sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Efeitos da Hiperinflação

                              

       O bolívar - a moeda oficial da Venezuela - tem o próprio valor a encaminhar-se para zero.  Na verdade, na taxa 'oficial' (se na bagunça institucional venezuelana a qualificação oficial  teria algum valor) na atualidade vinte bolívares valeriam US$ 2.
       Como o estado hiperinflacionário se caracteriza por um dinamismo relativo, a tendência prevalente liquefaz o dito valor. Assim, na realidade, as notas de dois bolívares 'valem' US$ 0,0001 à taxa de câmbio atual, em que o tal 'dinamismo' tende para zero.
        O real valor do desmoralizado bolívar se reflete, assim, na foto borrada do lixo: em loja saqueada por meliantes em San Felix, no sudeste da Venezuela, no meio do lixo se encontrava uma dúzia de notas de vinte bolívares. Dado o valor praticamente inexistente do dito papel-moeda, nem os saqueadores acharam que valeria a pena recolhê-las...
         Eis uma lição tão prática, quanto trágica de o que pode significar o espasmo da inflação, que, em processo rápido de tempo, vira hiperinflação.
         A hiperinflação, que golpeara a Alemanha de Weimar,  algum tempo depois da derrota de 1918 perante os aliados do regime imperial do Kaiser Wilhelm II (e da Áustria-Hungria), vincou fundo a desmoralização do povo alemão, e desencadeou o flagelo da inflação, seguido da trágica caricatura da hiperinflação, em que para comprar pães se carecia de malas de dinheiro...
           A desvalorização cavalar do bolívar é um dos retratos da Venezuela atual. Não se careceu de guerra mundial para desbaratar-lhe a economia. Apenas a inépcia de  Nicolás Maduro, e de sua respeitável quadrilha, bastou para que, como se fora enfermidade generalizada, ela corroesse todo o tecido social daquele país, com as previsíveis cruéis consequências .


( Fonte: O Estado de S. Paulo ) 

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