A senhora Parouhi e seu caso surpreendente de coinfecção, mormente se levarmos em conta que a referida paciente tem cem anos de vida.
Para os estudiosos, os centenários parecem frágeis, mas são o grupo mais resistente. O grupo de Mayana Zatz: Os centenários com PCR positivo são resistentes evidentes, assim como jovens sem comorbidades que faleceram. Por isso, os estudamos, afirma a dra. Zatz.
Além de centenários sobreviventes e jovens que faleceram, a pesquisa investiga mais de oitenta nonagenários que se curaram ou sequer manifestaram sintomas de Covid-19, mesmo estando positivos; cem dos chamados casais discordantes, definidos como aqueles em que um dos cônjuges adoeceu com gravidade ou morreu e o outro nada teve; e gêmeos igualmente expostos ao coronavírus,
O Estudo com os jovens que morreram da doença sem ter qualquer comorbidade, com 45 indivíduos até o presente, é realizado em parceria com o grupo de Paulo Saldiva, professor titular de patologia da Faculdade de Medicina da USP.
Os centenários parecem frágeis, mas são o grupo mais resistente. "Aguentam qualquer desaforo do ambiente", diz Zatz. O grupo dela estuda treze centenários. A meta é, além de sequenciar o genoma deles, multiplicar suas células em laboratório, obter células-tronco e estudar a resposta delas ao Sars-Cov-2 e suas variantes. Numa segunda etapa do trabalho, a Dra. Zatz planeja ver como os resistentes respondem à vacina.
Nos jovens que se agravam terrivelmente e morrem de Covid-19, mesmo sem comor- bidades conhecidas, cientistas especulam que pode haver uma resposta imunológica deficiente controlada por uma configuração genética desfavorável à defesa contra o coronavírus.
O trabalho da equipe integrada por Paulo Saldiva, com Marisa Dohlnikoff e Renata Monteiro, é pioneiro em autópsias não-invasivas de vítimas da Covid-19. Eles buscam nos mortos informações que salvem vidas.
Frisa Saldiva, "Nunca é fácil. Impossível se acostumar com autópsias de crianças. Nosso grupo é o que mais publicou estudos com autópsias de Covid no mundo, mais de 110 autópsias. É um tipo de estudo trágico e necessário" - assinala Saldiva.
Entre o grupo inicial de 45 vítimas jovens de Covid-19 autopsiadas estavam quatro gestantes, dois bebês de mães com Covid-19, seis crianças com menos de doze anos. Os estudos estão em curso, mas Saldiva adianta que o sequenciamento genético de duas dessas crianças já revelou que elas não apenas tinham qualquer doença além da Covid-19, e tampouco apresentavam qualquer variação genética conhecida associada à vulnerabilidade.
A Dra. Zatz acrescenta que estudos nos Estados Unidos indicaram a existência de pelo menos três genes - todos do sistema imunológico - que podem estar associados a uma maior vulnerabilidade. A resistência pode ser ainda mais complexa. Há pistas de que o chamado sistema HLA esteja envolvido, afirma a Zatz.
O sistema HLA é crucial nas defesas. É ele que identifica e reage a invasores como vírus. Mas caçar alterações no HLA é como procurar agulha em palheiro. Seus genes, seis principais e mais de cem relacionados estão no cromossomo 6, e há mais de 22.548 alelos (formas como um gene pode se apresentar) conhecidos. Mutações nesses genes estão associadas a uma série de doenças autoimunes, como lúpus e diabetes do tipo 1.
- Esse é um estudo de longo prazo que pode nos ajudar a combater não só esta, mas as próximas pandemias - enfatiza a Doutora Zatz.
( Fonte : O Globo, reportagem de Ana Lúcia Azevedo.)
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