sexta-feira, 30 de abril de 2021

Dos Jornais um Juízo severo

      Folha de S. Paulo rotula o básico da crise brasileira: Com Presidente negacionista e pouca  vacina, Covid mata quatrocentos mil. 

      Com efeito,   Brasil  registra tal marca apenas 36 dias  depois dos trezentos mil óbitos.  Pressionado, o Governo Bolsonaro tenta acelerar o ritmo  da imunização.

       Na realidade, o nosso país ultrapassou a marca  dos quatrocentos mil apenas 36 dias depois dos trezentos mil óbitos. Isto ocorre catorze meses após a detecção do primeiro caso e apenas trinta e seis dias depois  de marcar trezentas mil  mortes. A notar-se que depois dos Estados Unidos, com 575.024 mortes, - com a peste lá em declínio - aparece já o Brasil, com 401.417 mortes, o que não é decerto um preço baixo a ser pago por nossa terra!

        Como assinala com oportunidade a Folha de S.Paulo, pressionado por uma CPI sobre sua gestão da crise sanitária, Bolsonaro vem sendo aconselhado a atenuar o próprio discurso, eis que só recentemente  ele passou a trabalhar pela vacinação  da população.

         Na realidade, enquanto já estava em curso  uma corrida global  pela aquisição de imunizantes, o Planalto recusara ofertas de fabricantes, a ponto de que doses poderiam já ter sido aplicadas ainda no fim de 2020.

         As oportunidades perdidas são pagas de forma brutal pela Povo brasileiro. Com efeito, os atrasos correm por conta de quem não tem culpa em cartório, e está cruelmente condicio-nado pelas condições criadas por um governo que pensara estar acima das humanas contin- gências. Tais erros são contabilizados de outra forma e os realmente interessados, por não terem poder, tem pouca voz no capítulo.

          Por isso, o bom senso e as campanhas eleitorais são o meio disponível de assegurar-se contra resultados desfavoráveis e contrários ao interesse público. Soluções de afogadilho e apostas tresloucadas costumam acabar sempre mal.

          Entregando a saúde não a médicos, como devera, o Brasil se deu mal. O otimismo  e seus excessos representam  um instrumento que não leva a nada. Por isso, como aconselha a Folha, a melhor maneira  de escapar dos abusos e falsas visões será o de incorporar o princípio da mediocridade. Destarte, nada temos de especial. Se em algum lugar do mundo houve terceira onda - como os indianos que mesmo tendo assistido ao  que acontecera na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, se julgaram imunes ao problema e decretaram a volta à normalidade antes da hora. Como assinalado na Opinião da Folha, pelo colunista  Hélio Schwartsman, os indianos se julgaram imunes ao problema e decretaram, antes da hora,  a volta à normalidade.  Daí o resultado, que é uma tragédia em escala que ainda não tinha sido  vista.

         O melhor modo de escapar ao excesso de otimismo é como nos aconselha a Folha -será através da incorporação  do princípio da mediocridade.  Dessarte, se em algum lugar do mundo terá havido uma terceira onda, temos de estar prontos para ela. O caminho será um pouco mais longo, mas as passadas serão mais firmes e mais seguras. Haverá menos mortes e vivendo sob as injunções da verdade, estaremos mais preparados para as suas determinantes.  

           Vivemos em um país de falsos profetas, em que a verdade deve ser sopesada com o cuidado daqueles que lidaram com situações difíceis e não são levianos no que tange a juízos e às suas consequências. 

             Já aprendemos que a covid-19 não é uma doencinha reles que se resolve com falácias e falsos medicamentos. Não se pode desprezar um  mal que já matou a tanta gente. Respeito não quer dizer medo ou superstição. Ele tem a ver com conhecimento de causa. Não devemos ouvir a falsos profetas nem a curandeiros.  A hora é difícil e demanda respeito. Quatrocentas mil mortes não são causadas por uma gripezinha corriqueira, nem são fruto do acaso. Respeitar o adversário e as suas ameaças respectivas é a norma do bom senso e daqueles que não se enganam com mágicos, ilusionistas e demais irresponsáveis do gênero.

               Os velhos ´- e sou um deles, na minha consequente solidão, que vê a esposa muito  amada e querida partir de forma antecipada, sem que para tanto tivesse culpa alguma - devem escutar a voz dos entendidos no capítulo, e que formam esta porção de ajuda e resistência nesta luta renhida, enquanto vemos o ingente sem-número de mortes e a sua consequente verdade, de que não se trata de coisa de somenos - que só aos tolos não assusta!

                Como diz o poeta, a vida é decerto luta renhida, que aos fracos abate. Cabe àqueles que resolvem enfrentá-la que ajam  com o respeito que essa terrível enfermidade faz e muito por merecer!  Só os cretinos e as pessoas que lhes dão ouvido correm tal risco.  O futuro do Brasil está decerto entre à medicina e  àqueles que diuturnamente combatem esse flagelo no crispado silêncio dos hospitais. 

                  Rezemos e tomemos as precauções indispensáveis para não acrescentar-lhes as tarefas insanas e determinadas que dispensam no silêncio das enfermarias e dos hospitais.

                   Sabemos que a doença ronda as ruas, sobretudo aquelas movimentadas pelo comércio. Portugal dobrou a crise sanitária quando apelou para o lockdown. É uma grande ironia que esse país tenha logrado por tal contenção vencer este desafio. Não se montam  lockdowns por acaso. Carecem de muita força de vontade e o rigor do Estado para que tais aglomerações sejam evitadas. Tem que haver governo com férrea vontade de convencer a população a agir conforme ao bom senso. Tem de existir exemplo, liderança e pulso forte para implementar a pausa que a nome da saúde pública se impõe. Ainda não vejo por essas bandas, exemplos que se possam comparar aos da Itália, no desafio da Lombardia, e ao da terrinha portuguesa, quando soa a hora de implementá-la.

                    Devo confessar que me surpreendi e admirei com a determinação demonstrada pela gente lusa, nesse momento difícil em que negaças e falsas palavras caem mal, muito mal. Aqui no Rio de Janeiro, vejo com desconforto que muita vez  a firmeza não é para valer, e que ao discurso não corresponda uma determinação da autoridade que não admite saídas alternativas e que sejam realmente para valer. A vitória do bom senso só acontece com o férreo e determinado apoio da sociedade e a consequente prova de que o sacrifício não possa ser desrespeitado pelo mau juízo de uns poucos. Por isso,  o distanciamento social é uma regra basilar, que todo cidadão deve respeitar, porque de nada valeria permitir que inconsequentes ignorem tal regra basilar que impede o jugo do contágio do coronavirus e de suas tantas variantes. 

                    Essa Lei decorre do interesse público e da consequente vontade de todos em impedir o contágio e o seu avanço daninho, que se dá pela informalidade, pela ínsita burrice que trabalha contra o interesse da comunidade em preservar-se. 

