Não é a primeira vez que recorro à
pena de Eliane Cantanhêde, para ilustrar passagens do cotidiano político, de
que é observadora experiente e, por
isso, traz à sua esfera de atuação uma visão que nunca deixa de ser oportuna e convincente.
Da sua coluna de hoje, 25 de fevereiro, sob o título "Ceará, caso exemplar" parecem-me
interessantes e esclarecedoras algumas de suas observações, que tomo a
liberdade de abaixo transcrever:
"se foi rápido no gatilho para falar do capitão Adriano, um dos
maiores líderes de milícias no Rio de Janeiro, morto num cerco policial na
Bahia, o presidente Jair Bolsonaro até ontem não havia dito uma só palavra
sobre os policiais militares que fazem motim no Ceará, aquartelados, armados,
encapuzados e atacando carros da própria polícia."
E logo em seguida, acrescenta:
"Pode-se pensar que Bolsonaro fala de um caso e ignora o outro em defesa
das polícias, mas não se trata disso. Se ele chamasse de "heróis" e
defendesse os policiais honestos que têm uma missão difícil, trabalham em
condições adversas e arriscam suas vidas
em prol da segurança, seria louvável. Mas o foco dele, na fala e no silêncio, é
a banda podre, que faz milícia, faz motim, comete crime militar.
"Isso é absurdo para um Presidente da República, mas condiz
com a história de Jair Bolsonaro, acusado e processado por ter planos e croquis
para bombardear quartéis militares.
Depois, conquistou mandato de deputado com votos de policiais e evangélicos e
desperdiçou 28 anos na Câmara com questões corporativistas." (...)
" O que se espera agora é
que Jair Bolsonaro entenda que, como presidente, não pode apoiar motins
militares nem movimentos que comprometam a Constituição, a ordem pública e as
já tão combalidas contas públicas. Não pode aplaudir ou fechar os olhos para os
desmandos de uma categoria específica, sabendo que o prejuízo é da sociedade
brasileira."
"No caso do Ceará, o
governo federal fez o que tinha de fazer: destacou a Força Nacional, decretou
Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e enviou os ministros da Defesa. general
Fernando Azevedo, e da Justiça, Sérgio Moro, para verificar a situação in loco. Isso, porém, visa à segurança
da população, não os PMs amotinados, que são problema do governo do PT e
mandaram o comércio fechar portas, atacaram carros da própria polícia e
atiraram no peito de um senador, em ações mais de bandido do que de policial.
"A questão tem de ser
tratada como ela é: motim militar, com os amotinados sujeitos à lei, à justiça
e às devidas penas. O presidente não pode se calar e os governos não podem
ceder à quebra da lei e negociar a anistia. Senão, o recado está dado para
todas as polícias do País, ou melhor, para a parte ruim das polícias:
"façam motim, vale a pena". A questão, portanto, é exemplar. Chantagem
por chantagem, nada é pior do que a chantagem armada, que lida com a vida e a
morte."
(Fonte:
excertos do artigo de Eliane Cantanhêde em "O Estado de S. Paulo" )
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