quarta-feira, 21 de abril de 2021

                                    A Amazônia é ou não do  Brasil ?


             A cerca de dois dias da abertura da cúpula do Clima, de que o novel presidente estadunidense, Joe Biden, será o anfitrião, ele vem de receber cartas de governadores do Brasil, assim como de altas autoridades - ex-ministros - e artistas, que diante dos desafios do presente, não hesitam em encarecer ao líder americano o endurecimento da posição  da Casa Branca, no que tange à atuação do presidente Jair Bolsonaro na área ambiental.

                   Na inédita mensagem, que é reivindicada por vinte e três dos vinte e sete governadores atualmente em exercício, eles, enquanto gestores dos respectivos Estados, vem oferecer-se como se fossem porta de entrada para ações de combate ao desmatamento e à redução de gases estufa.

                    Nesse contexto,  seria como se eles abrissem a porta do continente Brasil para tudo que respeito diga a um combate para valer contra o desmate e a consequente redução dos gases estufa.

                     Em boa hora, para privilegiar as medidas consequentes - e não aquelas retóricas - como afirmou o porta-voz do Departamento de Estado  - concentra-se a conversa "em medidas que precisam ser tomadas para combater o desmatamento ilegal ao  invés de olhar para fluxos de financiamento."   

                       Ao invés de palavras ao vento, o emprego de recursos para debelar ameaças. Não se trata, portanto, do vazio recurso retórico de costume, mas de uma ação concreta, que é assim feita pela inteireza e força de desafio implícito. 

                       Como disse o porta-voz do Departamento de Estado - importa concentrar a "conversa em medidas que precisam ser tomadas para combater o desmatamento e consequente redução de emissões de gases estufa". Nesse sentido, eles se disseram "disponíveis para aplicação segura e transparente de recursos internacionais". Compreende- se assim que os Estados Unidos não quiseram falar em dinheiro: "concentramos nossa conversa em medidas que precisam ser tomadas para combater o desmatamento ilegal, ao invés de olhar para fluxos de financiamento".

                         A floresta amazônica é o pulmão da Terra e não se pode permitir que eventuais peralvilhos venham a abatê-la em uma sinistra operação segmentada, em que o borrão da cupidez venha a apagar esse bem da Humanidade, como se uma vez mais a estupidez e a consequente falta de visão do povo responsável a condenasse a um final lamentável, tipo Magreb, em que se abatera a floresta. Trocá-la por vã e estúpida cobiça, não é só malbaratar  uma fortuna, na verdade uma benção do passado.  É incidir em um erro que condena à pobreza uma área antes riquíssima em bens materiais, um verdadeiro patrimônio que só os estultos jogam fora, para ignomínia e eterna vergonha do próprio nome. 

                          Essa sublevação, este levantamento do povo amazônida é uma reação decerto natural, pois se trata de válida reação em defesa de enorme patrimônio, que não pode ser tratado e de  forma como que vem sendo aplicada. A origem dos chamados rios voadores, que tanto colaboram com as bacias fluviais a jusante, que felizmente encontramos no gigante Brasil, é outra função benfazeja que muito bem traz para as áreas e bacias ao sul de nosso país. O pitoresco é na verdade o inimigo do útil e do profícuo, pois ele muita vez é construído em bases falsas, que esquece o equilíbrio ecológico e a respectiva necessidade da  própria existência, dada a ínsita riqueza dessa enorme região que não pode ser lixiviada tanto pela incúria e muito menos pela ignorância, mas preservada e desenvolvida como riqueza viva que é. No entanto, sendo um dom de Deus e da natureza, essa grande área que foi conquistada pela gente portuguesa e pelos seus descendentes brasileiros não é um peso sobre a nação brasílica, mas um fundamento seguro que carece de ser fomentado e desenvolvido, em todos os seus aspectos, porque a grandeza singular da Amazônia é inigualável no mundo. Não se trata, assim,  de apenas preservá-la e protegê-la, mas de trabalhar com uma visão realmente amazônida, a que devemos tratar com todos os desvelos deste grande Brasil. Desfigurar ou retirar a Amazônia, além de impensável, representaria sobretudo o fracasso lamentável de uma visão que realmente se empenhe em integrá-la no universo Brasil.  Nenhum outro país é comparável à nossa terra, e por conseguinte a Amazônia é um grande desafio.  Tal consideração é feita em plena ciência do desafio toynbeano que aí está envolvido. De uma certa forma - e diante das ameaças com que a cegueira da atual Administração parece condená-la - o Povo brasileiro tem nesse grande espaço geográfico  não um suposto apêndice, mas uma grande região, abençoada por Deus e preservada por seu Povo! Mas os desenvolvimentos do futuro vêm mostrar a quem tem olhos e sentimento pátrio, o quanto essa parte do continente Brasil é relevante para dar-lhe, não só pujança e potencial riqueza, mas para conformar-lhe os muitos aspectos de sua grandeza e diversidade territorial. Os amazônidas e aqueles que lhes seguiram as grandes pegadas e passos já contribuem para levantar o véu respeitoso e quase hierático que se associa  a tais enormes espaços.

                         Voltemos a viver não só com a esperança, mas também com a vontade da pátria grande, a que o Destino nos proporcionou a oportunidade decerto considerável de encimar o nosso país-continente como um espaço que não deve ser desgraçado pela miséria e a incúria, mas sim desenvolvido com as vistas largas e ousadas de nossos bandeirantes e colonizadores, que, a exemplo das atuais autoridades brasileiras, não se apequenaram, deixando a outrem o encargo de uma tarefa digna e promissora. Nada mais oportuno do que, neste momento de apatia e de estultas práticas, 23 de nossos governadores, para sua memória e para o bem respectivo das terras do continente Brasil, tenham dado um passo avante, que está disposto a valer-se dos eventuais recursos do gigante do Norte, para auxiliar-nos a proteger os recursos dessa grande terra amada e gentil, de modo que o espírito de associação, de defesa e de estímulo ao progresso e ao desenvolvimento também estejam presentes, barrando com mão forte e segura as cavilosas ofertas da destruição, do desmate e da consequente miséria, aquela mesma que a milênios vem perseguindo a povos e nações que não se provam iguais aos desafios que a realidade lhes apresenta.

                         Há uma face gentil e promissora no patriotismo. Ele não renega o auxílio do estrangeiro, enquanto governo movido por boas intenções - e não há melhor do que aquela da vontade de auxiliar o pacífico povo estrangeiro que, sem baixar os olhos, e estender um prato de esmoler, mas a própria terra defende para obter ajuda na luta contra os míseros incêndios florestais, que não só a devastam, ao abrirem amplos espaços em que a morte se atreve a sufocar e a humilhar a vida, que na floresta é florescimento, esperança e um convite à exploração gentil, atilada e cuidadosa, que não quer substituir o viço das matas do Trópico, a pujante floresta, com os troços da miséria e de um porvir sem promessas de viço, esperança, dentro de uma realidade em que mãe natureza  com suas irmãs árvores possam conviver sem  o jugo das vis queimadas que com as cinzas e as deformações consequentes só trazem o duro chão do infortúnio e de um paraíso transformado  em desgrenhada visão de capões e espaços esquecidos, que na sua mísera pobreza relembram as moitas que verdejantes ou não, mal relembram os troncos e a galharia das matas cerradas que os inimigos da floresta levaram para sempre.  


( Fontes: O Estado de S. Paulo; visita  à Amazônia e mãe-natureza. )

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