                    Infelizmente,  o negacionismo presidencial é uma enorme pedra no meio do caminho da comunidade brasileira. Esperemos que a CPI do Senado possa contribuir para convencê-lo à realidade de muitas vacinas - que foram à sua hora inviabilizadas de proteger à nossa gente por um juízo errôneo da situação no nosso país. É hora de jogar no lixo tudo que aproveita á não-ciência e que de nada serve para proteger a comunidade brasileira. Em meio à ignorância e ao desprezo à ciência, cumpre respeitar a medicina, os médicos e  os tantos dedicados profissionais que estão a serviço das forças pela vida.

                    Não é à toa que essa dura batalha se enfrenta nos hospitais  e  que muitos infelizes, que se acham nas UPAs, implorem pela Justiça a bênção das UTIs, que são indispensáveis ao bom combate desta terrível enfermidade.

                    Poucos são aqueles que podem enfrentar a Covid-19, sem o auxílio da complexa instrumentália de que dispõem as alas que devem combater esse mal que ataca aos pulmões dos infectados por essa terrível doença. Só quem a desconhece nas afecções mais graves, é que pode permitir-se o acinte de menosprezá-la, na medida em que a doença se apossa dos pulmões de suas vítimas, o que vai determinar um complexo, penoso tratamento que requererá muitos procedimentos, através da intubação dos pacientes, a que apenas se têm acesso através dos complexos, trabalhosos procedimentos  nas UTIs.

                    Chamar essa enfermidade de gripezinha   é um acinte - se já não fora  uma brutal ignorância - ao respeito que se deve aos pacientes dessa doença. Para começar, eles merecem acima de tudo respeito, pelas muitas dificuldades que este mal acarreta, o que torna a eventual cura e consequente reabilitação um processo longo e doloroso, que não é feito de tratamentos inócuos e superficiais.   

                    Se não se pode, portanto, subestimar este mal, cumpre ter-lhe respeito, que é o passo inicial para a adequada ação do médico e de todos aqueles que devam ser chamados a colaborar nos procedimentos consequentes. As pestes como aquela da chamada gripe espanhola, que no final da Primeira Guerra Mundial tanta gente levara para a sepultura eram tratadas ainda na penumbra de um conhecimento incompleto, que correspondia a então situação da medicina. Decerto  o bom combate à Covid - 19 já avançou bastante, através do respectivo tratamento, dos percalços desta traiçoeira doença e das consequentes ameaças que se apresentem em termos de contágio.

                      Já se tornou hábito no Brasil gravar as despedidas dos pacientes de Casa de Saúde, a que eles deixam com palavras de agradecimento ao desvelo de seus atendentes profissionais, em geral gravadas em mensagens escritas nos papéis  onde está refletida a gratidão do então enfermo ao laborioso trabalho dos seus múltiplos cuidadores. 

                        Mas que os incautos e aqueles que não adentraram a minúcia nos tratamentos à tal enfermidade não se precipitem, porque longo é o caminho a ser feito pelo paciente hospitalar que se despede da casa de saúde. Sobretudo àqueles que foram tratados em UTI  estão reservados muitos meses de tratamento alternativo, para reajustar o paciente  ao desafio da vida normal, que não pode prescindir a diversos procedimentos alternativos que hão de preparar o ex-hospitalizado  aos desafios da realidade e à sua inserção no dia a dia da sociedade civil. 

                         Não é o fim de um laborioso percurso, mas sim o procedimento indispensável de reinserção do paciente nos desafios que lhe apresente a chamada vida cotidiana. Trata-se da necessária preparação de um novo processo, em que o ex-paciente se reinsere na vida de todos os dias, e dadas as diferenças entre essas situações uma preparação adequada deve necessariamente ser utilizada.

( Fonte: Folha de S. Paulo )



   






quinta-feira, 29 de abril de 2021

A CPI de Renan

    A  CPI  deverá balizar o comportamento político.   A moderação parece ser um componente importante de uma química complicada, que é atravessada e sentida pela população brasileira.

     O famoso jeitinho  pode talvez inserir-se nessa crise social, mas há um limite para a contenção e  a composição.

     De saída, o  governo Bolsonaro tentara  sufocar  a CPI do Senado, com absurdas tentativas de amordaçar  o  Senador Renan Calheiros.  A caravana passa, diante dessas medidas sectárias, cuja impropriedade é patente. Não agir, deixando de seguir o exemplo de nosso  vizinho platino, como a atuação da Administração Bolsonaro determinara. Se há perigo à volta, como o argentino Fernandez demonstrara, o silêncio e sobretudo a inação não são as reações adequadas. 

      Há certas coisas que são duras de engolir.  O menosprezo com que o governo Jair Bolsonaro tentara encobrir o avanço da Covid, é uma medida que atinge em cheio à população - sobretudo a menos enfronhada e, portanto, a mais exposta. O chefe de Estado é o garante da segurança nacional, e para ele olham, aquelas mais indefesos e menos preparados para afrontar tal ameaça.

       Não se pode, diante das vagas do mar , virar as costas diante dessa ameaça, como se nada de mal dali pudesse vir.  Um inimigo como o coronavirus não se combate com palavras vazias, com impropérios ao vento, como se de tal parte nada houvesse a temer.  

       O Planalto demonstra, pelas suas atitudes, que o medo é um mau conselheiro, eis que diante de uma omissão óbvia, que as quatrocentas mil mortes pela Covid -19 estão aí para riscar com um traço grosso e agressivo, que grita pelas oportunidades perdidas, pela estupidez e pelo radicalismo das provocações inúteis.

         O Chefe da Nação  não pode fazer de conta que não é com ele, pois o combate a essa praga daninha e mortal é uma atribuição de todos, a começar por ele próprio.

          Presidentes democráticos lideram pelo exemplo e pela coragem. Na Nova Zelândia, assistimos ao papel dignificante de uma mulher que pela firmeza e a presteza fez valer aos seus habitantes que a sua condição insular não deveria deixar de ser utilizada nessa batalha, onde o bom senso e a argúcia podem assegurar muitas vidas e, por conseguinte,  o quanto a chefia do Estado pode agir e influir em termos da preservação da vida.

           Como devemos encarar uma atitude que, a exemplo de um dos bichos de menor inteligência - pois para evitar o perigo o avestruz enfia a cabeça na areia! - ao invés de reconhecer ao mal os perigos que apresenta, o Chefe da Nação brasileira não se peja de afirmar que a covid não passa de uma gripezinha!

             Outros chefes de Estado e de Governo diante desse desafio não despejaram tal fanfarronada sobre seu Povo e tampouco deixaram de vacinar-se !

             Quando a Covid-19 está à espreita, não é hora de despojar-nos de nossas defesas para enfrentar essa ameaça cruel e insidiosa, que tantas vidas - quatrocentas mil ! -  já reclama em nossa pátria. 

               Por sua atitude, Vossa Excelência dá  mau exemplo à boa gente brasileira. Não há na natureza essa suposta distinção. Muito ao contrário ! Reconhecer o erro já será uma grande virtude, pois demonstraria grandeza d'alma e compreensão, ainda que tardia, da realidade que todos nós brasileiros enfrentamos !

