quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Ainda a reunião Putin - Maduro


                                        
          A foto parece, a princípio,  cópia de encontro anterior, mas reflete realidade hodierna. Diante de reação americana do secretário de Estado Mike Pompeo, que tenta apresentar, como pouco sério o encontro entre Putin e Maduro,  a foto do venezuelano e do russo nos remete à incômoda mas muito presente realidade,  e que decerto não será dissipada por declarações do gênero de Pompeo.
           Diante de um Putin seguro de si, ouvindo exposição de Maduro, que semelha menos afirmado, com os pés juntos na postura do pedinte, essa união russo-venezuelana configura realidade incômoda, e máxime para a Superpotência.
           Se é prematuro atribuir a Moscou o retorno a papel de superpotência, como nos tempos da URSS, não há dúvida que gospodin Putin se empenha em tal sentido. Que ele vá consegui-lo, ou não, é outra estória.
            Na matéria do Washington Post, transcrita pelo Estadão, especula-se que a custa de modestos empréstimos e resgates, o governo Putin dispõe agora  de partes significativas  de cinco campos de petróleo na Venezuela, além de trinta anos (!) de produção futura de dois campos de gás natural no Caribe.
             Com as notórias dificuldades financeiras de um país combalido pela hiper-inflação e o desgoverno, o governo Maduro também transferiu  na prática a metade da Citgo de sua subsidiária estadunidense - que inclui refinarias e oleodutos - como garantia para a estatal russa Rosneft, por US$ 1,5 bilhão em dinheiro vivo.
               Nesse contexto, assessores russos  já trabalham dentro do governo chavista, alegadamente para ajudar o regime a sair da falência. Nesse sentido, eles ajudaram a planejar no correr de 2018 a introduzir uma criptomoeda, o "petro", para manter os pagamentos do petróleo, evitando sanções estadunidenses sobre as transações em US$. Como inexistem soluções viáveis, fora da prática usual, de tirar a Venezuela do terreno em que se meteu, existem também muitas restrições práticas ao emprego dessa nova "moeda", que só é mágica na imprensa.
                A Venezuela disporia ainda de força operacional de defesa, que agora estaria equipada com armas, tanques e aviões russos, que são financiados com envio de petróleo pré-pago a clientes na Rússia. Sob Putin, a Federação Russa voltou a ser ator de importância  no Oriente Médio, fornecedor global de armas cada vez mais sofisticadas. Aproveitando-se da situação da economia venezuelana,  Putin vem enfrentando em certos campos os Estados Unidos e intenta acercar-se da antiga posição rival da URSS, enquanto busca em casa promover-se como o homem que está devolvendo à Russia o status de superpotência, perdido com a implosão sob Gorbachev da antiga URSS.
                   Tudo isso carece de ser contextualizado, porque há aspectos muito diversos na comparação entre URSS e Federação Russa. Após  1992,  desapareceu com a relativa pulverização da antiga URSS a condição do restabelecimento mágico da antiga rival dos EUA. Além da defecção da antiga Europa socialista, e da independização das antígas repúblicas asiáticas, a Rússia encolheu a parâmetros bem mais modestos (o que decerto inclui os recursos naturais de que possa servir-se). Ela pode tentar aplicar à Ucrânia uma política de acosso - inclusive com a anexação da Criméia - de que escapou de maiores consequências, fora as sanções aplicadas por Barack Obama, que até hoje persistem - mas prossegue em uma política de acosso do estrangeiro-próximo, notadamente de países maiores, como a Ucrânia, de que ela intenta evitar de toda maneira a sua inclusão na Comunidade Europeia.
                    Moscou ainda representa uma potência econômica e militar (máxime pelo arsenal nuclear da antiga URSS, conservado em grande parte), mas não mais dispõe da base econômica da antiga superpotência rival,e para tanto não há malabarismo diplomático que logre disfarçá-lo.
                    Se reteve poderes formais da antiga URSS, como a posição no Conselho de Segurança das N.U.,  não mais possui no seu hinterland os recursos materiais e mine-rais, de que dispunha a União Soviética. Tampouco economicamente o seu estado pode ser  comparado àquele de sua antecessora.  E é esta base que lhe falta - malgrado a ausência de uma Europa com condições mais afirmativas, em termos militares - que torna uma confrontação com os Estados Unidos mais problemática, embora vivamos na época termonuclear, o que tende a equiparar nesse aspecto - pelo equilíbrio do terror - as forças relativas.
                      Tampouco é aqui o espaço para ocupar-me da política errática de Trump, seus acenos ao amigo Putin (o que é obviamente insustentável em termos políticos americanos), mas nada como as limitações fáticas para determinar os limites dos arroubos mussolinianos da politica de grande potência de Putin, que intenta apresentar-se como se fora o Senhor de todas as Rússias, cousa que gospodin Putin nunca foi e nem tem elementos  de ser no futuro, a menos que as condições fáticas atuais sejam radicalmente mudadas.             

( Fontes:  Washington Post e Estado de S. Paulo )

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