segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Trump, depois do vendaval

                             

              Por certo, não me refiro a qualquer ciclone, essa série, na aparência infindável, de desastres naturais que fustigam a vasta terra de Tio Sam.
         Reporto-me ao furacão carregado pelo livro Fogo e Fúria: Dentro da Casa Branca de Trump, escrito por Michael Wolff.
             A primeira conclusão - se ainda dúvidas restassem - está na clara incapacidade de Donald Trump para exercer de forma coerente a alta política e, notadamente, os deveres que incumbem ao Presidente dos Estados Unidos.
         
         Em termos deste presidente, a sua incapacidade para o cargo e o seu barateamento da alta política - que a profusão do tuítes a um tempo, frisa e retira da alta diplomacia a eventual reserva, a ponto de que questões sérias e, mesmo graves, como a estrada para conflito nuclear sejam a um tempo transportadas para a atmosfera das revistas em quadrinhos, e, por outro lado, dada a aparente ausência da diplomacia - que é a arte de tratar os problemas de Estado - as crises tendem a tornar-se mais gráficas e, por conseguinte, mais perigosas, pela circunstância do afastamento dos especialistas na matéria.
                Por isso, os interesses de Estado se tornam acessíveis a qualquer quitandeiro, o que tende, na prática, a desmoralizar a diplomacia como arte de avaliação e de solução gradual das questões.
        
         Pelo que se pode depreender do livro  de Michael Wolff, os interesses e os segredos de estado são jogados em fumegante caldeirão de fofocas. Dar à alta diplomacia esta visão ambígua em que todos os interesses são tratados de forma superficial, tende a retirar-lhe o sangue da defesa do respectivo país, além da necessária sutileza, que não costuma coexistir com encontros regados a uísque e a baforadas de charuto de empresários. Daí, o menosprezo de Trump e de sua gente pelas características da alta diplomacia, cujas intricâncias não têm tempo sequer de aprofundar, e quanto mais de entender. Para que se capte melhor a questão, quer-me parecer que gente como o atual Secretário de Estado, Rex Wayne Tillerson, que não parece ter tempo para o aprofundamento das questões (e, muito menos, gastá-lo em leituras de textos sofisticados e demasiado técnicos,  para quem está afeito a resumos inteligíveis e diretos), só tende a complicar ainda mais as coisas. Tal inadaptação para o exame aprofundado destas  questões serve de escusa para que considere os ensaios - ou tópicos abreviados - como exercícios de inútil sofisticação, ou para cair na linguagem de tais políticos, de inúteis frescuras com que um executivo importante, como o Secretário de Estado, não tem tempo a perder. Para que melhor se entenda esses trumpistas, são técnicos de nível médio, que sóem desprezar a sofisticação da análise primo, porque não a entendem, e secondo, porque a acham perda de tempo e até mesmo, necedades de indivíduos metidos a intelectual...       



( Fontes: O Estado de S. Paulo; The New York Times; e, secundariamente, New Yorker) 

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