Os furacões que assolam os Estados
Unidos podem ter uma contraparte sociológica.
Em tempos contemporâneos, os EUA já
sofreram verdadeiros vendavais ou
políticos ou sociológicos, que fizeram muitos estragos na sociedade americana
nos tempos que marcaram o auge desses fenômenos sócio-políticos que tanto
sofrimento causaram ao Povo americano.
Os anos cinquenta, por exemplo, se marcaram por uma fobia anticomunista
e anti-esquerdista, que foi o período do auge do fenômeno macarthista,
caracterizado pela fobia contra tudo o que pudesse ser confundido com o
comunismo, então procedente de sua meca moscovita.
Não pretendo aqui historiar essa triste fase da história
americana, em que famílias ou
personalidades eram singularizadas como 'comunistas' ou mesmo filo-russas, com
a consequente perda do respectivo emprego ou mesmo posições oficiais. É o
fenômeno do macarthismo, que partiu de um demagogo político (Joseph McCarthy),
que exerceu muito poder - o chamado poder do medo - nos Estados Unidos, no fim
da presidência de Harry Truman, e durante o mandato de Dwight Eisenhower. Houve
vários suicídios, pessoas que perderam a posição e/ou emprego. Vários artistas e roteiristas do cinema
tiveram a vida profissional destruída ou inviabilizada, muitas vezes sem culpa
formada ou então por cruel deformação das respectivas idéias, que acabavam com
reputações e até vidas por muitas acusações mentirosas do famigerado demagogo
McCarthy, então senador, e de sua coorte de leguleios, espiões e
aproveitadores.
São fenômenos estranhos, que se
proclamam ultrapatrióticos, mas que na verdade não passam de deformações e de
cínico aproveitamento de histerias políticas de uma época determinada.
Parece que, com respeitável diferença de
décadas, a sociedade americana venha
a enfrentar outro vendaval, que é o do chamado acosso sexual. Ninguém é
contra que os maníacos sexuais sejam
devidamente expostos e submetidos às medidas policiais cabíveis. O problema
estaria talvez na provocada onda de acusações, por vezes direcionadas a
políticos e pessoas atuantes nas esferas
sócio-artísticas.
Esse movimento social - que muitos atribuem às revelações da atriz
Angelina Jolie - é um fenômeno in fieri.
Não há negar a seriedade de muitas de suas acusações, tantas vezes decorrentes
de pulsões inconfessáveis de pessoas - em geral homens - que se aproveitavam da
fraqueza, alegada ou não, do sexo que para muitos ainda é tido como fraco, mas
que muitas vezes demonstra grande coragem diante de desafios a que as suas
contrapartes podem muita vez evidenciar que a sua alegada força nem sempre é
corroborada pelos fatos e circunstâncias.
De toda forma, essa reação pode
revestir atitudes contraditórias, em que o rictus
do maccarthismo não pode de todo ser jogado ao chão, como eventual modus
em que possa haver fatores médicos em jogo. O que é decerto importante é
que a veracidade não seja um fator que esteja condicionado ao aparente
imprevisível e insondável da alma humana.
A verdade é demasiado importante para que surja como um verdadeiro idolo
Moloch, pronto a triturar e a queimar quem por má-sorte, ou recôndito
sentimento, ou até por debique, mergulhe em águas em aparência sedosas, mas ao
cabo turvas e quem-sabe traiçoeiras.
O problema nesses fenômenos da sociedade americana - e, por certo
de outras sociedades - não está apenas em penalizar os elementos nocivos como a
própria polícia trata de individuar, indiciar e punir na medida do cabível das
respectivas transgressões.
O problema está e muito na histeria social e nas ondas punitivas
de supostos transgressores, que muita vez são penalizados e condenados por
antecipação. Essas alegadas catarses coletivas - seja de ordem sexual ou de
punições a supostos desvios de comportamento - devem ser encaradas e tratadas
com toda a necessária prudência, para que se evitem os exageros, a caça às
feiticeiras, as injustiças e as deformações propositais - que estão no fértil
campo do denuncismo, das aleivosias,
difamações e calúnias - que muitos sequer acreditam possam existir, habituados
que estão à boa fortuna (reservada aos afortunados e ao povo de boa
vontade). O problema é que muitas dessas
alcunhas, definições, eventuais suspicácias, e por aí afora estão em planos que
em geral escapam ao comum dos mortais.
Confiar na autoridade é uma norma sábia, mas nem sempre essas
autoridades são confiáveis, como a história, essa indefectível e por vezes
subversiva autoridade, pode chegar até a insinuar aos leitores de seus alfarrábios. Por isso, prudência e profuso caldo de
galinha será sempre aconselhável a nós, por vezes estupefactos viajantes da
estratonave brasílica.
É o que para mim semelha
oportuno e talvez conveniente dizer nessa hora para muitos relevante de nossa
Pindorama.
( Fonte: O Estado de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário