No documento Querida Amazônia, ontem divulgado. papa Francisco rejeitou qualquer
possibilidade de que homens casados venham a ser ordenados sacerdotes, ainda
que provisoriamente, para atuar em áreas com falta de padres. A proposta fora o centro da discussão entre bispos durante o
Sínodo da Amazônia, em outubro.
Francisco já havia tornado pública a
própria posição, quando destacou a "coragem" do papa Paulo VI ao defender o sistema atual em
meio às mudanças dos anos sessenta e setenta e quando disse ser contrário ao
"celibato opcional". Sem embargo, é a primeira vez que tal posicionamento
vai para um documento oficial.
Ao falar do papel dos sacerdotes na
exortação apostólica, o Pontífice destaca que só o padre está "habilitado
para presidir à Eucaristia". "Esta é a sua função específica,
principal e não delegável." O
pontífice admitiu a carência e caracterizou como "desigual"
a presença de sacerdotes na área, uma
das principais queixas das três semanas de debates no Vaticano.
Um bispo austríaco em missão na
Amazônia, d. Erwin Krautler, disse que já havia apresentado o problema ao Papa,
destacando que comunidades ficam semanas e mesmo meses sem padres. E Francisco havia respondido que qualquer proposta para
melhorar deveria vir de baixo, dos bispos locais. Agora Francisco devolveu o
problema a líderes locais. "Esta premente necessidade (de padres) leva-me
a exortar todos os bispos, especialmente os da América Latina, a promover a
oração pelas vocações sacerdotais e a
ser mais generosos, levando aqueles que demonstram vocação missionária a optarem
pela Amazônia."
A polêmica sobre a ordenação de
casados (viri probati) começou já com a divulgação do instrumento de trabalho
do Sínodo, em 17 de junho, que pela primeira vez levantou a possibilidade de
ampliar os espaços para homens casados e mulheres. O texto chegou a ser
apontado como contrário à fé pelos cardeais Walter Brandmuller e Raymond Burke
e a ala mais conservadora tratou os autores - e o próprio papa - como
hereges.
Na sequência, houve a aprovação
da proposta de ordenar homens casados, idôneos c com ligação comprovada com a
comunidade. A votação do Sínodo de outubro teve 128 votos favoráveis e 41
contrários.
Foi quando aumentou a pressão
eclesial adversa, que teve seu auge no mês passado, com livro assinado
conjuntamente pelo papa emérito Bento
XVI e pelo cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto e a
Disciplina Divina dos Sacramentos.A aberta defesa do celibato clerical por
Bento, a poucos dias de Francisco se pronunciar a respeito, causou mal-estar.
Na sequência, o papa emérito - que chegou a abrir uma brecha para o debate ao
aceitar que padres anglicanos casados viessem para a Igreja Católica- pediu
oficialmente para R.Sarah tirar seu nome da capa do livro. Em verdade, desde o
Concílio Vaticano 2º , todos os papas em algum momento colocados frente ao
debate sobre o celibato clerical - e
decidiram não modificá-lo. Francisco seguiu a linha de João Paulo II, que o fez
bispo e com o qual está em "total sintonia"sobre o sacerdócio,
conforme livro publicado anteontem na Itália, em que fala sobre seu
antecessor. O papa polo-nês dizia que celibato sacerdotal poderia até ser
revisto - mas não agora.
Em outro ponto, Francisco ainda
desconsiderou a sugestão oficiosa de criar um ministério específico de
mulheres. "Clericalizar as mulheres diminuiria o grande valor do que elas
têm feito na região",escreveu. Ele tampouco avançou sobre a possi-bilidade
de criar um "rito amazônico".
Internacionalização. Nos 4 capítulos do texto, Francisco
ainda trabalha temas sociais, culturais e ecológicos. E fala sobre a internacionalização da Amazônia. Diz que
a medida - que causa temores ao governo brasileiro - não é a solução. O Pontífice cobra, porém, que os
governos não se vendam a "interesses espúrios" locais ou
internacionais. Em seguida, defende e considera "louvável" a
presença e o trabalho desenvolvido pelas ONGs.
Sem fazer menção específica a nenhum país ou
governante, o Pontífice ainda se opõe ao avanço da exploração econômica em
terras indígenas e reservas florestais. "São injustiça e crime",
afirma Papa Francisco.
( Fonte: O Estado de
S. Paulo )
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