terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Verdades em Washington ?

                               

        O poder, por mais desmoralizado que esteja em termos de confiabilidade, continua a gozar de estranhos direitos.
        O que tenha dito, por desmoralizante que seja, nem sempre é entendido como expressão da verdade.
        Vejam, senhores passageiros, a chula expressão ( shithole countries) do Presidente Donald Trump, em reunião bipartidária na Casa Branca realizada em fins da semana passada.
         Dar o dito por não dito, pode parecer politicamente permissível, nesse admirável mundo novo em que o inefável Mr James B. Comey, o diretor republicano do FMI incongruamente designado por um então ainda tenteante presidente Barack Hossein Obama ousara levantar perante o Congresso a renitente possibilidade de que algo ainda se encontrasse no computador do marido afastado da secretária de Hillary Clinton, Huma Abedin, e que, consoante insinuou, pudesse ainda incriminar a ex-Secretária de Estado.
         Chego a ouvir os reclamos de eleitores - basta de observações sobre a eleição passada e a derrota de Mrs Hillary Clinton! - e até os entendo. No entanto, o feliz ganhador desse jogo dos sete erros, o favorito do Kremlin Mr Donald J. Trump chega à presidência justamente por essa derradeira mensagem de tipo como James B.Comey, que são daqueles que deixam grandes, inexplicáveis estragos, para depois, por motivos tampouco verossímeis, serem varridos do grande palco, mandados quiçá para a lata de lixo da História, a que se referira alguém de citação problemática nos Estados Unidos, como Lew Dawidowitsch Trotzki.
         Mas viremos essa dúbia página, não tão depressa quanto desejaria esse estranho cometa na história, que, a despeito de legislação que lhe recomenda evitar implicações políticas em eventos eleitorais, zomba da Lei e, por motivos que só a pertinaz História há de elucidar, tanto se empenha em jogar pedras na trajetória da primeira mulher que bem perto chegou da presidência. Clio por vezes negligencia os medíocres, mas como nos diz pensador argentino,  essa espécie pode ter algum valor. De qualquer forma, por mais lamentável que tenha sido o resultado, ele está aí, a afrontar a Nação americana, com a sucessão de impropérios, impropriedades e indignidades que lhe são tão próprias, e que, por estranhas voltas do destino, são ditas e depois desditas.  Surgiram, assim, as chamadas verdades de Trump, que, conquanto expressas em público, perante audiência considerável de notáveis representantes do Povo, breve se transmutam para estranha esfera, como se,  não obstante ditas, se dizem passar para outro domínio, o das suposições
       Não só por sua vontade, mas por conveniência de muitos partidários,  essas palavras como que adentram outra esfera, a das tenteantes hipóteses, voando breve, como se possível fora, para os fugidios anéis do dito que vira não dito.
        Pobre verdade! Nesses dias que correm ela surge como palavra vã que se esgueira pelas salas do poder, é ouvida por muitos, e desentendida por outros, que, por bizarras, inconfessáveis e estranhas causas, que a razão por vezes se nega a confirmar, passa a vagar pelo éter gritando para não ser ouvida, e, depois, lentamente piscando,  a caminho das verdades insepultas, aquelas que ora inaudíveis, se debatem e gritam para quem não  quer  ouvi-las.
         Que importa? Shithole countries, países de m...,  podem ser negados por caninamente fiéis homens de partido, que seguem as regras e, sobretudo, as conveniências do Poder, e  por mais que repitam desmentidos, eles valerão como se corroborassem a verdade que está acima das pequenas baixezas  do  Poder, que será absoluto enquanto dure.

(Fontes: Aldous Huxley (1894-1963), Carlos Drummond de Andrade 1902-1987)

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