Faz tempo já, mas o presidente Nicolás Maduro perdeu grande
oportunidade ao recusar-se, na prática, a ser afastado pelo procedimento
constitucional do recall - que recordarei,
por enésima vez, se submetera o seu protetor Hugo Chávez, e que, para sua
honra, vencera.
Tudo indica que Maduro
torna ainda mais longo e penoso esse processo, decerto exacerbado pela própria
incompetência, e a gatunice do regime.
Para quem acompanhe a involução na
economia e na política da Venezuela, será acaso difícil determinar quais são as
causas determinantes dessa magna crise naquela infeliz nação?
A inflação não era tão alta nos tempos
de Chávez, nem a crise na população atingira os atuais níveis, mas desde o
tempo do fundador do regime, ela já se agravava. Colaboraram para tal o desperdício e as
ambições hegemônicas do regime. Chávez
fazia política internacional com o sobrepreço então do petróleo, que constitui
o principal esteio da economia venezuelana.
Os lucros da monocultura
venezuelana - derivados do petróleo - ao invés de financiarem inversões na
própria indústria - se destinavam à subvenção da economia cubana (o petróleo
lhe era repassado a cotações menores daquelas vigentes na época), assim como do
processo revolucionário das esquerdas na América Latina (Nicarágua e até
Argentina), custeio de uma organização chavista, uma espécie de OEA das esquerdas), e sem dúvida outras
inversões com a mesma tônica ideológica. Compreende-se, por conseguinte, que,
na prática, o coronel Chávez bancava o futuro das próprias aspirações de
liderança da esquerda continental, sem atentar, no entanto, que o montante dos
seus recursos não eram determinados por ele, mas pelas flutuações do mercado
petrolífero, dominado por gigantes que cuidam naturalmente dos respectivos
interesses e não dos da 'revolução chavista'. Mutatis mutandis, se o comandante Chávez tivesse lido [i]Esopo e [ii]La Fontaine, talvez houvesse chegado a
soluções mais próximas da realidade latino-americana, assim como das
possibilidades da própria economia.
Nicolás Maduro, como tantos outros
herdeiros de líderes carismáticos na história universal, é o fautor principal
da triste situação de que padece o próprio povo, no caso o venezuelano. É uma
curva que, pela própria natureza,tende a cair sempre mais, para a infelicidade
de um povo que acreditou em Chávez mas já deixou há muito de ter alguma
confiança no seu sucessor.
No velho sistema de Latino América - de
que o Brasil tampouco se diferenciou no passado - Maduro tratou de cooptar Las Fuerzas Armadas para sustentar-lhe o
regime, visto que já não bastavam os instrumentos policiais para garantir-lhe a
permanência em Miraflores.
Com o píres estendido, logrou o apoio econômico, de gospodin Vladimir Putin, o atual czar de
todas as Rússias, hipotecando o solicitante Maduro na prática as rendas que lhe
advêm da monocultura de sua economia.
Mas a situação da economia
venezuelana é pavorosa, e nem mais pernil de porco, como noticiam os
jornais, ela tem condição de importar do
nosso Portugal...
Não se carece de grandes poderes
divinatórios para prever que a situação econômica venezuelana ora funciona como
o motor para a aceleração da queda desse regime nefasto, em que a corrupção, o
compadrio e a crueldade se dão as garras.
Para que se tenha idéia do caos prevalente
no 'mandato' de Nicolás Maduro - hoje despojado de qualquer base de
legitimidade - que vem sendo infligido ao infeliz Povo venezuelano - eis os
dados fornecidos pelo Observatório
Venezuelano da Violência, no passado ano: 26.616 pessoas assassinadas (89 vítimas a cada cem
mil habitantes). Dessas mortes, 16.046
são homicídios, 5.535 assassínios
por resistência à autoridade (!) e 5.035 mortes ainda sob investigação.
( Fonte: O Estado de S. Paulo )
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