domingo, 7 de janeiro de 2018

"Com amor, Van Gogh"

                              

        Esta animação, de autoria polonesa e britânica, é a homenagem prestada ao       grande pintor do modernismo, baseada por inteiro em pinturas de Vincent van Gogh, através da técnica da animação feita por pintores poloneses, seguindo a senda do gênio holandês do olho na tela.
         Temos  um festival de pintura com o brilho ensolarado e por vezes feérico, que  caracteriza o estilo novo do incompreendido gênio van Gogh. Para que se tenha presente a amplitude dessa rejeição - Van Gogh só vendeu um quadro durante sua existência - a trilha iluminada seguida pelos quadros de van Gogh traz, nas cores,  agressivas tinturas amarelas - a essência da arte do pintor que eletriza o visual da pintura com um novo avatar não só da beleza, mas também do encanto da procura como pesquisa do belo, no seu desabrochar que luz, brilha e, ao cabo, mesmeriza na sua eterna busca de novas formas, não por um mudancismo sem limites, mas ao enveredar pelas sendas, quer enganosas, quer faiscantes do que é novo, e por isso pode incomodar, assim como, através de inesperadas convoluções, mostrar o formoso, nas suas múltiplas, por vezes,  inesperadas e até agressivas formas de luzes, cores e até dúvidas, pois a essência da arte pode basear-se nas miríades naturais que não espantam os camponeses,  mas conseguem desequilibrar expectativas no feérico do belo, do inesperado, da placidez de tantos quadros naturais, em uma mistura de cores e traços que, por vezes, parece explodir no diverso e no agressivo, como se dissesse que no natural pode estar a beleza, e que ela jamais se cansará em surpreender, e  o pincel não deve arrefecer na sua estranha, insolente invasão da exterioridade, que se pode irradiar e manifestar, quer nos traços grossos do camponês, quer nos velhos rituais dos campos verdejantes, quer em cantos que parecem saltar das cores da tela, e que a princípio dão a impressão de vir-nos ao encontro, com trajes repassados, que surgem endomingados  de velhos refúgios de baús de outrora.
       Não é de recomendar-se a todos a iniciação nessa obra de Dorotea Kobiela e Hugh Welchman, mas àqueles que procuram a beleza no seu espoucar de formas e cores, como os traços tão radiosos quão percucientes  dessa tortuosa senda de luzes trazidas para um mundo que se pensava cansado e aborrecido, sob a torrente de um estranho feérico, que a tempo nos agride e nos acaricia.
          O gênio desse filme não logra esconder-nos, nas suas convoluções camponesas, a beleza do natural, malgrado as tentativas do homem de ignorar o belo e o original, assim como da invasão, ainda que do novo, mesmo se vestido nos duros panos dos trajes naturais, que muita vez aí estão, para não ser vistos pelos que vivem envoltos por vapores e ema-nações diversas,  incapazes, pela agressividade com que vêm ajaezados, de assumir na própria inteireza a manifestação  da louçania do campo.
          É a sina do mensageiro que mostra e desvela a formosura, para os olhos míopes de quem está fadado a negar o formoso, se ele se mostra em traços e cores diferentes e diversas.
          Pobres daqueles que tudo ouvem e nada compreendem. E, ainda mais, pobres e infelizes, os que ignoram a arte no próprio sacrifício e nos seus encantos, enquanto fecham a porta para o original e o belo, que pode estar ao alcance das próprias vistas, mas como os filisteus, eles têm olhos para não ver.

            Ignorar a beleza tem pesado preço. Mas a crueldade do exercício se vai desvelando devagar, e sem saber pune os que se embrenham nas sendas magníficas da arte, para nada verem e nada entenderem. E a outros, se um tanto compreendem, que só pela faina do dia a dia, e a sorte que persegue a quem se empenha na bemvinda procura,  irá aos poucos se desvendando, como a Toulouse-Lautrec  nos cabarets do bas-fond.

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