sábado, 16 de dezembro de 2017

Os Escândalos Sexuais nos EUA

                              

         Os furacões que assolam os Estados Unidos podem ter uma contraparte sociológica.  Em tempos contemporâneos,  os EUA já  sofreram verdadeiros vendavais ou políticos ou sociológicos, que fizeram muitos estragos na sociedade americana nos tempos que marcaram o auge desses fenômenos sócio-políticos que tanto sofrimento causaram ao Povo americano.
        Os anos cinquenta, por exemplo, se marcaram por uma fobia anticomunista e anti-esquerdista, que foi o período do auge do fenômeno macarthista, caracterizado pela fobia contra tudo o que pudesse ser confundido com o comunismo, então procedente de sua meca moscovita.
        Não pretendo aqui historiar essa triste fase da história americana,  em que famílias ou personalidades eram singularizadas como 'comunistas' ou mesmo filo-russas, com a consequente perda do respectivo emprego ou mesmo posições oficiais. É o fenômeno do macarthismo, que partiu de um demagogo político (Joseph McCarthy), que exerceu muito poder - o chamado poder do medo - nos Estados Unidos, no fim da presidência de Harry Truman, e durante o mandato de Dwight Eisenhower. Houve vários suicídios, pessoas que perderam a posição e/ou emprego.  Vários artistas e roteiristas do cinema tiveram a vida profissional destruída ou inviabilizada, muitas vezes sem culpa formada ou então por cruel deformação das respectivas idéias, que acabavam com reputações e até vidas por muitas acusações mentirosas do famigerado demagogo McCarthy, então senador, e de sua coorte de leguleios, espiões e aproveitadores.
          São fenômenos estranhos, que se proclamam ultrapatrióticos, mas que na verdade não passam de deformações e de cínico aproveitamento de histerias políticas de uma época determinada.
          Parece que, com respeitável diferença de décadas, a sociedade americana venha a enfrentar outro vendaval, que é o do chamado acosso sexual. Ninguém é contra  que os maníacos sexuais sejam devidamente expostos e submetidos às medidas policiais cabíveis. O problema estaria talvez na provocada onda de acusações, por vezes direcionadas a políticos e pessoas atuantes nas esferas sócio-artísticas.
            Esse movimento social - que muitos atribuem às revelações da atriz Angelina Jolie - é um fenômeno in fieri. Não há negar a seriedade de muitas de suas acusações, tantas vezes decorrentes de pulsões inconfessáveis de pessoas - em geral homens - que se aproveitavam da fraqueza, alegada ou não, do sexo que para muitos ainda é tido como fraco, mas que muitas vezes demonstra grande coragem diante de desafios a que as suas contrapartes podem muita vez evidenciar que a sua alegada força nem sempre é corroborada pelos fatos e circunstâncias.
            De toda forma, essa reação pode revestir atitudes contraditórias, em que o rictus do maccarthismo não pode de todo ser jogado ao chão, como eventual modus  em que possa haver fatores médicos em jogo. O que é decerto importante é que a veracidade não seja um fator que esteja condicionado ao aparente imprevisível e insondável da alma humana.        A verdade é demasiado importante para que surja como um verdadeiro idolo Moloch, pronto a triturar e a queimar quem por má-sorte, ou recôndito sentimento, ou até por debique, mergulhe em águas em aparência sedosas, mas ao cabo turvas e quem-sabe traiçoeiras.
            O problema nesses fenômenos da sociedade americana - e, por certo de outras sociedades - não está apenas em penalizar os elementos nocivos como a própria polícia trata de individuar, indiciar e punir na medida do cabível das respectivas transgressões.
            O problema está e muito na histeria social e nas ondas punitivas de supostos transgressores, que muita vez são penalizados e condenados por antecipação. Essas alegadas catarses coletivas - seja de ordem sexual ou de punições a supostos desvios de comportamento - devem ser encaradas e tratadas com toda a necessária prudência, para que se evitem os exageros, a caça às feiticeiras, as injustiças e as deformações propositais - que estão no fértil campo do denuncismo,  das aleivosias, difamações e calúnias - que muitos sequer acreditam possam existir, habituados que estão à boa fortuna (reservada aos afortunados e ao povo de boa vontade).  O problema é que muitas dessas alcunhas, definições, eventuais suspicácias, e por aí afora estão em planos que em geral escapam ao comum dos mortais.
              Confiar na autoridade é uma norma sábia, mas nem sempre essas autoridades são confiáveis, como a história, essa indefectível e por vezes subversiva autoridade, pode chegar até a insinuar aos leitores de seus alfarrábios.  Por isso, prudência e profuso caldo de galinha será sempre aconselhável a nós, por vezes estupefactos viajantes da estratonave brasílica.
                É o que para mim semelha oportuno e talvez conveniente dizer nessa hora para muitos relevante de nossa Pindorama.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )


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