domingo, 21 de janeiro de 2018

A indignação de Del Nero

  

                  Algumas pessoas podem sentir pena de dirigentes esportivos como o senhor Marco Polo Del Nero, presidente (afastado) da CBF, a par do ex-presidente Ricardo Teixeira, esse também na CBF. Del Nero que estava com Marin em Zurique, quando este último foi detido pelo FBI, com a conivência suiça,  o pobre vice Del Nero, acometido por justificado temor, não é que bateu todos os récordes em termos de viagem a serviço, e se mandou para São Paulo ? Porque tanta pressa, ó presidente da CBF, empossado que foste ( notem a minha liberdade por conta das musas...) pela brutal intervenção dos cruéis agentes do Federal Bureau of Investigations?

      A princípio, como és Del Nero, o respeitado paredro da CBF,  a mor parte da gente pensou que querias mostrar a tua capacidade de marcar récordes nos transporte aéreo. Depois, gente insidiosa insinuou, em inusitada intriga, que fugias do braço forte da política federal americana.
       De minha parte, não acreditei, pois tenho certeza que a severidade da autoridade brasileira é comparável à estadunidense, e que, portanto, da Lei, como intrigantes façanhudos tinham ousado alvitrar,  não ousaras fugir, mas apenas buscar  conforto no solo pátrio.

        Agora, o pobre Del Nero, se vê, por esse torpe entranhado de intrigas, às voltas com a Fifa: o presidente afastado da CBF, Marco Polo Del Nero, passou ontem (dia dezenove de janeiro, que doravante será considerada jornada azíaga pelo desrespeito que asperge no digno paredro brasileiro) ao responder, por vez primeira aos investigadores da FIFA, depois que Del Nero se torna alvo de um processo por corrupção.  Lembro-me de outro acusado em diferente foro, que também se defendia, quase em prantos, afirmando: todo mentirra senhor, atenção não dês a esses lorpas!

         Depois de um tão longo sono, pelo visto, a FIFA desperta.  Não é mais aquela do suíço, o baixinho sorridente, que presidiu à última copa, e cujo afastamento teve cores burlescas.
          Não sei se Del Nero possa ser considerado varão de Plutarco. Pelo menos, aqui em Pindorama e, notadamente, na capital brasiliense, mesmo interrogado pelo ínclito e temível senador Romário, ele dessarte se apresenta.  Mas voltemos ao deplorável espetáculo ora dado pelos cães de guarda, não da burguesia, mas da Fifa!  Pois os investigadores dessa colenda instituição desportiva submeteram o intemerato Del Nero a um execrável interrogatório de cinco horas. Através de insidiosa vídeo-conferência, que, de forma cruel e inquisitiva, abriu as portas para uma matilha de cães rastreadores  da FIFA ao indefeso Del Nero - alvo (horresco referens[1]) . Cruelmente acusado por esses senhores, de sete crimes nos Estados Unidos, os quais servem de base para o que sofre na Comissão de Ética da entidade.

          Com ficha imaculada no Brasil, o pobre del Nero se descobre insidiosamente atacado pela aliança do FBI e da FIFA! Compreende-se a revolta desse novo representante do futebol brasileiro, que, pelo visto, a imprensa desportiva jamais atacara.
           Pobre Del Nero!  Exaltou-se na audiência - não é que foi acusado de bíblicos sete crimes? E o que afinal, além dessas vis insinuações, se lhe increpa?  Que se tenha abstido de presidir aos deslocamentos nas eliminatórias  da seleção brasileira, quando em viagem ao exterior ? 

            Mas, minha gente, deram acaso ao senhor Del Nero, agora exaltado diante de tais acusações, a oportunidade de defender-se?
             E não me venham com a baixaria de que roupa suja se lava em casa, ousando insinuar que esse tipo de indumentária possa ser melhor lavado  em outras terras, bem longe desses agentes do FBI!


( Fonte: O Estado de S. Paulo )



[1] expressão de Virgilio na Eneida: tenho horror de referi-lo!

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