Não, meu caro leitor. Não se
surpreenda com os tipos diminuídos do título. Pois são devidos e merecidos. Tanto pelo que está fazendo, quanto pelo que não está fazendo, o atual líder chinês merece que esse
estranho, delicado e, por vezes, perigoso medicamento que é aquele velho
recurso, sem ambages à verdade - que infelizmente está negado aos seus
compatriotas - lhe seja aplicado, sem excessivas mesuras, eis que o medo possa
até justificá-lo para quem vive em seus domínios, como ora se contempla na
presente retrogressão do Império chinês.
Quando Xi reiterou a sua admiração
por Mao Zedong (ou Mao Tse-Tung - como era antes transcrito o seu nome, máxime na época do grande apreço
que lhe foi devotado pela juventude no século passado), esse sentimento me soou
uma campainha de alerta. Porque hoje em
dia, após conhecer de todos os horrores que por conta da ideologia praticara
Mao - assim como o número de pessoas que na China morreram por conta de experimentos
massificados que hoje só podemos classificar de idiotas, to say the least - expressar
a sua devoção partidária à figura de Mao, é uma confissão que nos aponta alguns
traços inquietantes.
No último Congresso do Partido
Comunista Chinês, quando os temores de muitos foram confirmados diante do
cheque em branco que lhe foi passado pelo PCC, que hoje nos recorda aquelas
sinistras assembleias reunidas sob o terrível meio-sorriso de camarada Stalin,
que tantos infelizes iriam mandar para os paranóicos tribunais, onde toda a
elite do PCUS seria empurrada para os secretos cadafalsos dessa terrível figura
que só desapareceria em 1952 - pois o anúncio de Xi, como admirador de Mao, já
seria bastante para afastá-lo de qualquer pretensão de mando.
Infelizmente, os tiranos não
costumam enganar aqueles que, por seus atos e por suas ideias, dão dicas para o
vulgo de o que pretendem fazer no que é hoje o segundo maior poder mundial.
Esqueçamos a admiração por Mao,
sobretudo depois de o que se sabe a respeito de suas desastrosas campanhas, que
tantas mortes provocaram no celeste império. Mas como esquecer a quebra de
prudentes e iluminados preceitos de Deng Xiaoping, que pode ter um grande pecado, mas que
trabalhou para que o poder no PCC não fosse absoluto, e sobretudo que não fosse
prorrogado ad infinitum. mas sim
escalonado em série de lideranças com tempo e prazos.
Tudo isso começou a vir escada a
baixo, com a conspirata que instrumentalizou a viagem de Zhao à Coreia do Norte
para convencer, na sua ausência, a Deng em assinar um editorial no jornal
oficial que funciona como elemento provocador para acirrar os ânimos nas
demonstrações da Praça de Paz Celestial. Quando Zhao voltou, os dados já haviam
sido lançados, e a sorte dos estudantes determinada. Com a recusa de Zhao de
encarregar-se da repressão, o grupelho conservador de Li Peng a preponderar no
afastamento de Zhao do poder, com a consequência que levou ao enrijecimento do
regime. Depois de estágios ainda moderados na repressão, Xi Jinping pode ser
considerado como o resultado final de uma viagem oficial ao aliado da RPC, a
Coréia comunista, que deveria apenas ter efeitos protocolares, e que na verdade
contribuíu de forma determinante para a svolta
autoritária na RPC, que com o atual detentor chega ao seu acme.
A repressão, ordenada por Xi, não
se cinge apenas àqueles que supostamente a mereceriam. Nos regimes
totalitários, o tirano funciona como uma espécie de perseguidor-mor. Já se fala que esse clima de opressão começa
por religiões como a cristã, que tem seus tempos destruídos, seus adeptos
hostilizados, e seus sacerdotes perseguidos. É difícil acreditar que possam
surgir regimes que vejam a Igreja cristã como uma ameaça. Além do espírito perseguidor,
com toda a intolerância que isto possa envolver nesse 2019 que neste momento já
raiou para a China, semelha difícil, árduo mesmo imaginar um regime cujo chefe
possa descer tão baixo quanto tentar infernizar a vida de quem professa um
credo como o de Jesus Cristo que sempre pregou a bondade e o respeito ao
próximo.
Neste limiar de um novo Ano - que nesta
cidade é comemorado com alegria por milhões de pessoas, reunidas mais uma vez
nas areias da chamada Princesinha do Mar, a famosa enseada de Copacabana -
parece difícil pensar que ainda existam pessoas tão torpes e tão limitadas
mentalmente que não só queiram
interferir com a vida material de seus compatriotas, mas até se animam esses
pobres de espírito, em pleno 2019, que em breve saudará mais um ano em festival
de luzes e alegria, que se venham a comprazer em tentar cercear tudo o que de
liberdade possa recordar. A infelicidade maior de tais sintomas está na melancólica
circunstância que tais são apenas a
marca de um individuo limitado - por mais alto intelectualmente que se creia, eis
que a própria atitude diante do povo chinês lhe desvela a grave limitação na própria capacidade do intelecto, que se
crê superior aos pobres seres que se acham sob o seu poder e que, por isso está
destinado ao menosprezo da História, e a fazer parte de uma grei de Tiranos cujo
único laurel será a vergonha que pela intolerância carregam para a sepultura.
(Fonte: Prisoner of the
State - The Secret Journal of Premier
Zhao Ziyang)
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