sábado, 2 de dezembro de 2017

Quantos Flynn levará na queda?

                     
       Como a amizade do Presidente Trump pelo seu ex-assessor direto,  Michael T. Flynn terá recebido a sua confissão de culpa, não é difícil de aquilatar.  Perdidas estão as ilusões de que, de alguma forma, ele conseguiria salvar aquele que, por um tempo, foi até considerado como viável opção para a vice-presidência da respectiva chapa.
      Por estranha ironia, a vitória do seu plano de 'redução' de impostos no Senado marcou notável progresso de sua Administração no Congresso.
      Mas o brilho desta vitória se vê ensombrecido  pela situação de Mr Flynn, e o que ele dirá doravante para o Conselheiro Especial, Robert S Mueller III.
      Como isso afetará o Presidente - quem não se caracteriza decerto  pelo controle emocional - é uma questão cujo valor ainda está por determinar-se.
      A imagem de um raio golpeando a Casa Branca não é de todo imprópria, sobretudo quando um tal insider, alguém tão por dentro das ambições deste Presidente,  caia na rede de Mr Mueller. O que ocorrerá com esta presidência passa a depender em larga medida das eventuais revelações  de Mr Flynn. A imagem do perturbado Richard Nixon, com a mente posta nas eventuais revelações  de Watergate, mormente na sua fase terminal, pode dar ideia da extra-pressão exercida já sobre alguém que de há muito não tira boas notas na grei dos psicólogos.
        Com o rápido e inesperado desenvolvimento no front  da ameaça da investigação  do conselheiro especial  Robert Mueller,  o laborioso trabalho dos auxiliares diretos do Presidente de mantê-lo nos limites do controle emocional  se vê diante de um perigo imprevisto e, por isso, de mais difícil contenção.  A criação otimista, quase faz-de-conta, do seu advogado Ty Cobb, da Casa Branca, terá convencido o Presidente de que a investigação de Mr Mueller terminaria pelo fim do ano. Por isso, Trump foi persuadido a entregar os documentos requeridos por Mueller, no pressuposto que tudo daria em nada.
           Com a admissão de culpa do ex-assessor direto Michael Flynn, o filme água com açúcar que o seu círculo próximo lhe impingira, com o final correspondente,  subitamente tem o roteiro mudado, e se entra aos trambolhões em um roteiro ainda não escrito, mas que não parece pressagiar nada de bom.
           A hoje incômoda cercania de Michael  T. Flynn já foi de grande serventia para Donald J. Trump,  quando o seu então mais próximo assessor fizera discurso no Comitê Nacional Republicano, em que atacara Hillary Clinton, a candidata rival democrata, e levou a multidão do GOP ao odiento canto de "Lock her up" (vamos metê-la na cadeia). Como sublinha o artigo do Times, a ironia desta frase não escapou a ninguém  na capital, nesta sexta feira, primeiro de dezembro de dois mil e dezessete.
            Pode ser até que o velho ditado - não deseje muito uma coisa, que ela pode acontecer...  - venha, mais cedo do que se pensa,  a realizar-se, só que não exatamente como a imaginaram os republicanos de velha cepa.


( Fonte:  The New York Times )

Nenhum comentário: