O assassínio da vereadora
Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes traumatizou o Rio. Ainda
não se sabe quem mandou matar, pois não há duvida que foi um crime
comissionado. Suspeita-se, no entanto, e muito, das milícias, porque no conturbado
panorama da antiga Cidade Maravilhosa, elas estariam em alta.
Dadas as circunstâncias (apagaram o alvo
principal), e por ser crime notoriamente político - que provocou no povo
carioca reação de tal magnitude que, certamente, quem mandou e quem realiza esse
crime não imaginou fosse ocorrer.
Estamos diante de um magnicídio. Há
tantas mortes na Cidade Maravilhosa que não foi possível para os bandidos (e
muito menos seus mandantes) imaginar que
a reação a mais este crime provocaria tal comoção, que logo se mostrou nas
multidões que saíram às ruas para pranteá-la.
Tangidos pelo clamor das gentes, não serão
só as polícias que ficarão nervosas, pois todo o aparato da chamada sociedade
civil, que sente a raiva da gente miúda, diante da enormidade e a audácia do
crime, se vê ou se imagina espicaçado pela cobrança do Povo.
Convenhamos que essa cobrança costuma
ser rara e até mesmo fraca. Mas há casos em que a insolência do Crime, embalada por
tantas mortes que passam em branca nuvem,
pensa que terá o nojo do dia seguinte e o esquecimento em seguida.
Erraram a mão. Se as pesquisas começam, se o trabalho de montar as peças do maldito
quebra-cabeças por vezes é maior do que o previsto, a raiva da sociedade e das gentes continua a
ferver, naquela reação que se aprofunda e se entranha.
Tanto políticos, quantos supostos responsáveis
por desvendar o mistério ficam nervosos, e por vezes prometem o que não podem
realizar.
Como conseguir? Serão mesmo as milícias?
O que dizem as impressões - ou o que resta delas - das mãos do assassino de
aluguel?
E as autoridades, quem sabe tangidas
pela pressão da opinião pública, falam.
Mas aí quem deve falar é a linguagem
dos autos do processo, e não as manchetes dos jornais.
O subdesenvolvimento já é o resultado
de muitos crimes, a maior parte deles por negligência e incapacidade. Então se diz o que não se deve, porque a
gente quer saber e pode por isso aceitar palpites e até mesmo mentiras.
Se o Povo não se engana, e a sombra de
Marielle é ainda maior do que ela própria em vida, quem poderá esquecer Inês de
Castro, aquela que depois de morta foi rainha?
(
Fontes: Luiz de Camões, André Filho )
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