                As conversões não têm hora para ocorrer.  Àqueles a quem não falta coragem  para reconhecer o próprio erro estão em patamar superior ao comum dos mortais. Pois assumir um juízo errôneo não é vergonha para ninguém.  O número de mortes causado por essa conjunção de fatores já desafia à inteligência e exige um momento de pausa para a meditação, com vistas a considerar-se a possibilidade de reconhecer essa realidade, que pela sua dimensão já apresenta um chamado à razão e àquele seu companheiro de tantas horas, que é o bom senso.  

                É grande, muito grande o número de brasileiros mortos, e com a conta assustadora dos quatrocentos mil, não será difícil imaginar tal imensa companhia de compatriotas nossos que, por uma infinidade de razões, caíram sob a insidiosa avançada  deste inimigo invisível que, sanhudo, prossegue na sua triste, mísera marcha, enquanto muitos sonham com o avanço de dias melhores, em que médicos e enfermeiros não mais careçam de mergulhar nessa azáfama infernal, que é o de combater e, ao cabo, quem sabe ?, vencer esse inimigo mortal que se esconde na proximidade dos contatos, nas festinhas assumidas na própria ínsita leviandade,  no desrespeito às ordens da Prudência, nos cassinos clandestinos, na consequente vergonha da própria exposição que é um senhor castigo,  e também aos oportunos sussurros do Medo, para não falar de outras frases e palavras,, que vem ornadas com as suplicas das mães e as carrancas dos pais.

              Que  Deus, nessas horas difíceis, em que vacas desconhecem bezerros,  tenha pena dos bem-intencionados e de todos aqueles que ouvem e seguem as palavras das autoridades públicas. 

               Nessa hora triste, em que imaginamos o riso descarnado do Mal, relevemos as eventuais faltas de quem vai se tratar contra a Covid - e toma uma vacina, seja chinesa, britânica ou americana - e busca ocultar do próprio chefe o suposto mau juízo de uma vacinação tão oportuna, quanto protetora !

                Esse garrafal erro não passa de uma projeção descabida em que o valores são invertidos e a autoridade poderosa mostra a força do próprio modo em uma projeção de que  o bom senso foi expulso !

                 Nesses horríveis tempos de estranhas variantes que surgem em nossa Terra e que afastam os brasileiros que gostam de viajar para o estrangeiro, barrados que ora são, pelas proibições do exterior-maravilha, bem fazem aqueles que deixam passar o tempo antes de afrontarem as estranhas barreiras fabricadas pelo Medo.

                  Se a Covid é uma ameaça que vai um dia passar, vivemos em hora transida por aglomerações.  Será bom que nos armemos de paciência. Quanto menos pensarmos, melhor será. 

                    A esse respeito, lembro-me do bom  político que, enfermo de Covid-19, viajou para a terra natal, sendo entrementes eleito enquanto dormia, sob a guarda de medicamentos. Na regra dos políticos interioranos, terá sido sempre uma presença simpática e, sobretudo, amiga. Para ele, que morreu sem sobressalto, ao chegar ao próprio destino, que esses tempos estranhos  lhe augurem as experiências do bom-servir e da discrição que o acompanharam em vida !    

( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo )


segunda-feira, 26 de abril de 2021

O que é a verdade ?

           A verdade não se vende na loja da esquina, nem ela pode ser ajeitada à vontade do freguês.  O jornal  O  Globo nos informa que, preocupada com os estragos que a CPI da Covid possa causar ao Governo de ultradireita de Jair Bolsonaro, a Casa Civil monta um comitê interministerial para vasculhar documentos, construir argumentos e treinar depoentes.

           Já a principal dessas testemunhas deverá ser o general da reserva do material do Exército, o  general Eduardo Pazuello, ex-ministro  da Saúde (?) e um dos alvos centrais da investigação.

             Não há dúvidas que o Planalto tenha fundadas razões e temores na ínsita fraqueza que se acha nessa frontal testemunha, dada a possibilidade que ele se veja desestabilizado diante dos parlamentares, em face do tamanho e das implicações de tão portentosa ameaça.

             Para o Governo Bolsonaro, o tempo é de montar comitês interministeriais ad hoc, tentar  construir argumentos verossímeis e treinar eventuais depoentes. É não-invejável tarefa, porque a sua declinação, queira-se ou não, parece ter a ver com a montagem de supostas verdades palatáveis, para atender a fins específicos, que não têm necessariamente a ver com a sua eventual conformidade com a realidade dos fatos.

             O porvir - já dizem os sábios - a Deus pertence, mas a Verdade é um dado por demais precioso para que a deixemos à disposição de malfeitores e de gente que está interessada em transformá-la em mercadoria virtual, como se ela estivera à disposição dos negociantes do ramo e não daqueles que a querem ter como pedra básica da construção da História do Futuro. 

              A Verdade deve ser perseguida com pertinácia e não com maldade ou solércia, pois não é desejo das forças que, como aquele gigante, se alimentam das fontes autênticas, batizadas que são pelas substâncias únicas que as conformam, que lhe dão por dom divino, a característica de força, firmeza e convicção que está presente naqueles que perseguem a realidade, e com ela se confundem. Estórias da carochinha não são suscetíveis de plasmar uma nacionalidade.

                Por isso, por mais que alguém ouse afirmar que a covid dezenove é apenas uma gripezinha, esse alguém deve ter a hombridade de afirmá-lo a plenos pulmões e disso tirar as consequências e as devidas responsabilidades. Não somos uma nação de cretinos e não temos o hábito de dar o dito por não-dito. 

                 Vamos pôr o senhor Pazuello na caixinha da Saúde?  Benfeito, senhor mágico de Oz. Mas não venha depois a dizer-nos  que ele não poderia lá estar !  Se o senhor lá o colocou, se preferiu não exercer o seu direito de liderança - como de resto o fez desde a primeira hora - terá pensado haver tido bons motivos para assim agir.


.  Quem sou eu para julgá-lo ?  Embora a nacionalidade vá ainda se perguntar porquê Vossa Excelência preferiu declinar de direitos que lhe vinham naturalmente às mãos, e não imitou a ação de seus vizinhos? 

                  Ao demarcarem-se as fronteiras, Vossa Excelência preferiu não seguir o exemplo de seu colega portenho, e não fechou as nossas portas, quando a doença bateu em nossa casa, como também na terra argentina.  Ao contrário de seu colega de Buenos Aires,  preferiu não só manter as portas abertas, mas agir como se a ameaça da peste à nossa Terra fosse coisa de somenos! Cabe-me continuar a perguntar:  Por quê ?     

sábado, 24 de abril de 2021

O Juiz Moro e a Verdade (II)

   Vossa Excelência perdeu,  disse  o Ministro Gilmar Mendes ao colega Luis Roberto Barroso, no bate-boca constrangedor na sessão do Supremo, que, ao reunir votos suficientes para confirmar a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro numa das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na prática representa o sepultamento da  Operação Lava - Jato.

