domingo, 22 de abril de 2018

A aliança entre Putin e Maduro


                                                

         O povo venezuelano já sabe o que esperar de Maduro. A situação em que se acha esse país fala por si. Quanto a Putin, ter-se-á presente a visita que, no ano passado, Nicolás Maduro, à cata de divisas, fez a este poderoso senhor de todas as Rússias.
           Ambos os países têm no petróleo o principal sustentáculo das respectivas economias. Pelas características da situação econômico-financeira da Venezuela, aí decerto se detêm as semelhanças entre essas duas economias.
           Enquanto a Venezuela é uma potência petrolífera à deriva, consumida pela hiper-inflação criada pela conjunta incompetência de Hugo Chávez e  de Nicolás Maduro, a par de ambições que extravasaram a potencialidade de sua economia, em mistura de insana ambição, de gastos perdulários, tomando o boom do petróleo como se fora eterno - e aí está decerto a grande responsabilidade de Chávez, com seus planos de grandeza hemisférica,  fundadas em um sobre-preço do petróleo que refletia uma situação passageira e foi tratado como se permanente fora - a que se segue, no começo da presente década, a assunção do herdeiro Maduro,  e a involução na bolha do petróleo, cuja alta passa à baixa, por mais interessar aos planos da Arábia Saudita, peso pesado em termos de ouro negro, que tinha e tem outras visões quanto ao mercado da OPEP e suas utilizações macro-financeiras.
              A situação em que hoje se acha a economia da pátria de Simón Bolívar não pode ser comparada obviamente à Federação Russa.  No entanto, porque Maduro está montado em país que pela qualidade de seu petróleo e de sua quantidade tinha condições de ter presença em nível médio na liga do ouro negro.  Este 'tinha', no entanto, não é erro de revisor. Pela incompetência de seu protetor, e pela própria, que é ainda maior, Maduro muito tem contribuído, pela própria direção ruinosa da economia, para o desbaratamento da situação venezuelana.
               Ele contribuíu igualmente - como o próprio Chávez - para a crise na PDVSA, que ambos trataram mal, não só por conta da dilapidação dos fundos da companhia, mas também retirando pessoal qualificado - em todos os níveis - da gestão da Petróleos de Venezuela, em decisão em que ambos conjugaram a estupidez com a irresponsabilidade, como se sindicalistas inexperientes pudessem tornar-se em técnicos e gerentes de confiança. 
                A irresponsabilidade foi tamanha que tanto Chávez (sobretudo por desatenção, resultante da respectiva megalomania, que ao parecer não tinha tempo para detalhes mofinos), quanto Maduro (este por incompetência ainda mais sólida, além de mediocridade mais firme) conseguiram  o quase impossível: transformar a PDVSA, montada em um dos melhores petróleos do planeta, na hodierna empresa claudicante, com graves problemas de maquinária e etc., sem falar das exigências que Chávez lhe colocou no plano político e que o limitado Maduro tratou de tornar ainda menos lucrativa, no que logrou uma ajuda da PDVSA através de um mecanismo que por razões político-sindicais  se comprovaria ainda mais precário, e por conseguinte com dano adicional para o país que pelo caos na economia se tornara ainda mais dependente dos poços de petróleo.
                   A situação venezuelana se agravou tanto, ao passo que as antigas prestações técnicas da PDVSA também se foram adequando ao panorama do governo de Nicolás Maduro, e será por isso que agora vemos para onde vão os interesses do governo Maduro, ora  voltados para o nível por assim dizer micro das maracutaias e roubalheiras.
                     Pela obra da professora americana Karen Dawisha - A Cleptocracia de Putin - de que me tenho valido, na medida em que nos fornece os parâmetros da atuação desse líder de um país que parece empreender a sua volta na cena internacional, depois do descalabro da União Soviética - se dispõe de boas indicações a respeitos dos maus processos de governo  de gospodin Vladimir Putin. Quanto a esse senhor Maduro, que uma vez mais mostra o quão ineptos podem ser os líderes políticos quando apontam os respectivos herdeiros, como foi o caso do declinante Hugo Chávez Frias, tudo indica que o futuro reserva para o petróleo da Venezuela - antes chamado pela alta qualidade de ´champagne´- uma participação colateral crescente, em que o ouro negro mais apareça como fautor de lavagem de dinheiro e outras maracutaias do gênero.

( Fontes:  O Estado de S. Paulo; Putin´s Kleptocracy, Karen Dawisha  )

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