sábado, 13 de janeiro de 2018

O DESMANCHE do RIO

                                 

      A palavra desmanche é mais usada para carros (o dicionário Houaiss nos escreve: ato ou efeito de desmontar, desmantelar mecanismos, engenhos ou máquinas; desmanche de carros para fins ilícitos).
       No entanto, talvez o Rio de Janeiro, a antiga Cidade Maravilhosa, venha a colaborar com um novo sentido do vocábulo desmanche. Nem mais o carioca é o tipo alegre, despreocupado de antes, porque o Rio só é cidade maravilhosa na letra - que hoje nos parece ingênua - de André Filho, escrita nos anos trinta aquela alegre marchinha que só de ouvi-la temos a sensação estranha de um arqueólogo, que vive num inferno e não pode acreditar que o lugar aonde hoje vegeta tenha sido tão bom há oitenta e cinco anos atrás, a ponto de gestar no cabeça de quem criou a ingênua marchinha aquela visão hiper-romântica de realidade que a sucessão das décadas, e o antes chamado progresso levou para o beleléu (o palavreado da época de um certo modo me parece mais adequado).
         Hoje a tragédia do Rio de Janeiro, a palpável ausência de qualquer segurança, ela não é como a piada de Aporelly que se reporta também aos aviões de carreira.
          Tomemos em pílulas a realidade carioca (porque querer ingeri-la de uma vez é ato de mortal imprudência). Vejam o foto na primeira página de O Globo de hoje: vemos a trinca que aqui se movimentou. Enquanto o governador Pezão olha com a atenção inteligente que lhe é própria um celular, o ministro da Justiça Torquato Jardim e o ministro da Defesa Raul Jungmann deparam a movimentação em torno com as vistas ou vazias, ou ansiosas, que as duas autoridades trouxeram para o Rio.
          Mais uma reunião vazia de consequências, enquanto a ex-Cidade Maravilhosa soçobra no assassínio cruel de um delegado honesto, que como sói acontecer foi descoberto pela bandidagem e arrastado para algum tugúrio e lá torturado, massacrado e morto.  De uns tempos para cá,o diretor dos filmes sobre ex-Cidade Maravilhosa mudou, e começou a dar às tragédias cariocas  os fins dos filmes noir, em que a boa gente morre, como esse pobre delegado a quem a bandidagem odiava por acreditar no próprio mister, que é pôr na cadeia o bandido e o marginal.   Vejam o seu triste fim, ao ser reconhecido dirigindo o próprio carro, sendo dele arrastado e liquidado com a crueza do mundo a que combatia.
             Tenho para mim a teoria que a Cidade Maravilhosa foi assassinada há tempos,  mas os Sérgio Cabral, o seu Vice Pezão,  urdiram um final guignolesco para esse filme, pondo como prefeito Paes para organizar as Olimpíadas, levar São Paulo a um ataque apoplético de inveja,  para depois desmoralizá-lo de vez,  com o desfazimento (na prática) da Secretaria de Segurança (o honesto Beltrame não tinha mais condições), chegando ao ponto extremo de trazer para o Rio quem não gosta de samba e de carnaval, Marcello Crivella, o evangélico doublé de sobrinho do Bispo Macedo, que ora examina com a própria seriedade a possibilidade de tomar o lugar de Dom Orani...
              Não sou vidente, mas crescem as possibilidades de que a revolta coma solta quando quiserem fazer tocar, como era praxe, a alegre marchinha da Cidade Maravilhosa.  Podem pensar que isso é deboche, e prejudicar dessarte o plano turístico do novo Prefeito (quem será, só Deus sabe...)


( Fonte:  O Globo )

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