segunda-feira, 16 de abril de 2018

Notícias da Suave Rússia


                                    

         A existência de um jornalista investigativo, em especial aqueles que trabalham como free lancers (livre atiradores) não costuma ser fácil em lugar algum do planeta, mas há de imaginar-se que o quadro de sua atuação de tornar-se-á  bastante mais arriscado, se nosso herói trabalhar em país com muita corrupção. Não, apesar das aparências, essa coluna - como o título indica - não será sobre o  Brasil.
         O jornalista Maxim Borodin tinha por hábito atuar sem a cobertura de um grande jornal na sua cidade. Ele vivia e atuava em Yekaterinburg (em português Ecaterinburgo, a quarta cidade em termos demográficos na Federação Russa, com cerca de um milhão e quatrocentos mil habitantes) que se situa na região oriental dos Montes Urais, os quais separam a Rússia europeia da asiática.
        Com trinta e dois anos de idade, Borodin era respeitado por seus colegas, pela seriedade e a coragem de seu trabalho, até ser descoberto na última quarta-feira, desacordado, no piso do pátio do prédio em que morava.  Levado para o hospital, lá ficou dois dias até a própria morte.  A polícia considerou como "acidente" o seu falecimento, mas os seus amigos desconfiam. Apesar de que não haja sinais de violência ou de arrombamento da porta do apartamento, muitos jornalistas acham bastante suspeito o 'suicídio' de seu colega de trabalho.
          Nos seus últimos dias de vida antes de ser encontrado em coma no pátio do prédio  onde morava, Borodin que tinha trinta e dois anos temia sofrer um raid policial.  Essa inquietude tinha fundamentos em que trabalhava no submundo do crime. Além disso, ele se distinguira recentemente pela descoberta de esquadrões fantasmas que eram mandados secretamente para atuar na Síria, dado o estreitamento das relações entre o Kremlin e o governo de Bashar al-Assad.  O que tornava a notícia mais quente era a circunstância de que as mortes desses "voluntários russos" não eram divulgadas pela imprensa da região.
            Além disso, pouco antes do misterioso atentado que sofrera, ao ter provavelmente a residência invadida e sido jogado no pátio do edifício, ele fora golpeado na cabeça por alguém, provavelmente da direita ortodoxa russa, com um cano de cobre.  Essa agressão teria sido causada pelas suas reportagens sobre o filme Matilda, considerado blasfemo pela direita ortodoxa.  Trata-se do alegado romance entre o Tzar Nicolau II e jovem bailarina, que dá o nome para a película. O tema do filme revoltou os religiosos ortodoxos, o  que teria levado à agressão com o cano de cobre acima mencionada. É de notar-se que, pelo seu martirio, o Tzar fora canonizado santo pela religião ortodoxa, e daí a revolta - coberta pelo reporter  Borodin - diante do filme com o caso supracitado.

( Fonte: The Independent )   

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