sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Cármen Lúcia intervém

                                   

       A presidente do Supremo, Ministra Cármen Lúcia, concedeu ontem liminar para suspender os trechos do decreto do Presidente Michel Temer com regras mais brandas para a concessão do indulto de Natal a presos condenados.
       Foi a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, quem apresentou o recurso contra o decreto.
       Na decisão, em tom severo, Cármen Lúcia afirmou que as regras do decreto "dão concretude à situação de impunidade, em especial aos denominados 'crimes de colarinho branco', desguarnecendo o erário e a sociedade de providências legais voltadas a coibir a atuação deletéria de sujeitos descompromissados com valores éticos e com o interesse público garantidores  pela integridade do sistema jurídico."  Para Cármen Lúcia, "as circunstâncias que conduziram à edição do decreto, numa primeira análise, demonstram desvio de finalidade."
       Conforme a Ministra, o indulto é uma medida humanitária, e não pode "ser instrumento de impunidade". Ainda segundo Cármen Lúcia, pelo indulto, o criminoso ganha uma nova chance de superar o seu erro. "Indulto não é prêmio ao criminoso, nem tolerância ao crime", afirmou a presidente do STF, acrescentando que indulto fora da finalidade estabelecida na lei "é arbítrio".
        A ação foi sorteada para a relatoria do ministro Luís Roberto Barroso, que poderá liberar o caso para julgamento em plenário a partir de fevereiro, quando terminar o recesso do STF.
         Responsável pela Lava Jato em Curitiba, o juiz Sérgio Moro elogiou a decisão da presidente do Supremo.
         Na cobertura de O Globo, há palavras de especialistas. 

         Visão de Marco Antonio Teixeira, cientista político e professor da  FGV-SP.
      
       "Houve uma sucessão de erros com esse decreto que amplia as possibilidades de um preso condenado conseguir indulto. Politicamente, um governo que tem ministros pendurados no foro privilegiado e teve outros integrantes que caíram por causa de denúncias não deveria tratar de um tema como esse.(...) Para a imagem do governo, foi um absurdo esse episódio, apesar de a Constituição dar amparo para o Presidente fazer isso. Por outro lado, houve erro porque a decisão do Supremo Tribunal Federal significa interferência no Executivo. São dois erros que mostram a crise institucional que a gente vive.  O decreto por si só é um absurdo. Foi uma derrota porque o governo se desgastou à toa ao se expor negativamente num momento ruim com o resultado do desemprego divulgado nesta sema- na, que foi uma ducha de água fria. O governo poderia ter passado sem essa."       

           Visão de Gustavo Badaró, professor da faculdade de Direito da USP:

            "Do ponto de vista técnico, a decisão está correta. Se a ministra não suspendesse o decreto e, no futuro, o Supremo Tribunal Federal declarasse o texto inconstitucional, haveria o risco de que nesse meio tempo presos fossem beneficiados com base no decreto de Temer. E esse benefício não poderia ser revertido.  Por outro lado, o presidente tem a prerrogativa constitucional de conceder o indulto aos réus condenados. Em regra, toda a vez que a Constituição confere  um poder ao presidente, ele pode usar. Pode usar bem ou usar mal, e não haverá ilegalidade. Existem críticas contra o decreto por parte do Ministério Público e da Operação Lava Jato. Mas o fato de esse indulto ser mais amplo, significa que é um abuso? Eu acho complicado o Poder Judiciário se intrometer num ato discricionário do presidente da República. Isso é fruto de uma judicialização de tudo o que acontece no país. Esse debate saíu do palco político para ter como atores e protagonistas  quem não tem esse poder. É bom lembrar, porém, que em matéria de constitucionalidade, muitas vezes o STF  tem que assumir um papel contra-majoritário.  O termômetro para a decisão final do Supremo não pode ser agradar a voz das ruas".


( Fonte:  O  Globo )

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