sexta-feira, 30 de abril de 2021

Dos Jornais um Juízo severo

      Folha de S. Paulo rotula o básico da crise brasileira: Com Presidente negacionista e pouca  vacina, Covid mata quatrocentos mil. 

      Com efeito,   Brasil  registra tal marca apenas 36 dias  depois dos trezentos mil óbitos.  Pressionado, o Governo Bolsonaro tenta acelerar o ritmo  da imunização.

       Na realidade, o nosso país ultrapassou a marca  dos quatrocentos mil apenas 36 dias depois dos trezentos mil óbitos. Isto ocorre catorze meses após a detecção do primeiro caso e apenas trinta e seis dias depois  de marcar trezentas mil  mortes. A notar-se que depois dos Estados Unidos, com 575.024 mortes, - com a peste lá em declínio - aparece já o Brasil, com 401.417 mortes, o que não é decerto um preço baixo a ser pago por nossa terra!

        Como assinala com oportunidade a Folha de S.Paulo, pressionado por uma CPI sobre sua gestão da crise sanitária, Bolsonaro vem sendo aconselhado a atenuar o próprio discurso, eis que só recentemente  ele passou a trabalhar pela vacinação  da população.

         Na realidade, enquanto já estava em curso  uma corrida global  pela aquisição de imunizantes, o Planalto recusara ofertas de fabricantes, a ponto de que doses poderiam já ter sido aplicadas ainda no fim de 2020.

         As oportunidades perdidas são pagas de forma brutal pela Povo brasileiro. Com efeito, os atrasos correm por conta de quem não tem culpa em cartório, e está cruelmente condicio-nado pelas condições criadas por um governo que pensara estar acima das humanas contin- gências. Tais erros são contabilizados de outra forma e os realmente interessados, por não terem poder, tem pouca voz no capítulo.

          Por isso, o bom senso e as campanhas eleitorais são o meio disponível de assegurar-se contra resultados desfavoráveis e contrários ao interesse público. Soluções de afogadilho e apostas tresloucadas costumam acabar sempre mal.

          Entregando a saúde não a médicos, como devera, o Brasil se deu mal. O otimismo  e seus excessos representam  um instrumento que não leva a nada. Por isso, como aconselha a Folha, a melhor maneira  de escapar dos abusos e falsas visões será o de incorporar o princípio da mediocridade. Destarte, nada temos de especial. Se em algum lugar do mundo houve terceira onda - como os indianos que mesmo tendo assistido ao  que acontecera na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, se julgaram imunes ao problema e decretaram a volta à normalidade antes da hora. Como assinalado na Opinião da Folha, pelo colunista  Hélio Schwartsman, os indianos se julgaram imunes ao problema e decretaram, antes da hora,  a volta à normalidade.  Daí o resultado, que é uma tragédia em escala que ainda não tinha sido  vista.

         O melhor modo de escapar ao excesso de otimismo é como nos aconselha a Folha -será através da incorporação  do princípio da mediocridade.  Dessarte, se em algum lugar do mundo terá havido uma terceira onda, temos de estar prontos para ela. O caminho será um pouco mais longo, mas as passadas serão mais firmes e mais seguras. Haverá menos mortes e vivendo sob as injunções da verdade, estaremos mais preparados para as suas determinantes.  

           Vivemos em um país de falsos profetas, em que a verdade deve ser sopesada com o cuidado daqueles que lidaram com situações difíceis e não são levianos no que tange a juízos e às suas consequências. 

             Já aprendemos que a covid-19 não é uma doencinha reles que se resolve com falácias e falsos medicamentos. Não se pode desprezar um  mal que já matou a tanta gente. Respeito não quer dizer medo ou superstição. Ele tem a ver com conhecimento de causa. Não devemos ouvir a falsos profetas nem a curandeiros.  A hora é difícil e demanda respeito. Quatrocentas mil mortes não são causadas por uma gripezinha corriqueira, nem são fruto do acaso. Respeitar o adversário e as suas ameaças respectivas é a norma do bom senso e daqueles que não se enganam com mágicos, ilusionistas e demais irresponsáveis do gênero.

               Os velhos ´- e sou um deles, na minha consequente solidão, que vê a esposa muito  amada e querida partir de forma antecipada, sem que para tanto tivesse culpa alguma - devem escutar a voz dos entendidos no capítulo, e que formam esta porção de ajuda e resistência nesta luta renhida, enquanto vemos o ingente sem-número de mortes e a sua consequente verdade, de que não se trata de coisa de somenos - que só aos tolos não assusta!

                Como diz o poeta, a vida é decerto luta renhida, que aos fracos abate. Cabe àqueles que resolvem enfrentá-la que ajam  com o respeito que essa terrível enfermidade faz e muito por merecer!  Só os cretinos e as pessoas que lhes dão ouvido correm tal risco.  O futuro do Brasil está decerto entre à medicina e  àqueles que diuturnamente combatem esse flagelo no crispado silêncio dos hospitais. 

                  Rezemos e tomemos as precauções indispensáveis para não acrescentar-lhes as tarefas insanas e determinadas que dispensam no silêncio das enfermarias e dos hospitais.