    Se a conclusão do ministro Gilmar Mendes está certa (o juiz Barroso perdeu), para que se tenha ideia  de quem realmente perdeu, é oportuno transcrever trecho do dito editorial: Quem venceu não foram Gilmar e os seis ministros que votaram com ele. (...) Quem venceu foram, além obviamente de Lula todos os demais 174 condenados em  virtude das 179 ações penais deflagradas pela força-tarefa da Lava - Jato no Paraná, assim como os réus daquelas ainda não julgadas.

      Dessarte, "todo o edifício jurídico  de provas e denúncias elaboradas pela Lava-Jato, as dezenas de delações e acordos de leniência  assinados, as confissões, os R$ 14,8 bilhões em multas, os R$ 4,3 bilhões devolvidos aos cofres públicos, as penas de prisão cumpridas - tudo agora estará sujeito a revisão, mediante a conclusão, referendada no plenário do STF, de que  a relação de Moro com os procuradores era espúria.

       "Mesmo que depois se venha a dizer que a suspeição  valia apenas para  Lula, ela se tornará  um argumento poderoso na mão da legião de advogados de defesa, especializados nas duas manobras que garantem a impunidade no Brasil: a anulação de provas e a protelação de processos até a prescrição dos crimes.  É a mesma legião que, sob o argumento de defender o Estado de Direito, se transformou em um lobby articulado em favor das chicanas judiciais que fazem do Brasil terreno fértil para corrupção.

         "As condenações de Lula, proferidas depois  de investigação e denúncia que produziram provas eloquentes - entre elas, a confissão do próprio empreiteiro que lhe deu de presente a obra do triplex no Guarujá - foram confirmadas em duas instâncias e no STJ  por dez juízes diferentes. Soçobraram por uma dessas tecnicalidades em que os advogados são especialistas: quase cinco anos depois da denúncia, o Ministro Edson Fachin decidiu que Lula não poderia ter sido julgado em Curitiba. Era uma tentativa de evitar o exame da parcialidade de Moro na Segunda Turma do Supremo, que poderia fazer desmoronar todo o resto da Lava-Jato.

           " A manobra de Fachin não funcionou. Depois de ter segurado por dois anos seu voto sobre a parcialidade, em poucas horas Gilmar levou-o à turma e, numa votação expressa, Moro foi declarado suspeito. No plenário, formou-se quinta-feira maioria para confirmar a decisão. Só não foi confirmada porque, em meio ao bate-boca, o presidente do STF, Luiz Fux, decidiu dar a sessão por encerrada, enquanto o ministro Marco Aurélio encetava pedir vista."

              A conclusão desse editorial, que acredito ser um dos mais oportunos e relevantes para os estudiosos de Direito,  em que honro incluir-me, pelo meu curso terminado há muito no  velho e histórico prédio da Praça da República, no Rio de Janeiro, está no parágrafo  terminal deste muito relevante editorial-chefe.  Nesse sentido, creio que se deve dar aos eventuais leitores a oportunidade de uma conclusão, que se encaixa no arrazoado em tela: "Pode   até haver motivos jurídicos  para justificar  a decisão tomada  pelo plenário. Mas no mundo real, longe do universo estéril das discussões acadêmicas, o efeito está claro: como seu principal símbolo, a Lava-Jato acabou.  A operação  que pela primeira vez levou para  trás das grades empresários e políticos do mais alto escalão virou história. 

" Com ela, o país desperdiçou uma oportunidade de amadurecimento institucional, uma possibilidade de substituir a impunidade e o capitalismo de compadrio seculares por um ambiente de negócios mais justo, mais maduro e mais eficiente."

  " Quem perdeu não foi só Barroso, como afirmou Gilmar. Quem perdeu foi o Brasil."


(Fonte: O Globo.)

quarta-feira, 21 de abril de 2021

                                    A Amazônia é ou não do  Brasil ?


             A cerca de dois dias da abertura da cúpula do Clima, de que o novel presidente estadunidense, Joe Biden, será o anfitrião, ele vem de receber cartas de governadores do Brasil, assim como de altas autoridades - ex-ministros - e artistas, que diante dos desafios do presente, não hesitam em encarecer ao líder americano o endurecimento da posição  da Casa Branca, no que tange à atuação do presidente Jair Bolsonaro na área ambiental.

                   Na inédita mensagem, que é reivindicada por vinte e três dos vinte e sete governadores atualmente em exercício, eles, enquanto gestores dos respectivos Estados, vem oferecer-se como se fossem porta de entrada para ações de combate ao desmatamento e à redução de gases estufa.

                    Nesse contexto,  seria como se eles abrissem a porta do continente Brasil para tudo que respeito diga a um combate para valer contra o desmate e a consequente redução dos gases estufa.

                     Em boa hora, para privilegiar as medidas consequentes - e não aquelas retóricas - como afirmou o porta-voz do Departamento de Estado  - concentra-se a conversa "em medidas que precisam ser tomadas para combater o desmatamento ilegal ao  invés de olhar para fluxos de financiamento."   

                       Ao invés de palavras ao vento, o emprego de recursos para debelar ameaças. Não se trata, portanto, do vazio recurso retórico de costume, mas de uma ação concreta, que é assim feita pela inteireza e força de desafio implícito. 

                       Como disse o porta-voz do Departamento de Estado - importa concentrar a "conversa em medidas que precisam ser tomadas para combater o desmatamento e consequente redução de emissões de gases estufa". Nesse sentido, eles se disseram "disponíveis para aplicação segura e transparente de recursos internacionais". Compreende- se assim que os Estados Unidos não quiseram falar em dinheiro: "concentramos nossa conversa em medidas que precisam ser tomadas para combater o desmatamento ilegal, ao invés de olhar para fluxos de financiamento".

                         A floresta amazônica é o pulmão da Terra e não se pode permitir que eventuais peralvilhos venham a abatê-la em uma sinistra operação segmentada, em que o borrão da cupidez venha a apagar esse bem da Humanidade, como se uma vez mais a estupidez e a consequente falta de visão do povo responsável a condenasse a um final lamentável, tipo Magreb, em que se abatera a floresta. Trocá-la por vã e estúpida cobiça, não é só malbaratar  uma fortuna, na verdade uma benção do passado.  É incidir em um erro que condena à pobreza uma área antes riquíssima em bens materiais, um verdadeiro patrimônio que só os estultos jogam fora, para ignomínia e eterna vergonha do próprio nome. 

