Esta animação, de autoria polonesa e britânica, é a homenagem prestada
ao grande pintor do modernismo, baseada por inteiro em pinturas de Vincent van
Gogh, através da técnica da animação feita por pintores poloneses, seguindo a senda
do gênio holandês do olho na tela.
Temos um festival de pintura com
o brilho ensolarado e por vezes feérico, que caracteriza o estilo novo do incompreendido
gênio van Gogh. Para que se tenha presente a amplitude dessa rejeição - Van Gogh
só vendeu um quadro durante sua existência - a trilha iluminada seguida pelos
quadros de van Gogh traz, nas cores, agressivas tinturas amarelas - a essência da
arte do pintor que eletriza o visual da pintura com um novo avatar não só da
beleza, mas também do encanto da procura como pesquisa do belo, no seu
desabrochar que luz, brilha e, ao cabo, mesmeriza na sua eterna busca de novas
formas, não por um mudancismo sem limites, mas ao enveredar pelas sendas, quer
enganosas, quer faiscantes do que é novo, e por isso pode incomodar, assim como,
através de inesperadas convoluções, mostrar o formoso, nas suas múltiplas, por
vezes, inesperadas e até agressivas
formas de luzes, cores e até dúvidas, pois a essência da arte pode basear-se
nas miríades naturais que não espantam os camponeses, mas conseguem desequilibrar expectativas no
feérico do belo, do inesperado, da placidez de tantos quadros naturais, em uma
mistura de cores e traços que, por vezes, parece explodir no diverso e no
agressivo, como se dissesse que no natural pode estar a beleza, e que ela
jamais se cansará em surpreender, e o
pincel não deve arrefecer na sua estranha, insolente invasão da exterioridade,
que se pode irradiar e manifestar, quer nos traços grossos do camponês, quer
nos velhos rituais dos campos verdejantes, quer em cantos que parecem saltar
das cores da tela, e que a princípio dão a impressão de vir-nos ao encontro,
com trajes repassados, que surgem endomingados
de velhos refúgios de baús de outrora.
Não
é de recomendar-se a todos a iniciação nessa obra de Dorotea Kobiela e Hugh
Welchman, mas àqueles que procuram a beleza no seu espoucar de formas e cores,
como os traços tão radiosos quão percucientes
dessa tortuosa senda de luzes trazidas para um mundo que se pensava
cansado e aborrecido, sob a torrente de um estranho feérico, que a tempo nos
agride e nos acaricia.
O gênio desse filme não logra esconder-nos, nas suas convoluções
camponesas, a beleza do natural, malgrado as tentativas do homem de ignorar o
belo e o original, assim como da invasão, ainda que do novo, mesmo se vestido
nos duros panos dos trajes naturais, que muita vez aí estão, para não ser
vistos pelos que vivem envoltos por vapores e ema-nações diversas, incapazes, pela agressividade com que vêm
ajaezados, de assumir na própria inteireza a manifestação da louçania do campo.
É a sina do mensageiro que mostra e desvela a formosura, para os olhos
míopes de quem está fadado a negar o formoso, se ele se mostra em traços e
cores diferentes e diversas.
Pobres daqueles que tudo ouvem e nada compreendem. E, ainda mais, pobres
e infelizes, os que ignoram a arte no próprio sacrifício e nos seus encantos,
enquanto fecham a porta para o original e o belo, que pode estar ao alcance das
próprias vistas, mas como os filisteus, eles têm olhos para não ver.
Ignorar a beleza tem pesado preço.
Mas a crueldade do exercício se vai desvelando devagar, e sem saber pune os que
se embrenham nas sendas magníficas da arte, para nada verem e nada entenderem.
E a outros, se um tanto compreendem, que só pela faina do dia a dia, e a sorte
que persegue a quem se empenha na bemvinda procura, irá aos poucos se desvendando, como a
Toulouse-Lautrec nos cabarets do bas-fond.
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