Por certo, não me refiro a qualquer
ciclone, essa série, na aparência infindável, de desastres naturais que
fustigam a vasta terra de Tio Sam.
Reporto-me ao furacão carregado pelo
livro Fogo e Fúria: Dentro da Casa Branca de Trump, escrito por
Michael Wolff.
A primeira conclusão - se ainda
dúvidas restassem - está na clara incapacidade de Donald Trump para exercer de
forma coerente a alta política e, notadamente, os deveres que incumbem ao
Presidente dos Estados Unidos.
Em termos deste presidente, a sua
incapacidade para o cargo e o seu barateamento da alta política - que a
profusão do tuítes a um tempo, frisa e
retira da alta diplomacia a eventual reserva, a ponto de que questões sérias e,
mesmo graves, como a estrada para conflito nuclear sejam a um tempo
transportadas para a atmosfera das revistas em quadrinhos, e, por outro lado,
dada a aparente ausência da diplomacia - que é a arte de tratar os problemas de
Estado - as crises tendem a tornar-se mais gráficas e, por conseguinte, mais
perigosas, pela circunstância do afastamento dos especialistas na matéria.
Por isso, os interesses de Estado se
tornam acessíveis a qualquer quitandeiro, o que tende, na prática, a desmoralizar
a diplomacia como arte de avaliação e de solução gradual das questões.
Pelo que se pode depreender do livro de Michael Wolff, os interesses e os segredos
de estado são jogados em fumegante caldeirão de fofocas. Dar à alta diplomacia
esta visão ambígua em que todos os interesses são tratados de forma superficial,
tende a retirar-lhe o sangue da defesa do respectivo país, além da necessária
sutileza, que não costuma coexistir com encontros regados a uísque e a
baforadas de charuto de empresários. Daí, o menosprezo de Trump e de sua gente
pelas características da alta diplomacia, cujas intricâncias não têm tempo sequer de aprofundar, e quanto mais de
entender. Para que se capte melhor a questão, quer-me parecer que gente como o
atual Secretário de Estado, Rex Wayne
Tillerson, que não parece ter tempo para o aprofundamento das questões (e,
muito menos, gastá-lo em leituras de textos sofisticados e demasiado técnicos, para quem está afeito a resumos inteligíveis e
diretos), só tende a complicar ainda mais as coisas. Tal inadaptação para o
exame aprofundado destas questões serve
de escusa para que considere os ensaios - ou tópicos abreviados - como
exercícios de inútil sofisticação, ou para cair na linguagem de tais políticos,
de inúteis frescuras com que um
executivo importante, como o Secretário de Estado, não tem tempo a perder. Para
que melhor se entenda esses trumpistas,
são técnicos de nível médio, que sóem desprezar a sofisticação da análise primo, porque não a entendem, e secondo, porque a acham perda de tempo e até mesmo, necedades de indivíduos metidos a
intelectual...
( Fontes: O Estado de S. Paulo; The New York Times; e,
secundariamente, New Yorker)
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