O poder, por mais desmoralizado que
esteja em termos de confiabilidade, continua a gozar de estranhos direitos.
O que tenha dito, por desmoralizante
que seja, nem sempre é entendido como expressão da verdade.
Vejam, senhores passageiros, a chula
expressão ( shithole countries) do Presidente Donald Trump, em reunião
bipartidária na Casa Branca realizada em fins da semana passada.
Dar o dito por não dito, pode parecer
politicamente permissível, nesse admirável mundo novo em que o inefável Mr
James B. Comey, o diretor republicano do FMI incongruamente designado por um então
ainda tenteante presidente Barack Hossein
Obama ousara levantar perante o Congresso a renitente possibilidade de que
algo ainda se encontrasse no computador do marido afastado da secretária de Hillary Clinton, Huma Abedin, e que,
consoante insinuou, pudesse ainda incriminar a ex-Secretária de Estado.
Chego a ouvir os reclamos de eleitores
- basta de observações sobre a eleição passada e a derrota de Mrs
Hillary Clinton! - e até os entendo. No entanto, o feliz ganhador desse
jogo dos sete erros, o favorito do Kremlin
Mr Donald J. Trump chega à
presidência justamente por essa derradeira mensagem de tipo como James B.Comey, que são daqueles que
deixam grandes, inexplicáveis estragos, para depois, por motivos tampouco
verossímeis, serem varridos do grande palco, mandados quiçá para a lata de lixo
da História, a que se referira alguém de citação problemática nos Estados
Unidos, como Lew Dawidowitsch Trotzki.
Mas viremos essa dúbia página, não tão
depressa quanto desejaria esse estranho cometa na história, que, a despeito de legislação
que lhe recomenda evitar implicações políticas em eventos eleitorais, zomba da
Lei e, por motivos que só a pertinaz História há de elucidar, tanto se empenha
em jogar pedras na trajetória da primeira mulher que bem perto chegou da
presidência. Clio por vezes
negligencia os medíocres, mas como nos diz pensador argentino, essa espécie pode ter algum valor. De
qualquer forma, por mais lamentável que tenha sido o resultado, ele está aí, a
afrontar a Nação americana, com a sucessão de impropérios, impropriedades e
indignidades que lhe são tão próprias, e que, por estranhas voltas do destino,
são ditas e depois desditas. Surgiram,
assim, as chamadas verdades de Trump, que, conquanto expressas em
público, perante audiência considerável de notáveis representantes do Povo,
breve se transmutam para estranha esfera, como se, não obstante ditas, se dizem passar para
outro domínio, o das suposições.
Não só por sua vontade, mas por conveniência
de muitos partidários, essas palavras
como que adentram outra esfera, a das tenteantes hipóteses, voando breve, como
se possível fora, para os fugidios anéis do dito que vira não dito.
Pobre verdade! Nesses dias que correm
ela surge como palavra vã que se esgueira pelas salas do poder, é ouvida por
muitos, e desentendida por outros, que, por bizarras, inconfessáveis e estranhas
causas, que a razão por vezes se nega a confirmar, passa a vagar pelo éter
gritando para não ser ouvida, e, depois, lentamente piscando, a caminho das verdades insepultas, aquelas
que ora inaudíveis, se debatem e gritam para quem não quer ouvi-las.
Que importa? Shithole countries, países de m...,
podem ser negados por caninamente fiéis homens de partido, que seguem as
regras e, sobretudo, as conveniências do Poder, e por mais que repitam desmentidos, eles valerão
como se corroborassem a verdade que está acima das pequenas baixezas do
Poder, que será absoluto enquanto dure.
(Fontes: Aldous Huxley (1894-1963), Carlos Drummond de Andrade
1902-1987)
Nenhum comentário:
Postar um comentário