sábado, 27 de janeiro de 2018

Impeachment, o íncubo de Trump

                      

         A ameaça de impeachment se manifesta bastante cedo na Administração Trump. Se no caso de seu longínquo antecessor Richard M. Nixon, o espectro do impeachment ocorreria com a gestão de Nixon mais adiantada,  com a tentativa de invasão de escritório do Partido Democrata, na prática com Donald J. Trump seria quase como se o fantasma do impeachment estivesse  quase a esperá-lo na Casa Branca,  quando este senhor a adentra, após  tomar posse no Capitólio...
         Como se sabe, foi escolhido pelo Secretário de Justiça Jeff Sessions o nome do respeitado funcionário da Secretaria de Justiça  Robert S. Mueller III para verificar se caberia ou não um processo de impeachment contra o presidente Trump.
          Ter na própria ilharga um alto e competente funcionário, à frente de um respeitável plantel de especialistas, como é Mr Mueller, não foi perspectiva agradável para o novel presidente americano.
          Antes mesmo que Mueller fosse designado por Sessions,  que é pessoa estreitamente ligada ao atual presidente,  este último já havia perguntado a James Comey, justamente aquele que tinha exercido um papel tão polêmico no que tange à candidata Hillary Clinton, a ponto de se ter tornado na prática como um dos principais responsáveis por haver induzido o povo americano, na época da chamada votação antecipada para presidente,  a mudar de postura,  passando a favorecer o candidato republicano, com as consequências sabidas.
             Pois não é que, em audiência na Casa Branca com Comey, então  chefe do Federal Bureau of Investigations (FBI), Trump levantara esse problema com ele, o que provocou certo desconforto em James Comey, por poder ser interpretado como dizendo respeito à obstrução de justiça.
             De toda maneira, a presença (e a atuação) do escritório de Robert S Mueller, especialmente no que tange ao escopo precípuo de sua atividade vem provocando irritação e até mesmo descontrole da parte do Presidente. A folhas tantas, no ano passado,Trump pensou seriamente em desvencilhar-se do Conselheiro Especial, e só foi dissuadido desse propósito pela ameaça do encarregado do Ofício Legal da Casa Branca, Marc Short de exonerar-se, no caso de Trump levar a termo tal propósito. A motivação de Short é simples, e tendente a resguardar o próprio chefe:  a demissão de Robert Mueller seria desastrosa para a causa presidencial, eis que tornaria explícito o intúito de livrar-se do Conselheiro Especial movido pelo desígnio de obstruir a Justiça, que é um delito grave nos Estados Unidos.
             Como o presidente é uma figura de comportamento imprevisível,  ninguém pode afirmar que ele, ao cabo, não retorne ao seu propósito inicial e venha a  exonerar Robert S Mueller III. Não obstante, como isso equivaleria em termos práticos (ainda que figurativos) a dar-se um tiro no pé, com os prováveis desastrosos efeitos, ninguém em sã mente ousaria jurar que tal não acontecerá, dadas as características hoje conhecidíssimas da personalidade de Sua Excelência.

               Por enquanto, como é também previsível, pouco se sabe do andamento da investigação que vem sendo realizada pelo Conselheiro Especial. Se o nervosismo de Trump se acirrar, teremos nesse efeito, a contrariu sensu a sinalização de que o caso contra ele se torna mais  preciso e mais ameaçador. Não se poderia excluir nessa eventualidade que não viesse Trump a imitar o seu distante predecessor, que também tentara livrar-se do procedimento através desse mecanismo inusitado, eis que constitui a própria confissão da obstrução de Justiça. Richard Nixon, como é manifesto, evitou que o processo do impeachment corresse nos foros competentes, eis que, diante da verificação de que estava irremediavelmente destinado a ser destituído em votação pelo Senado Federal, preferiu renunciar ao cargo.  

( Fonte:  The New York Times )

Nenhum comentário: