terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Xi Jinping e o retrocesso na China


                                            
          Não, meu caro leitor. Não se surpreenda com os tipos diminuídos do título. Pois são devidos e merecidos. Tanto pelo que está fazendo, quanto pelo que não está fazendo, o atual líder chinês merece que esse estranho, delicado e, por vezes, perigoso medicamento que é aquele velho recurso, sem ambages à verdade - que infelizmente está negado aos seus compatriotas - lhe seja aplicado, sem excessivas mesuras, eis que o medo possa até justificá-lo para quem vive em seus domínios, como ora se contempla na presente retrogressão do Império chinês.

        Quando Xi reiterou a sua admiração por Mao Zedong (ou Mao Tse-Tung - como era antes transcrito  o seu nome, máxime na época do grande apreço que lhe foi devotado pela juventude no século passado), esse sentimento me soou uma campainha de alerta.  Porque hoje em dia, após conhecer de todos os horrores que por conta da ideologia praticara Mao - assim como o número de pessoas que na China morreram por conta de experimentos massificados que hoje só podemos classificar de idiotas, to say the least -  expressar a sua devoção partidária à figura de Mao, é uma confissão que nos aponta alguns traços inquietantes.
            No último Congresso do Partido Comunista Chinês, quando os temores de muitos foram confirmados diante do cheque em branco que lhe foi passado pelo PCC, que hoje nos recorda aquelas sinistras assembleias reunidas sob o terrível meio-sorriso de camarada Stalin, que tantos infelizes iriam mandar para os paranóicos tribunais, onde toda a elite do PCUS seria empurrada para os secretos cadafalsos dessa terrível figura que só desapareceria em 1952 - pois o anúncio de Xi, como admirador de Mao, já seria bastante para afastá-lo de qualquer pretensão de mando.

            Infelizmente, os tiranos não costumam enganar aqueles que, por seus atos e por suas ideias, dão dicas para o vulgo de o que pretendem fazer no que é hoje o segundo maior poder mundial.
           Esqueçamos a admiração por Mao, sobretudo depois de o que se sabe a respeito de suas desastrosas campanhas, que tantas mortes provocaram no celeste império. Mas como esquecer a quebra de prudentes e iluminados preceitos de Deng Xiaoping,  que pode ter um grande pecado, mas que trabalhou para que o poder no PCC não fosse absoluto, e sobretudo que não fosse prorrogado ad infinitum. mas sim escalonado em série de lideranças com tempo e prazos.

            Tudo isso começou a vir escada a baixo, com a conspirata que instrumentalizou a viagem de Zhao à Coreia do Norte para convencer, na sua ausência, a Deng em assinar um editorial no jornal oficial que funciona como elemento provocador para acirrar os ânimos nas demonstrações da Praça de Paz Celestial. Quando Zhao voltou, os dados já haviam sido lançados, e a sorte dos estudantes determinada. Com a recusa de Zhao de encarregar-se da repressão, o grupelho conservador de Li Peng a preponderar no afastamento de Zhao do poder, com a consequência que levou ao enrijecimento do regime. Depois de estágios ainda moderados na repressão, Xi Jinping pode ser considerado como o resultado final de uma viagem oficial ao aliado da RPC, a Coréia comunista, que deveria apenas ter efeitos protocolares, e que na verdade contribuíu de forma determinante para a svolta autoritária na RPC, que com o atual detentor chega ao seu acme.    

             A repressão, ordenada por Xi, não se cinge apenas àqueles que supostamente a mereceriam. Nos regimes totalitários, o tirano funciona como uma espécie de  perseguidor-mor.  Já se fala que esse clima de opressão começa por religiões como a cristã, que tem seus tempos destruídos, seus adeptos hostilizados, e seus sacerdotes perseguidos. É difícil acreditar que possam surgir regimes que vejam a Igreja cristã como uma ameaça. Além do espírito perseguidor, com toda a intolerância que isto possa envolver nesse 2019 que neste momento já raiou para a China, semelha difícil, árduo mesmo imaginar um regime cujo chefe possa descer tão baixo quanto tentar infernizar a vida de quem professa um credo como o de Jesus Cristo que sempre pregou a bondade e o respeito ao próximo.

       Neste limiar de um novo Ano - que nesta cidade é comemorado com alegria por milhões de pessoas, reunidas mais uma vez nas areias da chamada Princesinha do Mar, a famosa enseada de Copacabana - parece difícil pensar que ainda existam pessoas tão torpes e tão limitadas mentalmente  que não só queiram interferir com a vida material de seus compatriotas, mas até se animam esses pobres de espírito, em pleno 2019, que em breve saudará mais um ano em festival de luzes e alegria, que se venham a comprazer em tentar cercear tudo o que de liberdade possa recordar. A infelicidade maior de tais sintomas está na melancólica  circunstância que tais são apenas a marca de um individuo limitado - por mais alto intelectualmente que se creia, eis que a própria atitude diante do povo chinês lhe desvela a grave limitação  na própria capacidade do intelecto, que se crê superior aos pobres seres que se acham sob o seu poder e que, por isso está destinado ao menosprezo da História, e a fazer parte de uma grei de Tiranos cujo único laurel será a vergonha que pela intolerância carregam para a sepultura.


(Fonte: Prisoner of the State - The Secret Journal of  Premier Zhao Ziyang)

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