O
passado recente de Lula não tem sido fácil.
Primeiro, a perda de sua
companheira de muitos anos, dona Maria Leticia.
Segundo, o desafio eleitoral.
Cercado por muitos, Luiz Inácio
Lula da Silva é na verdade um homem só.
O juízo
pelo TRF-4, hipertrofiado não só pela mídia, mas também pela encruzilhada no
próprio destino, trouxe a sentença e o resultado que o entorno deveria
prepará-lo a enfrentar e responder, atendida a própria situação e os naturais
condicionamentos.
Ao dizer presente para o povo de Porto
Alegre, o presidente Lula aí completava a caminhada que se iniciara em
Curitiba, diante do juiz Sérgio Moro, e ora terminava, no aguardo da sentença
dos três desembargadores , como segunda escala da senda jurídica, que à sua
frente já se desenha.
A
intrínseca solidão do poder, o senhor já a sentira, nos seus dois mandatos
presidenciais. Agora, ela se lhe apresenta com as vestes cinzentas da
indefinição e do desafio que ela lhe coloca, por mais gente que tenha a sua
volta.
Por mais que preze seus
familiares, assessores e correligionários, creio que concordará em que o
desafio que se lhe coloca é de tal magnitude que ninguém se pode substituir ao
senhor na avaliação e na reação que caberá tomar nesta hora que
lhe confronta.
Lembre-se, presidente Lula, que
esse caminho é árduo, mas ouso recordar-lhe que, para alguém que, na companhia
de sua mãe e familiares, enfrentou a longa jornada para construir o que seria o
seu futuro, o desafio presente deve ser contextualizado no seu destino.
As suas cicatrizes - e talvez a maior esteja por aparecer - nos falam de
uma progressão que, dadas as circunstâncias, não podem ser minimizadas, nem
esquecidas. O passado, que o senhor
construíu mais do que qualquer outro, hoje não mais lhe pertence. Ele decerto se insere na história maior, e
basta olhar em torno, e ainda melhor, pensar e refletir, que aqui não se fala
de coisas pequenas.
A grandeza dos personagens históricos pode vencer obstáculos e desafios.
O senhor, que tem a própria trajetória desenhada nas milhares, em verdade nos
milhões de pessoas que o vêem, e sem sequer poder aproximar-se, já se sentem
recompensados, não deve - se me permite a liberdade - esquecer do porquê dessa
mensagem que como operário, dirigente sindical, político, e mais tarde
candidato à presidência da república, o senhor personificou para o nosso povo,
em todos os seus rincões.Tal mensagem de esperança e superação, o senhor nos
trouxe a todos os brasileiros, e isto está escrito, não na areia da praia, ou
nas águas desse Brasil grande, mas sim, como na antiga Grécia, cinzelada no
mármore ático, sem ostentação nem bazófia, porque o senhor disso não carece.
A mensagem de esperança e realização, que, por
vezes, nos crescem à volta, parecendo até desafiar-nos com a sua magnitude, eu
lhe peço, senhor presidente Lula, não permita que venha a perder-se nos
desencontros da política e em eventuais dissabores.
Grandes vultos de nossa História - e a sua
companhia não é das maiores - não podem senão abraçá-lo como um igual, que terá
momento difícil, talvez árduo pela frente.
Mas não se esqueça, presidente Lula, que a
hora pode ser difícil, mas ela o homem mede, e o senhor esteja certo que não
existe nessa terra de Deus quem não cometeu erros, mas o fato não está neles, e
sim na imensa coorte de realizações e do bem que o senhor fez a tanta gente,
por todos esses Brasis.
Quem não cometeu pecado, que atire a primeira
pedra.
Devemos,
Presidente Lula, nos valer de seu exemplo.
A Justiça falou. Aceitemô-la. É bom dizer que o
Senhor não tem, a par do passado, o futuro às suas costas. Sendo grande, os erros eventualmente
cometidos não devem afastá-lo de uma trajetória pela qual continue a dar aos
brasileiros, exemplo de grandeza e reconciliação.
Arrependimento convive com o porvir que o senhor começou
a escrever da terra de Garanhuns. Por
sua marcha, mostrou a muita gente que o
futuro está ao alcance de todos.
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