A foto de Nicolás Maduro, os olhos
cerrados, o braço direito levantado e o indicador em riste, com larga camisa azul, cercado pelas camisas
vermelhas da imprensa que o
acolita, tudo isso expressa a raiva
boçal do líder supremo que, ritualmente, se põe à disposição 'dos setores
revolucionários' para a próxima reeleição.
Por ora, não se sabe para onde
caminha - com passos resolutos - a pobre Venezuela. Maduro está disposto a arrostar o supremo
desafio das urnas fraudadas, de onde saíu essa incrível Assembléia Constituinte, presidida por Delcy Rodriguez. Como na velha
União Soviética, voltaram as decisões unânimes.
Tudo é feito para ganhar tempo em
relação aos percalços da Oposição. Breve
se encontrará maneira de desalojar a Oposição da maioria na antiga Assembléia
Legislativa.
Para Diosdado Cabello, o processo
eleitoral será antecipado como resposta às sanções impostas contra a Venezuela
e vários altos funcionários (como o próprio Cabello), de parte dos EUA e da
União Europeia. Segundo esse Cabello
"se o mundo quer aplicar sanções, nós aplicaremos eleições. Poderes
imperiais desataram uma campanha sistemática e de ódio contra a
Venezuela."
A "resposta" da
Venezuela oficial são
palavras vazias que, sem embargo, queimam a gente e qualquer abertura
política. Contra o imperialismo a
gritaria de Maduro, e esse processo eleitoral trucado que dizima a Oposição e
junto vai a população à deriva.
Como se assinala, a crise
econômico-financeira na Venezuela continua a agravar-se.
Sob o domínio da hiperinflação, o abastecimento definha a olhos vistos, com o sofrimento geral
da população. Como o bolívar nada mais
compra, as prateleiras dos supermercados estão vazias, assim como as das
farmácias e drogarias. Tolerando por
anos uma situação intolerável, o governo
chavista só alimenta a fuga para o exterior, que os países limítrofes já experimentam,
e o Brasil (Roraima) não é exceção.
Assim, se revivem cenários
da Alemanha do primeiro pós-guerra, com a corrida hiperinflacionária. Tampouco,
pela situação da PDVSA, e a falta de moeda forte para os investimentos
indispensáveis, não há condições de
exportar o seu petróleo.
A falta de união na
Oposição é outro problema.
Ao cabo, Maduro convocará
eleições e a tragédia venezuelana continuará. Tendo como companheira a hiperinflação,
o processo de desfazimento da Venezuela como foi conhecida antes de Chávez e
seu discípulo, também prosseguirá.
Com a competência do
companheiro Maduro e de seus acólitos, dentre os quais cresce o saturnino
Diosdado Cabello, uma das hipóteses que se pode firmar no horizonte seria o
eventual surgimento de um mercado
alternativo para a droga, em condições similares às da Somália, ao passo que esta última, para surpresa de
muitos, venha dando sinais de recuperação, no sentido de afinal livrar-se da
condição de Estado falido. Será uma
eventual boa coisa para o povo somali, se tal se confirmar.
Quanto à situação da
Venezuela, não se pode descontar a
probabilidade de que surja, na terra de Bolívar, uma nova Somália.
(
Fontes: O Estado de S. Paulo, The New Yorker )
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