                          Essa sublevação, este levantamento do povo amazônida é uma reação decerto natural, pois se trata de válida reação em defesa de enorme patrimônio, que não pode ser tratado e de  forma como que vem sendo aplicada. A origem dos chamados rios voadores, que tanto colaboram com as bacias fluviais a jusante, que felizmente encontramos no gigante Brasil, é outra função benfazeja que muito bem traz para as áreas e bacias ao sul de nosso país. O pitoresco é na verdade o inimigo do útil e do profícuo, pois ele muita vez é construído em bases falsas, que esquece o equilíbrio ecológico e a respectiva necessidade da  própria existência, dada a ínsita riqueza dessa enorme região que não pode ser lixiviada tanto pela incúria e muito menos pela ignorância, mas preservada e desenvolvida como riqueza viva que é. No entanto, sendo um dom de Deus e da natureza, essa grande área que foi conquistada pela gente portuguesa e pelos seus descendentes brasileiros não é um peso sobre a nação brasílica, mas um fundamento seguro que carece de ser fomentado e desenvolvido, em todos os seus aspectos, porque a grandeza singular da Amazônia é inigualável no mundo. Não se trata, assim,  de apenas preservá-la e protegê-la, mas de trabalhar com uma visão realmente amazônida, a que devemos tratar com todos os desvelos deste grande Brasil. Desfigurar ou retirar a Amazônia, além de impensável, representaria sobretudo o fracasso lamentável de uma visão que realmente se empenhe em integrá-la no universo Brasil.  Nenhum outro país é comparável à nossa terra, e por conseguinte a Amazônia é um grande desafio.  Tal consideração é feita em plena ciência do desafio toynbeano que aí está envolvido. De uma certa forma - e diante das ameaças com que a cegueira da atual Administração parece condená-la - o Povo brasileiro tem nesse grande espaço geográfico  não um suposto apêndice, mas uma grande região, abençoada por Deus e preservada por seu Povo! Mas os desenvolvimentos do futuro vêm mostrar a quem tem olhos e sentimento pátrio, o quanto essa parte do continente Brasil é relevante para dar-lhe, não só pujança e potencial riqueza, mas para conformar-lhe os muitos aspectos de sua grandeza e diversidade territorial. Os amazônidas e aqueles que lhes seguiram as grandes pegadas e passos já contribuem para levantar o véu respeitoso e quase hierático que se associa  a tais enormes espaços.

                         Voltemos a viver não só com a esperança, mas também com a vontade da pátria grande, a que o Destino nos proporcionou a oportunidade decerto considerável de encimar o nosso país-continente como um espaço que não deve ser desgraçado pela miséria e a incúria, mas sim desenvolvido com as vistas largas e ousadas de nossos bandeirantes e colonizadores, que, a exemplo das atuais autoridades brasileiras, não se apequenaram, deixando a outrem o encargo de uma tarefa digna e promissora. Nada mais oportuno do que, neste momento de apatia e de estultas práticas, 23 de nossos governadores, para sua memória e para o bem respectivo das terras do continente Brasil, tenham dado um passo avante, que está disposto a valer-se dos eventuais recursos do gigante do Norte, para auxiliar-nos a proteger os recursos dessa grande terra amada e gentil, de modo que o espírito de associação, de defesa e de estímulo ao progresso e ao desenvolvimento também estejam presentes, barrando com mão forte e segura as cavilosas ofertas da destruição, do desmate e da consequente miséria, aquela mesma que a milênios vem perseguindo a povos e nações que não se provam iguais aos desafios que a realidade lhes apresenta.

                         Há uma face gentil e promissora no patriotismo. Ele não renega o auxílio do estrangeiro, enquanto governo movido por boas intenções - e não há melhor do que aquela da vontade de auxiliar o pacífico povo estrangeiro que, sem baixar os olhos, e estender um prato de esmoler, mas a própria terra defende para obter ajuda na luta contra os míseros incêndios florestais, que não só a devastam, ao abrirem amplos espaços em que a morte se atreve a sufocar e a humilhar a vida, que na floresta é florescimento, esperança e um convite à exploração gentil, atilada e cuidadosa, que não quer substituir o viço das matas do Trópico, a pujante floresta, com os troços da miséria e de um porvir sem promessas de viço, esperança, dentro de uma realidade em que mãe natureza  com suas irmãs árvores possam conviver sem  o jugo das vis queimadas que com as cinzas e as deformações consequentes só trazem o duro chão do infortúnio e de um paraíso transformado  em desgrenhada visão de capões e espaços esquecidos, que na sua mísera pobreza relembram as moitas que verdejantes ou não, mal relembram os troncos e a galharia das matas cerradas que os inimigos da floresta levaram para sempre.  


( Fontes: O Estado de S. Paulo; visita  à Amazônia e mãe-natureza. )

sábado, 17 de abril de 2021

A CPI e Bolsonaro

   

         Depois da previsível expectativa, afinal se forma a CPI da Pandemia, e Renan Calheiros, Senador pelo MDB das Alagoas, está de volta às atenções gerais, com a função precípua de apontar os responsáveis pelos erros  do Governo federal. O Planalto que temia a Calheiros na relatoria da Comissão se empenhara em colocar no seu lugar ao Senador Eduardo Braga (AM), que, sem embargo, informa à imprensa que Renan seria indicado pelo partido para a Relatoria. Além de Braga, Omar Aziz (PSD-AM) ficará com a presidência, o que deve ser oficializado na primeira reunião da CPI.

           Dizer que o presidente Bolsonaro "errou" e "se omitiu" no enfrentamento da pandemia, com uma "gestão terrível", não é chover no molhado. É vocalizar e afirmar o que a grande maioria dos brasileiros pensa, enquanto a sinistra fila das UTIs cresce, e as implacáveis estatísticas desvendam o escândalo de tantas batalhas perdidas contra o coronavírus e as suas irreprimíveis variantes. Regurgitam, em muitas covas, os cemitérios que serão as silentes, mas implacáveis testemunhas, dessas tantas batalhas vencidas.

             Por força desses números agressivos, vira e mexe e o Brasil se torna uma espécie de pária internacional. Pelo horrível número de mortos que se empilham nos hospitais a que o acosso implacável dessa tenebrosa peste força uma corrente cruel de más consequências que não só lota as casas de saúde, mas também faz escassear todo o tipo de remédio e de instrumento voltados para minorar  o sofrimento dos infelizes que, seja pela má sorte, seja pela imprudência, vêm aportar à entrada nos hospitais que acolhem às infelizes vítimas dessa peste da ultramodernidade.

                A casa de saúde moderna é a mãe gentil daqueles que contraíram a terrível doença, que rói os pulmões de pobres, infelizes criaturas. Aqui abundam os doentes e por isso, pelas enfermarias que regurgitam com enfermos dessa estranha Covid-19, que, em meio às misérias da atualidade, nos joga nos espaços de um medo sem fronteiras e sem barreiras, que, com as suas fauces iracundas, parece olhar-nos vestido da frieza das bestas ferozes, que, nas suas vistas assim  fundas quanto negras, deixam escapar odores nauseabundos, trazendo para a pós-modernidade, que se acreditara isenta das misérias e infortúnios,  o hálito pesado que parece trazer ao ar abafado dos ambientes em que semelha sorrir em risos abafados a face desdentada  da triste campeã de pestes e infortúnios. As lamúrias, os suspiros, os cochichos dos médicos e dos enfermeiros, tanto nas UTIs, quanto nos corredores e nas dobras dos  cerzidos mosquiteiros, trazem aquele ar pesado, que parece confundir-se com outras ameaças, talvez inda mais terríveis, que se dissimulam em lençóis encardidos e amassados por  sofrimento que os instrumentos mais sensíveis não logram quantificar. 