                   Sabemos que a doença ronda as ruas, sobretudo aquelas movimentadas pelo comércio. Portugal dobrou a crise sanitária quando apelou para o lockdown. É uma grande ironia que esse país tenha logrado por tal contenção vencer este desafio. Não se montam  lockdowns por acaso. Carecem de muita força de vontade e o rigor do Estado para que tais aglomerações sejam evitadas. Tem que haver governo com férrea vontade de convencer a população a agir conforme ao bom senso. Tem de existir exemplo, liderança e pulso forte para implementar a pausa que a nome da saúde pública se impõe. Ainda não vejo por essas bandas, exemplos que se possam comparar aos da Itália, no desafio da Lombardia, e ao da terrinha portuguesa, quando soa a hora de implementá-la.

                    Devo confessar que me surpreendi e admirei com a determinação demonstrada pela gente lusa, nesse momento difícil em que negaças e falsas palavras caem mal, muito mal. Aqui no Rio de Janeiro, vejo com desconforto que muita vez  a firmeza não é para valer, e que ao discurso não corresponda uma determinação da autoridade que não admite saídas alternativas e que sejam realmente para valer. A vitória do bom senso só acontece com o férreo e determinado apoio da sociedade e a consequente prova de que o sacrifício não possa ser desrespeitado pelo mau juízo de uns poucos. Por isso,  o distanciamento social é uma regra basilar, que todo cidadão deve respeitar, porque de nada valeria permitir que inconsequentes ignorem tal regra basilar que impede o jugo do contágio do coronavirus e de suas tantas variantes. 

                    Essa Lei decorre do interesse público e da consequente vontade de todos em impedir o contágio e o seu avanço daninho, que se dá pela informalidade, pela ínsita burrice que trabalha contra o interesse da comunidade em preservar-se. 

                    Infelizmente,  o negacionismo presidencial é uma enorme pedra no meio do caminho da comunidade brasileira. Esperemos que a CPI do Senado possa contribuir para convencê-lo à realidade de muitas vacinas - que foram à sua hora inviabilizadas de proteger à nossa gente por um juízo errôneo da situação no nosso país. É hora de jogar no lixo tudo que aproveita á não-ciência e que de nada serve para proteger a comunidade brasileira. Em meio à ignorância e ao desprezo à ciência, cumpre respeitar a medicina, os médicos e  os tantos dedicados profissionais que estão a serviço das forças pela vida.

                    Não é à toa que essa dura batalha se enfrenta nos hospitais  e  que muitos infelizes, que se acham nas UPAs, implorem pela Justiça a bênção das UTIs, que são indispensáveis ao bom combate desta terrível enfermidade.

                    Poucos são aqueles que podem enfrentar a Covid-19, sem o auxílio da complexa instrumentália de que dispõem as alas que devem combater esse mal que ataca aos pulmões dos infectados por essa terrível doença. Só quem a desconhece nas afecções mais graves, é que pode permitir-se o acinte de menosprezá-la, na medida em que a doença se apossa dos pulmões de suas vítimas, o que vai determinar um complexo, penoso tratamento que requererá muitos procedimentos, através da intubação dos pacientes, a que apenas se têm acesso através dos complexos, trabalhosos procedimentos  nas UTIs.

                    Chamar essa enfermidade de gripezinha   é um acinte - se já não fora  uma brutal ignorância - ao respeito que se deve aos pacientes dessa doença. Para começar, eles merecem acima de tudo respeito, pelas muitas dificuldades que este mal acarreta, o que torna a eventual cura e consequente reabilitação um processo longo e doloroso, que não é feito de tratamentos inócuos e superficiais.   

                    Se não se pode, portanto, subestimar este mal, cumpre ter-lhe respeito, que é o passo inicial para a adequada ação do médico e de todos aqueles que devam ser chamados a colaborar nos procedimentos consequentes. As pestes como aquela da chamada gripe espanhola, que no final da Primeira Guerra Mundial tanta gente levara para a sepultura eram tratadas ainda na penumbra de um conhecimento incompleto, que correspondia a então situação da medicina. Decerto  o bom combate à Covid - 19 já avançou bastante, através do respectivo tratamento, dos percalços desta traiçoeira doença e das consequentes ameaças que se apresentem em termos de contágio.

                      Já se tornou hábito no Brasil gravar as despedidas dos pacientes de Casa de Saúde, a que eles deixam com palavras de agradecimento ao desvelo de seus atendentes profissionais, em geral gravadas em mensagens escritas nos papéis  onde está refletida a gratidão do então enfermo ao laborioso trabalho dos seus múltiplos cuidadores. 

                        Mas que os incautos e aqueles que não adentraram a minúcia nos tratamentos à tal enfermidade não se precipitem, porque longo é o caminho a ser feito pelo paciente hospitalar que se despede da casa de saúde. Sobretudo àqueles que foram tratados em UTI  estão reservados muitos meses de tratamento alternativo, para reajustar o paciente  ao desafio da vida normal, que não pode prescindir a diversos procedimentos alternativos que hão de preparar o ex-hospitalizado  aos desafios da realidade e à sua inserção no dia a dia da sociedade civil. 

                         Não é o fim de um laborioso percurso, mas sim o procedimento indispensável de reinserção do paciente nos desafios que lhe apresente a chamada vida cotidiana. Trata-se da necessária preparação de um novo processo, em que o ex-paciente se reinsere na vida de todos os dias, e dadas as diferenças entre essas situações uma preparação adequada deve necessariamente ser utilizada.

( Fonte: Folha de S. Paulo )



   






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