segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

A Sombra de Marielle


                        

        O Globo de hoje dedica longa e pesquisada reportagem  à morte do ex-capitão do Bope, Adriano Magalhães da Nóbrega, abatido à  bala na manhã de ontem, nove de fevereiro, durante troca de tiros  com policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Bahia, que atuou em apoio à inteligência da Polícia Civil do Rio.

           Autor de diversos homicídios, o ex-militar tinha a cabeça a prêmio, sendo um dos mais procurados do Rio de Janeiro, tendo inclusive o alerta vermelho da Interpol. De acordo com a Polícia Civil Fluminense, ele era acusado de ser o chefe de um grupo criminoso formado por matadores de aluguer, conhecido como Escritório do Crime - e nesse contexto, era investigado por suspeita de envolvimento no fuzilamento da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes.  E não param por aí as suas 'marcas especiais', pois era também réu na operação Os Intocáveis, do Ministério Público desse Estado (MPRJ), que tem como alvo a milícia do Rio das Pedras.

            Há cerca de um ano, o ex-capitão Adriano estava submetido à estreita investigação e monitoração.  Nesse contexto, houve a 31 de janeiro último operação na Costa do Sauípe para prendê-lo, mas uma vez mais ele lograria escapar, deixando para trás uma identidade falsa.  A perseguição incansável acabaria localizando o fugitivo no município da Esplanada, na área rural da Bahia.  De acordo com a Secretaria de Segurança do Estado, Adriano estava escondido  num sítio. Na casa, havia duas pistolas e duas espingardas. Ao ser surpreendido, atirou com uma Glock, calibre 9mm. Agentes que participaram da ação relatam que houve intensa troca de tiros e que o ex-militar chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.

             Em nota, a Secretaria de Segurança da Bahia informou ontem, nove de fevereiro, que no momento do mandado de prisão Adriano "resistiu com disparos de arma de fogo e terminou ferido."

              Dada a sua capacidade de evadir-se da perseguição das forças da Lei, foi deflagrada em 22 de janeiro de 2019, com base em investigações do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, a operação Intocáveis que revelou  comandar o ex-capitão um esquema de agiotagem, grilagem  de terras e construções ilegais, com o pagamento de propina a agentes públicos, a fim de manter seus negócios ilícitos, "sempre de forma violenta e por meio de ameaças". Adriano era o único foragido da Intocáveis.  Outros doze integrantes da milícia de Rio das Pedras estão presos.

Homenagens a Adriano.  Quando deputado federal, Jair Bolsonaro fez um discurso em defesa de Adriano, em 2005.  O ex-capitão havia sido condenado por homicídio dias antes do pronunciamento do parlamentar, no plenário da Câmara de Deputados.

             Adriano foi homenageado ainda duas vezes pela Assembleia Legislativa (Alerj) por serviços prestados à PM, e mais uma vez, por iniciativa da família Bolsonaro.  Assim, em 2003, a pedido do então deputado estadual Flávio Bolsonaro - hoje senador sem partido - recebeu uma moção  de  louvor. Dois anos mais tarde, o mesmo Flávio concederia  a ele a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria atribuída pela dita Alerj.
               Não param por aí as estreitas relações de Adriano com Flávio Bolsonaro.  A mãe e a ex-mulher do ex-capitão , Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa, respectivamente,  foram lotadas no gabinete de Flávio na Alerj, em 2018. No mês passado, a família do miliciano foi acusada pelo Ministério Público de participar de um suposto esquema de rachadinha. Conforme o pedido de busca e apreensão feito pelos promotores, Raimunda e Danielle teriam transferido R$ 203 mil para Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro. 
               Procurado, o Palácio do Planalto disse que não vai se pronunciar. Flávio também não se manifestou.

                Em janeiro de 2019, o MPRJ pediu à Polícia Federal que fosse emitido um alerta à Interpol  para incluir os sete foragidos da operação  Os Intocáveis em sua lista de procurados. O principal nome era o de Adriano. A caçada à  quadrilha teve início em 2019, quando o Gaeco, com o apoio da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco), deflagrou a operação para desarticular o grupo paramilitar, considerado um dos mais perigosos da Cidade.

                Na aludida Operação, promotores e policiais tentaram cumprir 63 mandados de busca e apreensão nas residências de treze suspeitos e em locais considerados  como possiveis esconderijos. 

                 Um dos endereços visitados foi o da associação de moradores da comunidade, que é, segundo a investigação, controlada pela quadrilha. Seis pessoas foram presas na época.   

( Fonte: O Globo)

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