sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Trump: obstrução de Justiça?


       Desde o começo de o que promete ser  longa luta, o presidente Trump não hesitara, a despeito das óbvias implicações legais, de tentar influenciar em próprio favor o Procurador-Geral do Estado, Jeff Sessions. Nesse sentido, para Trump, Sessions não deveria afastar-se da investigação do Departamento de Justiça para determinar se acaso os partidários de Mr Trump teriam ajudado à campanha do Kremlin com vistas a prejudicar e  desorganizar a eleição de 2016.
      No entanto, a opinião pública tomava a direção de fazer com que o ex-membro sênior da campanha de Trump tomasse  decisão logicamente sensata - não ocupar-se desse assunto, por suas implicações éticas.
       Sem embargo, o conselheiro da Casa Branca, Donald F. McGahn  II, cumpriu à risca as instruções de seu chefe e insistiu junto a Mr Sessions para que permanecesse à testa do inquérito, consoante informação colhida junto a duas pessoas inteiradas do assunto.
       Mr McGahn, contudo, fracassou nesta missão. Ao saber disso, e diante de numerosos funcionários da Casa Branca, o Presidente teve um acesso de fúria. Trump disse que esperava de seus mais altos funcionários que o salvaguardassem na maneira com que o então Procurador-Geral Robert F. Kennedy atuara no que tange ao próprio irmão John F. Kennedy, e como Eric H. Holder se empenhara por Barack Obama.
        Nesse instante, Trump pergunta "Aonde está o meu Roy Cohn?". Segundo o Times, ele se referia  ao seu antigo advogado pessoal e quebra-galhos (fixer), que havia sido o principal assessor do Senador Joseph R. McCarthy, durante as (nefandas) investigações sobre atividades comunistas durante os anos cinquenta e que falecera em 1986. 
        A tentativa de influenciar Mr Sessions constitui um dos episódios que não tinham vindo a lúmen e de que agora se inteira o Conselheiro Especial Robert S. Mueller III, durante os seus trabalhos para determinar  se Mr Trump  obstruíu o inquérito do FBI sobre a Rússia. Tais eventos aconteceram no espaço de dois meses - desde que Mr Sessions se julga em março fora de condições de tratar do assunto, até a designação de Mr Mueller em maio - quando Mr Trump julgou que estava perdendo o controle sobre a investigação.
       Em outros episódios conexos,  Mr Trump descreveu a investigação sobre a Rússia "como inventada e motivada politicamente", em uma carta que pretendia enviar para o então Diretor do FBI, James B.Comey, mas que (altos) funcionários da Casa Branca lograram impedi-lo de enviá-la.  Nesse contexto, Mr  Mueller também desenvolveu observações que Mr Comey fez em uma série de memoranda, descrevendo as suas problemáticas interações com o Presidente, antes de ser demitido em Maio.
        Enquanto Conselheiro Especial Mr Mueller recebeu também notas manuscritas  do antigo chefe de gabinete de Trump, Reince Priebus, indicando que Trump falara com Priebus acerca de que havia  chamado Mr Comey para encarecer-lhe que dissesse publicamente que ele não estava sendo investigado.  Nesse contexto, a intenção de demitir Mr Comey fez com que um advogado da Casa Branca tomasse a extraordinária iniciativa de enganar Mr Trump acerca de que ele tivesse a autoridade de demitir Comey.
        Também o New York Times soube que quatro dias antes da exoneração de Comey, um dos assessores de Sessions perguntou a um membro da equipe do Congresso se ele dispunha de informações negativas sobre Mr Comey. Tem-se a impressão de que tal se insira em aparente esforço de sabotar o diretor do FBI.  Tampouco ficou esclarecido se os investigadores do Conselheiro Especial Mueller estavam ao corrente do episódio.
          Também se acha sob investigação de Mr Mueller uma declaração falsa que o presidente haveria ditado a bordo do Air Force One, em julho, em resposta a um artigo do Times sobre um encontro que membros da campanha de Trump houvessem mantido com os russos em 2016. Em um novo livro "Fogo e Fúria: Dentro da Casa Branca de Trump", escrito por Michael Wolff,  se diz que os advogados do presidente acreditaram que a declaração era "uma tentativa explícita de jogar areia na maquinária da investigação", e que induziu a um dos porta-vozes de Trump a renunciar, porque julgou que se tratasse de obstrução de justiça.  
            Como a investigação do Conselheiro Especial prossegue e aparentemente está ainda longe de chegar às respectivas conclusões, não há de surpreender que subsistam ainda muitas suposições acerca das direções que irá tomar essa investigação.
              De um certo modo, as conjeturas tendem por vezes a levar a becos sem saída. Por outro lado, outras supostas acusações - que ainda não estão confirmadas por assertivas indiscutíveis - só tendem a aumentar a confusão e a colocar intenções nos principais atores que não necessariamente correspondam à verdade.
             Como para alguns a investigação se arraste, o desejo de apressá-la por meio de suposições ou induções não fundadas em fatos irrefutáveis só tende a jogar mais areia nas supostas inclinações das Partes, das quais, por óbvios motivos, aquela que terá maior peso e determinará o ulterior desenvolvimento está com o próprio Mr Robert S Mueller III, enquanto Conselheiro Especial.
              Isto seria, como os franceses sóem dizer,  uma verdade de Monsieur de La Palice (uma verdade aos olhos de todos, e portanto evidente), mas por vezes, em toda a investigação, e mais ainda nesta, em que possa estar, posto que figurativamente a cabeça de um Presidente, semelha mais adequado e conveniente aguardar que os vários investigadores coletem o material indispensável para que as conclusões - sejam elas quais forem - venham a ser estabelecidas dentro daquela verdade que se presume seja o objeto das autoridades para tanto designadas.


( Fonte: The New York Times )  

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