terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Pence: diktat para os palestinos?

                     
           Há o velho dito que o vice-presidente costuma ser uma cópia do presidente.  Posto que, haja exceções,  tudo indica que, pela inteligência e postura, Mike Pence se enquadra bem como vice de Donald Trump.
            Depois do incrível e desestabilizante reconhecimento por Trump de Jerusalém como capital de Israel  - um presente de fada para Benjamin Netanyahu e que pôs abaixo o trânsito de Washington junto aos palestinos, tirando-lhe na prática a condição de árbitro, a atual visita do vice Mike Pence é apenas nota de pé de página àquele inominável gesto de Donald Trump, em dezembro último.
             Freneticamente aplaudido pelo  Knesset (parlamento) israelense, o vice americano declarou (invertendo por completo as bolas) que qualquer acordo de paz começa (sic)  com o reconhecimento do direito (sic) do povo judeu a seu território nacional em Israel e exigiu que os palestinos voltem à mesa de diálogo. No mesmo sentido unilateral, Pence confirmou que a embaixada americana será transferida de Tel Aviv para Jerusalém até o fim de 2019 (sic).
               Quais as consequências práticas do apoio total dos Estados Unidos a Israel?  Durante um largo período, dirigido por presidentes mais esclarecidos, os Estados Unidos procurou manter uma posição matizada mas de algum equilíbrio. Se a preferência por Israel sempre foi marcada, os presidentes americanos buscaram manter certa isenção no trato da questão, embora não se possa falar de isonomia. No entanto, essa posição dava ainda algum apoio para os países árabes, como o acordo de Arafat e Rabin, nos jardins da Casa Branca, com a presença de Bill Clinton, fez luzir por um tempo a esperança de uma paz justa entre o mundo árabe e Israel, que germinaram em Oslo.
                   Nesse quadro, Trump irrompe como uma caricatura,  tirando muitas das condições da Superpotência ter alguma posição de certa isenção, para administrar as querelas entre judeus e árabes.
                    Com Mr Trump tudo isso vai na prática para o brejo. Ao abraçar os israelenses e  Benjamin Netanyahu, os Estados Unidos perdem qualquer condição de voltarem a  tentar colocar -se  como  árbitro  entre judeus e árabes. Se Trump já é uma caricatura cruel para o povo americano, que dizer do seu vice,  Mike Pence, que abraça os líderes israelitas como se fossem eles os senhores no pedaço.  Por isso, a afirmação de Mahmoud Abbas,presidente da Autoridade Palestina que  os Estados Unidos da América não mais reuniam condições de mediar um processo de paz,  que os Acordos de Oslo estavam mortos, e o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel  era "o tapa do século" nos palestinos.
                     O estrago que Trump e seu vice estão fazendo não pode ser medido facilmente,  tal o desmedido tamanho. Assinale-se, por oportuno,  que o gélido abraço da dupla Trump-Pence em um pária internacional como o é o governo de Netanyahu só tende a prejudicar o antigo trânsito que os antecessores desta dupla, muito mais inteligentes e versados do que o par acima,  prestaram desde o início das Resoluções das Nações Unidas (Conselho de Segurança e Assembléia Geral), a partir do início da segunda metade do século vinte.
                       Havia então uma presunção, ainda que amiúde contestada, de uma boa relação com o mundo árabe. Já a dupla atual,  quem negará que ela trabalhe com afinco para inviabilizar tal relação,  com a base segura das mentes menores?


( Fontes: A Tangled Web, William Bundy;  O Estado de S. Paulo )

Nenhum comentário: