Os
dois calamitosos desastres da Vale do Rio Doce
se situam em um espaço de pouco mais de três anos.O primeiro, em Mariana,
se originara de um sinistro de ruptura da barragem da "Samarco", que
é um nome composto da Vale e de companhia australiana. O segundo ocorreu em
Brumadinho, pequena cidade de Minas Gerais, e parece diferir do anterior em que
os rejeitos transbordaram da barragem.
Um
visitante a essas duas calamidades, feitas de 'rejeitos' de material da mineração, i.e. de terra e de pedras, que o tempo vai transformando em lama, muita
lama, colheria a incômoda impressão de
que cada desastre será filho da mesma displicência, da mesma destinação dos
rejeitos para barragens que aparecem cada vez mais precárias, tornando-se a
jusante um risco não-negligenciável para os infelizes que moram em casebres ou
casinholas, demasiado próximos dos trabalhos de mineração da Vale e de suas eventuais
sócias.
A
primeira fatalidade, além do alarme por chamada telefônica (as sirenes são tão
caras assim para as mineradoras?), os horrores foram compostos por um vilarejo
próximo, que seria levado de roldão por mais uma barragem que
"infelizmente" não aguentara a má-sorte. Houve silêncio das
mineradoras, enquanto a palavra estava com a Samarco - não passava de uma
presta-nome. Desta feita, acorreu à rede televisora o diretor-geral da Rio
Doce, que lamentou o ocorrido, e disse do empenho da companhia em limitar os
danos.
Não obstante os três anos que transcorreram, e se a comunidade ameaçada
é avisada não mais por linhas telefônicas,
a sensação de risco continua bastante forte. Até ontem à noite, havia sete mortos e uma interrogação quanto a
cento e cinquenta desaparecidos (foi soterrado o refeitório em que funcionários
da companhia almoçavam na hora do sinistro).
Que barragens são essas que se transformam em mares de lama, matando e
devastando tudo que está a jusante, e sempre na bacia do Rio Doce? Por que a
precariedade é a norma que parece caracterizar essas barragens, feitas para
armazenar o entulho dos trabalhos da mineradora - e esse entulho serão pedras e
terra, muita terra oriunda da mineração, amontoada em barragens que semelham
precárias pelas vezes em que se rompem, avançando a jusante como lençóis de
lama, e de novo surgem com potencial de inviabilizar corrente abaixo a bacia do
rio Doce? Será que a tragédia ambiental
da Samarco vai metastizar-se em outro desastre a caminho do estuário desse
grande rio, que sói trazer riquezas e não a lama das mineradoras?
E diante dessa insistência em sinistros, ao invés de culpar a sorte
madrasta, dobrar mangas e lançar bases de uma política séria de prevenção de
sinistros, feitas com barragens construídas com material mais resistente, do
que esses frágeis anteparos às insidias pluviométricas, fazendo com que as laboriosas mineradoras,
com a Vale do Rio Doce à frente, ao invés de serem vistas como flagelos da
região, venham a preservar esse vale que
lhe dá o nome, através de barragens mais seguras - e não de terra mas de cimento - com
vistorias mais frequentes e mais sérias, em que as vidas das comunidades à
jusante mereçam um preço mais apropriado, voltado para a preservação, na medida
do possível do entorno ambiente, pois as lamúrias e lamentos com o infortúnio e os chamados desastres naturais, nada os faz desaparecer com maior rapidez do
que as estruturas das barragens devidamente preservadas e inspecionadas
regularmente, pois a má-sorte e a
chamada desgraça só visitam os trabalhos mal-feitos e os depósitos mal-cuidados.
( Fontes: O Estado de S. Paulo, Rede Globo )
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