Há dois anos, cerca de 120 venezuelanos morreram em
protestos oposicionistas. Eram pela saída de Nicolás Maduro, mas ele se manteve
no poder. As manifestações atuais ocorrem em outro contexto. Assim, os apoios
internacionais não mais estão divididos de igual modo, além da situação
econômica ter piorado bastante. Os
líderes oposicionistas não são os mesmos, nem sua estratégia - ontem se
dedicaram, v.g., a distribuir uma lei de anistia nos quarteis.
Em 2017, os protestos populares
começaram de forma repentina, após uma incrível sentença do Tribunal Supremo de
Justiça, que tornava nula a imunidade dos deputados da Assembleia Nacional, em
que a Oposição é maioria. Já em 2019, são fruto
de uma estratégia gestada há mais tempo.
Em função das
"negociações" na República Dominicana surgiu a oportunidade para
Maduro convocar eleições. Com o esbulho
da Constituinte dos Bairros,
convocada por Maduro, e eleita em processo fraudulento, a Ditadura obteve o
apoio de que carecia, ainda que por um processo acintosamente em desrespeito
à vontade popular (a própria entidade suiça encarregada de montar a tal
Constituinte denunciou-lhe o caráter, com a manipulação de votos em favor do
Governo)
Existe um manifesto, óbvio fastio
com o ditador Maduro. "São os mesmos partidos, mas parte do Povo queria
uma nova liderança, gente jovem que dissesse 'chega!'. Estamos todos
apoiando o Presidente, diz Yosbelys Noriega, aludindo a Juan Guaidó, de 35 anos. Ele prestou juramento como presidente em
exercício nesta 4ª feira, em função do art. 233 da Constituição (que reza que o
presidente da Assembleia Legislativa (Guaidó) pode ocupar a presidência da
república, ante a ausência total do Executivo).
Nos hospitais, não há nada. Segundo Yosbelys,
que trabalha na área de saúde: "não há insumos e temos de atender os
pacientes sem lhes oferecer nada (sic)
Mas isso é outra coisa que mudou: o povo despertou, perdeu o medo, e ante o
abismo aberto pelo regime, escolheu a esperança."
Por sua vez, por conta da
hiper-inflação, o salário mínimo não dá
para comprar nem um um quilo e meio de queijo. Segundo o FMI, em 2019 a inflação pode chegar a 10.000.000%
Caíu bastante, por outro lado, o
apoio externo a Maduro. O Grupo de Lima, EUA e União Europeia não reconheceram
o resultado das eleições de 2018. Também partidos de oposição mais contundente
vem recebendo mais apoio - como Vontade Popular e Vinte Venezuela, partidos de
Leopoldo López e Maria Corina Machado, que é considerada a ala oposicionista
mais radical. Diante da situação, eles
exigem a rendição incondicional.
A par disso, o apoio externo a
Maduro dissipou-se, sobretudo na América Latina : "No Brasil, Lula está na cadeia, e Bolsonaro chegou ao poder. Há uma mudança ideológica,
de resto previsível, na América Latina. O que facilita - no entender da
analista política Aimée Nogal :" muito a penetração de
algumas políticas dos EUA, que deixaram de lado o soft power."
Essa visão semelha, no entanto, ultra-simplista,
na medida em que ignora dois poderes totalitários, a Rússia, de Vladimir
Putin (que está bancando com armamento pesado, inclusive aviões bombardeios,
e com estranho escambo de veios de petróleo da PDVSA como créditos de milhões
de dólares) e também a República Popular da China de Xi Jinping, com apoio econômico e
financeiro, em troca também do petróleo de ótima qualidade de uma Venezuela em
péssimas condições econômico-financeiras.
(
Fontes: O Estado de S. Paulo e a
imprensa internacional, referida oportunamente pelo blog)
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