Como a amizade do Presidente Trump
pelo seu ex-assessor direto, Michael
T. Flynn terá recebido a sua confissão de culpa, não é difícil de
aquilatar. Perdidas estão as ilusões de
que, de alguma forma, ele conseguiria salvar aquele que, por um tempo, foi até
considerado como viável opção para a vice-presidência da respectiva chapa.
Por estranha ironia, a vitória do seu plano de 'redução' de impostos no
Senado marcou notável progresso de sua Administração no Congresso.
Mas o brilho desta vitória se vê ensombrecido pela situação de Mr Flynn, e o que ele dirá
doravante para o Conselheiro Especial, Robert S Mueller III.
Como isso afetará o Presidente - quem não se caracteriza decerto pelo controle emocional - é uma questão cujo
valor ainda está por determinar-se.
A imagem de um raio golpeando a Casa Branca não é de todo imprópria,
sobretudo quando um tal insider, alguém
tão por dentro das ambições deste Presidente,
caia na rede de Mr Mueller. O que ocorrerá com esta presidência
passa a depender em larga medida das eventuais revelações de Mr Flynn. A imagem do perturbado Richard
Nixon, com a mente posta nas eventuais revelações de Watergate,
mormente na sua fase terminal, pode dar ideia da extra-pressão exercida já
sobre alguém que de há muito não tira boas notas na grei dos psicólogos.
Com o rápido e inesperado desenvolvimento no front da ameaça da
investigação do conselheiro
especial Robert Mueller, o laborioso trabalho dos auxiliares diretos
do Presidente de mantê-lo nos limites do controle emocional se vê diante de um perigo imprevisto e, por
isso, de mais difícil contenção. A
criação otimista, quase faz-de-conta, do seu advogado Ty Cobb, da Casa Branca, terá
convencido o Presidente de que a investigação de Mr Mueller terminaria pelo fim
do ano. Por isso, Trump foi persuadido a entregar os documentos requeridos por
Mueller, no pressuposto que tudo daria em nada.
Com a admissão de culpa do ex-assessor
direto Michael Flynn, o filme água com
açúcar que o seu círculo próximo lhe impingira, com o final
correspondente, subitamente tem o
roteiro mudado, e se entra aos trambolhões em um roteiro ainda não escrito,
mas que não parece pressagiar nada de bom.
A hoje incômoda
cercania de Michael T. Flynn já foi de
grande serventia para Donald J. Trump,
quando o seu então mais próximo assessor fizera discurso no Comitê Nacional
Republicano, em que atacara Hillary
Clinton, a candidata rival democrata, e levou a multidão do GOP ao odiento canto de "Lock her up" (vamos metê-la na cadeia). Como sublinha o artigo do Times, a ironia desta frase não escapou
a ninguém na capital, nesta sexta feira,
primeiro de dezembro de dois mil e dezessete.
Pode ser até que o velho ditado - não deseje muito uma coisa, que ela pode acontecer... - venha, mais cedo do que se pensa, a realizar-se, só que não exatamente como a
imaginaram os republicanos de velha cepa.
( Fonte:
The New York Times )
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