terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

O testemunho de E. Cantanhêde


                        
          Não é a primeira vez que recorro à pena de Eliane Cantanhêde, para ilustrar passagens do cotidiano político, de que é observadora  experiente e, por isso, traz à sua esfera de atuação uma visão que nunca deixa de ser oportuna e convincente.
           Da sua coluna de hoje, 25 de fevereiro, sob o título "Ceará, caso exemplar" parecem-me interessantes e esclarecedoras algumas de suas observações, que tomo a liberdade de abaixo transcrever:  "se foi rápido no gatilho para falar do capitão Adriano, um dos maiores líderes de milícias no Rio de Janeiro, morto num cerco policial na Bahia, o presidente Jair Bolsonaro até ontem não havia dito uma só palavra sobre os policiais militares que fazem motim no Ceará, aquartelados, armados, encapuzados e atacando carros da própria polícia."
          E logo em seguida, acrescenta: "Pode-se pensar que Bolsonaro fala de um caso e ignora o outro em defesa das polícias, mas não se trata disso. Se ele chamasse de "heróis" e defendesse os policiais honestos que têm uma missão difícil, trabalham em condições adversas e  arriscam suas vidas em prol da segurança, seria louvável. Mas o foco dele, na fala e no silêncio, é a banda podre, que faz milícia, faz motim, comete crime militar.
             "Isso é absurdo  para um Presidente da República, mas condiz com a história de Jair Bolsonaro, acusado e processado por ter planos e croquis para bombardear  quartéis militares. Depois, conquistou mandato de deputado com votos de policiais e evangélicos e desperdiçou 28 anos na Câmara com questões corporativistas." (...)
                " O que se espera agora é que Jair Bolsonaro entenda que, como presidente, não pode apoiar motins militares nem movimentos que comprometam a Constituição, a ordem pública e as já tão combalidas contas públicas. Não pode aplaudir ou fechar os olhos para os desmandos de uma categoria específica, sabendo que o prejuízo é da sociedade brasileira."
                  "No caso do Ceará, o governo federal fez o que tinha de fazer: destacou a Força Nacional, decretou Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e enviou os ministros da Defesa. general Fernando Azevedo, e da Justiça, Sérgio Moro, para verificar a situação in loco. Isso, porém, visa à segurança da população, não os PMs amotinados, que são problema do governo do PT e mandaram o comércio fechar portas, atacaram carros da própria polícia e atiraram no peito de um senador, em ações mais de bandido do que de policial.
                    "A questão tem de ser tratada como ela é: motim militar, com os amotinados sujeitos à lei, à justiça e às devidas penas. O presidente não pode se calar e os governos não podem ceder à quebra da lei e negociar a anistia. Senão, o recado está dado para todas as polícias do País, ou melhor, para a parte ruim das polícias: "façam motim, vale a pena". A questão, portanto, é exemplar. Chantagem por chantagem, nada é pior do que a chantagem armada, que lida com a vida e a morte."

(Fonte: excertos do artigo de Eliane Cantanhêde em "O Estado de S. Paulo"  )

Nenhum comentário: