse ter receio na perícia oficial feita pela polícia da Bahia, que responde ao petista Rui Costa, e que alguém poderia até inserir áudios supostamente falsos para relacioná-lo ao miliciano. "Tem outra coisa mais grave: vai ser feita  perícia no telefone apreendido com ele. Será que essa perícia poderá ser insuspeita? Porque eu quero uma perícia insuspeita", afirmou.  Os treze telefones encontrados com o suspeito foram encaminhados para o Rio de Janeiro, onde serão periciados. Lá, Adriano responde a inquéritos por participar de milícia.

           "Nós não queremos que seja inserido áudios no telefone de conversações no WhatsApp. Depois que se faz uma perícia, se por ventura uma pessoa seja atingida, que pode ser eu, apesar de ser presidente da República, quanto tempo teria para ser feita uma nova perícia? Vocês lembram do caso do porteiro", afirmou à imprensa, em referência ao depoimento de um porteiro na investigação da morte da vereadora Marielle Franco.

            O Presidente disse não ter interesse em uma "queima de arquivo" no caso Adriano, mas lançou suspeitas de uma tentativa de prejudicá-lo. "A quem interessa queima de arquivo? A mim não. Zero. O que é mais grave agora: primeiro, estou pedindo, já tomei as providências legais, para que seja feita uma perícia independente", afirmou.

Vídeo.  Na postagem que fez ontem em suas redes sociais, Flávio escreveu: "Perícia da Bahia (governo PT), diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram sete costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (com um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões".
          As informações apresentadas por Flávio não correspondem com as informações da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. O laudo elaborado pelo Instituto Médico-Legal de Alagoinhas aponta que o capitão Adriano foi morto com dois tiros de fuzil, disparados a, no mínimo, um metro e meio de distância.

Costelas. A perícia menciona "seis fraturas nas costelas", "dois pulmões destruídos" e o "coração dilacerado". Não há menção à coronhada ou à queimadura, e os tiros não teriam sido disparados à queima-roupa, como escreveu Flávio. Os ferimentos seriam compatíveis com o impacto no corpo causado por tiros de fuzil, em razão da alta energia cinética.
          Adriano foi morto durante operação policial em Esplanada, no interior da Bahia, no domingo, 9.  Ele fora localizado após fugir, por mais de um ano, da polícia fluminense. Flávio já homenageou  capitão Adriano na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e empregou parentes em seu gabinete. 
         No fim do  dia, a Justiça da Bahia proibiu a cremação do corpo de Adriano, ao acolher pedido do Ministério Público.  

Entrevista - Rui Costa (PT), Governador da Bahia. 'Presidente está obcecado com miliciano'     (entrevista a Caio Sartori)  

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), classificou ontem (18 de fevereiro) o presidente Jair Bolsonaro como uma "metralhadora giratória disparando agressividade". Desde o fim de semana, Costa se tem posicionado contra declarações do presidente sobre a operação que matou o miliciano  Adriano da Nóbrega, no dia 9, em Esplanada, no interior baiano. Bolsonaro disse que "a polícia do PT" executou o ex-capitão.  Segundo Costa, a ideia da carta assinada por 20 governadores com críticas ao presidente surgiu após o comentário do presidente.

* Como foi a concepção da carta dos 20 governadores, após Bolsonaro culpar a PM baiana pela morte de capitão Adriano ?

     Os governadores têm um fórum de WhatsApp em que trocam ideias. Quando saíu aquela polêmica (declaração de Bolsonaro), houve manifestação generalizada, os governadores se mostrando indignados.

* Por que o sr. acha que Bolsonaro insiste na tese de que Adriano foi executado?

     Não sei, não sou analista. Mas isso, talvez, não saia da cabeça dele e dos filhos dele. Talvez seja um problema tão grave que ele deve acordar, almoçar, jantar e dormir pensando 24 horas nisso.  Só pode ser, porque ele está há quatro, cinco dias obcecado falando disso. É como se estivesse com receio de alguma coisa ser descoberta. Hoje (ontem) ele falou dos telefones (os aparelhos apreendidos pela polícia) . O material todo foi enviado ao Rio de Janeiro, usando os meios legais e quem irá apurar isso é o Ministério Público do Rio.

Continuação do blog transcrito de O Estado de S. Paulo

Família entre em guerra de narrativas sobre a morte.

A  reação do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos à morte do "capitão Adriano" faz parte de uma guerra de narrativas que envolve a família e seus opositores. Na prática,o círculo próximo do presidente avalia que ele  se adiantou a uma possível exploração política do caso por parte de governadores adversários, como Rui Costa (PT), da Bahia,e Wilson Witzel (PSC), do Rio.
      Policiais que respondem aos dois governadores conduziram a operação de busca que terminou com a morte do miliciano. Oficialmente, não há informações sobre a atuação de agentes federais nas investigações da morte do ex-policial. O presidente e os filhos têm dito que existe potencial de "armação" contra eles na apuração.

        O presidente tem sido abastecido pela rede de policiais fiéis à família com informa-ções da investigação. Dias depois de a revista Veja  publicar fotos com detalhes policiais que lançaram dúvida sobre a circunstância da morte - a versão oficial é que houve uma troca de tiros - tanto Bolsonaro como Flávio deram sinais de acesso privilegiado a dados do inquérito.O pedido de nova autópsia por parte do Ministério Público da Bahia, por exemplo, foi antecipado pelo presidente e o senador publicou nas redes sociais um vídeo mostrando o corpo manipulado por legistas no Instituto Médico Legal. O Estado apurou que Bolsonaro concordou com a postagem do vídeo, sugerindo que Adriano foi torturado antes de ser morto, versão descartada pela necrópsia oficial.

          Para o advogado Paulo Emílio Catta Preta, representante da família de Adriano em  Brasília, o laudo pericial contém uma "coleção de estranhezas"  e "reforça a possibilidade de execução".  O defensor citou até mesmo uma perfuração no pescoço, um corte no tórax, outro na testa - "a sugerir uma coronhada", de acordo com ele -, sete costelas quebradas, além de marcas na pele que podem ter sido provocadas pelo contato do cano de armas longas com o corpo, um indicativo de tiros a curta distância.
          Catta Preta advoga em Brasília e nega contato com os Bolsonaro, embora os discursos estejam afinados em alguns pontos.
            Apesar de idas e vindas e de decisões contraditórias das Justiças do Rio e da Bahia, a federalização do crime, por ora, não está na ordem do dia do governo, e tampouco da família.Se isso ocorresse, faria com que a Polícia Federal - subordinada ao ministro  da Justiça, Sérgio Moro - entrasse na investigação. Guardiã dos segredos de Adriano, a viúva Júlia Emília Mello Lotufo não pediu proteção ao governo federal, nem àquele do Rio de Janeiro.

Fonte: Cobertura pelo Estado de S. Paulo - a que agradeço pela transcrição - dos personagens e dos pormenores relativos à morte sofrida pelo "capitão Adriano", e da consequente autópsia a que foi submetido o cadáver, em conformidade com as disposições legais vigentes.