Um executivo do mundo das grandes
empresas do petróleo, pelo que indicam
as suas atitudes com relação à diplomacia e em especial aos diplomatas, Rex Tillerson traz para o Departamento
de Estado tanto a delicadeza, quanto a
sensibilidade de seu patrão, Donald Trump...
A ironia chega a ser pesada nos
traços, mas veraz na sua aplicação prática e, em especial, no resultado
desastroso que a sua direção está trazendo para o mundo da diplomacia, e em particular
para esse instrumento de grande relevância para a Superpotência, que é o State Department (Departamento de Estado).
Esta escolha de Trump frisa outrossim
a radical diferença da presença de sua adversária nas Relações Exteriores por
longo tempo e grande êxito, com atuação marcante e comprovada liderança no
mundo da política externa.
Tillerson, ao invés do êxito de
Hillary Clinton, tem sido um desastre em Foggy
Bottom, que é uma das designações do State Department.
Façamos um pequeno resumo de o que
este senhor tem feito para as relações exteriores da Superpotência. Ele já foi
desautorizado em público pelo Presidente,
é criticado por parlamentares republicanos e democratas, sendo encarado pelo corpo diplomático
americano como um outsider (estranho)
ao mundo da diplomacia, a que se increpa haver provocado, por falta de
sensibilidade e de ignorância diplomática
danos irresparáveis à capacidade
dos Estados Unidos de exercerem a própria liderança no mundo.
Em novembro, diplomata com uma promissora
carreira renunciou, sob o argumento de que a Administração abandonara a
promoção da democracia e direitos humanos, cedendo lugar ao Pentágono
(Departamento da Defesa) na elaboração da política externa. Trata-se de Elizabeth Shackelford, que ingressara
no Departamento em 2010, e servia em Nairobi. Dali, a sua atuação se estendia à Somália, hoje um país sem
governo e onde atuam diversos movimentos revolucionários, como a al-Qaida, que atacam países vizinhos
como o Quênia, além de fomentarem a pirataria (que em geral existe onde não há governo
forte estabelecido).
A renunciante Shackelford em
carta publicada pela revista Foreign
Policy, criticou o corte de pessoal promovido por Rex Tillerson e o vê como
desrespeito do governo Trump à diplomacia. Para ela, "o Departamento de
Estado vai resistir e superar esse período de marginalização, mas as
consequências afetarão nossa liderança global e nosso status no exterior por muitos anos".
Peter Hakim, presidente
emérito do Diálogo Interamericano, disse que há "certo vazio" no
Departamento de Estado e falta de consistência na política externa. "O
governo invoca direitos humanos e democracia nos casos de Cuba e da Venezuela,
mas não para o restante da região." (*)
Na sua avaliação, Tillerson perdeu a credibilidade e se transformou em
alvo de parlamentares de ambos os partidos, insatisfeitos com a
"reestruturação" do Departamento de Estado promovida pelo novo
Secretário.
Por sua vez, em carta enviada ao Secretário
de Estado no mês passado, os Senadores John McCain (republicano) e Jeanne Shaheen (democrata) ressaltaram
que o Congresso ainda não foi consultado sobre o plano de Tillerson, um ex-CEO
da Exxon Mobil. McCain é um desafeto de Trump.
Este último lhe dirigira uma ofensa grosseira, pelo fato de ter sido
prisioneiro do viet-cong (resta notar
que Trump escapou de todo tipo de
serviço militar). Os dois senadores na sua correspondência dizem: "O poder
diplomático dos EUA está sendo enfraquecido internamente, enquanto crises
globais complexas crescem externamente".
Há polêmica quanto aos
efeitos da redução generalizada de funcionários. Para o Departamento de Estado o objetivo de seu
chefe é tornar o órgão "mais eficiente" e "mais efetivo".
Embora a redução nos números totais - hoje em 74.880 e em 2016 75.231 - não
apresente grandes diferenças, sem embargo as estatísticas confirmam a redução
em posições de comando já apontada pela Associação do Serviço Exterior
Americano.
(*)Hakim talvez seja emérito já por muitos anos. Comparar Cuba e
Venezuela ao restante da América Latina, dá idéia das defasadas
coordenadas que utiliza.
( Fonte: O Estado de S.
Paulo )
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