                 A agulha benfazeja foi posta de lado, em ambiente achacado pelos remendos daquelas que não descansam no afã de trazer conforto aos que a doença consome com os seus ais, inconfessáveis desesperos e aquela estranha linguagem que visita os pobres, aos abandonados da sorte, e aos indevassáveis escaninhos em que se escondem o fundo desespero, o sufocado pavor da desesperança dos enfermos sem visita, e a negra noite que desaba sobre os infelizes à quem é negada, por um capricho maldito, sorver num capricho tão insondável, quanto estranho, essa estranha, inatingível  infusão  que as alucinações trazem amiúde aos desprezados da sorte.

 (Fontes: O Globo e a sorte madrasta de acessar com muitos ignotos, o dúbio e estranho privilégio de partilhar com os muitos as formas e as alucinações desses tempos madrastos em que a Morte a todos visita, tanto aos Pobres, quanto aos Ricos e abandonados da Sorte)




 

             


quinta-feira, 8 de abril de 2021

Gilmar vota contra a abertura de igrejas e templos

                    O Ministro Gilmar Mendes votou ontem no STF contra a abertura de igrejas e templos, diante do agravamento da pandemia.  Declarou que o Brasil se tornou "um pária internacional" no combate à Covid-19. Relator de uma ação do PSD  contra decreto do gover- nador de São  Paulo, João Dória, que proíbe atividades religiosas presenciais na fase mais aguda da doença, o ministro criticou as posições adotados pelo advogado-geral da União, André Mendonça, e pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.

                   Como assinala o Estado de S. Paulo, cotados para a vaga que será aberta em julho no Supremo, Mendonça e Aras defendem a realização de missas e cultos mesmo no momento em  que o País atravessa o pior momento da crise sanitária, registrando mais de 341 mil mortes provocadas pelo Coronavirus e as variantes. Os dois são próximos de Bolsonaro, que já disse já ter a intenção de nomear um nome "terrivelmente evangélico" para o Supremo. Note-se que Aras é católico e Mendonça, pastor da Igreja Presbiteriana Esperança.


(Fonte: O Estado de S. Paulo )

segunda-feira, 5 de abril de 2021

USP estuda resistentes e vulneráveis da Pandemia

      A senhora Parouhi e seu caso surpreendente de coinfecção, mormente se levarmos em conta que a referida paciente tem cem anos de vida. 

      Para os estudiosos, os centenários parecem frágeis, mas são o grupo mais resistente. O grupo de Mayana Zatz: Os centenários com PCR positivo são resistentes evidentes, assim como jovens sem comorbidades que faleceram. Por isso, os estudamos, afirma a dra. Zatz.

       Além de centenários sobreviventes e jovens que faleceram, a pesquisa investiga mais de oitenta nonagenários que se curaram ou sequer manifestaram sintomas de Covid-19, mesmo estando positivos; cem dos chamados casais discordantes, definidos como aqueles em que um dos cônjuges adoeceu com gravidade ou morreu e o outro nada teve; e gêmeos igualmente expostos ao coronavírus,

        O Estudo com os jovens que morreram da doença sem ter qualquer comorbidade, com 45 indivíduos até o presente, é realizado em parceria  com o grupo de Paulo Saldiva, professor titular de patologia da Faculdade de Medicina da USP.

         Os centenários parecem frágeis, mas são o grupo mais resistente. "Aguentam qualquer desaforo  do ambiente", diz Zatz. O grupo dela estuda treze centenários. A meta é, além de sequenciar o genoma deles, multiplicar suas células em laboratório, obter células-tronco e estudar a resposta delas ao Sars-Cov-2 e suas variantes. Numa segunda etapa do trabalho, a Dra. Zatz planeja ver como os resistentes respondem à vacina.

          Nos jovens que se agravam terrivelmente e morrem de Covid-19, mesmo sem comor- bidades conhecidas, cientistas especulam que pode haver uma resposta imunológica deficiente controlada por uma configuração genética desfavorável   à defesa contra o coronavírus.

           O trabalho da equipe integrada por Paulo Saldiva, com Marisa Dohlnikoff e Renata Monteiro, é pioneiro em  autópsias não-invasivas de vítimas da Covid-19. Eles buscam nos mortos informações que salvem vidas.

           Frisa Saldiva, "Nunca é fácil. Impossível se acostumar com autópsias de crianças. Nosso grupo é o que mais publicou estudos com autópsias de Covid no mundo, mais de 110 autópsias. É um tipo de estudo trágico e necessário" - assinala Saldiva.

            Entre o grupo inicial de 45 vítimas jovens de Covid-19 autopsiadas estavam quatro gestantes, dois bebês de mães com Covid-19, seis crianças com menos de doze anos. Os  estudos estão em curso, mas Saldiva adianta que o sequenciamento genético  de duas dessas crianças já revelou que elas não apenas tinham qualquer doença além da Covid-19, e tampouco apresentavam qualquer variação genética conhecida associada à vulnerabilidade.

            A Dra. Zatz acrescenta que estudos nos Estados Unidos indicaram a existência de pelo menos três genes - todos do sistema imunológico - que podem estar associados a uma maior vulnerabilidade. A resistência pode ser ainda mais complexa. Há pistas de que o chamado sistema HLA esteja envolvido, afirma a Zatz.

             O sistema HLA é crucial nas defesas. É ele que identifica e reage a invasores como vírus. Mas caçar alterações no HLA é como procurar agulha em palheiro. Seus genes, seis principais e mais de cem relacionados estão no cromossomo 6, e há mais de 22.548 alelos (formas como um gene pode se apresentar) conhecidos.  Mutações nesses genes estão associadas a uma série de doenças autoimunes, como lúpus e diabetes do tipo  1.

              - Esse é um estudo de longo prazo que pode nos ajudar a combater não só esta, mas as próximas pandemias - enfatiza a Doutora Zatz.


( Fonte : O Globo, reportagem de Ana Lúcia Azevedo.)

 








A Premier Jacinda Ardern da Nova Zelândia

   Por valer-se de sua condição insular, a Nova Zelândia da Primeira Ministra Jacinda Ardern, e por ser muito bem sucedida no controle da pandemia da Covid-19, só começará a vacinação em massa de sua população no segundo semestre de 2021, o que contrasta com a política "go  hard, go early", de prevenção.  A medida tem gerado críticas da oposição e dividido especialistas, mas boa parte dos neozelandeses permanece confiante, e por fundadas causas que se impõem à admiração de outros países.

          Como a Nova Zelândia está usando uma estratégia de eliminação do  vírus para controlar a Covid-19,  há menos urgência de vacinar a população, do que em países onde a pandemia é muito intensa e um grande número de pessoas está sendo infectado e morrendo a cada dia. - disse a O Globo Michael Baker professor universitário  e um dos principais epidemiologistas do país.

           Para que se tenha ideia da disparidade de vantagem da Nova Zelândia, a grande Ilha registra um total de 2.501 casos e vinte e seis mortes (!) por Covid 19. É um país com uma boa governante, que se serviu à maravilha da posição insular do país (o país tem 4,8 milhões de habitantes) e também possui uma das menores taxas de infecção por coronavírus no mundo, que é de 51 por cem mil habitantes, e que há mais de seis semanas não registra mortes  pela Covid 19.

            Para explicar a demora no recurso ao uso da vacina,  tomadas as necessárias precauções a vacinação será dividida em quatro grupos: 530 mil trabalhadores de hotéis de fronteira; 1,7 milhão de idosos e pessoas com co-morbidades a partir de maio; e o restante da população, de julho em diante.  Há duas semanas o Ministro encarregado da Covid-19, admitiu que o número de doses diárias estava abaixo dos dois mil, mas "permanecia dentro do cronograma". A  razão alegada para não acelerar a campanha no momento foi evitar ter de freá-la depois.

              Apesar da ação exitosa da Primeira Ministra, a pressão da Oposição tem crescido sobre o governo trabalhista. Reeleita para um segundo mandato no ano passado, com expressivos 48% dos votos, Ardern coleciona rusgas  com os conservadores do Partido Nacional, que pediu uma revisão da estratégia de imunização, alertando que as novas cepas representam um "risco inaceitável" na fronteira.

               A líder desse partido de oposição, Judith Collins, que concorrera contra Ardern em outubro, defende a reabertura  imediata das fronteiras com as ilhas do Pacífico onde a Covid está controlada. Para tanto alega que a Ardern será responsável pela quebra de empresas de turismo caso tal não ocorra. O governo permanece firme em não abrir as fronteiras, e um anúncio é esperado para o seis de abril, conquanto ainda não esteja claro se o governo abrirá suas fronteiras para os australianos.

                 Sem embargo, ainda não está claro se o presente gabinete afrouxará os controles no futuro, a despeito das reclamações da oposição. "Quando meus amigos kiwis (como são chamados os neozelandeses) reclamam de mais um lockdown, sempre digo que estão reclamando de barriga cheia e falo da situação no Brasil - diz Cristiane Diogo, comerciante brasileira que mora em Aukland: "Aqui estamos vivendo muito bem. Temos um governo que cuida de sua população nos mínimos detalhes." Qualquer semelhança com a triste situação de nosso país...


( Fonte: O Globo )


Polícia Federal não passa Boiada

      Após  a maior apreensão de madeira virar atrito com o Ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro,  o chefe da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva, diz que é a primeira vez que um Ministro do Meio Ambiente se manifesta contra uma ação  que visa a proteger a floresta amazônica...

       É reminiscente ao "passar das boiadas" referida pelo citado Ministro  na reunião do Gabinete presidencial, que fora liberada pelo então Ministro do Supremo, mais tarde aposentado por decurso de prazo.  "É o mesmo que um Ministro do Trabalho se manifestar contrário a uma operação contra o trabalho escravo", disse.  Segundo o delegado, os duzentos mil metros cúbicos de madeira apreendidos são fruto de ação criminosa.   

( Fonte: Folha de S. Paulo )       

A CPI da Pandemia surge no Senado c

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domingo, 4 de abril de 2021

O Ministro Kassio Marques libera cultos no País

        No auge da pandemia  no  país, o  ministro do STF Kassio Nunes Marques, recente indicação de Bolsonaro para o Supremo, autorizou ontem  celebrações religiosas  presenciais no Brasil, determinando em liminar que se adotem protocolos sanitários em igrejas e templos, com limite de 25% de capacidade de público.

          Segundo assinala o Estadão - que proíbe Estados e Municípios de suspenderem completamente celebrações - destoa de outras decisões do STF, como a que deu autonomia para que governadores e prefeitos decretem ações de isolamento social.

         Dirigida ao  Ministro Nunes Marques, que produziu liminar em função de ação movida pela Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) , que via  na restrição aos cultos violação do direito fundamental  à liberdade religiosa e ao princípio da laicidade estatal. Nesse sentido, a dita entidade questionou decretos de  Estados e Prefeituras de todo o País.

          Não obstante, o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou a três do corrente que a "ordem" (?) é evitar  a política de lockdown. Dada a clara contradição com o interesse público,  o ministro da Saúde afirmou que se a ordem (presumivelmente do Presidente Bolsonaro) é evitar a política  do lockdown, mas ponderou que é preciso "fazer o dever de casa".  Nesse sentido, o Ministro ponderou que "precisamos nos organizar para que evitemos medidas extremas e consigamos garantir  que pessoas continuem trabalhando e ganhando seu salário. Evitar lockdown é a ordem, mas temos de fazer nosso dever de casa. "E dever não só do governo federal, estadual ou municípios. É de cada um dos cidadãos", afirmou Queiroga.

            Ainda segundo o Ministro da Saúde , o presidente Jair Bolsonaro determinou que as Forças Armadas darão reforço à campanha de imunização, com apoio à logística e à aplicação de doses.


( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Fernández está com covid-19

      O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou a três do corrente que foi diagnosticado  com  covid. É de notar que o contágio em tela acontece dois meses depois de Fernández receber a vacina russa contra o coronavirus, i.e. a Sputnik V.

      "Estou bem, não tenho nenhum sintoma. Apenas essa febre... A prova é que eu contraí, sendo que já recebi as duas doses da vacina e tomo cuidados extremos",  disse Fernández ao Clarín.

      Como assinala a notícia, ainda ontem  (3 do IV) o presidente submeteu-se a um teste PCR que confirmou que a doença está em andamento.  Fernández fizera antes o teste de antígeno.

       Ironicamente, o presidente argentino foi o primeiro líder a receber imunização contra o coronavirus na América Latina. Com efeito,  Fernández cumprira o cronograma de duas doses da vacina Sputnik V, do laboratório russo Gamaleya. Segundo informaram fontes presidenciais, ele tomou a primeira dose no dia 21 de janeiro e a segunda, em onze de fevereiro.

       O presidente - que completara 62 anos na sexta, está isolado e explicou, a propósito, que não quis ver muitas pessoas no seu aniversário para evitar reuniões com aglomeração. "Embora eu tivesse preferido terminar meu aniversário sem essa notícia, estou de bom humor..." declarou Fernández.

        Consoante fonte do governo platino, estão isolados de maneira preventiva o chanceler portenho, o secretário-geral e o porta-voz presidencial, por causa de terem tido contato com o presidente. Note-se que a  Argentina enfrenta uma segunda onda do vírus com uma escalada de infecções.  Como se verifica, segundo dados oficiais,  esse país de 44 milhões de habitantes, soma mais de 2,3 milhões de infectados e 56.023 mortes pela Covid-19, total bastante menos grave à média  de mortes no Brasil, que é desafortunadamente muito superior à argentina.

