domingo, 7 de janeiro de 2018

Aonde estás Angela Merkel ?

                              

       A lógica nem sempre casa com a política, e o que pareceria óbvio a um distante observador no tempo (ou no espaço), pode custar mais esforços e expectativas de o que previsto.
         Talvez o erro original, o ur-equívoco haja sido a admissão de um milhão e cem mil refugiados por Angela Merkel, no passado próximo, revoltada talvez pela cínica negativa das grandes potências em sequer considerar parâmetros um pouco além do medíocre e do egoístico.
         Decerto foi um beau geste o de Angela Merkel, abrindo as cancelas das mesquinhas alfândegas.  Nem sempre, porém, a iniciativa generosa atende aos requisitos do cotidiano. E o mais de milhão de refugiados, a que o mundo ocidental  fingia não ver, assim como o cadáver do menininho morto, em alguma praia da Turquia, se poderia enternecer a mídia, não era peso para movimentar as balanças do egoismo.
          Agir segundo o certo eticamente falando, é um caminho que pode ser perigoso, quando principiam a aumentar as ameaças dos hunos acolhidos pela compaixão, e que trazem para o mundo regrado dos hipercivilizados a carantonha da miséria, da fome e do desespero, que se esquecem rápido da misericórdia e caem nos aut-aut da violência  e do crime.
           Há muitas dúvidas no horizonte político alemão.  A eleição de 24 de setembro último deixara a Chanceler Merkel e seu partido enfraquecidos. Os neofascistas da Alternativa para a Alemanha, em aparência, se deram bem, mas não se desconhece que os sufrágios nos neonazistas são pouco mais do que folhas ao vento. Na verdade, restringem a capacidade dos partidos democráticos, tornando-lhe o espaço vital cada vez mais apertado e sem alternativas.
            Colocada sob pressão, são poucas as saídas para a Merkel, com os cães do nazismo nos próprios calcanhares.  A gratidão e a memória  não são personagens benvindos nesse tipo de jogo.  O eleitor, por seu lado, tem a memória curta, exige muito, mas concede pouco.
             Em outros mundos, pareceria que o abandono pelos Livre Democratas (FDP) da liderança da CDU não semelha ter lógica.  No entanto, a gratidão é moeda de parvo valor na política. Para um partido tantas vezes salvo pela CDU como os democratas livres,  a recusa no ano passado do necessário apoio rescende a covardia, ou, o que dá no mesmo, a exigências absurdas que se agarram ao presente e ignoram as insídias do futuro.
              É estranho como o maximalismo dos grandes partidos como  o SPD possa ignorar a realidade.  Apesar de que a CDU e a CSU (a seção bávara) admitam o limite de duzentos mil ingressos, eis que a SPD quer mais e assim dizem se deva ignorar quaisquer restrições.  A generosidade nesse assunto deve, no entanto, caminhar ainda mais na companhia do bom senso.  O pretérito gesto da Merkel de admitir mais de um milhão de estrangeiros decerto surpreendeu em mundo onde prevalece o egoismo no conta-gotas imigratório, a exemplo de tantos outros países. Dadas as suas implicações,  o bom senso, mesmo na extrema bondade, deve prevalecer sobre arroubos que acabam beneficiando os neo-nazistas, que são os manipuladores do medo e da burrice, além de seu próximo, quase carnal parente, que é o velho, cauteloso, mas quase sempre estúpido, que é o egoismo acima de tudo.


( Fonte: The New York Times )

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