Você tem saído à noite, ultimamente?
Acaso não terá ficado inquieto em ver tantas ruas, antes movimentadas, agora desertas, às vezes sem vivalma?
Taxistas me dizem que não mais
costumam sair com o carro de noite, o que faziam antes, ora enjeitando as boas
corridas da tabela 2.
Não é necessária muita pesquisa para
que alguém se dê conta de que muitos
restaurantes e até bares estejam às
moscas ou mesmo fechados.
Será por falta de público que tantos
estabelecimentos se encolhem e se fecham?
Onde andam os notívagos, os
boêmios, os alegres amigos da
noite, que sempre foi o regaço dos casos
e dos namoros e a oportunidade de fruir
das suaves atmosferas que, marcadas
pelos contrastes de luzes e de sombras, facilitam romances e as chamadas amizades coloridas ?
O Rio é a cidade dos muitos
táxis. Mas segundo me contam, isso é coisa de antes.
À noite aqui trafegam as enormes
carcassas de ônibus, umas reluzentes, outras não. Mas se prestares atenção, não são tantas assim.
Paris é conhecida como a Cidade
Luz. Como os raios de Thomas Edison
trazem a sensação do conforto e da segurança.
Segurança? Se faltam taxis e
outras conduções, por que tantos se
escondem?
Nas lôbregas calçadas, nas adensadas sombras em que o vento agita de
leve as copas das árvores que ainda
restam, passam os estreitos olhares de
transeuntes que não passeiam, mas na verdade correm, quiçá temerosos desse
vazio que se espalha na noite.
Se deparas à tua frente uma longa, comprida e deserta calçada, será que alguém se habilita a flanar sob a
leve carícia de ramos embalados por um vento que por vezes se encana nos
desertos logradouros e nas descarnadas praças em que os bancos estão reservados
para mendicantes, craqueiros e a
ocasional falante figura, que breve se
vê escorraçada por um estranho amplexo
de folhagens, temores e aquele vazio, diante do qual até o valentão de plantão
decide partir em retirada ?
Não será a censura que
riscará das páginas da vida e do estranho costume de passear ao leu o ocasional
boêmio. Não, pois a democracia tratou de
escorraçar os vultos de antanho, que
andavam por aí, sem inquietudes nem temores, respirando fundo o úmido ar da
noite pressaga, em que mergulhavam os próprios pensamentos e quem sabe a idéia
travessa de algum conto ou até mesmo esboço de escrito com o vagar de antanho,
as próprias ilusões de redescobertas paragens no submundo das letras, daquele que enjeita os táxis de tabela dois e
se ouve acaso um repentino miar ou arisco latido, dirá, sem sequer os olhos levantar,
Um comentário:
Bela crônica, Pai. Capta com perfeição a tristeza que só quem conheceu outro Rio ora experimenta.
Pergunta: de onde vem a citação Joca/toca?
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