A
foto parece, a princípio, cópia de
encontro anterior, mas reflete realidade hodierna. Diante de reação americana
do secretário de Estado Mike Pompeo, que tenta apresentar, como pouco sério o
encontro entre Putin e Maduro, a foto do
venezuelano e do russo nos remete à incômoda mas muito presente realidade, e que decerto não será dissipada por
declarações do gênero de Pompeo.
Diante de um Putin seguro de si, ouvindo exposição de Maduro, que
semelha menos afirmado, com os pés juntos na postura do pedinte, essa união
russo-venezuelana configura realidade incômoda, e máxime para a Superpotência.
Se
é prematuro atribuir a Moscou o retorno a papel de superpotência, como nos
tempos da URSS, não há dúvida que gospodin
Putin se empenha em tal sentido. Que ele vá consegui-lo, ou não, é outra
estória.
Na
matéria do Washington Post,
transcrita pelo Estadão, especula-se que a custa de modestos empréstimos e
resgates, o governo Putin dispõe agora
de partes significativas de
cinco campos de petróleo na Venezuela, além de trinta anos (!) de produção
futura de dois campos de gás natural no Caribe.
Com
as notórias dificuldades financeiras de um país combalido pela hiper-inflação e
o desgoverno, o governo Maduro também transferiu na prática a metade da Citgo de sua
subsidiária estadunidense - que inclui refinarias e oleodutos - como garantia
para a estatal russa Rosneft, por US$ 1,5 bilhão em dinheiro vivo.
Nesse contexto, assessores russos
já trabalham dentro do governo chavista, alegadamente para ajudar o
regime a sair da falência. Nesse sentido, eles ajudaram a planejar no correr de
2018 a introduzir uma criptomoeda, o "petro", para manter os
pagamentos do petróleo, evitando sanções estadunidenses sobre as transações em
US$. Como inexistem soluções viáveis, fora da prática usual, de tirar a
Venezuela do terreno em que se meteu, existem também muitas restrições práticas
ao emprego dessa nova "moeda", que só é mágica na imprensa.
A Venezuela disporia ainda de força operacional de defesa, que agora estaria
equipada com armas, tanques e aviões russos, que são financiados com envio de
petróleo pré-pago a clientes na Rússia. Sob Putin, a Federação Russa voltou a
ser ator de importância no Oriente
Médio, fornecedor global de armas cada vez mais sofisticadas. Aproveitando-se
da situação da economia venezuelana,
Putin vem enfrentando em certos campos os Estados Unidos e intenta
acercar-se da antiga posição rival da URSS, enquanto busca em casa promover-se
como o homem que está devolvendo à Russia o status
de superpotência, perdido com a implosão sob Gorbachev da antiga URSS.
Tudo isso carece de ser contextualizado, porque há aspectos muito
diversos na comparação entre URSS e Federação Russa. Após 1992,
desapareceu com a relativa pulverização da antiga URSS a condição do
restabelecimento mágico da antiga rival dos EUA. Além da defecção da antiga
Europa socialista, e da independização das antígas repúblicas asiáticas, a
Rússia encolheu a parâmetros bem mais modestos (o que decerto inclui os
recursos naturais de que possa servir-se). Ela pode tentar aplicar à Ucrânia
uma política de acosso - inclusive com a anexação da Criméia - de que escapou
de maiores consequências, fora as sanções aplicadas por Barack Obama, que até
hoje persistem - mas prossegue em uma política de acosso do
estrangeiro-próximo, notadamente de países maiores, como a Ucrânia, de que ela
intenta evitar de toda maneira a sua inclusão na Comunidade Europeia.
Moscou ainda representa uma
potência econômica e militar (máxime pelo arsenal nuclear da antiga URSS, conservado
em grande parte), mas não mais dispõe da base econômica da antiga superpotência
rival,e para tanto não há malabarismo diplomático que logre disfarçá-lo.
Se reteve poderes formais da antiga URSS, como a posição no Conselho de
Segurança das N.U., não mais possui no
seu hinterland os recursos materiais
e mine-rais, de que dispunha a União Soviética. Tampouco economicamente o seu
estado pode ser comparado àquele de sua
antecessora. E
é esta base que lhe falta - malgrado a ausência de uma Europa com condições
mais afirmativas, em termos militares - que torna uma confrontação com os
Estados Unidos mais problemática, embora vivamos na época termonuclear, o que
tende a equiparar nesse aspecto - pelo equilíbrio do terror - as forças
relativas.
Tampouco é aqui o espaço
para ocupar-me da política errática de Trump, seus acenos ao amigo Putin (o que
é obviamente insustentável em termos políticos americanos), mas nada como as
limitações fáticas para determinar os limites dos arroubos mussolinianos da
politica de grande potência de Putin, que intenta apresentar-se como se fora o
Senhor de todas as Rússias, cousa que gospodin
Putin nunca foi e nem tem elementos de ser no futuro, a menos que as condições
fáticas atuais sejam radicalmente mudadas.
(
Fontes: Washington Post e Estado de S.
Paulo )
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