Meu conhecimento com
esse grande brasileiro, que não poucos consideram como nosso maior presidente
dentro de todo o ciclo republicano, se estenderia por cenários que hão de
surpreender a muitos, pelas circunstâncias e a evolução do relato.
Terminado o curso do Rio Branco, as minhas atividades de Terceiro Secretário
me tornaram um espectador necessariamente longínquo das questões políticas.
Adentrávamos a campanha presidencial relativa à sucessão do exitoso governo JK, e mal sabíamos das
dificuldades e das amargas surpresas que o caprichoso porvir reservaria aos brasileiros.
No meu primeiro estágio na Secretaria de
Estado, trabalhei em divisão geográfica, que cuidava de quase a metade do mundo
em termos políticos e econômicos. Dali, os caprichos da sorte me conduziram à
posição de auxiliar do Chefe de Departamento de Administração, o que me levou a
conhecer boa parte dos membros da carreira, dada a circunstância que a maioria
passava pelo prestigioso gabinete do chefe do DA. De lá, depois de rápido trânsito
pela divisão de Turismo, no Ministério da Indústria e do Comércio, então
chefiado por Ulysses Guimarães, fui designado, de volta ao Itamaraty, para a
DPC (Divisão de Política Comercial). Como era período em que as chefias mudavam bastante, assumi
interinamente a direção da DPC, e fui promovido a Segundo Secretário.
Pensei
então que, sendo primeiro de turma e já havendo completado o necessário tempo
de estágio na Secretaria de Estado, em duas divisões, e num departamento
importante, poderia colocar minha candidatura para a embaixada em Paris.A princípio,
não entendi a dificuldade - que logo senti ao contactar os canais competentes,
pois sobravam vagas na chancelaria da avenue
Montaigne.
Decerto, a falta de experiência é um dos principais defeitos do jovem secretário, por mais
que procure valer-se da oportunidade, não só respaldado por exitosa folha de
estudos - a propósito, podia mostrar as colocações tanto no vestibular, quanto
no Instituto Rio Branco, e por isso não
conseguia entender o porquê da dificuldade
que encontrava o poderoso D.A.(*) de encaminhar a minha transferência, ainda
mais por sobrarem vagas.Se tivesse, então, mais tempo de carreira, teria
entendido com mais presteza o obstáculo, e ajudado a chefia competente a criar soluções
viáveis para abrir-me lugar na missão em Lutetia. Foi
o que, sem embargo acabei fazendo, quando me dei conta de que para certos postos
as exigências são maiores, para que a autoridade tome as cabíveis providên-cias
quando acionada por alguém com categoria bastante para assim proceder. Dessarte, uma
vez criadas condições apropriadas, os canais
competentes não mais terão objeções ao modus
faciendi.
Naquele tempo, os diplomatas muita vez, quando possível, costumavam
rumar de navio para o seu primeiro posto. A viagem para a Europa eu a fiz de
navio - o Giulio Cesare - e à minha
despedida compareceram muitos colegas. Com minha mãe - que preferiu viajar
mais tarde e de avião - também veio ao cais minha querida avó Cidalizia, a quem
vi então por última vez. Das grades do
convés, não a perdi de vista, à medida que o transatlântico com portentosa lentidão, se afasta do
cais, e a sua inconfundível figura se foi apequenando, lenta mas
inexoravelmente, na distância. Assim,
como evitar a imagem pressaga de que não mais a veria, à medida que o vulto
encurvado e vestido de negro se vai, pouco a pouco, transformando em uma quase
lembrança?
(*) Departamento de Administração.
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