          Em entrevista à CNN, o Instituto Gamaleya, responsável pelo desenvolvimento da vacina russa Sputnik V, respondeu ao tuíte do presidente argentino e reiterou a eficácia da dita vacina. "Estamos tristes de ouvir isso (o anúncio da infecção). A Sputnik V é 91,6% efetiva contra a infecção e 100% eficaz contra casos raros (sic). Se a infecção de fato for confirmada e  ocorre, a vacina garante rápida recuperação sem sintomas graves.  Desejamos ao (Presidente) uma rápida recuperação", afirmou o Instituto pelo Twitter.

          Por sua vez, o  médico  Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Anvisa, afirmou que em 35 países a Sputnik V ainda não teve aprovação de agências sanitárias.  Como assinala o Estado de S. Paulo, o instituto por ela responsável indica que a "Sputnik está aprovada para uso em 59 países e é a segunda no mundo em número de aprovações por órgãos reguladores governamentais." 

(Fonte: O Estado de S. Paulo)

sábado, 3 de abril de 2021

Supremo investiga Lei de Segurança Nacional

       Diante da interpretação muito expansiva dada pelo governo Bolsonaro da Lei de Segurança Nacional - notadamente o artigo 26, que fixa pena de um a quatro anos de prisão para quem caluniar o Chefe de algum dos três Poderes - o Supremo Tribunal Federal pode excluir trechos da Lei de Segurança Nacional usados pelo Governo para investigar manifestantes  que protestam contra o Presidente da República.

       Já o artigo 18, usado pelo STF na recente prisão em flagrante do Deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), por sua vez seria mantido, segundo a Folha colheu, de forma reservada, de alguns ministros da Corte.  Como se sabe, o dispositivo em tela prevê a detenção de dois a seis anos, a quem tente impedir o livre exercício de qualquer dos Poderes da União ou dos Estados.

       Como se sabe, a Lei de Segurança Nacional  prevê detenção de dois a seis anos a quem tentar impedir o livre exercício  de qualquer dos Poderes acima referidos. Ela é de 1983, e por conseguinte emanada da então ditadura militar. Nesses termos, o uso recorrente da norma no ano em curso levantou o assunto, dada a necessidade de evitar que ela seja instrumentalizada. Dessarte, desde março quatro ações contra a legislação foram protocoladas no Supremo.

        Nessas condições, para ministros da Corte, o desafio seria barrar trechos da  lei que permitem medidas autoritárias, sem contudo invalidar a norma em tela na totalidade, eis que ela é vista como imprescindível para o prosseguimento dos inquéritos relativos às fake news, assim como dos atos antidemocráticos, que no regime Bolsonaro  ganharam marcada extensão  (fonte Folha de S. Paulo). 

sexta-feira, 2 de abril de 2021

O Apartamento dos Sonhos

             Os poetas românticos são aqueles que enxergam nas pedras rugosas imagens de uma esquecida caligrafia. Eles vêem um nexo em desenhos da Natureza, por que passam rápido as vistas da gente ignara. 

            Nesse mundo, vasto mundo, de que Drummond nos fala, há demasiadas mensagens. O significado delas, os muitos deixam para eles decifrarem, mas é  estranho quadro, aberto para ser lido e, quem sabe, entendido por um verso ainda que de pé quebrado.

            É um mundo estranho, de que Raimundo será a rima banal, que não preenche os sopros da Academia.

            Mas esse peculiar observador da Natureza costuma ser imprevisível, onde a esquisita Senhora esconde, por vezes, visões chãs, metidas em cantos ariscos que parecem desaparecer na planície da vulgaridade.

             É, decerto, verdade que o mundo será espaço de muitos gostos. Os jovens casais são admiradores vorazes dessas qualidades esotéricas que visitam os costumeiros  distraídos. Imaginar já é um caminho por que eles enveredam, vestidos de sofreguidão, alegria e o sovado romantismo.

             Não sei porquê aos românticos está reservado um sorriso, nem escarninho, nem vulgar, mas puxado com os transes da dúvida e de uma certa vaga intriga, que guardamos nas dobras recônditas de pacotes esquecidos.

             Antes  estado d' alma, hoje ele parece uma entidade de outros tempos, a que convém por carradas de ignota razão empurrar para o canto de palavras não enunciadas e de pensares largados por esses caminhos da vida.

              Pois foram eles exatamente que me estendem esse incôngruo lenço branco que me trouxe a tais paragens em que pensara encontrasse a felicidade.

               Nessa hora madrasta, que os tempos malsinados trazem mas não levam, a minha voz fica quase inaudível e ela, roufenha ou quase, se debate, se envereda em meio à carnal pluma de Bandeira ou pelas irônicas miragens de Drummond.


( Fonte: o apartamento, soprado por sonhos perdidos )

quinta-feira, 1 de abril de 2021

A circularidade da Crise inventada por Bolsonaro

                 Que o leitor me desculpe, mas depois de um forçado (por motivos técnicos) silêncio, me descubro a visualizar e contornar situações que têm óbvias semelhanças com o trauma das crises do regime militar. Decerto, nem o Brasil, nem as suas correntes de opinião merecem tais correntes que semelham evocar emanações de um passado, que para muitos já fora enterrado, e com o apoio da Democracia, que está decerto acima dos problemas ligados ao verde oliva e às discussões oriundas do meio castrense. 

                 Dentro das surpresas com que nos brinda a democracia, muitos segmentos da corporação que o presidente terá pensado instrumentalizar mostraram dispor de um saudável bom senso e firmeza democrática, que constituem, por assim dizer, os aspectos positivos dessa nova crise.  No meu modesto entender, ela não deveria ser interpretada como corporativa. 

                  Basta ir um pouco além para que o suposto mistério desvaneça. A começar pelo general Azevedo e Silva - que se acha na base dessa pretensa cartada presidencial - que demonstrara ter uma visão democrática da situação e que terá decerto contribuído para desfazer impressões - tudo mostra que se ensaiaram jogadas que, ao cabo, levaram a de-monstrar a irreflexão e consequente irresponsabilidade de quem pensara estar em condições de instrumentalizar a situação.

                   Não sei por quanto tempo vamos repetir senhas e imagens de um passado que já mereceria uma outra visão, não evocativa de um passado que merece por certo repousar mais em livros do que em desatualizadas evocações de situações que estão de todo supera-das. 

                    O primarismo em querer repeti-las, além de voltar a cenários inatuais, que nada têm a ver com o Brasil moderno, nos parece condenar a um estranho diálogo em que as ossadas de crises desde muito fora da realidade são por vezes trazidas para montar um espetáculo que mais parece uma primária, irresponsável articulação de quem pensa ser um grande malabarista quando não passa de um tosco candidato a artífice de espetáculo que está condenado pela modernidade, que é um mundo que em todas as aparências esse modesto aprendiz de demiurgo não parece pertencer.


(Fontes: O Estado de S. Paulo, O Globo e Folha de S.  Paulo )